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Pós Jogos Olímpicos, Bahia e Vitória divergem na relação com esportes amadores

Por Matheus Caldas

Pós Jogos Olímpicos, Bahia e Vitória divergem na relação com esportes amadores
Time de basquede no gramado do Barradão | Foto: Jéssica Santana/Universo-Vitória
Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 desviaram as atenções do futebol. Nos meses de agosto e setembro, inúmeras modalidades foram apresentadas aos torcedores, que não se limitaram à paixão do esporte mais popular do mundo e encheram a Vila Olímpica para acompanhar atletas de todo o planeta. No Time Brasil, no entanto, muitos dos atletas são apoiados e representam clubes de futebol, que possuem diversas equipes em outras modalidades.

O Corinthians, por exemplo, possui 32 modalidades aquáticas e terrestres. O principal nome é o nadador Felipe França, campeão mundial do 50m peito em 2011. No Flamengo, o velocista Cesar Cielo também teve sua passagem. Na Bahia, os dois maiores clubes do estado têm atuações distintas no que se refere ao apoio a outros esportes que não sejam o futebol. Atualmente, o Esporte Clube Vitória tem sua marca vinculada em 13 modalidades, enquanto o Esporte Clube Bahia, desde 2015, prefere não se envolver fora do futebol.

O Rubro-negro apoia remo, vôlei, vôlei de praia, futsal, basquete, judô, taekwondo, futevôlei, handebol, jiu-jitsu e futebol americano. Na natação, o clube dá suporte à paratleta Mônica Veloso e no MMA, o apoiado é Leleco. Com todas as modalidades, o Vitória participa de competições com 300 atletas. Dentre parcerias e sedes próprias, o Leão da Barra é uma referência no estado, na visão de Mário Ferrari, diretor de Esportes Olímpicos da instituição. “A gente sobrevive do que o próprio clube dá. Aqui no Nordeste, é muito difícil a questão do apoio. Mas posso te dizer que aqui na Bahia, não tem nada igual ao Vitória em termos de desempenho”, celebrou o dirigente, em entrevista ao Bahia Notícias. “Nós temos parcerias. Algumas à nível profissional, como é com a Universo no time da NBB. Nosso time está praticamente pronto. E estamos com uma equipe muito mais forte que no ano passado. Nós devemos fazer uma campanha melhor. Nós tivemos a quinta melhor média de público do campeonato também. Junto com a FSBA, temos o futsal, handebol e judô. Tudo nosso funciona dentro da faculdade”, explicou.
 

Vitória Futebol Americano é apoiado pelo Rubro-negro
Foto: Divulgação

Para Ferrari, o Vitória não pode se limitar apenas ao time de futebol, apesar de admitir que é a alma do clube, fundado em 1899 como um time de cricket. “É a filosofia da diretoria do clube. Nós, em todas as gestões, acreditamos que o Vitória é uma instituição esportiva que tem responsabilidade, não só com o futebol, mas com todos os esportes. Temos responsabilidade social. Tiramos o garoto do ócio, do álcool, e colocamos no ginásio”, explicou.

O CT Manoel Pontes Tanajura, que recebe os treinamentos do Vitória, também vem recebendo investimentos para agregar outras modalidades esportivas. De acordo com Ferrari, alguns projetos começarão a surgir no local. “Meu grande salário é saber que fazemos um trabalho social muito importante. Vamos iniciar agora escolinhas para crianças carentes. Faremos coisas com futebol, vôlei, futsal, etc. Tudo vai ser de graça”, revelou. De acordo com o dirigente, há conversas para colocar o Vitória na Liga Nacional de Vôlei.
 
Mesmo crendo na força que o Vitória tem nos esportes amadores e olímpicos, Ferrari não deixa de citar as dificuldades de se manter essa estrutura. A intenção é que, com a construção da Arena Barradão, um ginásio seja erguido ao lado da estrutura. Entretanto, ainda não há apoio. “Então, um ginásio modesto custará de 8 a 9 milhões de reais. Conseguimos aprovar projetos com a Lei do Incentivo, mas é difícil conseguir quem dê dinheiro. Não vamos tirar dinheiro do futebol para colocar em ginásio”, lamentou.
 
Atualmente, as modalidades que dão mais retorno ao Vitória são remo e basquete. Na temporada 2015 do Novo Basquete Brasil (NBB), o Leão caiu nas oitavas de final para o Mogi-SP. Apesar de ter caído precocemente, o time que tem mando no Ginásio de Cajazeiras teve a quinta média de público dentre as 15 equipes que jogam o torneio.
 
O remo, depois do futebol, é a modalidade mais tradicional do clube (leia mais aqui). Desde 1943, a equipe fixa foi campeã 40 vezes. Atualmente, lidera o ranking estadual. No vôlei, no futsal e no handebol, o Leão da Barra é o atual campeão estadual.
 

Em fevereiro, Carla Carolina foi convocada para a Seleção Brasileira
Foto: Divulgação / EC Vitória
 
Para Mário Ferrari, a aceitação da torcida com os outros esportes é boa. “A torcida vai. A média de público é boa. Fizemos um amistoso em Pituaçu com 2500 pagantes. Não posso me queixar da torcida. É óbvio que queria mais, mas considero que é bom. Gostaria de ter mais apoio, mas não tenho do que me queixar”, concluiu.
 
No Bahia, a situação é inversa. De acordo com o vice-presidente do clube, Pedro Henriques, o torcedor não tem tanto interesse em ver outras equipes que não sejam a de futebol profissional. “Eu posso falar até como torcedor nesse caso e deixar o dirigente de lado. Eu como torcedor, nunca me preocupei tanto em assistir um jogo de futsal. O que a torcida gosta é o jogo de futebol. O baiano sempre apoiou esses esportes de forma amadora. Em dados documentais, que é pouca coisa, infelizmente, os investimentos não eram programados e nem planejados. Era de acordo com as oportunidades que aconteciam: ‘Ah, vamos ajudar esse atleta e explorar a marca’. Para mim, tem que haver um planejamento. Investimento em outros esportes não podem ser utilizados como exposição da marca. Até porque sua marca pode ser mal exposta”, explicou o dirigente tricolor.
 
Diferente do Vitória, o Bahia teve uma relação diferente com os esportes ditos amadores. Com poucas equipes ao longo de sua história, o apoio era reduzido. Poucos são os relatos de times que o Bahia montava. Em 2011, por exemplo, o próprio site oficial do clube noticiou o título baiano de basquete, na categoria juvenil.
 

O Bahia extinguiu o time feminino em 2015
Foto: Divulgação / EC Bahia
 
Na natação, o Bahia teve Sônia Maria de Jesus como grande nome. Ela foi recordista sul-americana. De acordo com o presidente da Federação Baiana de Desportos Aquáticos (FBDA), o Tricolor já teve times interessantes. “O Bahia já teve, inclusive, equipe campeã baiana. Tivemos a Sônia, e um grande nadador de peito chamado Orlando Aragão. Ele trabalhou no Bahia na época de Paulo Maracajá. Foi gestor no clube, explicou.
 
De acordo com Henriques, por conta de administrações passadas, o Bahia não possui condições de apoiar outras modalidades. Quando a direção do Bahia foi eleita, junto ao presidente Marcelo Sant’Ana, em dezembro de 2014, a situação administrativa era complicada. “Quando a gente entrou no clube, não tinha ainda um diagnóstico da situação financeira e administrativa. Vimos que a situação não era simples. O Bahia tinha um time de futebol feminino. Na verdade, tinha uma autorização de uso. Não era nosso propriamente dito. Nós sempre pagávamos multas e tínhamos alguns problemas. Aí paramos. Não poderíamos tirar o foco de recuperar o Bahia. Todos os outros esportes tem que se voltar ao futebol masculino”, declarou.
 
O dirigente confirmou que, à priori, o Bahia não terá nenhum tipo de outra atividade que não seja o futebol masculino e acredita que, por ora, a prioridade seja ajustar o clube internamente. “Entendemos a demanda. Estamos passando por um ciclo olímpico. Muita gente fala de esporte amador. Mas não é um esporte amador. Na minha visão, se o Bahia entrar numa modalidade, tem que ser sério. Tem que ser profissional. Por isso, não é o momento”, lamentou. “Não adianta a gente ficar fazendo discurso de que vai ter apelo popular. Temos esses atletas, que gostamos e torcemos. Mas acho que temos que focar no futebol masculino do Bahia”, emendou.
 

Pedro Henriques explica situação adminstrativa do Bahia 
Foto: Jefferson Peixoto / Ag. Haack / Bahia Notícias
 
 
O vice tricolor ainda pontuou outro problema cultural do esporte brasileiro. Na visão de Pedro Henriques, há uma transferência de responsabilidade por parte do poder público, que credita aos clubes de futebol o ônus do apoio aos atletas não profissionais de outros esportes. 
 
Para exemplificar o raciocínio, o dirigente do Bahia citou o exemplo da China, sede dos Jogos Olímpicos 2012, e que conquistou a segunda colocação no quadro de medalhas na ocasião. “Na verdade, isso é uma questão política. Eu acho importante que se desenvolvam os esportes. Mas isso não se deve atribuir aos clubes de futebol. Isso é uma questão estatal. A China fez um programa para desenvolver os esportes, melhorando o ensino público e incentivando a prática nas escolas. Aqui só se valoriza o futebol. Isso é uma questão política de desenvolvimento do esporte. No momento em que o governo quer terceirizar isso para os clubes, fica complicado. Aí acontece o que a gente vê na política em todo o país”, bradou.