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Desmistificando a saúde mental: 'Bullying', disciplina e demagogia

Por Dr. Luiz Fernando Pedroso

Desmistificando a saúde mental: 'Bullying', disciplina e demagogia
Foto: Divulgação
Em plena epidemia de Zica, o congresso e o governo federal resolveram promulgar uma lei instituindo em todo território nacional um programa de combate ao “bullying”! A partir de agora, as escolas serão obrigadas a promover campanhas de “conscientização” a respeito desse tema, e os estados e municípios terão de fazer relatórios bimestrais dessas ocorrências para “planejamento das ações”. Agora podemos dormir tranquilos, pois, pela lógica da lei, se as escolas não estavam cuidando da disciplina dos seus alunos é porque o professor não tinha consciência do seu dever de zelar pelo bom ambiente social e pedagógico da escola, e tão pouco porque não havia uma lei que o obrigasse a isso. Sinceramente, é melhor a gente tentar matar mosquito.
 
Evidentemente, ninguém haverá de se opor a nenhuma campanha contra qualquer tipo de violência. Contudo, elas nem sempre são o que parecem e, não raro, são aparelhadas para outros fins que não aqueles explicitamente pretendidos. Qualquer um fica “bem na fita” defendendo os fracos e oprimidos, e o “bullying” é mais uma dessas boas causas “politicamente corretas”, capazes de trazer visibilidade social e política a quem as defende. Afinal, numa sociedade que aprecia a compaixão pública, que gosta de cultuar a vitimização e de alguma forma aufere ganhos secundários com isso, seja na mendicância pura e simples, seja na indústria das indenizações e cotas de toda ordem, é natural que fique esperando algum tipo de julgamento final ou de paraíso redentor trazido por alguma liderança messiânica. 

Porém, a vida real é diferente. Nela a violência não é produto do demônio ou de nenhuma sociedade capitalista injusta, mas parte intrínseca da nossa natureza, pois, como seres humanos, somos animais agressivos e competitivos. Por conta disso, o “bullying”, assim como outras formas de violência, sempre existiu e provavelmente sempre vai existir. Portanto, não será nenhuma doutrinação ideológica que o fará desaparecer ou levar a sociedade a prescindir de leis e autoridades capazes de coibir sua expressão antissocial. A prática do “bullying” começa na infância, no início da nossa socialização, e talvez seja, nessa fase, mais cruel que em todas as outras. Crianças não são anjos; elas são inquietas, agressivas, curiosas e, sobretudo, diretas e com pouco freio moral. Provocações, apelidos, ofensas, intimidações e agressões fazem parte do seu processo de aprendizado social, pois é nessas brincadeiras e enfrentamentos infantis que elas aprendem a se defender e a lidar com seus instintos primitivos. Algumas terão mais facilidade, outras mais dificuldades, a depender do temperamento e dos talentos de cada um. Haverá ainda aquelas que precisarão de algum tipo de ajuda especial para se socializarem. Assim é a vida. A maturidade não nos transforma em bons moços, apenas nos faz mais dissimulados e pragmáticos, na medida em que o peso da cultura civilizatória domestica nossa agressividade e cria seus mecanismos de escape. O que nos protege de nós mesmos e dos outros é a interdição, o limite, a lei que nos obriga a dar destinos socialmente aceitáveis aos nossos instintos e impulsos primitivos. Isso vem com a autoridade do pai, depois do professor, por fim dos mecanismos de controle social, da cultura e do estado. Por isso, o bom ambiente na infância é aquele que educa e protege com limites e disciplina, aquele que informa com respeito e autoridade. 

Considerando a realidade do ensino básico precário no país, do caos disciplinar de muitas escolas e dos altos índices de delinquência e criminalidade entre os nossos jovens, o verdadeiro combate ao “bullying” não se dá por doutrinação de ideologias politicamente corretas, mas pelo resgate da disciplina, da autoridade e do prestígio do professor. Tradicionalmente, eles sempre cuidaram da disciplina de suas salas de aula e de suas escolas, portanto, sempre souberam conter a agressividade dos seus alunos, reprimir os valentões, socorrer os indefesos e encaminhar os problemáticos para auxílio psicopedagógico. Se atualmente não o fazem, não é por falta de lei que os obrigue, mas porque foram tolhidos na sua autoridade e prestígio de disciplinador por inúmeras demandas populistas que predominam no ambiente educacional brasileiro.
                
Assim, substituir o resgate da disciplina nas escolas e do prestígio sócio econômico do professor por uma campanha midiática contra o “bullying” não pode deixar de levantar suspeitas de que essa campanha não se propõe ao que diz, mas apenas a ser um pretexto para mais um movimento de doutrinação ideológica nas escolas. 

                                              * Dr. Luiz Fernando Pedroso - Médico Psiquiatra e Diretor Clínico da Holiste Psiquiatria. Saiba mais aqui: www.holiste.com.br


* Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias