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Luis Ganem: As lições da vida - aprendendo a agradecer

Por Luis Ganem

Luis Ganem: As lições da vida - aprendendo a agradecer
Foto: Divulgação

Sábado à noite é sempre uma rotina. Ou se sai de casa em busca de um lugar para bater um papo e comer algo saboroso, ou em casa se fica, e envereda-se noite a dentro, cada um fazendo o que mais gosta, o que inclui dormir. E sendo assim, aconteceu da minha escolha em comer algo saboroso na rua ao invés de ficar em casa. Bem até aí nada demais, até porque sair, comer algo na rua em um sábado à noite é uma opção bacana, mas – antes que alguém fale – em nada tem a ver com o mundo da música, salvo se estiver indo para um barzinho com som ao vivo, ou a algum restaurante que tenha um profissional da música ao piano ou coisa assim.
 
Mas como nada acontece por acaso – o que hoje creio cada vez mais -, para essa saída à noite fiz uma reserva de mesa em um restaurante da cidade especializado em comida japonesa, e posteriormente a cancelei em parte, digo em parte, porque já que algumas pessoas que iriam estar comigo acabaram desistindo, pedi apenas na solicitação da reserva, que ficasse uma mesa, e que pudessem liberar as outras.
 
Bem, tendo chegando ao espaço no horário combinado com a casa, fui informado que por um erro, não tinham deixado a minha reserva, e que teria de esperar um pouco ou sentar em um lugar que não era o que originalmente tinha escolhido.
 
Bastante chateado e tentando ser conduzido a uma mesa que não a minha, fui abordado por um garçom da casa entre alguns que me conhecem – tenho bons amigos garçons - com a seguinte pergunta: “Ganem, você já viu nossa cantora? “Eu sem entender nada, confesso que no primeiro momento procurei dentro do espaço alguma grande cantora, pois imaginei em princípio que o garçom poderia estar falando de alguma cantora conhecida da mídia, que eu conhecesse ou tivesse amizade, e que ali estivesse jantando. Daí, me aponta ele para a hostess (espécie de recepcionista que toma conta da lista de espera e conduz os clientes a mesa) da casa – que posteriormente viria a descobrir se chamar Carla Ramos, ou MCherry seu nome artístico – e me diz que estava ali uma grande cantora de Hip Hop.
 
Olha, sou meio cético quando alguém que não seja da música vem entusiasmado me falar que fulano “canta muito” e que eu deveria ouvir. Ali naquele momento em um tom entre a chateado com a perda da mesa, e a curiosidade sobre a cantora e claro instado pelos “fãs” do trabalho, pedi as referências dela para ouvir depois com calma.
 
Movido pela curiosidade, confesso, pedi os links de vídeo da até então aspirante a artista, e busquei em principio algo rápido pelo celular, mas percebi que não teria como avaliar alguém ou algo dentro de um restaurante com barulho de música, gente falando e ainda tendo que dar atenção a quem estava comigo na mesa. Mas enquanto jantava, olhava a cantora e pensava comigo mesmo no absurdo e cruel “funil do sucesso” que a música possui, e como os caminhos são duros para quem dela quer viver e fazer sucesso. Olhei o fato não com pena, mas meio que questionando os porquês da vida.
 
Na saída do restaurante estando com um prazo curto, disse que aguardaria até a manhã do dia seguinte um e-mail dela contando um pouco mais de si, e que não seria muito a minha ajuda, mas em gostando do que seria contado a ajudaria, e que ela aproveitasse, pois nos dias de hoje o tal do “cavalo selado” estava passando voando, numa alusão as chances ou oportunidades que a vida nos oferta. Chegando em casa, olhei os vídeos e fiquei impressionado com as letras e com a consistência da voz de M Cherry, e realmente torci para que a mesma me mandasse o e-mail pela manhã.
 
Pois o e-mail de Carla chegou e sua história confessou me comoveu e encantou e aqui divido com meus leitores.
 
Carla Ramos ou MCherry vem de uma família grande, de origem humilde de quatro filhos. Desde sempre alentou o sonho de ser cantora. Ainda criança, enquanto ajudava a mãe nas tarefas do lar, M cherry já soltava a voz. Seu primeiro encontro com a arte se deu aos doze anos, quando começou a participar do grupo de arte na escola, daí para começar a se apresentar profissionalmente foi um pulo, e logo, lá estava ela dançando em uma casa de shows.
 
Aos dezesseis anos MCherry foi convidada para dançar na Europa, e entre um show de dança e outro, cantava nas madrugadas para alimentar o seu sonho de ser cantora. Quando entendeu que seu sonho era cantar e nada mais importava, voltou ao Brasil em 2013 para tentar a sorte com o Hip Hop.
 
Nesse interim – não fica claro a data no e-mail – uma tragédia se abateu sobre a família. Um de seus irmãos faleceu e sua primeira música gravada com o produtor musical Marcão doisH. “Every day” faixa que está disponível no YouTube, seu primeiro trabalho musicado, foi a forma que ela encontrou de homenagear seu irmão morto pelo tráfico de drogas, e alertar outros jovens que estavam nesse mundo, sobre seus perigos. As tentativas de MCherry ainda passariam por uma volta à Itália tentativas de gravadoras, produtores, parceiros e todos que pudessem a ajudar na realização seu sonho de menina.
 
Pensando agora no dia que encontrei Carla Ramos a MCherry começo a compreender um pouco o sorriso no rosto dessa moça e sua luta para encontrar o sucesso. Entendo agora que o sorriso, tem a ver com a certeza que sua casa era a Bahia, o Bairro da Amaralina. O sorriso da certeza que ela teve ao rodar o mundo e perceber que o seu lugar é aqui, mesmo com todos os dissabores. Lembrando do dia que encontrei Carla Ramos a MCherry, lembrei que na saída ela me disse obrigado, mas sou eu que agradeço a ela, por ter me dado a oportunidade de poder contar um pouco da sua história e poder fazer parte dela com meu texto. Agradeço e bato palmas pela sua perseverança, força de vontade e luta.
 
Parabéns e obrigado Carla Ramos / MCherry