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Aliados de Temer minam pretensão de Henrique Meirelles por 2018

Por Vera Rosa, Adriana Fernandes e Igor Gadelha | Estadão Conteúdo

Aliados de Temer minam pretensão de Henrique Meirelles por 2018
Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

A tensão que marcou o fechamento do novo rombo nas contas públicas, anunciado na terça-feira (15), não deixou dúvidas de que a disputa presidencial de 2018 ocupou lugar privilegiado nas reuniões do governo. Convencidos de que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, trabalha para ser candidato ao Palácio do Planalto, no ano que vem, interlocutores do presidente Michel Temer intensificaram a "fritura" do comandante da economia. A nova temporada do "fogo amigo" passa não apenas por gabinetes do Planalto como pelo PMDB e PSDB, os dois principais partidos da coalizão. Filiado ao PSD - que integra o bloco conhecido como Centrão -, Meirelles voltou à berlinda política nos mais recentes capítulos da crise. Passou a fazer alianças estratégicas, como a parceria com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), abriu em maio uma conta no Twitter - hoje com 23 mil seguidores - e começou a participar de eventos fora da agenda, como batizado de criança e até visita a igreja evangélica. Nos bastidores, interlocutores de Temer acompanham com lupa os movimentos do ministro e o nome dele aparece em pesquisas de intenção de voto encomendadas por aliados, mas sempre com menos de 2%. Embora uma candidatura de Meirelles seja considerada improvável no atual cenário de dificuldades, seus adversários lembram que em política as "nuvens" mudam muito rápido. Com 2018 no horizonte, argumentam que ele pode ter apenas mais sete meses e meio à frente da economia, se conseguir pôr de pé seu projeto eleitoral, já que o prazo para a desincompatibilização de cargos públicos termina em abril. Os últimos embates travados entre a equipe econômica, ministros políticos e líderes do governo para a revisão das metas de déficit de 2017 e 2018 - definidas em R$ 159 bilhões - irritaram Temer, que, a portas fechadas, pediu "calma" à equipe. Um exemplo das divergências ocorreu no último dia 10, uma quinta-feira. Passava de 13h30 quando a temperatura esquentou no Planalto. Depois de ouvir a apresentação de Meirelles e do ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, sobre o "pacote" do aperto para conter o rombo, o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), não se conteve. "Presidente, essa solução de aumento de impostos não vai se concretizar. Não passa no Congresso", disse ele, dirigindo-se a Temer. "Ainda mais neste momento político, em que não se sabe se vem mais flecha pela frente." Flecha foi o termo usado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para se referir às denúncias da Lava Jato encaminhadas por ele. A acusação por corrupção passiva contra Temer foi rejeitada pela Câmara no dia 2 deste mês, mas outras podem aparecer. Naquela reunião, o presidente concordou com Aguinaldo, mas cobrou uma alternativa. "Se imposto não passa, como se faz?", perguntou, sem esconder a contrariedade com o vaivém dos números. Ao ver um ministro com olhar fixo no WhatsApp, interrompeu a discussão e foi direto: "Vamos guardar o celular?". Meirelles ensaiou ali o primeiro recuo: "Eu senti essa dificuldade (para aprovação de impostos) na última palestra que fiz. Mas precisamos buscar receitas e avançar nas concessões". Cinco dias depois, poucas horas antes do anúncio de ampliação da meta fiscal, o senador Aécio Neves (MG), presidente licenciado do PSDB, foi ao Planalto pedir a Temer que não incluísse a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) no leilão para conter o rombo do governo. "Não podemos entregar a Cemig dessa forma por causa de um desatino do governo do PT", provocou o tucano, alvo da Lava Jato, dando uma estocada em Meirelles. Mais tarde, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), "furou" Meirelles, anunciando aos jornalistas as metas de 2017 e 2018. Os críticos do ministro observaram uma disputa de bastidores na equipe. "Eu não furei Meirelles coisa nenhuma", reagiu Jucá, esquivando-se das desavenças. "Falei com a imprensa às 19h15 e ele, às 19h30. Qual o problema? É tudo governo. E esse governo não faz pedaladas, como o anterior. Não adianta maquiar os números. Está tudo tranquilo." Ex-ministro do Planejamento, atingido pela Lava Jato, Jucá sempre pregou uma meta de R$ 170 bilhões para 2017, considerada mais realista. Aliados aproveitaram a deixa e entraram em uma queda de braço com Meirelles, na tentativa de ampliar as despesas em um ano pré-eleitoral. O ministro perdeu a batalha pelo imposto, mas não a guerra. A meta fiscal foi ajustada porque o governo partiu de premissas que terminaram não se confirmando. Foi otimista, mas não conservador o bastante", afirmou Jucá. "Acabou que a vida não deu ao Meirelles o que ele esperava", disse o líder da maioria na Câmara, deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES). Na lista dos cálculos que não se confirmaram, o Planalto apontou a frustração de receitas com a repatriação e o Refis - programa de refinanciamento de dívidas de empresas com a Receita -, além do aumento do déficit da Previdência. O argumento para o novo vermelho nas contas é o de que houve uma corrida para a aposentadoria sem que o governo conseguisse aprovar a reforma. Após vários embates, Temer pediu aos auxiliares que não estiquem mais a corda com Meirelles. Questionado pelo jornal "O Estado de S. Paulo" se repetiria a afirmação feita há um ano, segundo a qual o titular da Fazenda estava sendo vítima de "manipulação eleitoral", o ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco, disse que não. "Esta fase foi superada com sucesso por ele", desconversou.