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Coluna

Danniel Vieira - a música sertaneja Baiana

Por Luis Ganem

Danniel Vieira - a música sertaneja Baiana

Uma e meia da manhã de sábado e chove muito em Salvador. Estou me preparando para sair de casa, para ver se consigo desta vez ver o show do cantor sertanejo Danniel Vieira. Faz um tempo que tento vê-lo cantar, mas todas as vezes que tentei algo aconteceu. De pneu furado com volta pra casa com raiva de ter feito força e ter ficado todo suado a engarrafamento para chegar ao evento. De tudo um pouco aconteceu. Para variar desta vez, uma tromba d’água resolve cair em Salvador, mas diferentemente de antes, vou de qualquer jeito.
 
Entro no carro e, para animar e ser diferente, coloco como som de fundo o show de seu Jorge ao vivo – preferi assim para não ter nenhuma referência de sertanejo e não acabar fazendo um comparativo desnecessário – e, para a minha surpresa, talvez com a despreocupação do horário sem transito por ser de madrugada, presto um pouco mais de atenção ao show do artista, e consigo perceber pela primeira vez que seu Jorge está com a voz toda esganiçada cantando ao vivo. Penso em mudar, mas, como não estava ali para falar de seu Jorge, fui ouvindo ele mesmo.
 
No caminho com a chuva que cai, imagino que vou ver uma casa vazia, ou mesmo chegar à porta e ser informado que não vai ter mais show por conta do tempo. Também penso mais uma vez em desistir. A preguiça e o sono aparecem como mágica, pedindo que volte e me dando diversas razões pra isso. “Olha, engraçado essa coisa da mente. Até chegar ao espaço, foram tantas ideias que surgiram em minha cabeça para tentar me convencer a voltar pra casa, que Deus é mais”.
 
Ao chegar na casa, que fica no boêmio e cultural bairro do Rio Vermelho, não tenho dificuldades para estacionar - o que já não é um bom sinal. Vejo uma porta vazia, apenas com baleiros que vendem doce e cigarro, além de dois “armários” que fazem a segurança da casa. Ao procurar a pessoa responsável pelo estabelecimento, sou informado que o artista ainda não tinha chegado, pois viria de um outro show, que por ter mais atrações, tinha começado meio atrasado e por isso o show ali não iria começar no horário.
 
Já pensei cá comigo: “o cara tá atrasado, está chovendo, já sei que vai ser um daqueles shows em que até garçom vira plateia para dizer que tem gente”. Ou seja: me lenhei. Logo sou convidado pela responsável da casa para adentrar ao recinto e, já vou com ar de preconceito, esperando ver os tais ‘gatos pingados” que imaginei. 
 
Mas, quando entro, quase que ouço o apresentador de televisão Silvio Santos dizer: “vamos abrir as portas da esperança”! Amigo, quanta mulher bonita era aquela naquele pequeno espaço. Em princípio, imaginei que poderia ser aniversário de alguma delas, e por isso, tanta mulher bonita junta. Aos poucos vou me ambientando e, entre esbarrões e pedidos de licença – pelo fato da casa estar literalmente cheia de mulher, diga-se de passagem - começo a procurar saber o porquê de tanta mulher reunida. De pronto, um grupo de mulheres, todas no estilo panicat. Ou seja: de salto alto, perna malhada e micro saia. Dizem que a quantidade de gente está até menor do que em outros dias, o que creditam ser por conta da chuva. Bem: “se isso é vazio, imagine que maravilha ao quadrado deve ser um dia cheio”, penso eu, e de pronto, quando pergunto se elas estão ali para paquerar ou ver Danniel Vieira, tenho de todas a mesma resposta: ver Danniel Vieira.
 
Entre maravilhado com a vasta visão feminina, e curioso do Danniel levar tanta mulher aos seus shows a ponto de lotar, sou informado pela produção que o artista já tinha chegado, e que o show já começaria mas, se quisesse, teria alguns minutos para falar com ele antes do mesmo subir ao palco. Convite aceito, sou levado ao estacionamento do espaço – nesta hora a chuva tinha dado uma trégua -  e lá encontro Danniel conversando animadamente com alguns amigos. Me apresento, peço licença e, pergunto se posso ter bater um papo rápido com ele. Na conversa, posso dizer que a imagem do sertanejo típico não se aplica a Danniel. "Não vi um cara farrista, nem cheio de cordões, relógios de ouro, ou de calça de strech apertada no saco, como normalmente se vê nos sertanejos mais metrossexuais do momento". No rápido papo que tive, vi ali um cara diferente do que poderia imaginar. Católico fervoroso – perceptível pelo imenso terço que tinha no pescoço - homem de família, de esposa e filha, a quem carinhosamente chama de Xuxu e Xuxuzinha, e que faz questão de homenagear em todos os shows, foi esse o artista que pude perceber ali.
 
Mas como estava ali para vê-lo cantar, me despeço, desejo boa sorte e vou para a frente do palco. Lá já estão um monte de “xuxuzetes” – como apelidei as fãs do artista – à espera do mesmo, que chega e já canta a música “Louca” que, ao que percebo, é a música que a mulherada mais gosta, pois todas cantam de olhos fechados um refrão que diz "louca / me beija na boca/ me faz um carinho / me chama de inho". Isso com os braços levantados, copo de bebida nas mãos, como sofredoras e mal amadas.
 
Logo começa um desfile das músicas sertanejas de ontem e hoje, e que estão tocando na boca do povo. Durante todo o show, selfies não param de acontecer. De tempos em tempos, um grupo feminino encosta no “gordinho” sertanejo baiano e pede para fazer uma foto com ele, que prontamente atende e repete a foto quantas vezes forem precisas.
 
O show em si, até pela limitação cénica, não tem nada demais. Danniel, posso dizer, é um cantor que agrada pela simplicidade de ser. De voz regular e gestos contidos, tem ao que percebi, apoio total das mulheres, não por ser ou ter o estereótipo do cantor sertanejo, mas por não esconder que é casado, e por reverenciar a esposa a todo instante em seu show, se tornando para elas –as mulheres - naquele momento, meio que o tipo de “homem ideal” ou seja: fiel, apaixonado e romântico, ao ponto de falar publicamente o tempo todo do seu amor.
 
Interessante foi perceber que indiferente a música que estava sendo cantada – autoral ou interpretação de outro artista ou banda – o show é acompanhado por todos que estão na casa. Em um repertório de quase duas horas, Daniel consegue prender a atenção de quem está presente, sem fazer muita força ou gaiatices para isso.
 
Danniel Vieira, pode estar no lugar certo na hora certa. Alguns outros que tentaram não estavam no momento certo, e por isso talvez, independente da capacidade artística, fracassaram. O sucesso pleno, ao que percebi, só depende do próprio cantor. Complicado é que nem sempre, o artista ou seus produtores sabem identificar quando isso acontece.

Acho que Danniel, pode sim vir ser mais uma estrela da música Baiana.
 
Por isso que digo: quem sabe andar o cavalo, tanto faz o bicho estar selado ou em pêlo, entendeu?

Luis Ganem 
[email protected]