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Páscoa, chocolate e espinhas: Da lenda asteca aos mitos científicos

Páscoa, chocolate e espinhas: Da lenda asteca aos mitos científicos
Foto: Divulgação

Há 1500 anos antes de Cristo, o que conhecemos hoje como chocolate foi uma bebida temperada com pimenta e especiarias. O tchocoatl maia, que significa “água amarga”, era considerada uma bebida afrodisíaca e estimulante. Já segundo uma lenda asteca, o Deus da Lua roubou da terra uma árvore de cacau para presentear seus amigos humanos com um manjar dos deuses, e por causa dessa milenar apreciação, o cacaueiro foi classificado como theobroma cacao, do grego theo (Deus) e broma (alimento), que quer dizer alimento dos deuses, em livre tradução.

 

O fruto dos deuses era tão valioso que, no século XV, foi utilizado como moeda de troca, assim como o ouro, e permaneceu dessa forma por 200 anos, época essa que já era um artigo de luxo consumido na Europa. Apenas em 1876, com a adição do leite em pó por Henri Nestlé, que surgiu o famoso chocolate ao leite, que posteriormente levou a iguaria ao consumo do público geral.

 

Com o passar dos anos e aumento significativo dessa ingestão, muitas pessoas passaram a relatar aumento de lesões de acne quando ingerem chocolate ou quando consomem leite. Mas qual a relação entre o “alimento dos deuses” e a temida acne? Será que podemos apreciar sem medo os incríveis e sortidos sabores dos ovos de Páscoa ao longo desta semana? 

 

É importante frisar que esta é uma relação que vem sendo investigada há anos, em diversos lugares do mundo e por uma série de especialistas. Alguns questionamentos foram esclarecidos, outros ainda permanecem sem resposta. Mas sabe-se que a ingestão de alimentos com alto índice glicêmico, ou seja, que elevam bastante os níveis de açúcar no sangue após poucas horas, como os carboidratos processados adoçados e os doces em geral, está associada a piora da acne. Isso porque esses alimentos promovem aumento da quantidade do sebo produzido pela pele e da inflamação local, fatores importantes para o desenvolvimento de novas lesões, assim como o leite e seus derivados, que também são apontados como indutores da inflamação que acontece nos pacientes com acne. Na prática, é comum observar piora do quadro naqueles com predisposição e que consomem whey protein para ganho de massa muscular, por exemplo.

 

Mas, no caso do chocolate, a relação não está totalmente estabelecida. A sua composição parece influenciar nos efeitos sobre a pele sim, no entanto, aqueles com menor quantidade de açúcar e leite parecem ser menos prejudiciais, podendo até ter efeito antioxidante. Os mais açucarados e ao leite podem induzir os efeitos negativos já comentados desses componentes, podendo justificar a piora da acne em alguns indivíduos. Por outro lado, o consumo de alimentos ricos em ômega 3 e ácido gama linoléico, como peixes (muito comum ser consumido na Semana Santa), traz benéficos para os pacientes com acne, pois reduzem a inflamação e a produção de sebo. Observa-se que a população que adota a dieta mediterrânea, por exemplo, apresenta menor número de casos e quadros mais leves de acne.

 

E como a história do chocolate se iniciou com tribos indígenas, vale lembrar também que estudos sobre acne em populações esquimós ou indígenas com dietas de baixo índice glicêmico (em comparação com as dietas ocidentais), usufruindo basicamente do que a natureza oferece, mostram baixíssima prevalência de acne, porém ao migrarem para locais com dieta ocidentalizada, passam a ter mais acne que seus descendentes.

 

A verdade é que o estilo de vida ocidental, com maior consumo de alimentos processados e açúcares, está altamente relacionado a piora dos casos. Assim, para os chocólatras, fica a melhor sugestão: escolha chocolates com maior teor de cacau, reduza o consumo de doces e alimentos processados com alto índice glicêmico e aproveite a Páscoa da melhor forma!

 

*Gleison Duarte e Daniele Pereira são dermatologistas no Instituto Bahiano de Imunoterapia (IBIS) em Salvador.

 

*Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias