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Marca Bahia Notícias Saúde

Entrevista

‘Novos medicamentos não são uma revolução’, afirma especialista sobre hepatite C

Por Bruno Luiz/Lucas Cunha

‘Novos medicamentos não são uma revolução’, afirma especialista sobre hepatite C
Eugênio Viana, gastroenterologista | Foto: Arquivo Pessoal
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nos últimos quatro meses, quatro novos medicamentos (Viekira Pak, Daklinza® , Olysio®  e Sovaldi®) para o tratamento da hepatite C. Considerados inovadores, eles prometem reduzir o tempo de tratamento da doença e os efeitos colaterais dos remédios utilizados atualmente para amenizar os efeitos da enfermidade. Para esclarecer algumas dúvidas sobre o assunto, o gastroenterologista Eugênio Bacelar Viana conversou com o Bahia Notícias. Ele afirmou que não acredita no caráter revolucionário dos novos medicamentos e que, por conta do seu alto custo, estes não devem ser disponibilizadas pelo SUS rapidamente. Viana ainda falou sobre a dificuldade de diagnóstico da doença que, por ser silenciosa, só é descoberta, em muitos casos, já em estágio avançado.

Recentemente, a Anvisa aprovou o registro de quatro medicamentos considerados revolucionários no tratamento da doença, enquanto o Ministério da Saúde afirmou que dois deles passarão a ser distribuídos pelo SUS. Que avanços estes medicamentos podem trazer no tratamento da doença?
É importante frisar que são medicamentos que, de forma nenhuma, curam a hepatite C. A hepatite C é uma doença crônica. O medicamento eficaz tem que apenas penetrar na célula, mas podem entrar nela e destruí-la, ou seja, a toxicidade deles é muito grande. A inconveniência dos medicamentos atuais é de que ele é injetável e são tratamentos prolongados, de seis a 12 meses. O antigo medicamento utilizado no tratamento da doença causava muitos efeitos colaterais nos pacientes. Os efeitos, em alguns casos, dificultam muito o tratamento da pessoa. Esses novos medicamentos trazem uma promessa de encurtar o tratamento, com doses orais, para de três a oito meses. Eles prometem uma eficácia maior no tratamento, mas não são uma revolução no sentido de serem imprescindíveis. 

O senhor enxerga alguma dificuldade na distribuição destes novos medicamentos por parte do SUS?
Até onde sei, pois não trabalho com saúde pública, mas existem alguns casos que eu preciso encaminhar para o sistema público, não existem grandes dificuldades na distribuição dos medicamentos atuais. Claro que existem problemas, mas a situação melhorou bastante. No entanto, estes novos medicamentos são extremamente caros. Cada comprimido custa, aproximadamente, 1.000 dólares. São, mais ou menos, 84 mil dólares para fazer o tratamento. Existem 3 milhões de pessoas com hepatite C para receber o tratamento. O custo para o SUS é alto. Eu não acredito que o Ministério da Saúde vá disponibilizar esses medicamentos logo. Entretanto, existem medicamentos similares com custo muito menor, em teste por laboratórios indianos, só que ainda não foram aprovados pela Anvisa. 

A hepatite C é uma doença silenciosa e que, quando descoberta, em muitos casos, já está em estado avançado. Por que essa demora no diagnóstico da Hepatite C? O número de diagnósticos na Bahia e no Brasil é alto ou baixo? 
EV - Na Bahia, não é muito diferente do Brasil. Entre 2008 e 2009, foram diagnosticados 595 casos na Bahia. Incidência de 28 casos a cada
100 mil habitantes. O número de diagnósticos é baixo, pois a própria doença é de difícil diagnóstico por conta de sua falta de sintomas. Não quer dizer que porque você é portador do vírus, você vai desenvolver uma doença crônica. Apenas 20%, 30% das pessoas infectadas desenvolvem doença crônica. Até 1993, por exemplo, não se conhecia nenhum método para descobrir a doença em transfusões de sangue. Muitas pessoas podem ter desenvolvido a doença neste tempo e só começarem a manifestar sinais agora. Para apresentar sintomas, é preciso o vírus ter atingido uma boa parte do fígado, com grande grau de deficiência hepática. Na maior parte das vezes, a pessoa se contamina e só vem apresentar sintomas em estado de cirrose. Não quer dizer que porque você é portador da doença, que você vai desenvolver. Para apresentar sintomas, é preciso o vírus ter atingido uma boa parte do fígado, com grau de deficiência hepático. A doença pode ser descoberta em exames de rotina, em um exame de sangue, simples, disponível na rede pública. Quando se verifica o aumento de um tipo de anticorpo, parte-se para outro exame que possa comprovar a doença. No entanto, o brasileiro não tem o costume de fazer exames de rotina, o que dificulta um diagnóstico precoce da doença.
 
Que medidas podem ser tomadas para modificar este quadro?
Precisamos de uma população mais orientada a fazer exames preventivos, campanhas de orientação de prevenção de doenças. Políticas públicas e privadas de se fazer prevenção de doenças. Quando existirem campanhas públicas que incentivem as pessoas a fazerem a exames preventivos, teremos mais condições de diagnosticar e tratar a doença mais precocemente.
 
Quais dificuldades a classe médica tem tido no sentido de alertar os próprios especialistas para o baixo número de diagnósticos da doença e de conscientizar a população sobre isso?
No caso específico nosso, o modelo de saúde existente tem muitas distorções. Valorizam muito os especialistas em detrimento do clínico geral, que é quem, muitas vezes, podem notar algo diferente e levar a posterior descoberta deste tipo de doença. Eles têm uma remuneração baixa. Precisamos valorizar mais nossos profissionais de saúde e também oferecer a eles melhores condições de trabalho.

O que o senhor vislumbra no futuro para uma eficácia ainda maior no tratamento da doença?
O grande diferencial será no momento em que desenvolver uma vacina para a hepatite C, que já existe para a hepatite B e já há estudos e até testes para isto. A redução da gravidade da doença deve ocorrer muito mais pela criação de uma vacina do que por estes medicamentos.