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Entrevista

'Minha capacidade está sempre em prova', diz Arthur Aguiar sobre críticas dos brasileiros

Por Júnior Moreira

'Minha capacidade está sempre em prova', diz Arthur Aguiar sobre críticas dos brasileiros
Fotos: Jamile Amine / Bahia Notícias
Ator, cantor, compositor, escritor e até dançarino. Um leque de possibilidades em uma única pessoa. Seria um problema?  Para algumas pessoas sim. Pelo menos, este é o relato de Arthur Aguiar, que, ao contrário das vozes das ruas, acredita no artista que escolhe ampliar suas habilidades e possibilidades. “O brasileiro é bem contraditório em várias coisas. Idolatramos o cara lá de fora que faz de tudo, como o Justin Timberlake e Robbie Williams, mas os artistas daqui temos esse pensamento. Parece que aqui você realmente tem que escolher. O que mais ouço é: ‘Ué, mas ele não era ator? Agora tá querendo cantar? Deixa ele só atuando!’. Aqui não é visto como uma coisa legal”, criticou. Em entrevista ao Bahia Notícias, o global conversou sobre a necessidade que muitos têm de rotulá-lo, além de comentar sobre sua amizade com o cantor Tomate, o seu 1º CD em carreira solo, o livro "Muito Amor Por Favor", escrito com mais três autores, como lida com a internet e assédio, relação com os fãs e outros temas. Confira o bate-papo completo:
 
Você está divulgando o CD “O Que Te Faz Bem”, seu primeiro em carreira solo. Quanto tempo para chegar ao produto final?
Bem, esse disco foi produzido pelo Alexandre Carlo, vocalista do Natiruts, e demoramos mais de um ano, pois optamos por fazê-lo bem artesanalmente; com muita calma. Quero que daqui a 10 anos, quando escutar novamente, tenha a certeza que fiz exatamente como queria. No processo, escolhemos 25 músicas e pré-produzimos todas para chegar em 10. Porém, nesse meio do caminho, fui compondo outras e substituindo-as pelas antigas. Aí o Alexandre chegou e disse: "Cara, para de me mostrar músicas e vamos focar nessas" (risos). E assim foi. Fiquei muito satisfeito, tem todas as influências musicais que gosto, como Cazuza, Djavan, Jorge Ben, Tim Maia. É um trabalho que será atemporal pra mim.
 
É um projeto 100% autoral e você buscou contar uma história. Por que essa decisão? 
Quis resgatar essa coisa do LP, muito presente nas obras desses artistas que admiro tanto, a exemplo do Djavan.  Não existia o aleatório, né? Todas as faixas faziam parte da mesma história. Então, em todo projeto falo do amor de um cara ao se apaixonar por uma menina que acabou de sair de um relacionamento e, por isso, tem muito medo de se entregar novamente. Ele passa o disco inteiro tentando conquistá-la, sem sucesso e termina com a música "Saudade", na qual ele diz que quando ela quiser voltar, estará lá esperando-a.   
 
Você fala muito de Djavan. Recentemente, fez um post emocionado do encontro entre vocês. Como foi esse momento? 
Ele é um ídolo e não sabia que me conhecia. Fui para o show como fã mesmo. Cheguei ao camarim, tinha uma galera esperando e pensei em ficar lá até esvaziar. Porém, conforme as pessoas iam saindo, ele me viu e falou: "Só um minutinho aqui. Deixa eu falar com esse menino talentoso".  E me deu um puta abraço, dizendo coisas legais e perguntou: "Cadê meu CD?". E eu pensei: "Como assim você sabe do CD?". Entende? Claro que mandei depois e ele me retornou com vários conselhos. Só que na hora não consegui falar tudo que tinha ensaiado, porque não esperava que ele me conhecesse. Foi muito especial.  Inesquecível.
 
Sua música de trabalho "A Flor" está sendo bem aceita. O clipe soma mais de 3 milhões de visualizações e ficou entre as mais tocadas das rádios pop do Rio de Janeiro. Esperava essa repercussão?  
Não esperava. Inclusive, na semana que estreou, ficamos em segundo lugar no Rio, perdendo só para Anitta. O que achei mais legal é que o sistema funciona assim: Você fecha um número de rádios com uma quantidade X de execuções. Para ter mais, tem que ocorrer pedidos. E isso foi aconteceu. Sabíamos até onde poderíamos ir e ao passar disso, você entra na programação das mais pedidas e assim vai...  Então, não esperava, mas queria. Sempre buscamos que seja o melhor possível. É bem legal quando somos surpreendidos, né? Fiquei bem emocionado quando ouvi pela primeira vez na rádio, pois estava com minha mãe no carro. Foi especial.
 
O clipe conta com a participação da atriz Thaila Ayala. Vocês já se conheciam?  
Foi muito louco, pois ela não estava morando aqui na época. Bem, estava procurando alguém que tanto os caras quanto as meninas se identificassem e ela tem isso, né? Uma personalidade muito forte e é impressionante o número de pessoas que falam dela e isso que queria.  Mas nessa busca por alguém que tivesse essa representação, uma amiga em comum falou dela e colocou a gente em contato. Antes de falar do clipe, comentei da música, pedindo que ela ouvisse, porque era fundamental que ela gostasse. Então, ouviu, adorou e perguntou o que eu queria e concluiu: "Tô dentro". E foi. A Thaila foi muito maneira, porque mesmo com a agenda apertada, desmarcou tudo para fazer. Vou ser muito grato por ter acreditado; por ela ter aceitado dar esse tiro no escuro, pois era meu primeiro clipe e ela não hesitou em colocar seu nome. 

Além disso, você lançou o Livro "Muito Amor Por Favor" em setembro na Bienal de São Paulo e é uma parceria com mais três autores, em que cada um fica responsável por falar de amor com um elemento da natureza. Você ficou o “amor e água”. Como nasceu a ideia do livro? 
O livro surgiu de uma ideia da própria editora que já tinha tido uma experiência com quatro autoras. Quem fez essa ponta foi a Thalita Rebouças, minha amiga. Os outros três já tinham sido escolhidos e estavam buscando um nome que fosse ligado a música.  Mas, assim, eu nunca tinha escrito nada nesse sentido. Eu componho, que é diferente. Ai disse para Talitha que não tinha como, pois estava finalizando disco e gravando novela ("Êta Mundo Bom!"). Como assumiria esse compromisso? Porém, ela me incentivou e acabei topando. Aceitei o desafio. No início foi muito difícil, pois realmente não sabia a estrutura de como montar os contos. Tive 25 dias para escrever tudo. Foi tenso, mas muito legal. Tô muito orgulhoso de ter conseguido.  Esse processo do livro me ajudou a compor depois. Me mostrou onde fica esse botão da inspiração, sabe? 
 
Você também está gravando o filme “Pluft - O fantasminha. É pra quando? Qual vai ser seu papel? 
Legal. É uma obra da Maria Clara Machado e eu faço o Sebastião, um dos três marinheiros. Ele é meio que o 'liderzinho' dos outros.  É a parte cômica do filme. Eles fazem muita besteira, são bem atrapalhados. Tá sendo muito divertido. Acho que vai ser um filme para a família toda e será o primeiro longa brasileiro inteiro em 3D e, por isso, demora um pouco mais. As sequências são feitas com duas câmeras em uma só. Fica uma espelhando na outra. É uma loucura. A previsão é para as férias de 2018.
 
Falando em atuação, você emendou dois trabalhos na Globo. Primeiro com o protagonista de “Malhação” e depois fez “Êta Mundo Bom!”, que foi um grande sucesso de audiência. Você segue contratado da emissora? Ou está com vínculo por obra? 
Sigo contratado da Globo. Fui escalado para uma novela do ano que vem, mas não posso falar nada ainda, senão me matam (risos). 
 
 
Arthur, você canta, atua, compõe, dança (participou da “Dança dos Famosos”, do Faustão) e escreve. Muita gente deve tentar te rotular e querer saber o que mais gosta de fazer. Como reage a isso? 
Acho que o brasileiro é bem contraditório em várias coisas. Idolatramos o cara lá de fora que faz de tudo, como o Justin Timberlake e Robbie Williams, mas os artistas daqui temos esse pensamento. Parece que aqui você realmente tem que escolher. O que mais ouço é: "Ué, mas ele não era ator? Agora tá querendo cantar? Deixa ele só atuando!". Aqui não é visto como uma coisa legal. Temos vários artistas que fazem isso e enfrentam o mesmo preconceito. Então, não consigo entender onde o povo brasileiro vê isso como uma coisa negativa, sabe? Acho que eles deveriam falar "pô, que bacana, cara!". 
  
Esse posicionamento ainda te incomoda?  
Incomoda, porque me limita e minha capacidade é sempre colocada em prova, saca? Quando na verdade, não deveria provar nada, pois é de verdade. Sempre falo, principalmente em gêneros musicais, que não existe um que é bom e outro que é ruim. Tem aquele que você se identifica mais; que você gosta de ouvir, mas não significa que o segundo não presta. É a verdade dele! Cada um tem a sua. As pessoas têm essa necessidade de rotular, porém precisam entender que tudo na vida é uma questão de prática. Conforme for fazendo tal coisa, você melhora. Isso é com qualquer pessoa.  Então, espero que em algum momento as abram as cabeças um pouco e comecem a valorizar o que temos aqui. Acho que damos muito valor às coisas de lá de fora, que são legais, mas temos que olhar as daqui de dentro também.
 
Você ficou nacionalmente conhecido ao integrar o elenco da versão brasileira da novela “Rebelde”. Há notícias que a Record pretende reprisar. O que acha disso?  
Ouço isso há uns dois anos e até agora nada. Nunca reprisaram, mas acho que seria legal. Outra dia, passou “Dona Xepa”, também da Record. Fiquei bem feliz em rever, pois foi a primeira vez que fui indicado para o prêmio de melhor ator. Tenho muito carinho. 
 
Continua amigo de todos os ex-Rebeldes? 
Sim. Porém, como na vida, você acaba tendo mais contato com um do que com outro. 
 
Falando em amizade, você é uma figura cativa em Salvador e já subiu algumas vezes no trio do Tomate e em 2015 comandou por algumas músicas o bloco dele. Como surgiu essa relação?
Então, há alguns anos, eu era empresariado pela Claudinha (Leitte) e ela fez um show aqui em Salvador no qual convidou algumas artistas. Entre eles, estava o Tom (Tomate). A gente se conheceu lá através de um amigo em comum. Depois do show, fomos para a casa dele e fizemos uma música juntos. Passamos a nos falar direto, surgindo uma amizade de forma natural que dura até hoje. 
 
Por ter feito “Rebelde” e depois” Malhação”, seu público tem uma parcela adolescente, em fase de formação. Você tem essa preocupação do conteúdo que passa para eles?   
Tenho preocupação de plantar coisas legais. Então, não tô dizendo que sou certinho e perfeito. Não é isso. Mas tento passar valores. É engraçado porque muita gente acha que meu público é formando apenas por adolescentes, mas, por exemplo, a galera de Rebelde que tinha 15, hoje tem 20. Não são mais tão novos. O público foi crescendo. Ainda tenho gente bem mais nova, que veio da "Malhação" e do "Rebelde", que passou recentemente no Netflix. Porém, com as redes sociais, eu consigo ver o meu gráfico de idades. Então, 75% do gráfico é composto de 8 a 44 anos. E ninguém sabe disso. De 13 a 17 são 20% e nem eu sabia (risos). É legal falar disso, pois tem uma galera mais velha que pensa em não ir ao show porque acha que só tem gente nova e não é. Posso ser um artista de classificação etária livre. Tento o tempo todo tá quebrando os rótulos.  
 
 
 
Você é um artista muito presente nas redes? 
Estou me dedicando para ser um pouco mais presente. Assim, as meninas me cobram muito, pois, às vezes, fico cinco dias sem postar nada, porque é muita correria e acabo esquecendo mesmo. E não é só na vida profissional, sabe? Esqueço de tirar fotos sempre; faço uma viagem super legal, não registro nada e fica tudo na cabeça. É uma coisa que estou trabalhando em mim para melhorar, pois sei que eles querem que eu divida mais. Quero ficar mais presente e fazer com eles se sintam mais próximos de mim também.
  
Está solteiro? Como lida com a abordagem das fãs?
Tô. Eu lido de uma forma tranquila e vejo como admiração. Assim, minhas fãs são intensas, porém sinto que é mais uma admiração do que uma coisa de "Vem cá que quero te beijar". É algo mais: "Pô, quero ficar perto de você; tirar uma foto". Sinto que rola isso e tento plantar mais por esse lado, pois é duradouro. Afinal, a beleza passa.  
 
O rótulo de galã incomoda?  
O rótulo não me incomoda, mas não bato nessa tecla. Quero que vejam que sou mais que isso. Eu posso fazer várias coisas diferentes. Não tenho a intenção de ser o novo galã da Globo, quero é fazer personagens legais que me desafiem; que fique pensando em como irei construir. Acho que tenho conseguido isso.