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Marca Bahia Notícias Holofote

Entrevista

‘O Pagodart agora é meu, uma nova direção’, diz Flavinho sobre retorno

Por Júlia Belas

‘O Pagodart agora é meu, uma nova direção’, diz Flavinho sobre retorno
Fotos: Bruna Castelo Branco | Bahia Notícias
O cantor Flavinho fez sucesso à frente do Pagodart, mas depois de um encerramento conturbado, está de volta ao comando da banda. O lançamento da nova banda Pagodart em Salvador acontece na próxima sexta-feira (14), no Cais Dourado, no evento Massa Prime. "A gestão antiga não existe mais, hoje é outra direção. Hoje, eu venho como dono da banda, eu e meus sócios ajeitamos as coisas. No tempo que eu estava no Pagodart, eu era funcionário", contou, em entrevista na redação do Bahia Notícias. Agora um dos sócios detentores da marca, o vocalista fala sobre a nova fase do pagode baiano e comenta um pouco sobre os planos para os ensaios de verão, Réveillon e Carnaval. Confira a entrevista completa na coluna Holofote!
 
 
Bahia Notícias: Você pode falar um pouco sobre esse CD novo, que vem com algumas músicas não tão novas assim? O Pagodart já lançou "A volta", que estava tocando nas rádios, e agora está lançando "Selfie". Como foi esse processo de gravação?
 
Flavinho: A gravação, para a gente, foi mais fácil. Em época de gravação, a gente geralmente dorme e acorda dentro do estúdio. O difícil, mesmo, foi montar as músicas. Ter o tempo de colocar as músicas que a galera estava pedindo, principalmente os fãs. Eles pediram principalmente as antigas, que ficaram marcadas com a minha voz no Pagodart, e a gente estava preocupado com isso. A gente tinha que colocar algumas músicas novas para a galera dizer "esses caras estão com assunto novo também". Então a gente veio com essa música falando da volta, falando dos fãs, e a música "Selfie", que é uma coisa que a galera tá fazendo, envolve o mundo todo e, graças a Deus, está tendo uma repercussão legal. É uma música que a gente colocou na rádio justamente pelo apelo nas redes sociais. A gente tem mais duas músicas inéditas, "Avolontê" e "A Carreta Tá Sem Freio", que é boa para o carnaval, mas a "Selfie" foi a mais pedida pela galera. Gravar as outras músicas já foi mais tranquilo, porque é o que a gente já faz. Botamos uma roupagem de leve, demos uma acelerada no jeito que estávamos tocando, e agora estamos felizes com a aceitação do público. A rapaziada nas redes sociais está bem feliz, e tocamos antes em Sergipe para vir para o show daqui já preparados, porque antes estávamos só no estúdio. Esse show já foi meio tenso, parecia que a gente estava fazendo o primeiro show da carreira. Estava falando com os caras, parece que a gente vira um gurizinho. Agora, a gente está preparadíssimo para esse show de sexta-feira. A rapaziada vai poder curtir bastante. A gente está preocupado é com o tempo, porque a gente está ensaiando e não sabe se vai ter o tempo. A gente quer colocar as músicas antigas, mas a galera também que escutar esse retorno, escutar as músicas "Papugurugudu", "Smirnofay", "Chão Chão", "Se Você Quer Tome", "Experimenta". A galera quer escutar essas coisas, mas vamos organizar tudo direitinho para passar para a galera.
 
BN: E como foi o clima no show de Aracaju? Nos vídeos que vocês publicaram, dava para ver que estava muito cheio. Como foi a recepção do público?
 
F: A gente sempre teve Aracaju como a nossa segunda casa. Falo isso porque a gente ficava mais lá do que aqui, quando a gente estava tocando menos em Salvador e mais lá por Sergipe, tanto com o Pagodart quanto com Os Barões. Eles foram os que mais pediram esse retorno, e quando souberam que a marca estava em leilão, foram eles que anunciaram para a gente. Diziam que "se eu tivesse R$ 200 mil, eu comprava a marca e dava para Flavinho", então foi isso que motivou. Conseguimos a marca, tivemos a proposta para fazer o lançamento lá, o Belo convidou a gente, ele achou a ideia legal. Ele chamou e disse "pô, Flavinho, venha fazer o show aqui, a galera pede muito você", e ele ia fazer o show lá também, então marcamos o "Belo Convida" com o lançamento "Flavinho com o Pagodart". Graças a Deus, encaixou certinho e a gente ficou só ensaiando. Na hora do show, parecia que a gente nunca tinha feito show nenhum. Todo mundo tenso... Mas foi bom, porque preparou todo mundo para o show de agora, em Salvador. Estava muito cheio, a galera muito alegre, comemoraram bastante.
 
BN: Você passou cinco anos fora do Pagodart, e apesar de estar com os Barões, houve uma mudança. Como você vê, de cinco anos para cá, o cenário do pagode baiano?
 
F: Nesses cinco anos, eu tive que aprender. O mercado caiu bastante para mim, pessoalmente. O estilo de pagode que eu toco, com músicas mais de brincadeira, com dança e coreografia, não estava acontecendo. O pagode, para mim, que tocava muito fora, estava numa decadência tremenda. Aí, o lance da marca caiu como uma luva, não só para a gente, mas também para os amigos e empresários que diziam "obrigado por voltar com o swing, aquele pagode 'de boa' mesmo que você faz, com a mesma linha do Harmonia do Samba, do Psirico". Eles comentaram isso com a gente, e isso fortalece e faz acreditar que a gente pode mais.
 
BN: Você começou profissionalmente na música em que ano? Como foi esse início?
 
F: Foi em 2002. Na verdade, em 2000, com os Aventureiros do Samba e depois Trakinos. Era a banda de Valmir, Murilete, JR e Fábio Baratino. Esses quatro me encontraram em Cajazeiras e fecharam essa banda. A gente tocou no Festival do Interior, e de lá saiu um CD legalzinho que a galera curtiu. Foi quando eu percebi que era meu sonho se realizando, que estava rolando mesmo. Nessa época, eu ainda estagiava no Banco do Brasil, aí depois começou a chocar o horário. O meu estágio era de dois anos e eu só fiquei um ano e cinco meses porque comecei a fazer show. Aí eu tive o convite do Pagodart, que o próprio Valmir me indicou. Aí eu comecei no Pagodart, então conto como 2002 o ano que eu aprendi essa estrutura.
 
 
BN: São 12 anos de carreira. O que você vê que mudou no pagode desde 2002? Já existe uma maior aceitação do pagode dentro da música baiana? Teve a onda dos anos 90, depois o Harmonia, Léo Santana... São artistas que dialogam de frente com o axé. Hoje, o pagode tem até mais nomes de destaque do que o próprio axé. Você acha que tanto o público quanto os outros artistas já recebem bem o pagode? Existia alguma resistência no início e hoje não mais?
 
F: No início, da minha parte, eu achei que tinha uma resistência dos dois lados. Mas também eu não sabia como era, e hoje eu vejo. Uma banda que se cuida, se prepara para estar bem com esses dois lados. Uma banda que começa hoje e não se cuida, é difícil ficar de frente com Ivete Sangalo. Tudo é o começo. No início, você não tem para onde correr, mas chega a hora que você está em um patamar que precisa se cuidar. Pensar "olha, já aprendi isso aqui, não posso ficar mais daquela forma", e você vai aprendendo. No começo foi assim, mas depois de um tempo com o Pagodart eu fui aprendendo e comecei a me dar bem com todos. Eles começaram a ver o meu potencial. A forma que eu chegava nos lugares, que eu me expressava com eles, que eu me expressava nos shows, e começou a rolar melhor. Até no começo, eu tinha danças que eram mais obscenas, mas com o tempo você vê e pensa "isso aqui eu fiz feio". Comecei a olhar os meus vídeos para avaliar. Então você tem que tentar ser educado. Há resistência? Há. Mas pelas pessoas que não tentam se educar no lugar em que chegam. Espero que a galera que está chegando procure se educar para continuar todo mundo unido, até porque eu não quero ninguém mal-educado na minha casa. Quem vai querer? Eu acho que o lance do pagode e do axé... O axé sempre esteve na nossa frente. É uma galera que se organizou legal. O pagode chegou a dar uma guinada, uma organizada, mas depois houve essa decadência. A galera vem aqui escutar os frutos dos outros lugares. Já tem um tempo que a Bahia não tira algo da gente aqui, fica tirando dos outros de fora para colocar para a gente. A gente não é mais novidade. Pelo menos na área do pagode, a preocupação é que a gente volte o nosso pagode do jeito que a gente fazia, claro que renovando, e que a rapaziada de fora venha dar o valor que eles sempre davam à gente. É o Tchan, Terrasamba, todo mundo que vinha de fora, vinha para ver. Foi para o mundo todo. Eu falo desses caras, que são os pioneiros, para a galera nova entender e pensar "eu quero me espelhar nesses caras porque não quero só tocar em Salvador". Porque tem muita gente que quer ficar só em Salvador. Acha bonito tocar só aqui, arrumar uma namoradinha aqui, a menina achar lindo, gostosão, bonitona... E eu digo "rapaz, vocês têm que descobrir o mundo". Descobrir o mundo deixa o caminho bom para quem está crescendo, que vai querer fazer o mesmo caminho que vocês. Se eles vierem nessa linha que eu procuro fazer, o pagode vai crescer mais ainda e vai sair dessa fase que não está legal não, porque para tocar fora, estamos numa dificuldade imensa.
 
BN:  O Danilo Souza, que assumiu o Pagodart na sua saída, ficou apenas seis meses no comando da banda. Você não tem medo de acontecer algo parecido?
 
F: Não, jamais. Hoje o Pagodart é meu, a gente tem uma nova direção. Eu, Ângelo Dalton, [Cristóvão Ferreira] Neto e Naldo. Somos quatro sócios. A gestão antiga não existe mais, hoje é outra direção. Hoje, eu venho como dono da banda, eu e meus sócios ajeitamos as coisas. No tempo que eu estava no Pagodart, eu era funcionário. Foi o lance do Danilo; ele era funcionário, fechou uma coisa, acabou não dando certo para ele e ficou só seis meses. É complicado porque é um bom cantor, vem com uma boa expectativa da família, de todo mundo, aí deixam o cara nessa situação. Ele comentou comigo que estava com boas expectativas, mas chegou na hora e não foi. Essa expectativa que eu tenho hoje vem de mim mesmo, então para mim, é mais fácil. Hoje eu dependo de mim, do meu trabalho, do meu esforço. Suava a camisa antigamente para eles, não posso suar para mim agora? Então estamos com esse trabalho e bem mais tranquilos.
 
BN: E o que mudou do jovem Flavinho, que trabalhava na fábrica da Papaiz (marca de cadeados), para o Flavinho dono do Pagodart?
 
F: Rapaz, você lembrou da Papaiz! Chegava lá, ficava cantando com a galera... A cada ano que vai passando, você pega mais experiência de estrada, de discussão com músico, de risadas com músico, de perder e ganhar dinheiro com música... A gente vai vivendo a vida, aprendendo muito com aquilo ali. Aprendendo a cantar mais, a conversar, a ser mais educado. A gente aprende tudo com essa estrada de música. Aprende a cuidar mais da família, porque a gente fica muito distante. Em todos os momentos que a gente quer construir uma coisa sozinho, a gente aprende muito. Tem o fato de estar viajando o tempo todo. Final de semana, que é bom, a gente sempre está tocando. Chega a segunda-feira, dia de folga, mas a família está toda trabalhando. Você praticamente não vê, só à noite, e está todo mundo cansado do trabalho. Então eu digo que sou um cara mais maduro hoje. Não sou perfeito, tenho meus defeitos, mas hoje estou mais tranquilo, não sou mais aquele gurizinho da Papaiz não. Mas aprendi muito ali.
 
BN: E quem você diria que são os seus amigos no mundo do pagode e do axé agora? Quem, desse pessoal mais novo do pagode, que te ouve desde 2002, 2003, você vê que faz um trabalho legal?
 
F: Eu tenho vários amigos, mas a minha linha, mesmo, é a de jogar bola. Eu sou cantor, mas não sou focado em ficar todo dia fazendo música não. Sou pai de família, casado há 15 anos, tenho três filhos. Então quando eu vivo a vida de artista, é naquele horário. Eu tenho uma programação. A galera mais nova às vezes não tem isso. Às vezes vem música na cabeça do cara e ele tem que colocar para ser um compositor do mercado. Tem uma galera nova e muito boa fazendo isso aí. Thierry (Fantasmão) é um compositor do caramba, de mão cheia. Ele hoje é uma referência. Viram para ele e dizem "tenho uma música aqui dizendo que o ladrão da favela é o maior" e ele diz "não, tenho uma música para você que vai ser bem melhor". Quando os caras gravam a música dele, o pagode volta à linha correta. Os cantores, compositores... EdCity também é um bom compositor. Essa galera tem que ajudar a fazer isso. Eles estão tendo seguidores, então são eles que têm que fortalecer isso. Eu creio que eles vão salvar essa nação aí.
 
BN: Você falou da questão da dança e das músicas que tinham um duplo sentido. Hoje em dia, não existe mais tanto espaço para músicas como "Tapa na Cara", gera um problema muito maior. Você acha que vai conseguir manter o estilo do Pagodart ou vai ter que se adaptar?
 
F: Na verdade, dá para você cantar uma música com duplo sentido. O problema é que as músicas de hoje não estão com duplo sentido, estão diretas. Quando a gente cantava "Se Você Quer Tome", tinha um duplo sentido, e ao mesmo tempo a gente cantava o "Smirnofay". Hoje em dia, todo mundo canta "tome aqui, tome ali, vou botar aqui, vou fazer ali", já são diretos. Eu respeito a área de cada um que queira fazer isso, mas eu não pude me render a essa situação porque eu era cobrado por outras pessoas onde eu fui tocar. Já viajei, fui tocar na Europa, já toquei pelo Brasil todo. Eu sou um pai de família, não posso chegar com um CD que está em um nível que não seja de acordo com o meu perfil. A galera já conhece o meu perfil de música, então eu tenho que me preocupar muito com isso.
 
 
BN: E esse tempo todo que você ficou nos Barões, era um clima diferente. O pagode era mais cadenciado...
 
F: Era um pouquinho mais lento, um pouco mais arrastado. Eu não conseguia tocar aqui em Salvador. Para eu tocar em Salvador, eu tive que não tocar as mesmas músicas, mas colocar tudo no mesmo ritmo que a galera estava fazendo para sobreviver nesse mercado. Senão se você visse que ia ter Flavinho e Os Barões aqui e outra banda ali, pensava logo "que nada, Flavinho só toca aquelas músicas lá, aqui dá para a gente subir no teto do carro e fazer o que a gente quiser". Eu tive que me adaptar. Quando a música tinha um duplo sentido muito forte, eu procurava colocar outro nome. Deu para durar esses cinco anos nessa luta aí.
 
BN: Vocês estão se preparando para tocar aqui em Salvador na sexta-feira, mas já estão preparando mais alguma coisa pela cidade?
 
F: Depois do lançamento, a gente está programando para fazer os ensaios de verão. A depender do lugar, se o lugar for grande, vai ser de 15 em 15 dias. E a gente tem um compromisso, que eu tinha marcado com o pessoal do Armazém Villas, que talvez tenha Pagodart lá. Não batemos o martelo, não está 100% ainda, mas a galera soube que a gente ia fazer e perguntou "e aqui em cima, no Armazém, todo mundo toca e vocês não vão tocar?". Temos uma parceria muito boa com a galera de lá. O problema é que tem muito pedido de fora. A gente tá fazendo o lançamento aqui, aí o pessoal de Fortaleza, Manaus, Cuiabá, todo mundo fala "pô, a gente tá querendo fazer o lançamento aqui, a volta do Pagodart". Então a gente está pesquisando direitinho para fazer esse lançamento correto, cheio, da forma que a gente está fazendo aqui em Salvador.
 
BN: Você lançou um CD com várias músicas antigas. Tem algum com inéditas já planejado?
 
F: A gente vai começar a lançar algumas músicas no ensaio. Estamos preparando esse ensaio de verão e todos os ensaios vamos lançar umas duas, três músicas, para sentir o público gostando da música. A gente está começando do zero, então tudo é um custo. A gente não pode pegar música de compositor, chegar ali e gravar. Perder R$ 3 mil de estúdio para gravar e o CD não dar certo. Então primeiro a gente vai trabalhar a música no ensaio e perto do carnaval a gente vai colocar o CD, quando a música já estiver na boca do povo. Até com algumas músicas com o pagode na linha da gente, pagode baiano, para que fortaleça ainda mais o movimento do pagode na linha quebradeira, que todo mundo gosta.
 
BN: Depois dos ensaios de verão vêm o Réveillón e o carnaval. Já tem alguma coisa planejada?
 
F: Para o Réveillón, a gente tem alguns pedidos, estamos negociando algumas coisas. Graças a Deus, já tem os pedidos!
 
BN: Vai ser aqui por Salvador?
 
F: Tem Salvador e tem Bahia, sul da Bahia. Mas a gente ainda está negociando. Não pode falar ainda, mas eu estou feliz por já estar negociando, porque estão vendo que o projeto está caminhando. Colocar a cabeça no lugar e colocar o pé no primeiro degrau. Vamos começar do zero. Todo mundo está com a cabeça tranquila, no lugar, sabendo que a gente está começando. Não é porque é Pagodart que a gente já pode avançar. Vamos botar o pé no primeiro degrau, felizes de já ter os pedidos. Espero que a galera possa curtir bastante os nossos ensaios de verão, que estão bem projetados.
 
BN: E carnaval?
 
F: Tem uma conversa boa com a galera do bloco Traz a Massa, e a gente já tem o bloco As Kuviteiras. Na verdade, a gente tinha fechado com eles na época dos Barões, que a gente tocou no ano passado, e não podia deixar a galera na mão. A gente já tem As Kuviteiras, que é confirmadíssimo, porque eles abriram as portas para a gente nos Barões e eles deram para a gente tomar conta do bloco, assumir e fazer algo mais organizado. A rapaziada vai poder curtir bastante também.