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Marca Bahia Notícias Holofote

Entrevista

Tomate fala sobre rótulo de drogado e diz ter pena de Ivete e Claudia Leitte

Por Fernanda Figueiredo

Tomate fala sobre rótulo de drogado e diz ter pena de Ivete e Claudia Leitte

“Você já viu jantar à luz de velas, mas entrevista não”. Foi nesse clima de total descontração que o "hiperativo" Tomate recebeu a equipe do Bahia Notícias para uma entrevista reveladora, com doses de humor e seriedade e, claro, à luz de velas! Totalmente despido de máscaras, o ex-Rapazolla abriu as portas da sua casa para um bate-papo com a Holofote e, o detalhe: tinha acabado de acordar. Mas nem isso foi capaz de conter a energia do micareteiro, que já abre os olhos a mais de mil. Ah! E não é droga alguma responsável por essa mistura explosiva existente dentro de Tomate. Sem medo de falar sobre o rótulo de viciado em entorpecentes, que muita gente insiste em lhe conferir, o elétrico Tomate disparou: “De forma nenhuma eu uso drogas. Malmente bebo”. O fato é que, se você não era fã, vai ficar depois dessa entrevista; se já era, cuidado! Tomate não é muito fã dos “FÃnáticos”! Agora, chega de conversinha, venha conhecer o Lado A, B, C... e T de Tomate!




"Eu não me imagino colocando os pés na rua e vários paparazzi tirando foto de cada passo que eu dou, os fãs em cima. E eu até já falei isso com Ivete"



Por Fernanda Figueiredo

Coluna Holofote: Tomate, poucos cantores que deixaram a banda que os projetou, conseguiu ter sucesso. Ivete Sangalo é uma das poucas e você, é claro! Qual o segredo?
Tomate:
Cara! Rapaz, o segredo eu acho que é você acreditar. O segredo de tudo na vida é você ter consciência do que realmente quer fazer, do que você realmente é e do que você almeja. Eu sempre fui super acreditado, assim. Aliás, em toda a minha vida, eu sempre acreditei muito nas coisas que eu sonhei. E a carreira solo foi um momento de muita confiança mesmo. Desde o princípio, quando eu resolvi, quando eu tive essa ideia de partir para a carreira solo, de largar o grupo Rapazolla, já estava tudo na minha cabeça. Só que é meio complicado a gente passar essa verdade para as pessoas, porque a verdade está dentro da gente mesmo. Mas eu esperei, aguardei, trabalhei bastante e talvez hoje, eu posso dizer que as pessoas entendem um pouco o porquê de Tomate ter falado tanto, no passado, aquele lance de sair do grupo para fazer uma coisa que fosse mais a cara dele, que fosse mais o estilo dele e é isso. Hoje eu acho que é falar pouco – hoje eu falo pouco, antes eu falava, também, pouco, mas com medo do que as pessoas iam achar.  Era trabalhar muito e eu trabalhei muito e hoje, graças a Deus, estou feliz, está tudo acontecendo, as pessoas estão entendendo meu trabalho, ou melhor, entendendo a minha música.



CH: Sua popularidade, seus fãs, aumentaram em sua carreira solo?
Tomate:
Acho que, sim. Eu acho que eu ganhei fãs verdadeiros. Eu conquistei fã, eu não ganhei fã, eu conquistei pessoas. Eu sempre falei para as pessoas que é muito melhor você conquistar do que agradar. E eu parti para essa carreira solo com esse intuito: de conquistar as pessoas. Porque agradar, muita gente agrada. Mas conquistar é difícil. Conquistar é você chegar em um show lá para 10 mil pessoas e você, aos poucos, ir agradando. Ou seja: agradar de 10 em 10, 50. E eu estava interessado naquilo mesmo: de conquistar, não de agradar. Porque agradar, você faz um show bacana, vive fazendo shows bacanas e agradando. O conquistar é muito mais bacana, porque as pessoas levam você para dentro de casa, ou melhor, para dentro do coração, entendeu? E aí, com certeza, a admiração é única e é verdadeira. Então, hoje, a minha carreira se resume nisso: em uma tribo bacana, que gosta de Tomate, que, independente do estilo, do movimento musical que o artista se predispõe a fazer, eles estão ali comigo, sabe? É a tribo do Tomate. São os “Tomateiros”, que gostam do meu som, que respeitam a minha pessoa mesmo e são felizes correndo atrás de Tomate pelo país inteiro.



CH: Algumas mulheres passam a ser fãs de alguns cantores por conta do seu porte físico. Como é seu relacionamento com suas fãs, as mulheres? Existe esse assédio?
Tomate:
O assédio por parte da mulherada vai existir sempre. Pode ser o cara mais feio do mundo, ele sendo artista, eu acho que vai acontecer. Mas eu acho que não é pela questão da beleza só. A gente tem que ver que as pessoas conquistam as outras por outras qualidades: por ele ser gente boa, pela voz, pela música, pela energia, enfim, tem “n” formas de agradar uma pessoa. Mas eu acredito que, no meu trabalho assim, não tem tanto assédio feminino da forma corporal, da beleza e sim, pela música mesmo, pelo querer bem. Tipo, por achar o cara de boa, bem tranquilão, sem nenhum tipo de vaidade com relação a esse lado da imagem. E eu sou, rapaz... Eu acho que é isso que conquista: a simplicidade. Mas eu tenho a dizer que os meus admiradores hoje, que, por sinal, são muitos homens também – e eu acho que isso engrandece o trabalho, você ver um artista homem com muitos admiradores homens e eu tenho a maior honra de dizer que eu tenho muitos admiradores do sexo masculino, que são fãs do meu trabalho. E a mulherada também. A mulherada sempre, né? Mas, graças a Deus, o meu público, as pessoas que seguem o Tomate têm uma qualidade muito positiva, que é a compreensão e a consciência de saber que o artista é um ser humano também, como todos os outros, e ele precisa ser respeitado nos momentos dele, tem os momentos de alto, de baixo... Obviamente, muitos escondem isso, mas a gente vive em pleno “sexo 21” (sic) (risos)... Em pleno século 21 e as coisas têm que ser mais verdadeiras. A gente não pode estar escondendo as coisas. Tem uma câmera aqui na nossa frente, hoje eu estou dando uma entrevista aqui e mostrando a minha realidade, dentro da minha casa, como realmente eu sou, sem maquiagem, sem nada, acabei de acordar e falando, pra quem está em casa, unicamente, a verdade. Eu acho que o mundo caminha para isso: para a consciência e verdade. Se a gente não for verdadeiro com as coisas, você não vai conquistar ninguém.



CH: Mas conta pra gente de algum assédio que você tenha sofrido e que lhe marcou, de alguma fã mais afoita... Cris vai compreender.
Tomate:
Não, minha mulher compreende pra caramba! Não é à toa que está comigo há sete anos já aí! Isso daí a gente não precisa nem discutir. Mas, rola sempre. Mas tem uma coisa: os meus fãs são respeitosos pra caramba e isso é uma coisa que eu tenho muito o que me orgulhar, as pessoas me respeitam pra caramba. Isso parte também do artista. O artista que impõe respeito, tratando como se fosse um amigo, uma pessoa conhecida, que recebe bem e tal. Eu acho que isso traz também um certo respeito e as pessoas vêem que “porra, o cara tem muito dele”. Mas assim, a coisa que mais acontece e que eu acho complicadíssimo - não que seja ruim, mas eu fico fora do comum – é com fã que faz tatuagem. As pessoas se tatuam com meu nome, com minha foto, homem e mulher. Então, assim, eu me assusto. Eu acho que isso é um assédio... Por que não é um assédio? Por que não? É uma coisa forte, que me deixa um pouco apreensivo, sabe? Mas, eu acho que, na vida, as pessoas têm que fazer o que querem.



CH: Soa meio fanatismo?
Tomate:
Isso. Soa meio fanatismo. Mas quem sou eu para falar o que não deve ser feito ou o que se deve ser feito? Eu acho que as pessoas têm que fazer o se sentem bem. Se naquele momento ela se sente bem, se está feliz com aquela tatuagem, ou, de repente, acordar às 3 horas da manhã para pegar uma hora de ônibus ou sair de casa para ir ao aeroporto te ver. Em Minas Gerais, muitas vezes eu chego de madrugada e tem um fã lá esperando, 3, 4, 5 horas da manhã. Eu fico com vergonha, sabe? Eu fico desacreditado assim... Como é que as pessoas têm essa coragem. Mas eu respeito e acho bonito. Eu acho que as pessoas se sentem bem.



CH: Você falando assim, passa a impressão de que você ainda não tem noção do sucesso que você faz...
Tomate:
Não, eu ainda estou começando e eu não considero essas “parada” sucesso, não. Eu considero o sucesso bem passageiro, sabe? Eu considero o sucesso um momento que a pessoa vive. Eu acredito em carreira. Em você fazer o bem. Quando você está fazendo a sua música, está sempre respeitando o seu trabalho – no meu caso, a arte da música – e eu acredito em coisa sólida, em carreira. Mas, sucesso, talvez, seja o momento. E, graças a Deus, os momentos que o Tomate vive são momentos bacanas. Eu posso dizer que, na minha vida e no meu modo de enxergar, hoje, sim, eu faço sucesso. Para mim, não para os outros. Mas ainda tem muita coisa pela frente. Sucesso é você poder ajudar as pessoas também, né? E eu acho que eu nem comecei a ajudar ainda. Daqui pra frente é que eu vou começar a ajudar muita gente.



CH: Como assim? Você pensa em se engajar em algum projeto social?
Tomate:
Projeto social, eu acho que a maior ajuda é a gente estar tentando levar alegria às pessoas e contribuindo, de alguma forma, para que aquelas pessoas saíam de algum momento difícil, que está enfrentando, um problema, enfim. Que é nos shows, em forma de música. Eu acho que a ajuda maior é essa. Mas a parte também de ajuda, com relação a instituição, essas coisas, também está por vir. Aos poucos eu estou me capitalizando, ajudando as pessoas mais próximas e pensando também em ajudar as pessoas que precisam. Porque eu acho que é a única coisa que a gente pode fazer é isso. Se a gente veio para cá – eu estou falando para esse mundo – não é só isso. Não é só viver, não é só trabalhar, não é só estar aqui dando entrevista, não é só estar cantando. Tem algo a mais, que a gente precisa se concentrar e ter consciência - e entrar em contato, cada vez mais, com a natureza, com Deus, que é isso tudo, essa energia que se desenvolve aí – para saber qual é a nossa missão realmente e o que é que a gente tem que fazer e eu, graças a Deus, já estou tomando uma consciênciazinha dessa e já estou tomando a minha direção. Mas, obviamente, a gente precisa se esforçar muito, para depois a gente conseguir o êxito e daí então, a gente poder ajudar a fazer a coisa boa para o próximo. É isso aí, sem dúvida na minha carreira, na minha carreira de vida. Não é na minha carreira profissional, é na minha carreira de vida e eu acho que isso, daqui pra frente, vai ser primordial.



CH: Tomate, quando você cantava na banda Rapazolla, com aquele cabelo vermelho, você se achava bonito?
Tomate:
Não. Não era bonito, não. Mas era o momento, né? Mas eu nunca quis ser bonito, cara. Eu nunca quis ser bonito. Eu sempre quis fazer...



CH: Ser diferente?
Tomate:
Não é ser diferente. É gostar do jeito de cada um. Se o cara, ele escolhe ser diferente, ele escolhe ser e não é verdadeiramente, ele não vai ser engraçadinho. Mas se o cara é verdadeiro e atrás dessa verdade já havia diferença, aí, sim. Aí é certo. Mas, assim, o cabelo era uma vontade minha e que foi uma vontade durante algum tempo e depois não foi mais vontade. Mas que era bonito, eu acho que não. Não era bonito. Bonito eu estou hoje: mais velho...



CH: Mais maduro...
Tomate:
Maduro, mas com aquele ar de adolescente, porque eu acho que, na vida, a gente tem que preservar esse lado criança – que é da pureza -, a liberdade do adolescente e a experiência da idade mesmo. Mas, eu acho que a experiência está por vir ainda. Eu tenho 28 anos de idade, então, está só começando.



CH: Mas seu apelido, Tomate, vem desse cabelo vermelho?
Tomate:
Não, não vem disso. É impressionante, que as pessoas até hoje me perguntam e associam muito o nome com o cabelo vermelho e o Tomate não é por causa do cabelo vermelho.




"Eu sou povão, véi. Totalmente povão. Talvez eu não seja povão pro povão, mas eu me acho totalmente povão"



CH: O cabelo vermelho foi por causa do Tomate, então?
Tomate:
Talvez, sim. Mas também, não. Vou contar a história como é. O Tomate vem desde pequeno. Um dia eu raspei a cabeça, minha mãe raspou minha cabeça e a gente ia veranear em Arembepe, Guarajuba, no Litoral Norte, tinha o veraneio nas férias, né? E a gente ia, ficava na casa de praia e eu tomava muito banho de praia, na piscina, essas coisas todas e o verão bombando, assim... Muito sol! E a gente passava um mês sempre, todo ano. Aí, minha mãe resolveu não pentear mais meu cabelo, eu tinha o cabelo grande – meio grande assim, grandão, meio ondulado – e tomava banho de praia, tomava banho de piscina, cloro, essas coisas e quando chegava no final da tarde, minha mãe tinha que pentear o cabelo da gente, o meu e do meu irmão. Ela tinha que desembaraçar, cuidado com o filho, né? Só que aí, chegou um verão que ela falou “porra, estou cansada de fazer isso. Todo dia esses meninos pintam, brincam com areia, não sei o quê, vamos raspar a cabeça” e raspou a minha cabeça. Minha e do meu irmão. Aí, eu voltei das férias, depois de um mês tomando sol pra caramba e minha cabeça é meio redonda e meu corpo fininho. Aí eu voltei vermelhaço de praia. A cabeça redonda e eu vermelhaço de sol. Aí, cheguei no primeiro campeonato do meu prédio, eu morava no Imbuí, no campeonato lá que tinha, no futebol, pelada lá no prédio, aí um maluco fez “Oh, Tomate, toca a bola”. Tipo assim... Do nada. Pegou! No meu DVD está até explicando isso. No outro dia estava todo mundo me chamando: a família pomarolla. Minha mãe era Tomata, meu irmão até hoje carrega Tomatinho, o apelido e a família toda. A família “Tarantella”. Foi massa. E hoje, faz parte do meu RG: Fabrício Tomate Cardoso Kraychete.



CH: Mas você pintou o cabelo quando entrou na Rapazolla?
Tomate:
Quando eu fiz 17 anos eu pintei o cabelo de vermelho e foi quando rolou a Rapazolla. Eu pintei meu cabelo antes de fazer o primeiro show para a Rapazolla. Mas é pela minha postura bem rock’n roll mesmo. Eu sempre gostei de rock’n roll, eu tinha 17 anos, um momento rebeldezinho. Não que eu fazia nada demais... Não uso drogas! É até bom esse momento para falar, até quebrando um pouco, é um momento bom para dizer que Tomate não usa drogas, não tem a mínima vontade de usar, eu já sou doido de natureza. Então, esse lado do rock’n roll leva a muitas perguntas na cabeça das pessoas, tipo “aquele cara é louco assim mesmo?”. Talvez porque a Bahia seja assim tão tranquila, relax, as pessoas, os artistas, não vieram com uma postura mais assim, e tal, meio visceral, meio radical e aí as pessoas confundem um pouco, acham que o Tomate usa drogas ou que o Tomate cheira, fuma. Eu acho que, se eu fumasse, eu não fazia o que eu faço, eu não era tão explosivo. Acho que é bacana a gente estar levando isso para a casa das pessoas e falando, de forma aberta, que eu não preciso, Tomate não precisa de nenhum tipo de drogas. Eu malmente bebo.



CH: Então, aqueles pulos, aquela agonia toda sua no palco é de cara limpa?
Tomate:
Totalmente! Você pode dizer assim “Tomate, alguma coisa incorpora nele, algum espírito”, mas, de forma nenhuma, eu uso droga, porque eu acho que só usa droga quem realmente gosta e quem realmente se sente bem usando. Eu não tenho nada contra quem use e também não tenho nada a favor. Eu acho que eu vivo a vida de boa e essa é a minha postura no palco.



CH: Mas então, qual o segredo para você agüentar aquele pique, segurar aquela energia toda, aquele frenesi de horas e horas em cima do palco ou do trio, cantando e pulando praticamente sem parar? Porque você fica loucaço...
Tomate:
Dormir. O segredo de tudo isso é uma boa noite de sono, é você fazer o que gosta. Primeiramente, é você ser verdadeiro, é ser aquilo que é mesmo e, em segundo lugar, dormir bastante. É isso. Pô, um bom momento para falar mesmo para a galera o que eu penso da vida, quem eu sou mesmo, das coisas mesmo que, talvez, na cabeça das pessoas, seja uma grande interrogação. Como a maioria dos artistas, né? Cantor ou é viado ou é drogado... É assim que funciona na cabeça das pessoas. Tem que parar com isso, véi. Existem, em todas as profissões, todos os tipos de coisas, mas, velho, vamos nos importar com o algo a mais, com a gente mesmo e se importar com o que aquela pessoa faz de bom para você, independente do que ela use, do que ela seja. Eu, particularmente, não uso drogas e não sou homossexual, mas não tenho nada contra. Eu acho que a vida está aí para ser vivida e a gente está aqui para aprender, para viver, para provar e vamos nessa. E eu não seria hipócrita, no momento de hoje, se eu usasse droga, se eu fosse homossexual, ou se eu fizesse alguma coisa que, de repente, a sociedade não aceitasse, eu falaria de boa pra todo mundo aí. Eu acho que as pessoas têm que viver e provar, porque, na vida, a gente está aqui para isso.



CH: Você disse que é louco por rock’n roll. A escolha em virar cantor de axé foi porque você gosta mesmo ou porque foi a área que você encontrou mais espaço, viu que era mais rentável?
Tomate:
Não. Eu entrei para o axé, porque eu amo o axé. Eu sou baiano, nasci aqui, eu amo a música baiana, eu acho o baiano o cara mais expressivo do mundo, com relação a arte. É como Caetano falou: “baiano não nasce, baiano estreia”. E eu sou baiano, amo minha raiz, amo a percussão, mas amo também o rock’n roll, eu acho que eu amo todo tipo de música. E nessa minha música, principalmente agora na minha carreira solo, há quatro anos que eu venho fazendo isso, eu falei, desde a primeira entrevista que eu dei para o Bahia Noticias, eu falei que eu queria fazer uma coisa que fosse mais a minha cara, que eu não queria ser tachado como rock, pop, brega, sertanejo e, nem mesmo axé. Eu queria ser tachado como Tomate. Eu quero que as pessoas olhem e compreendam meu som. A minha raiz é baiana, eu amo a percussão, eu amo o trio elétrico, mas eu sou um cara que, independente disso tudo, eu faço música. E a minha música não tem rótulos, não segue um padrão, é o que eu sempre quis falar. Hoje, talvez as pessoas entendam mais e é isso, velho. Mas eu sou do axé, como eu sou do rock, como eu sou do pop, como eu sou de tudo. Eu sou da música!



CH: Mas vamos combinar que você antes não cantava arrocha, pagode. No carnaval eu vi você cantando arrocha e você até explicou que era uma das poucas músicas que você cantava neste segmento...
Tomate:
Eu canto tudo! Eu só não gosto do sentido assim, que você vai agredir as pessoas. Eu não gosto de agredir as pessoas, mas eu também não tenho nada contra, porque música, ela se resume em todo tipo de expressão. Talvez na letra, não; mas na melodia, sim. Eu não tenho nada contra ninguém, mas, nas minhas músicas gravadas, gravadas no meu disco, eu faço questão de tentar levar algum tipo de momento, de cotidiano na vida das pessoas, de relatar uma coisa em relação à sociedade. No meu novo DVD tem duas músicas que as pessoas, se entenderem superficialmente, vão achar que é vulgar, como foi “Eu te amo, porra” e tem uma música chamada “Meu disco de Raul”. Essas duas músicas são as músicas mais irreverentes do meu disco que, se as pessoas forem pelo lado superficial e só verem o palavrão, as pessoas vão estar se contradizendo. “Ah, porque ele está falando ‘porra’”; No meu disco de Raul diz “você jogou fora o meu disco de Raul, me deu uma vontade de mandar você tomar no” e as pessoas... Né? Então assim, as duas músicas são músicas completamente, totalmente têm um sentido. Elas não vêm pelo lado romântico, o lado mais metafórico da poesia, mas ela vem pelo lado do cotidiano.



CH: Qual o cotidiano de “Eu te amo, porra”?
Tomate:
“Eu te amo, porra” fala da relação de duas pessoas que se amam tanto, apesar das diferenças. Eu gosto de reggae, ela gosta de pagode, tipo um Eduardo e Mônica ali e aí, o “Eu te amo, porra” vem com essa intenção de “eu te amo, Porra!”. Ou seja, “EU TE AMO, PORRA”. Você briga com sua mulher hoje, você briga com seu marido hoje e ela está descrente do que você está falando. Aí, você fala assim: “EU TE AMO, POOOORRAAAA! Eu te amo, rapaz!”. É tipo assim, um alerta. É uma forma de você falar assim “confia em mim”. É mais do que um simples eu te amo. E a gente vive hoje em um mundo que o eu te amo está tão banalizado pelas pessoas, sabe? Tipo assim, “eu te amo” e por trás, só metendo pau, sabe? Não. Eu quis dizer que a intenção vale mais do que uma simples frase.



CH: E “Meu disco de Raul”?
Tomate:
“Meu disco de Raul” é uma música que é uma crítica social. “Você jogou fora aquele meu disco de Raul, me deu vontade de mandar você... Comprar o de Roberto”. Então, assim, faz uma crítica social porque as pessoas dão muito valor ao que é de fora, ao que é de outro país. E a intenção é levantar a nossa bandeira e valorizar cada dia mais a nossa música, a nossa cultura porque o país só cresce se a gente começa a valorizar as coisas da gente. A gente tem que parar de valorizar as coisas de fora. Realmente tem muita coisa bacana nos outros países, que dizem que são desenvolvidos. De um certo lado são; mas de outro, pra mim, não. Porque, pra mim, evolução é você tratar bem e não tem povo nenhum que trate tão bem, que seja tão receptivo como o brasileiro.



CH: Na época do “Eu te amo, porra”, você espalhou outdoor pela cidade com o palavrão. Eu entendi o sentido do palavrão aí e tal, mas você parou e pensou nas famílias que passam e lêem o outdoor, muitas levando seus filhos pequenos para a escola...
Tomate:
Pensei. Eu pensei primeiro... Assim, eu achava que não ia surtir esse efeito, essa polêmica toda. É como eu falei, eu sou bem verdadeiro. Eu sou um cara que, se eu acredito na coisa que eu penso... Pra mim não era uma coisa tão, pra mim continua não sendo. Um palavrão continua não sendo, não continua. Vocês podem me prender, mas eu vou continuar dizendo a você que o que vale pra mim é a intenção. E assim, eu não esperava que seria aquela polêmica tamanha, de forma nenhuma eu pensei em agredir ninguém – porque, na minha carreira, se as pessoas pegarem na minha trajetória e todas as minhas músicas vão ver que, em momento nenhum eu penso em agredir ninguém, em fazer o mal às pessoas -, eu simplesmente quis fazer a minha música e promover a minha música, porque isso já faz parte do cotidiano das empresas e do trabalho dos artistas de Salvador, quando chega o carnaval, a gente tenta promover a nossa música em outdoor, essas coisas e, de forma nenhuma, eu falo de todo o coração, eu não tive nenhuma intenção de causar polêmica.



CH: Não foi uma jogada de marketing? Porque, de uma certa forma, a polêmica acabou impulsionando sua música...
Tomate:
Não. A polêmica foi causada por conta da opinião, porque polêmica é assim: opiniões contra e a favor. Se houve, eu estou aqui para respeitar, como respeitamos, tiramos, mas criamos outra forma de continuar a promover a música, porque, na minha cabeça, é como eu te falei: não teve nenhum tipo de maldade e, sim, boa intenção. Eu acho que a intenção é o que vale.



CH: Se você fosse pai...
Tomate:
E você vai me perguntar “e se seu filho chega e fala porra dentro de casa?”. Eu lhe falo de boa: se meu filho for uma boa pessoa, trabalhar,  for honesto e respeitar as pessoas, ele pode falar porra, ele pode falar o que ele quiser. Eu prefiro ele sendo uma boa pessoa, uma pessoa com compromisso com a verdade, com respeito e com o bem e com palavrões, porque palavrões não incomodam nada. Palavrão é uma forma de expressão, que a gente usa pra, de repente, colocar pra fora um momento positivo ou negativo, enfim. Cara, isso daí é um longo papo. Mas não é que as pessoas tenham que concordar comigo, eu estou dando a minha opinião. E eu sou muito verdadeiro, eu sempre fui assim e hoje, mais do que nunca, eu preciso ser assim porque a gente vive um momento que a gente tem que ser verdadeiro, não existe mais enganação. E, daqui pra frente, não vai existir mais a maquiagem. As coisas têm que ser verdadeiras. As opiniões estão aí e eu acho que o importante nisso tudo é a gente ser consciente. A gente vai entrar agora num período de consciência, a gente pretende entrar e o mundo precisa disso, de consciência. E consciência é o quê? É respeitar. Sou eu respeitar a sua opinião, você respeitar a minha e a gente viver sempre assim: feliz e pronto para a vida.



CH: Sim, mas você já esperava que “Eu te amo, porra” iria estourar antes da polêmica ou a grande “culpada” do sucesso da música foi a polêmica?
Tomate:
Ajudou. Sem dúvida nenhuma, ajudou. Inclusive, eu quero agradecer aí a todos que fizeram a polêmica, porque ajudou. Porque as pessoas que gostam do seu trabalho e sabem da sua intenção, jamais vão colocar em dúvida a sua boa intenção, a sua essência. E eu, quando eu faço música, eu não penso se vai ser sucesso ou se vai ser... Eu simplesmente faço o que eu me sinto bem e o que eu acho que me faz bem. E todas as minhas músicas que eu gravo, hoje, mais do que nunca nessa minha carreira, de quatro anos atrás, que foi quando eu parti para a carreira solo, tudo que eu gravei foi de livre e espontânea vontade, de verdade. Então, assim, as pessoas que estão comigo sabem. Eu posso amanhã, de repente, tocar uma coisa que até elas podem falar “caraca, porque o cara fez isso?”, mas elas vão entender que a minha intenção jamais é de querer aparecer, de querer chamar a atenção. Eu estou com uma música agora no rádio que se chama “Não vale”, que é uma música totalmente expressiva assim, positiva, otimista, uma letra maravilhosa, que eu acho que isso tira um pouco esse lado do julgamento das pessoas. Eu acho que, para julgar, tem que conhecer, tem que estar presente na vida das pessoas e não conhecer superficialmente.



CH: Você disse aí que não faz as coisas pensando em aparecer. Tomate, você não faz questão de se tornar um ídolo, um cara conhecido em todo o Brasil?
Tomate:
Olha, eu vou agora te dizer uma coisa que você não vai acreditar. Eu quero fazer música e só. Eu não faço a menor questão de ser como Ivete Sangalo e Claudia Leitte. Aliás, eu tenho pena delas duas, porque eu não me imagino colocando os pés na rua e vários paparazzi tirando foto de cada passo que eu dou, os fãs em cima. Eu acho que tudo tem seu momento. Eu quero poder ir ao supermercado, sair para comer caranguejo sem nenhum problema, entende? E eu até já falei isso com Ivete...



CH: Você se apresentou no Salvador Fest, que era uma festa essencialmente de pagode. Como é que você vê o pagode aqui na Bahia e suas letras de duplo sentido?
Tomate:
Eu acho que duplo sentido é inteligência. E os caras... Eu vou dizer uma coisa pra você: o pagode arrebenta! Porque eu nunca vi uma coisa ser tão simples e que agrada tanto. E pra agradar, mermão... Só por estar agradando, tem alguma coisa a mais, alguma coisa de Deus e eu acho que cada um segue o seu caminho. A gente se sente feliz em fazer música e eu acho que o pagode, como todas as coisas no mundo e como todos os estilos musicais, existem as coisas boas e as coisas ruins. E eu não estou aqui para dizer o que é ruim, eu estou aqui para dizer o que é bom. As coisas que eu ouço do pagode e que o povo todo canta, a maioria é coisa bacana.



CH: Você ouve pagode?
Tomate:
Ouço e toco nos meus shows. Toco bastante. O “Foge, Mulher Maravilha” é massa, véi. É massa! É uma brincadeira bacana e o cara já leva para o duplo sentido, do “fo...”, né? Mas, todas as músicas, se você for ver... Sim, Roberto Carlos: “é proibido fumar”... Duplo sentido. Por que as pessoas não falam isso? Muitas outras músicas, de outros estilos têm duplo sentido. Obviamente, o pagode, ele tem muitos, entendeu? (risos). Mas eu acho bacana, porque eles fazem uma coisa tão simples agradar a todos e eu sou fã dos caras, sabe? E tem muita influência do pagode na minha música, como tem influência de todos os estilos. Porque eu sou um cara versátil. Se o duplo sentido for uma coisa que eu me sinta bem em cantar e que não agrida as pessoas, eu vou cantar e vamo nessa.



CH: Você teve algum receio de tocar pro povão lá no Salvador Fest e não ser bem aceito?
Tomate:
Eu sou povão, véi. É aí que você se engana. Totalmente povão. Talvez eu não seja povão pro povão, mas eu me acho totalmente povão.



CH: O que é ser totalmente povão?
Tomate:
É você ser totalmente feliz e respeitar as pessoas. E em todo lugar que eu passo, eu sou assim. Talvez a minha música, nesses quatro anos, tirou um pouco o acesso do povo. Mas, por opinião e por não ter oportunidade mesmo e hoje, eu tive a oportunidade de tocar no Salvador Fest e fui eu quem quis tocar no Salvador Fest e hoje eu estou no melhor momento da minha carreira. E se eu escolhi tocar é porque eu estou em débito com meu público da Bahia. Eu sou muito cobrado e eu vejo muitas pessoas pedindo para mim e eu fiz questão. E vale lembrar que não foi pedido, nada. Eu que quis tocar no Salvador Fest, a maior festa popular da Bahia!
 



CH: Agora, a pergunta que não quer calar: Tomate hoje é produzido pela Pentaeventos, Salvador Produções, Caco de Telha, tem produção própria ou nenhuma das alternativas?
Tomate:
Eu tenho uma empresa hoje que se chama FK Produções, é nela onde rege toda a parte de vendas dos shows, de direcionamento também. A Penta continua comigo, o pessoal da Pentaeventos são meus parceiros, são pessoas que eu tenho uma grande confiança, nunca me fizeram nada assim, de mal. Pelo contrário, sempre trouxeram coisas super positivas para a minha carreira, inclusive eu agradeço muito a Lucas e a Maron e, inclusive, estão comigo até hoje. Estou com minha empresa, a FK, gerenciando tudo, mas Lucas, Maron e a Pentaeventos estão comigo também, afinal de contas, é uma grande força. E a Salvador Produções, as pessoas envolvem isso porque tem Wilsinho, que é meu primo carnal. É um cara que sempre esteve presente na minha carreira – se você for ver, desde as minhas primeiras entrevistas, ele está lá – então, é tipo um caso de amor assim, os Kraychetes. Ele é Kraychete também, é meu porta-voz, é meu grande amigo. Profissionalmente, Wilsinho sempre esteve presente, mas nunca esteve efetivo assim, sabe? Ele não tinha sido efetivado (risos). E nessa minha carreira solo, sim, ele se fez presente e hoje, mais do que nunca, nós temos uma empresa aí, a FK e é Wilsinho quem rege e aí rola essa pergunta do mercado, porque a Pentaeventos era quem tomava conta da minha carreira, a Salvador Produções, estamos juntos também, com Marcelo Brito... É todo mundo junto, todo mundo unido. A gente só centralizou hoje. Tem a FK, que é de Tomate, que é a empresa de Fabricio Kraychete, que Wilsinho está lá comigo, a Penta também está... Ah, cara! Pode vir quem quiser.



CH: E a Caco?
Tomate:
A Caco nós fizemos uma parceria bacana, até o ano passado, mas continuamos fazendo parcerias ótimas... Êêêêê... Tomate... Às vezes o cara deve estar falando assim “Tomate agora está tentando ser um pouco lobista demais”, mas não é lobista. A gente continua sempre junto e eu acho que a música baiana, cada dia mais, tem que estar junto, os empresário, hoje, têm que estar juntos. Agora, por falta dessa centralização, foi que foi criada a FK, que é uma empresa minha e que hoje tudo é gerado em cima dela. Os parceiros continuam, os amigos continuam, mas a empresa se chama FK Produções.