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Luis Ganem: Uma nova reflexão, talvez

Luis Ganem: Uma nova reflexão, talvez
Foto:Pinterest

Demorei um pouco mais dessa vez para escrever sobre o Carnaval, mas, acredito eu, por um motivo justo. Preferi ao longo dos dias que se passaram, e antes do começo do ano - afinal o ano só começa quando acaba o Carnaval – ouvir um pouco mais as rodas de conversas dos “analistas” da folia. O que diziam, pensavam e criticavam em relação à festa. Meio que observador, ouvi de quase um tudo em se tratando de achismo. De ideias absurdas, como, por exemplo, inverter a ordem do trajeto, saindo da Ondina e terminando na Barra, pois o escoamento se daria pelo Corredor da Vitória, ou estendê-lo até o Rio Vermelho, a coisas interessantes, como contemplar mais bairros com o projeto de carnaval dos bairros. Mas – e sempre tem um mas -, é preciso entender e explicar, a despeito do que tem sido dito à boca miúda, porque o Carnaval está menor.
 
Pra começo de conversa, é importante que fique claro que não houve um esvaziamento ou diminuição do Carnaval como foi e está sendo apregoado. Essa ideia vendida aos quatro cantos de que a festa, principalmente no circuito Osmar, perdeu seu brilho pelo fato dos blocos e as atrações não conseguirem atrair público dentre outros achismos, na minha visão, é errada. É preciso, para que não sobrem dúvidas, que saibamos e analisemos como a cabeça do folião funciona atualmente, e a partir daí, perceber o que está realmente acontecendo. A questão para mim é somente uma: a inversão de circuitos. Isso mesmo! As pessoas simplesmente migraram de um circuito para o outro. Resolveram sair do Campo Grande para brincar na Barra. E por que isso aconteceu, quais fatores foram responsáveis por esse fato? Para que entendamos melhor, voltemos ao começo do axé.
 
Naquela época, tocar de dia era a grande vitrine do artista. Digo o dia, pois independente de qual bloco fosse, era preciso entender que um bloco “seguro” tinha que entrar na avenida ainda com o sol brilhando e que o mesmo deveria estar desfilando na rua - ao menos com segurança - até umas dez da noite. Depois desse horário era meio que um vale-tudo, onde patrulhas mistas (patrulhamento feito em conjunto pelas forças armadas e a PM) rondavam a rua que lotava, diga-se de passagem, com um público mais “disposto” e com atrações comerciais menos conhecidas. Portanto, para que se pudesse ver as ditas novas estrelas da Bahia, era preciso ir a um dos clubes sociais que promoviam festas à noite e que levavam para seus estabelecimentos o público que não queria se aventurar na noite carnavalesca, ou preferia rever seu artista com mais sossego.
 
Somente para citar alguns clubes, estamos falando aí do: Baiano de Tênis e seu baile Preto e Branco; Associação Atlética da Bahia e seu baile da Azulina; Clube Português da Bahia – hoje Praça Wilson Lins – onde a banda Chiclete com Banana colocava seu trio elétrico dentro do clube e tocava até de manhã, além do Clube Espanhol e Iate Clube da Bahia entre outros, que emprestavam suas instalações para que muitos artistas renomados à época, ou com um pouco mais de brilho pudessem tocar e entreter uma massa que não queria ir à rua.
 
Mas, sim, pode perguntar o filho do cascudo lendo agora a minha coluna: o que alhos têm a ver com bugalhos? Respondo eu: tudo! É só parar para perceber. O que não se entendeu até agora e está na cara foi que o Circuito Dodô/Barra, por funcionar à noite uniu o útil ao agradável para o folião. Ou seja a Barra deu a ele a opção de poder escolher de que forma, jeito, dia e hora ele quer sair, isso tudo no mesmo lugar.
 
Olhe só como ficou fácil. O sujeito querendo pode agora, sair atrás da mesma estrela que antes via no Campo Grande, na Barra.. Ele pode também sair à noite quando a cidade está menos quente – podendo aproveitar o dia ou a parte da manhã para dormir mais, ou fazer outras atividades (no Campo Grande o primeiro bloco começava antes do meio dia) – e daí brincar na rua ou, caso não queira pagar pra ir atrás do trio, pular do lado de fora da corda do bloco do seu artista preferido. Caso não seja essa a opção do folião, ele pode ir para seu belo camarote e, no mesmo modelo dos clubes sociais de outrora, escolher, a seu bel prazer, quais artistas quer ver, quais camarotes quer frequentar, em quais dias de folia, isso lembrando que ele pode a todo momento vir para a sacada e ver passar seu bloco de coração ou seus outros ídolos.
 
Lógico, isso não significa que o circuito Osmar/Campo Grande acabou por completo. É fato que o surgimento e desenvolvimento do mesmo obedece a uma regra da época, em que a Avenida Sete de Setembro era a principal área comercial de Salvador, resultando daí o protagonismo dele. O que talvez aconteça é que o mesmo perca oficialmente, a médio prazo, a sua condição de circuito principal da folia para o Circuito Dodô/Barra.
 
Daí, o que estamos vivendo talvez seja a total migração do público diurno do circuito Osmar, para o noturno do circuito Dodô. Ou que estejamos vivendo talvez a descoberta de que o circuito secundário ou coadjuvante tenha se tornado o circuito principal e o principal esteja se tornando o coadjuvante e, com isso estejamos vivendo talvez a constatação e a certeza de que, com a perda de poder aquisitivo da população, a mesma já não pode escolher sair nos dois circuitos no mesmo dia e, portanto, optou pelo que agrega tudo em um único lugar.
 
Como tudo que aqui falei está no campo da análise ou do achismo, espero realmente que o “talvez” prevaleça em tudo que eu disse.