Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias Justiça

Entrevista

'Tiramos a ideia que a Corregedoria pune servidores e magistrados', diz José Olegário

Por Cláudia Cardozo

'Tiramos a ideia que a Corregedoria pune servidores e magistrados', diz José Olegário
O desembargador José Olegário Monção Caldas. Fotos: Nei Pinto | Ascom TJ



O desembargador José Olegário Monção Caldas, corregedor Geral de Justiça. Fotos: Nei Pinto | TJ

Bahia Notícias: O senhor assumiu o cargo de corregedor das comarcas do Interior ainda na gestão de Mario Alberto Hirs, e acompanhou o trabalho de Eserval Rocha ainda na interinidade. No início desse ano, o senhor tomou posse como corregedor geral de Justiça. Como avalia o momento em que ainda atuava nas comarcas do interior e agora na Corregedoria Geral? E como avalia o Tribunal de Justiça da Bahia?
José Olegário: Essa pergunta é a que todo mundo quer saber. Quanto ao tribunal, em termos de corregedoria, ele sofreu algumas modificações, com o aumento das atividades da Corregedoria Geral e das comarcas que vieram para integrar a Corregedoria Geral – nós éramos só capital. Hoje, a Corregedoria Geral está com mais ou menos 80% de todos os processos da Bahia, em torno de 70% de todos os magistrados da Bahia e mais ou menos 80% de servidores. E a área do estado é extensa. Há uma tendência que se redefina as atividades da Corregedoria do Interior – que hoje já não é mais do interior, considerando que a Corregedoria Geral também é do interior – a maior parte da Corregedoria Geral, hoje, é interior, para se fazer como se faz em Santa Catarina, que tem um vice-corregedor, que cuida de todo extrajudicial. Eu acho que esse é o caminho que a Corregedoria vem tomando, e a evolução é essa. Quanto a relação com a presidência do tribunal, eu peguei ainda um pedacinho da gestão do desembargador Mário, e foi um relacionamento muito bom, porque fomos colegas de concurso. Com Eserval, foi do mesmo jeito. Fomos contemporâneos de faculdade, o relacionamento sempre foi muito bom. Com o afastamento do desembargador Mário, o desembargador Eserval, no período em que substituiu o desembargador Mário, foi muito cauteloso. Ele não tomou nenhuma iniciativa grande, sequer foi para o gabinete. Ele ficou no gabinete dele, e o gabinete da Presidência do tribunal ficou fechado todo o tempo em que ele esteve na interinidade. A partir da posse oficial em fevereiro, procuramos fazer um relacionamento – até então inédito – porque nós passamos a trabalhar juntos. Nós nos reunimos para decidir as coisas do tribunal. Então, hoje, os setores lá da Presidência do tribunal, quando tem uma coisa para decidir, decide aqui [na Corregedoria]. Os juízes que fizeram concurso, era a Presidência que dizia para onde eles iriam. Mas Eserval pediu para que eu avaliasse onde precisava dos juízes. Eu relacionei as comarcas que precisavam – e naquela época, nosso problema era o oeste do estado, que estava bem abandonado – e nós mandamos uma massa de juízes novos maior para o oeste. Concursos: a Presidência é quem tem o dinheiro, pode organizar, contratar empresas, fazer a licitação, mas o edital do concurso é feito a quatro mãos – eu e ele. A escolha dos membros da comissão do concurso é feito da seguinte forma: Eserval pergunta quem eu indico, e levanto uma relação de nomes e discutimos se pode ser fulano, beltrano. É dessa forma que temos conduzido. Nós escolhemos o presidente da comissão. O desembargador Osvaldo Bonfim se candidatou, mas ficou impedido de participar. O desembargador Eserval Rocha esperou que eu participasse do Encontro dos Corregedores para que pudéssemos escolher o novo presidente da comissão. Todas as ações da Corregedoria são casadas com as ações da Presidência, que é o Executivo do Tribunal de Justiça da Bahia. Um trabalho bom que a Corregedoria também tem feito é junto à Associação dos Magistrados. Tiramos a ideia que a Corregedoria prejudica, persegue, pune servidores e magistrados. Eu mudei essa coisa de corregedor para co-regente, de tomar conta junto. Eu sempre digo que sou o corregedor geral e que eles são os corregedores naturais, pois para mim, o juiz também é corregedor. Esses encontros que nós fizemos no interior, a correição anual do interior, eu me reuni com os juízes, em todos os lugares. Levei nossos corregedores, alguns assessores, para chegar no cartório, avaliar o trabalho, passar orientações de como fazer para melhorar e de como fazer para melhorar com pouca gente, pois tem cartório com duas pessoas, três pessoas, mas com a gente orientando ‘arruma assim, arruma essa estante, que está aqui empatando a luz’. Arrumar de um jeito para entrar luz, ventilação no cartório. Eu brinco que a gente parte do processo de limpeza e varrição até a arrumação, a forma de levar os processos para o juiz. Depois a gente faz uma reunião com o juiz, em que a gente orienta, no sentido de diminuir as tarefas do juiz, essas tarefas comuns que o juiz faz, para, já que está sozinho, não tem assessor, não tem gente no cartório, que ele se reserve para as tarefas decisórias. Juiz não precisa estar marcando audiência, não precisa mandar ouvir a parte sobre documentos que entram no processo – o próprio cartório faz. Em compensação, sobra tempo para o juiz prolatar sentença, realizar audiências, decidir as liminares que são requeridas.
 
BN: A ministra Nancy Andrighi, em sua passagem por Salvador, afirmou que a Corregedoria deve ser mais um aliado do juiz do que um órgão punidor. Como o senhor encara esse posicionamento da corregedora nacional, e quais são os desafios da Corregedoria, até mesmo para perder esse ‘ranço’ de punidor?
JO: Quando eu assumi a Corregedoria, passei a dizer que nós teríamos uma Corregedoria cordial e afetuosa, por isso que, quando fizemos o Encoge, o tema foi também de que se pensasse em um trabalho de Corregedoria acolhedor. A ministra Nancy também está seguindo esse entendimento. São Paulo também. Porque, o que se vê hoje, quando um juiz vai para o interior, normalmente – na Bahia, nós temos 60% dos magistrados que são de outros estados – então, o sujeito que viveu no sul, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, e vai para o sertão da Bahia, ele fica totalmente deslocado. Ele fica longe da família, tratando com pessoas que tem quase que uma linguagem diferente da dele. Até a forma de ver o mundo é diferente. Ele vai para um mundo que é muito pequeno e restrito, em relação ao mundo que ele viveu, morando nas capitais, no sul do Brasil. Ele tem menos tudo: relação, lazer, espaços. Se for solteiro, tem problema sério da solidão. Se for casado, tem a preocupação séria de dar para os filhos o que eles tiveram. E lá, ele já não tem essa escola tão boa, não tem uma casa tão confortável para morar. Isso tudo tem feito com que os juízes sintam muita dificuldade de adaptação, e isso fez com que muitos juízes tivessem problemas de saúde. Outros, que com isso, ficaram relaxados, e começaram a inventar motivos para saírem, para viajarem para Salvador, para seus estados e abandonar o serviço. Esse problema todo estava correndo para Corregedoria como se fossem fatos que devessem ser apurados, de forma a se obter punição, de caráter disciplinar. Nós passamos a entender diferente, que o juiz está é precisando de atenção para que ele retome essa atividade, se torne uma pessoa mais produtiva, mais presente, mais consciente e conheça o ambiente em que ele está vivendo. No começo havia alguns problemas, pelo próprio desajuste e pela própria distância que havia. Hoje não. Hoje, o juiz procura a Corregedoria com alegria, sabendo que tem apoio, mesmo que seja para o corregedor dizer não. O corregedor tem que saber dizer não. E assim, a gente conseguiu diminuir a quantidade de processos, e também a quantidade de denúncias, porque eu passei a não aceitar a denúncia – que antes era comum – de carta anônima, de sujeito que vinha contar histórias do juiz e não querer se identificar – deixar a denúncia anônima. Inclusive, isso acontecia muito com políticos: deputados, prefeitos, vereadores, que vinham do interior, muitas vezes, com a relação desgastada, porque o juiz não atendeu a um pleito dele, e trazia sempre a notícia desairosa do juiz. Se o deputado chega aqui para falar de um juiz do interior, eu ouço, chamo um juiz corregedor e digo ‘agora, senhor deputado, o senhor vai prestar um depoimento, porque nós vamos apurar rigorosamente’. Mais de 90% dão uma desculpa para não dar o depoimento e nenhum fica. Quando ficam, eu apuro. Isso reduziu muito as sindicâncias por mero ‘ouvir dizer’. Só fazemos sindicância em casos concretos. E ao invés de esperar alguém vir aqui, contar histórias do juiz, nós estamos indo lá. Não é que a gente deixou de apurar, mas estamos indo em todas as comarcas e verificando a situação, e claro, temos instaurados algumas sindicâncias, porque a gente chega na comarca e tem processos sem despacho por muito tempo, encontra cartórios totalmente desarrumados, em que as pessoas não se entendem. A gente instaura a sindicância para apurar de quem é a responsabilidade. A gente também acompanha se depois da sindicância se há uma mudança de postura do juiz. E isso tem – graças a Deus – visto uma melhora na prestação do serviço jurisdicional. 
 
BN: Qual a sua avaliação sobre as metas impostas pelo CNJ para o ano de 2015. Elas são possíveis de cumprir aqui na Bahia?
JO: Com certeza, no próximo ano, nós teremos o melhor resultado das metas. Esse resultado nós já experimentamos no Júri, na Semana Nacional do Júri, em março, fizemos o mês do Júri. Tínhamos juízes que tinham quatro júris em um ano, com a desculpa de que ele não conseguia terminar o processo, porque só tinha um servidor. Mesmo assim, a gente está estimulando, e esse juiz já tem marcado júri, de pelo menos quatro por mês. Agora mesmo, está indo um novo juiz para Feira de Santana, para trabalhar e dinamizar o Júri em Feira de Santana. A gente tem procurado manter um bom relacionamento com a Polícia Civil, o Ministério Público, temos tido reuniões com o secretário de Segurança Pública para ver onde está tendo algum gargalo, se tem algum pleito que necessite de uma decisão rápida do juiz. O corregedor do MP é um amigo, que foi meu contemporâneo de escola, temos mantido algumas reuniões para ver onde está tendo problema com falta de promotor, onde se marca audiência mas não tem promotor, para que a gente possa ir suprindo, e o juiz possa combinar com o Ministério Público quando se podem marcar as audiências. De que dia da semana vai ter promotor para não frustrar a realização de audiências. Com certeza, chegaremos, no próximo ano, já atendendo melhor essas metas. Ai sim, fazendo mutirões, para desbastar processos. Nós temos na Bahia possivelmente uns 400 a 500 mil processos que constam como processos ativos, mas que, na verdade, são processos que foram sentenciados, que já não tem mais nenhuma atividade para ser desenvolvida pelo Judiciário nele. A gente entra, muitas vezes, em cartórios, e até em gabinetes do juiz, e nas estantes estão escritos ‘sentenciados, sentenciados’, e tem cinco, seis estantes, cheias de caixas com processos dentro. Só que esses processos estão sentenciados para o juiz, mas para o CNJ, esse processo ainda existe.
 
BN: Porque esse disparate de informações?
JO: Isso porque o juiz trabalha com pouca gente e não tem como tirar gente só para arquivar processos. Se tem processo andando, ele dá sentença naquele processo, e o processo fica ali esperando a parte, se quer executar o que a parte quer, ou se as partes estão satisfeitas com os provimentos do juiz, certificar o trânsito em julgado, ver o recolhimento de custas e mandar arquivar. Só que o juiz não tem como fazer isso. Sempre está chegando processo novo com pedido de liminar novo. Então, ele vai trabalhar no que está novo. Estamos fazendo mutirão para arquivar, mas não fazendo arquivamento por arquivamento. É para arquivar mesmo, tirar do cartório, desbastar. Também mandamos providenciar o recolhimento das custas de quem está devendo. Fizemos isso em uma Vara de Salvador em quinze dias, e nesse período, foram arquivados mais de 900 processos, foram trabalhados 1,6 mil processos e isso resultou no recolhimento de custas de quase R$ 100 mil das pessoas que deviam custas. Já estamos fazendo um trabalho em Feira, muito grande, com mais de 6 mil processos na Fazenda Pública. Estamos iniciando em outra vara de Salvador, e como deu certo, vamos fazer sistematicamente. O trabalho vai ser durante a semana, com reserva de uma hora para só atender as urgências e as audiências. E nesse horário vai se trabalhar só para arquivar processo. Alguns juízes já estão pedindo e indicando horário. Eu acho que não pode parar de atender o povo, os advogados e realizar as audiências. Vai ser um serviço interno com porta aberta. Eu encontrei uma juíza sentada no cartório, e ela me pediu desculpas por estar atendendo o desembargador, ‘porque não veio ninguém hoje e eu estou atendendo aqui no balcão’. Ela tinha dois servidores. Um, estava em casa de licença, porque tinha feito cirurgia, e o outro teve um problema sério de saúde, que não conseguiu ir trabalhar naquele dia. Ela ficou sozinha e foi atender no balcão. Desse jeito, ela não serve para ninguém. Não serve para o trabalho dela, porque está no balcão, e assim não vai fazer sentença e decisão. Não serve para os advogados porque não vai saber informação de processo e nem procurar processo nos armários, porque ela também não sabe, porque não é trabalho dela. Para as partes também não serve, porque quem sabe orientar as partes são as pessoas que trabalham nos cartórios. Não produz nada, não tem movimentação.
 
BN: Porque que o Tribunal de Justiça da Bahia não consegue julgar um maior número de casos de improbidade administrativa e crimes contra o patrimônio público e cumprir a meta do CNJ de combate a corrupção?
JO: Nós temos poucos processos de improbidade, não são muitos. Você chega em uma comarca tem quatro, tem três. Só que o juiz é assoberbado de muitos processos, e esses processos envolvem pessoas que podem contratar advogados mais espertos, de fora, que dão dificuldade para intimar, porque não moram lá, são pessoas com mais recursos, arrolam testemunhas do Brasil inteiro. O juiz é obrigado a mandar carta precatória para outros estados, em outros municípios, e até organizar tudo, receber isso de volta, e fazer o julgamento, o juiz tem muita dificuldade. Quando eu chego nas comarcas, pergunto quantos processos o juiz tem, e ele diz que tem três, quatro, cinco. Quando pergunto sobre o andamento, ele diz que despachou um, que designou audiência, mas que em alguns estão parados, esperando as precatórias voltarem. E elas têm dificuldade para voltar. Do mesmo jeito que a gente tem dificuldade aqui para cumprir as precatórias que vem dos outros estados. Os juízes estão com audiências marcadas até julho do ano que vem, aí chega uma precatória agora, com trinta dias e não tem condições de fazer. Tudo isso serve para procrastinar e beneficiar as partes. Mas estamos também preocupados em estimular os juízes a que deem prioridades. Em Teixeira de Freitas, eu encontrei uns cinco ou seis processos dessa natureza parados e na mesma hora eu determinei um prazo para que o juiz me comunique o resultado do processo.
 
BN: A gente vê que, muitas vezes, as sindicâncias abertas na Corregedoria são por morosidade e excesso prazal, e na defesa dos juízes são alegadas essa falta de estrutura. O que a Corregedoria faz quando se depara com essa situação, do juiz querer trabalhar e não ter estrutura?
JO:Tem dois casos. Tem os que se aproveitam da efetiva falta de estrutura. Tem advogados que aprenderam que é fácil mandar cinco, seis, dez ofícios, requerimentos para aqui, ou para Corregedoria Nacional queixando da falta de andamento de seus processos. Ora, o que o corregedor faz? Manda pedir informações ao juiz, mas já manda pedir informação para que o juiz o andamento do processo. Os advogados que tem diversos processos, em diversas varas, fazem isso, de forma salteada, não dá para ninguém notar que é o mesmo advogado, para fazer o processo andar. Mas na verdade, o que temos é um problema muito sério de servidores. O último concurso tem dez anos, de lá para cá, entre as pessoas que se aposentaram, que morreram, ou que deixaram o cargo, chegamos a quase quatro mil vagas ociosas. Esse concurso nosso, que está programado, não tem condição de nomeação de nem 400 pessoas. Quando eu digo que não pode nomear 400 pessoas, que não vai poder nomear nenhum para cada vara – não vai dar, nós temos mais de 400 municípios – não vai ter um servidor para cada vara. Isso porque, o limite prudencial que prende o presidente do tribunal na quantidade gasto com pessoa nosso atingiu o máximo. A gente está na luz vermelha do prudencial, porque nesse período de dez anos, quatro mil pessoas se afastaram, mas os vencimentos dos servidores aumentaram em uma proporção maior do que o aumento da arrecadação do estado, que nós últimos quatro anos chegou a ser reduzida. E esse sofrimento com arrecadação tem refletido aqui. Se a arrecadação do estado é pequena, as cotas que cabem ao tribunal – o duodécimo – são inferiores. Ele gasta todo com pessoal e não tem condições de contratar mais ninguém. E essa, talvez seja, a pior preocupação que Eserval tem, porque eu, aqui na Corregedoria, fico cobrando todo dia que ‘precisa de gente’. A Corregedoria fez tudo para fazer o concurso e ele concordou em fazer o concurso. Nos outros anos, a Corregedoria também providenciou tudo para o concurso, mas os presidentes não fizeram, porque estavam presos ao limite. A gente vai fazer um quadro reserva, para ir suprimindo a necessidade. A Corregedoria, hoje, está reduzida em mais de 30% do que eu encontrei. Eu peguei os servidores da Corregedoria e mandei para trabalhar com os juízes, para ver se melhora a situação dos juízes. O reflexo é bom, tem melhorado, mas não é o ideal. O que está tendo uma resposta positiva é que nós passamos o ano todo sem greve, e os servidores estão se sentindo mais acolhidos pela Corregedoria, e os próprios sindicatos que entram aqui. Eu falo francamente sobre a situação, e eles terminam compreendendo e passam isso para os servidores, e estamos contando, cada vez mais, com a confiança e simpatia dos servidores e magistrados para fazer um trabalho melhor e o esforço maior que eles estão dando. Agora, pode acreditar, é um sobreesforço, eles estão fazendo um trabalho hercúleo para poder atender as demandas.
 
BN: Qual vai ser o critério do TJ para distribuir os 200 aprovados no concurso em todas as comarcas do estado?
JO: A gente espera é que esse pessoal novo – porque o nosso servidor é velho – tenha uma diferença, que vão se distinguir dos demais, porque são pessoas que já aceitam os novos modelos de comunicação informatizada, que sabem mais internet. Como são pessoas mais afeitas ao processo de comunicação informatizada, com certeza, vão ajudar imensamente na implantação dos sistemas de informatização do tribunal. Hoje, o juiz diz assim: ‘eu tenho três pessoas aqui, mas ninguém sabe trabalhar direito com o sistema’, e é mesmo. As pessoas não sabem trabalhar com o sistema. São servidores mais velhos que tem até resistência do tempo que o equipamento mais moderno que tinha no cartório era a caneta esferográfica. Os servidores novos serão multiplicadores. A gente vai ter que ir botando um em cada lugar de tal modo, que eles possam chegar nas comarcas, levando essas ideias nova, de facilidade do trabalho, pelos métodos informatizados, e a gente possa produzir mais, com esforço menor. Mas nós já temos comarcas no interior quase totalmente informatizada, tem juiz que tem em torno de 400 processos sem digitalizar. E como eles estão digitalizando? Tem lugar que o tribunal comprou o scaner, mas que o juiz comprou outro, com dinheiro dele, e o juiz ainda trabalha dois sábados no mês, pela manhã, com o pessoal do cartório, digitalizando, porque durante a semana não pode, porque tem pouca gente. O juiz me diz com toda alegria que sábado fazem uma reuniãozinha para digitalizar processo. Em algumas comarcas, eu já estou baixando provimentos proibindo que os advogados, Ministério Público, defensores, procuradores, entrem com petições físicas. Só virtual. 
 
BN: A distância entre as comarcas e a dimensão da Bahia é um problema?
JO: O problema nosso é que a Bahia é grande, com distâncias imensas. Enquanto que, Sergipe, com 200 km, da capital você vai a qualquer comarca, aqui nós temos comarcas distantes de Salvador em 1,2 mil KM. Sergipe tem uma comunicação rápida entre os cartórios, está tudo com a informatização bem avançada, mas nós não temos isso. Falta link. Essas empresas de telefonia, que no interior equipam o interior – talvez – com equipamentos menos sofisticados. Eu estive em Barreiras e o grande problema lá é não ter internet – uma cidade com o volume que tem, com indústrias, com o agronegócio, uma comarca que corre muito dinheiro e o Judiciário fica engessado porque não tem comunicação na base da tecnologia da informação. Se trabalha, essencialmente, com papel, pois o juiz está fazendo audiência, aí cai o link, e ele precisa parar, fazer tudo no papel, para depois digitalizar, porque as empresas de telefonia não nos presta um bom serviço. E quando eu digo que não nos presta não é ao Judiciário não, não presta um bom serviço a comunidade.
 
BN: O que o tribunal tem feito para que as empresas de telefonia se comprometam a prestar um serviço de qualidade?
JO: O presidente Eserval Rocha está exigindo – e eu tenho impressão que, na renovação desses contratos – de que se mantenha um link efetivo para o tribunal, para que a intranet possa funcionar em condições de que o juiz trabalhe na comarca logado, com todo nosso sistema de processo judicial eletrônico. 
 
BN: Até um tempo atrás, o TJ enfrentava um problema com os cartórios extrajudiciais. Como está a situação, atualmente, dos cartórios de notas e ofícios extrajudiciais? 
JO: Antes, as queixas eram totais. Nada no extrajudicial funcionava bem. Hoje, os cartórios que foram privatizados com o concurso anterior são muito bons. No interior, você pode ver que os cartórios estão organizados como as melhores instituições daquele local, como os bancos, de forma bonita, confortável, sem filas. Isso você vê na Bahia inteira. A Bahia ganhou destaque ouro em um congresso de delegatários de cartórios privatizados no Brasil inteiro. Os que não foram privatizados, que estão sendo administrados pelo tribunal de Justiça, estão com muitas dificuldades, que nós estamos sustentando, até que esse concurso, que está em andamento, possa ser concluído, e a gente possa nomear os delegatórios, e entregar esses cartórios. Mas nós não paramos. Pelo contrário, nós estamos arrumando esses cartórios, para que os delegatários sintam alguma facilidade em aceitar o cartório. Agora mesmo, no 2º Ofício de Imóveis, nós fizemos um convênio com a Marinha, e o Almirante, cedeu uma tropa, uns 30 homens, que foram para dentro do cartório, com nossa coordenação, para arrumar no que se podia o cartório. Nesse período, nós digitalizamos mais de 95 mil documentos, em menos de 90 dias. Antes, o cartório estava marcando data para entregar uma certidão em 2016. Todas as certidões, agora, estão prontas até outubro de 2015. Quem tinha marcado para outubro, já pode ir hoje, que já atualizamos. Quase 50 mil certidões estão atualizadas. Pode ser que a pessoa vá e a certidão não esteja pronta, mas aí é porque faltou alguma informação, ou documento.
 
BN: Deixamos o espaço aqui em aberto para suas considerações finais, para falar mais um pouco do trabalho que vem desenvolvendo na Corregedoria.
JO: Do extrajudicial, é que nós fizemos um trabalho para desenvolver um atendimento para erradicar o subregistro, para que as pessoas que não tivessem seu registro pudessem obtê-lo, e que as crianças pudessem ter o registro logo ao nascer. Nós vimos que nos cartórios haviam filas que começavam as 4 horas da manhã, mães com recém-nascidos no colo, levando o bebê nos braços para fazer o registro. E as senhas eram distribuídas as 8 horas, e elas não eram nem contempladas, tinham que voltar no outro dia. Nós tínhamos outro problema muito sério, é que os cartórios de registro civil, apesar de terem nomes de bairro, estavam todos no Comércio, lugar que não nasce ninguém. Entendemos que devíamos descentralizar, não de abrir um cartório em cada bairro, mas de permitir que esse atendimento seja feito eletronicamente. E aí, desenvolvemos com mais ênfase, junto com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, esse trabalho de fazer a certidão no próprio hospital. Já funciona em Salvador e no interior. Nós também retomamos o hábito de trabalhar nos shoppings, fazendo certidões. Mudamos também o sistema de plantão de óbitos. Era uma coisa dolorosa, que alguém da família morria, e as pessoas tinham que fazer o registro do óbito, e não sabiam para onde iam. E chegavam no lugar, e estava lá um número de celular escrito na parede ‘óbito: ligue para o número tal’. Fizemos um plantão efetivo, e hoje, graças a Deus, essas pessoas que tem esse momento de tanta dor na sua vida, já tem um atendimento melhor. Nós também atacamos os casamentos. No Fórum Ruy Barbosa, era uma coisa horrível, naquela salinha pequena, onde juntavam 40 casais, com seus familiares, para fazer casamento era uma confusão. Muitas vezes, o casamento acabava e os convidados do noivo e da noiva nem viam. A pobre da noiva ia para o fórum de qualquer bairro de Salvador, pegando o ônibus, porque dos bairros mais longínquos não tinham dinheiro para pagar táxi, nem tinham carona, e a moça tinha que descer com aquelas roupas compridas, de vestido de noiva, que conseguiu aquele vestido com tanto sacrifício, e já ia toda amarrotada. Deslocamos e estamos fazendo nos bairros. Tem casamento em todos os bairros de Salvador, com apoio da Secretaria de Educação e Secretaria de Justiça, e a própria Prefeitura colaborando para transferir os casamentos. Conseguimos bolos cenográficos muitos bonitos, com casalzinho, para que os noivos possam tirar fotos. Assim, humanizamos e demos mais dignidade ao casamento. Os casamentos são nos auditórios das escolas, permitindo que a própria escola possa também levar alunos para assistirem um casamento e os professores podem passar em suas aulas essas informações sobre família, cidadania etc. Isso foi uma coisa que eu gostei muito de ter feito, porque me apraz muito tentar melhorar a vida do pobre o máximo que a gente possa.