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Entrevista

'Tive muita sorte de já ter um trabalho', diz Ju Moraes sobre carreira pós-The Voice

Por Júlia Belas / Lucas Cunha / Rafael Albuquerque

'Tive muita sorte de já ter um trabalho', diz Ju Moraes sobre carreira pós-The Voice
Foto: Bruna Castelo Branco // Bahia Notícias


Bahia Notícias: Inicialmente queria saber sobre a FantaJu, sua festa a fantasia em que você comemora seu aniversário. Já definiu algo sobre a caracterização e os convidados?
Ju Moraes: Como a gente vai fazer num sábado, pensamos em alguns nomes, mas a galera vai estar fora. Também tem um tempo que não fazemos um show só nosso. A grande sacada é a caracterização do Chaplin. Vamos tocar uma música dele, porque além de comediante ele era músico. Vamos fazer uma versão em samba. O Fanta Ju por si só já tem muita coisa, muita informação, e terá a premiação da melhor fantasia individual, em dupla e em grupo. Não é um show comum, é uma grande farra. Já é o quarto ano que fazemos isso e a galera já sabe o que vai encontrar por lá. A diferença é que dessa vez a gente vai caracterizar o lugar também.
 
BN: Como está a preparação para o Carnaval?
JM: A gente teve uma grata surpresa pra o Carnaval. Esse ano veio o convite do bloco Proibido Proibir para fazer a caminhada do samba, que acontece neste domingo (30), e o Carnaval 2015. Então, basicamente os ensaios serão para testar o repertório do que vamos fazer no Carnaval. A gente vai ter que fazer um lance específico pra o bloco. Temos que ver nos ensaios o que o público gosta.  Vamos fazer os ensaios nos dias 19 e 26 de dezembro, e todas as quintas-feiras de janeiro, lá no Red River Café. 
 
BN: Te incomoda as pessoas se referirem a você mais como ex-The Voice do que como ex-vocalista do Samba D’Ju?
JM: Não. Na verdade é o contrário. O The Voice foi uma grata surpresa em minha vida. Nunca imaginei que ia participar de um reality de música na vida, e muito menos que teria essa projeção. Acho que as pessoas têm referência do The Voice porque eu fui pra final. Sempre terá essa referência. Aqui em Salvador as pessoas falam pouco sobre isso, mas lá fora as pessoas falam muito. Lá fora as pessoas só me conhecem por causa do The Voice e agora por causa do CD novo que estamos trabalhando. Lançamos ele em abril, mas com eleição e Copa do Mundo, estamos ainda trabalhando nele. Vou continuar trabalhando nele pra que as pessoas entendam que eu tenho um trabalho pós-The Voice. Passar pelo The Voice foi meio que um selo de qualidade que atesta: sou cantora. Óbvio que eu sempre fui, mas agora as pessoas sabem disso. Eu guardo minha passagem pelo programa com muito carinho.
 
BN: Você tem um favorito no programa atual?
JM: Cara, isso muda muito. Até porque tá muito no início. Nos primeiros dias da audição às cegas eu fiquei apaixonada pelo Dilauri. Era incrível a forma como ele cantava, se vestia, se comportava. Parecia que tinha um feixe de luz em cima dele. A segunda audição dele eu já vi que não era muito o que eu estava imaginando, até porque os cantores que cantam em inglês muitas vezes sentem dificuldade em cantar em português. Outro que me chamou atenção foi o Lui, que saiu do time de Lulu e foi pro de Claudinha.
 
BN: Como você observa a carreira dos artistas pós-The Voice, inclusive a relação com a própria Globo? Eles param de investir nestes artistas após o fim do programa?
JM: Eu acho que não é uma questão de falta de a Globo deixar de lado ou de falta de investimento. Na verdade, eu tive muita sorte de já ter um trabalho, uma banda montada. A gente tem que pensar que vários artistas ali estão subindo no palco pela primeira vez, outros não. Temos que analisar o trabalho de cada um. Eu já tinha banda, estrutura, empresário, já sabia o que funcionava, o que as pessoas querem de mim. Quando eu estava no The Voice eu não fazia nada a não ser me dedicar ao programa. Foquei, estudei. E quando terminou, a gente teve várias propostas. Minha ideia era que acabou a banda de amigos, acabou não ensaiar, acabou o oba oba. Eu chamei Mikael (Mutti), que era um amigo que conheci nesse lance do The Voice. Ele é um gênio de uma generosidade absurda. Ele tinha um discernimento do que eu achava lindo, mas não estava bom. Eu fiz um projeto que nada mais é um reality show. Fiz um DVD com minha cara, simples, e mostrei o dia-a-dia de gravação para as pessoas. Quando a gente levou para a Universal Music eles acharam show e lançaram do jeito que estava. Daí em diante as pessoas passaram a conhecer mais. Muita gente pergunta: por que muitos dos participantes sumiram? Acho que envolve sorte, envolve estar no lugar certo, na hora certa e com a pessoa certa. Tem também quem não estava preparado para aquilo ou não tinha estrutura. 
 
BN: Então, se você não tivesse participado do The Voice, em que estágio estaria sua carreira atualmente?
JM: Eu acho que nada na vida da gente é por acaso. O The Voice pra mim foi muito importante, um divisor de águas. Acho que muita coisa teria que acontecer pra eu estar aqui hoje. Não acredito que as coisas são por acaso. Alguma coisa ia acontecer, a gente ia estudar pra tudo dar certo. Mas o The Voice foi um estilingue. Se não fosse ele talvez não existisse toda essa projeção, mas se não fosse nosso trabalho a gente não teria se mantido e crescido. 
 
BN: Quais parceiros o estilingue que foi o The Voice te proporcionou e que você não imaginava ter contato?
JM: Muitos. Pra você ter ideia, eu estava sentada esperando o carro me pegar lá no Projac, quando do nada chegou Sérgio Mendes. Eu sou muito fã dele. O pessoal da portaria não sabia quem ele era, e ele iria fazer uma participação com Brown, mas estava sem documento e com problema para passar na portaria. Eu pedi licença e expliquei quem ele era e tal. Ai alguém da produção foi buscar ele e deu tudo certo. Conheci ele e começamos a conversar. Tem o próprio Brown, que sou fã incondicional e que já fez música pra mim. Ele me ajudou muito a amadurecer musicalmente. A própria Claudinha, generosa e maravilhosa. Logo quando eu saí do programa, eu comecei com os ensaios de inverno aqui. Então, eu recebi pessoas que eu admiro muito como Ivete, Margareth, Tatau, Márcio Victor, Tuca, que é um amigo de muito tempo. Eu fui fazer uma participação com Jota Veloso, que é um cara por quem tenho muito carinho, e quem estava lá foi Caetano (irmão de Jota Veloso). Na minha loucura, convidei Caetano para cantar. Ele cantou e foi muito generoso. Essa semana eu estava com Belo, no Gigantes do Samba, e o convite aconteceu por parte dele. 
 
BN: Até onde o samba consegue ir aqui na Bahia? 
JM: Eu acho que quanto mais regional e quanto mais você sabe onde você está pisando, mais chance tem de se tornar nacional. As pessoas gostam de ver isso, quem tem identidade e sabe o que quer. Sempre gostei o samba da Bahia, mas muita gente não tem noção da dimensão disso. A gente tem, por exemplo, Nelson Rufino, um dos compositores mais gravados no Brasil. Zeca Pagodinho vem a Salvador, e bota no show dez músicas de Rufino. 
 
BN: Mas acaba sendo uma composição de um baiano difundida por cariocas.
JM: A composição é nossa, mas é o eixo Rio-São Paulo que difunde e faz essa comunicação. A música que é feita aqui é levada pra lá. Se a gente parar pra pensar e voltar na década de 80, temos Luis Caldas que dançava o fricote e ficava descalço no palco. O pessoal de fora entendia o que era aquilo? Eles tiveram a curiosidade e deu certo. Então, se eu chegar lá cantando pagode e samba carioca, eu serei apenas mais uma cantando pagode e samba carioca. Tenho que fazer o que eu sei fazer, e eu sei fazer é samba com nossas referências. É um samba apimentado e com muito azeite de dendê. Somos regionais, mas não somos limitados. 
BN: Mas você acha que há um bom público local? Muitos artistas locais precisam antes serem reconhecidos no eixo Rio-São Paulo pra só depois voltar e ter o reconhecimento em Salvador...
JM: Mas é exatamente por essa questão de comunicação. Os meios de comunicação do sudeste são os que espalham tudo para o Brasil e a gente sabe disso. A mídia nacional está lá. Ou você vai até eles ou não funciona. A não ser que você seja Pablo, porque ele é sucesso sem essa exposição na mídia. A gente que faz uma música que é totalmente nossa, tem que fazer muita TV e rádio lá pra que reverbere no Brasil. Outra coisa: o público do eixo Rio-SP consome muito mais samba do que Salvador, mas isso tá mudando. 
 
BN: Você começou em uma banda de rock, não foi?
JM: Comecei no rock, porque foi a oportunidade que eu tive de fazer alguma coisa na música. Eu tinha acabado de fazer 18 anos, meu primo tinha uma banda chamada Terra de Ninguém e eu escutava muito rock, e então comecei nessa brincadeira. A cantora tinha saído e eles me chamaram pra cantar. Era um estilo Pitty, mas muito mais rock’n roll. Eu desenvolvi muito no rock e depois fui fazer barzinho, e aí veio o samba e tomou conta.
 
BN: Mas você pensa em se aventurar em outras vertentes musicais?
JM: Esse disco que a gente gravou agora tem samba como principal vertente, mas tem três músicas com uma vertente do pop. Tem “Floresceu o jardim”, que é bem MPB; tem “Vai”, que é uma composição minha, e tem “Todavia”, que é a versão de uma rumba. Desde que decidimos que seria Ju Moraes e não mais Samba D’ju já estávamos pensando nisso. Pensamos em carregar a bandeira do samba, mas sem rótulos. O rótulo é uma homenagem, um cartão de visitas, mas a gente faz tudo. 
 
BN: Você acompanhou o Superstar? O que achou?
JM: O bacana do Superstar é que as bandas saem de lá prontas, com uma agenda de shows absurda. Isso porque as pessoas se apresentam e mostram como são. No The Voice vai um cantor se apresentar com a banda do The Voice, com as músicas escolhidas por produtores musicais, e tal. No Superstar os produtos chegam prontos. Pra quem tem um projeto pronto, uma banda formada, o programa é uma alavanca superbacana.

Fotos: Bruna Castelo Branco // Bahia Notícias