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Entrevista

Cantor Reinaldinho enaltece Axé com novos projetos musicais: ‘É uma força tratora’

Por Bárbara Gomes / Júnior Moreira

Cantor Reinaldinho enaltece Axé com novos projetos musicais: ‘É uma força tratora’
Foto: Paulo Victor Nadal / Bahia Notícias

Com bom humor e mencionando que optou viver da arte, Reinaldinho chegou à redação do Bahia Notícias neste mês para falar de sua carreira e dos novos projetos. O cantor está fazendo o “Boteco do Reinaldinho”, no Caranguejo do Baiano, toda semana. Ele também está envolvido no projeto “Axé 90º”, ao lado de Tatau e Ninha. Diferente de alguns artistas que têm enterrado o Axé, Reinaldinho prefere buscar fortalecer o ritmo, mostrando que ele continua vivo. “Morrer é uma palavra muito forte. Mesmo que todos os artistas do gênero não existissem mais, ele não morreria, pois está na memória musical. Isso é muito particular de cada um. Eu penso assim. Quando vejo uma Ivete Sangalo cantar, por exemplo, não tem como dizer que morreu”, ressaltou o artista. Para ele, as falas que apontam a crise no ritmo baiano, só aumentam a vontade do povo em querer ouvir as músicas do passado. “É uma força tratora. Quanto mais você diz que vai acabar, as pessoas pedem para que volte”. Leia a entrevista completa!

 

Reinaldinho, você é um representante do nosso Axé e viveu um dos melhores momentos do auge do gênero. Você concorda, assim como Fernando Guerreiro e Netinho, que esse gênero acabou?

Eu acho que aquela coisa do alto e baixo de uma tendência musical é normal, né? Todo movimento musical tem seu auge. O Tropicalismo, com Gil, Caetano, João Gilberto, também passou por isso, mas a música permanece até hoje. Se Caetano pega o violão e canta hoje é igualmente bacana. Infelizmente, existe essa roda, onde tudo se movimenta. Morrer é uma palavra muito forte. Mesmo que todos os artistas do Axé não existissem mais, o Axé não morreria, pois está na memória musical. Isso é muito particular de cada um. Eu penso assim. Quando vejo uma Ivete Sangalo cantar, por exemplo, não tem como dizer que morreu.

 

A música baiana mudou para melhor ou para pior?

É uma outra geração, outra forma de pensar. Cada um no seu íntimo escolhe o repertório que quer dançar e cantar. O que eu vou dizer que é ruim ou bom? Se eu não quiser escutar, não ouço. Se quiser dançar, eu danço e tá ótimo.

 

Como surgiu a ideia para o Boteco do Reinaldinho?

O Boteco surgiu, digamos assim, da parte egoísta do artista. De talvez cantar coisas que sejam interessante para ele e para um público mais exigente, que não esteja buscando o sucesso musical do momento; com outro tipo de repertório. Então, como tinha a ideia de fazer algo assim, até porque não tinha como levar minha estrutura de shows grandes, o Boteco se encaixou certinho. De poder cantar o Axé, com umas pintadas de samba carioca e paulista ou até mesmo algo mais apimentado, como o da Bahia, mas no formato acústico. Posso dizer que deu certo, né? (risos). O repertório é multi, apesar de ser feito em cima do pagode dos anos 90, mas inserimos Lulu Santos, Cidade Negra e outros. Fica bem legal. Coisa de boteco mesmo.

 

Você ficou mais de dez anos à frente do Terra Samba, no auge do axé teve muita repercussão... Presença constantes em programas de TV... O que fica hoje pra você, é mais saudade ou mais aprendizado?

Experiência. Tudo é uma construção e toda a minha base de conhecimento de música veio do Terra Samba. Foi uma época que aprendi muito e depois que resolvi sair, trouxe isso para dentro do meu trabalho e continuo aprendendo até hoje. Não tem como.

 

O que tem do Terra Samba no seu trabalho atualmente?

No Axé 90º é 100%, pois essa é a ideia mesmo. Cada um traz um pouco da Timbalada, Araketu. As pessoas que vão lá querem ver isso aí. Tratamos de trazer essa felicidade no repertório para o público. Porém, no show do Reinaldinho é bem colorido. Tem de tudo.

 

 

Nos últimos tempos, muito tem se falado que o Axé está acabando, porém projetos que reverenciam as músicas antigas estão surgindo e as pessoas seguem pedindo por mais. Você percebe isso?

É uma força tratora. Quando mais você diz que vai acabar, as pessoas pedem para que volte. É até bom (risos). Eu acho que é legal incentivar esse movimento. É como eu disse, a raiz nunca morre e tem gente bebendo daquela fonte. Mas é aquela coisa, uma coisa é fazer música, outra é estar dentro do movimento que faz sucesso, como o funknejo, pagonejo. O público hoje é diferente daquele dos anos 90. Porém, é interessante que o público de fora valoriza até mais do que o daqui da Bahia. O povo do Rio e São Paulo chega no delírio para prestigiar....

 

Seguindo essa linha, muitos artistas baianos têm feito cada vez mais shows em Minas Gerais, por exemplo. Há uma questão de valorização mais do Sudeste?

Dizem que santo de casa não faz milagre. A Bahia foi um grande palco, celeiro de novidades, mas é cara de se fazer. Existe uma máquina que funciona como todas as máquinas para fazer grana. Então, fazer parte desse cenário é difícil, pois existem várias situações que precisamos dominar para estar. É difícil, são muitas pessoas tentando passar pelo mesmo buraco da agulha, entende? Contudo, eu, Reinaldo, depois da maturidade, passei a valorizar sempre a arte. Então, se o artista é bom, ele vai furar essa barreira e se manter no circuito. A Bahia é muito difícil.

 

Para você o que tem de maravilhoso e o que tem de cruel no mercado musical?

Crueldade é uma palavra forte. Acho que todo mundo tem que fazer por onde. Se você quer alguma coisa para você, tem que correr atrás e fazer a energia girar. Se eu cansei ou optei por não brigar e por não passar por determinadas coisas, de estar envolvido com tudo, fazer social com um ou com outro, então também é bacana. Porém, tem que saber que quem tá no topo ocupa todos os espaços. Então, você tem que ir buscando luz, onde tá o ar, você vai tentando respirar. Mas acho que isso é da vida. Uma coisa é certa: não dá para todo estar em evidência o tempo todo. Já vivi do sucesso e hoje vivo da arte. São coisas diferentes.

 

E quanto ao projeto Axé 90º com Tatau e Ninha, como estão os preparativos?

O projeto já está na estrada, estamos fazendo shows há um tempinho. Fizemos o lançamento em São Paulo. Na verdade, ainda não sentamos com a imprensa aqui em Salvador para falar dele, mas já fizemos alguns programas nacionais falando dele. Tem uma programação para se fazer imprensa aqui, ensaios do Axé 90º no Pelourinho, se não me engano nas terças-feiras. Estamos vendo com os parceiros e pessoas envolvidas no processo para fechar se isso irá se concretizar. Acabei de colocar voz em uma música de Tatau. É inédita. É uma canção bem com as nossas características. Os tambores bem em evidência. Segue a temática do próprio projeto. Queremos resgatar e fortalecer  a nossa música.

 

Há possibilidade de um CD? Músicas novas?

O meu último CD gravei em Montes Claros, e por causa dele surgiu o Axé 90º, no início do ano, e venho trabalhando com ele. A música de trabalho é “Dar o rolé”. Quanto ao Boteco, a minha ideia era gravar um DVD lá na praia da Boa Viagem, ou até um CD ao vivo, mas ainda não amadureci a ideia, de saber qual a ideia, o formato e as participações. Como trabalho de forma independente, sou eu que tenho que me concentrar 80% para fazer isso. Ainda mais agora com três agendas, tenho que pensar direito para fazer bem feito. Mas não descarto a possibilidade, a gente tira forças para fazer (risos).