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Luis Ganem: E viva o Samba-reggae!

Por Luis Ganem

Luis Ganem: E viva o Samba-reggae!
Foto: Divulgação

Primeiro Ato – Cena Um. Cenário: Festival de Verão 2016 Arena Fonte Nova. No palco, a banda Natiruts faz um som que invade o estádio preenchendo seus quatro cantos. Diferenciado, harmonioso, melódico, o som que sai das caixas meio que inunda o ambiente com uma paz quase tátil. De forma uníssona, a multidão presente canta todos os sucessos da banda, deixando clara a ideia de que o Reggae, independente do que digam, ainda não está morto.

Ato dois – mesmo cenário. Desta vez o protagonista é o cantor Saulo Fernandes. O mesmo canta na abertura do seu show um Samba-reggae feito por ele e carro chefe de uma das suas mais recentes obras. De novo de forma uníssona, todos cantam seus primeiros versos, que, não por acaso, enaltecem a cidade do Salvador e dizem, em sua poesia singular: “Salvador Bahia/ território africano/ baiano sou eu, é você, somos nós uma voz de tambor” e emendam em seu refrão: “ África io io / Salvador meu amor a raiz/ de todo bem de tanta fé/ do canto candomblé”. A ideia que se tem desta vez é que a música da Bahia não está morta.

Ato final – outro cenário. Ítalo ou MC Beijinho canta um samba reggae no fundo de uma viatura policial – o mesmo foi detido e conduzido à Delegacia acusado de roubo. O Samba-reggae “Me Libera Nega”, feito pelo MC, ganha corpo e em pouco tempo, na voz do cantor e compositor Filipe Escandurras, cai na boca do povo.

Nos fatos narrados acima, duas coisas ficaram claras, ou melhor, três. Primeiro que o Reggae, diferentemente do que diziam, nunca saiu de moda. Segundo que o Samba-reggae – a essência da música baiana – é parte importante na retomada da primazia do negócio música no cenário nacional. E terceiro: o Axé redescobriu sua fórmula do sucesso.

Isso mesmo! Dado o que vi no Festival de Verão com o Axé de Saulo, o Reggae do Natiruts e, agora, com Filipe Escandurras e MC Beijinho, não tenho dúvidas em afirmar que nossa música pode voltar a crescer novamente em 2017. E olha, sendo muito sincero, se isso acontecer, e a despeito do esforço de todos os artistas que compõem a nossa constelação musical, teremos que tirar o chapéu para Saulo Fernandes.

E podem dizer o que quiserem, refutar minhas palavras, dizer que estou errado ou maluco, mas, desde “Raiz de Todo Bem”, Saulo vem remando contra a maré do modismo encabeçado pelo sertanejo e outros modismos atuais, buscando, antes de mais nada, trazer em suas melodias e letras a essência do som da Bahia.

Até para servir de exemplo do desprendimento e da vontade desse rapaz em fazer renascer nosso samba reggae, voltando ao Festival de Verão, lá estava eu vendo o show dele, que de pronto já faria jus a tudo que escrevi até aqui sobre esse resgate, quando, de repente, ele pega uma pequena viola de cor preta e inicia uma música chamada: “Deixa Lá”, composição dele e de um dos grandes compositores da Bahia, Dom Chicla, de quem aqui abro um espaço para falar. Pense em um cara gente boa. Esse é Dom Chicla. Compositor de mão cheia, conheço poucos tão bons ou iguais a ele. Do Harmonia a Ivete Sangalo, passando também por Saulo, pode ir lá conferir que, no presente ou no passado, haverá alguma música de Dom Chica. Sujeito agradável, sempre sorrindo, sempre simpático, “Dom”, como é tratado pelos amigos, tem literalmente essa dádiva de escrever letras e fazer melodias. Posso afirmar que é uma daquelas pessoas que quando você conhece percebe que o cara é do bem. E antes que alguém diga que Filipe Escandurras é melhor que ele, sinto dizer: são irmãos.

Bem, dito isto e voltando ao que estava contando – até para terminar essa parte do texto - lá estava eu vendo o show de Saulo, quando ele começou a cantar “deixa lá”. Sabe aquela música que faz a diferença em um show e você literalmente para pra escutar? Essa música foi “deixa lá”. Saulo começou a cantar e trouxe, como forma de não deixar dúvidas sobre o estilo dela, uma parte da percussão do Ilê. E aquele ritmo foi inundando a Arena, sendo absorvido pelas pessoas e essas mesmas pessoas, de atônitas com o groove, timidamente começaram a mexer os ombros, a balançar a cabeça, a se deixar levar pela batida, pelo suingue... Olha! Simplesmente impressionante.

Espero ainda poder ver e descrever até o Carnaval mais alguns “atos” como os citados, vindos de Saulo, ou de quem consiga entender a nova “onda” que está chegando na música baiana. Posso dizer e afirmar que não é à toa que a música mais conhecida da Bahia na atualidade é um Samba-reggae. Pode ser inclusive que, para alguns, essa minha reflexão não signifique nada. Mas pra quem tem feeling musical, pode ter certeza: quer dizer muita coisa.

"Deixa lá"