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Entrevista

Presidente do Jacobina elogia torcida, mira Série D e critica imprensa e fãs da dupla Ba-Vi

Por Matheus Caldas

Presidente do Jacobina elogia torcida, mira Série D e critica imprensa e fãs da dupla Ba-Vi
Rafael Damasceno preside o Jacobina | Foto: Matheus Caldas / Bahia Notícias
Na contramão do glamour do futebol de cifras milionárias e alta audiência está o Jacobina. Presidente do clube, Rafael Damasceno é um dos nomes históricos de uma agremiação que teve um hiato de quase 20 anos sem vida profissional. Rebaixado à Série B estadual em 1994, o Jegue da Chapada, como é conhecido, voltou em 2015 e visa uma consolidação no futebol baiano. O dirigente comentou sobre as dificuldades de se gerir um clube menor e vê a Série D do Campeonato Brasileiro como uma válvula de escape para crescer mais rapidamente. “Pode ter certeza que iremos brigar pelo acesso”, prometeu. O mandatário ainda comentou sobre o tabu de um time do interior nunca ter conseguido um acesso nacional. No assunto Baianão, ele foi mais crítico. Desaprovou a postura da imprensa local no tratamento à competição estadual e pediu uma interiorização da dupla Ba-Vi além das fronteiras de Salvador. “A imprensa tem que valorizar mais a nossa competição” opinou. Por fim, ele ainda cutucou as torcidas de Bahia e Vitória, ao dizer que deveriam estimar mais o Baiano. “Se não fosse o Baiano, eles não iriam comemorar um titulo tão cedo. É a única forma de comemorar um titulo. No Brasileiro, não chegam nunca. No Nordeste, perde para Botafogo-PB”, disse.

Desde o retorno à primeira divisão, em 2014, o Jacobina vem galgando espaço. Em 2016, foi vice-campeão da Copa Governador. Você acha que o clube está maduro para conquistar um título?
A gente vem tentando. No momento, nosso objetivo é se manter na elite do futebol baiano e ir se estruturando. O título é consequência do trabalho. Em termos de estrutura, não estamos maduros. Mas em termos de condição, sim. Não estamos estruturados para isso, mas se vier, ótimo. Só temos três anos de retorno. Então, a cada ano é uma conquista. Procuramos a reestruturação para nos consolidar no futebol baiano.

Em comparação a outros centros do Brasil, a Bahia recebe cotas televisivas baixas. Você acha que os valores repassados para os clubes são justos?
Cada competição tem um custo. O Paulista é maior, mas é uma competição muito mais cara, assim como o Carioca. Mas eu acho que o primeiro passo é valorizar o Baiano. A imprensa da capital tem responsabilidade. Ela dá muito cartaz para coisas que não são boas. A imprensa tem que dar cartaz para as coisas boas do estado. Em 1994 a gente não recebia nada. Hoje recebemos. É pouco? É. Mas temos que trabalhar para melhorar. A imprensa tem que valorizar mais a nossa competição. Ela é muito Bahia e Vitória e esquece que, para eles chegarem aonde chegaram hoje, foi através do Baiano. Quando eles caíram para a Série C, o Baiano socorreu. O torcedor da dupla Ba-Vi também tem que valorizar. Se não fosse o Baiano, eles não iriam comemorar um título tão cedo. É a única forma de comemorar um título. No Brasileiro, não chegam nunca. No Nordeste, perde para Botafogo-PB. O Baiano é um campeonato centenário. Falo muito do episódio do Jacuipense. Se você observar, todos os gramados foram trocados. Se cortarem o gramado do estádio, acho que ficaria bom. Esse sensacionalismo desgasta muito a imagem da competição. Temos que valorizá-la para mostrar uma boa imagem para patrocinador vir e querer investir. Só esculhambam o Campeonato Baiano. A grande alegria do clube e da região aqui é quando chegamos no Baiano. A Bahia não é só de Feira de Santana para a capital. Temos centros para serem explorados. É por isso que Flamengo e Corinthians tem a torcida que tem no interior. É preciso interiorizar. Aqui na região, Flamengo dá de cinco ou seis nas torcidas de Bahia e Vitória. Então, acho que é preciso olharem um pouco mais para interior.

Em 2016, a torcida do Jacobina foi premiada como uma das melhores do Campeonato Baiano (relembre aqui). Como a diretoria vê esse apoio dos torcedores?
A torcida, pelo segundo ano consecutivo, se destacou. No primeiro ano [2015] não tivemos casa, mas se destacaram fora. Acho que temos recordes de torcida no interior. A cada ano ela [torcida] vem se superando. E estamos ganhando muitos adeptos. O Jacobina veio hoje para ficar, porque a paixão do torcedor é uma loucura. Nesses quatro anos, só perdemos uma vez dentro de casa, que foi a final contra o Conquista [Copa Governador do Estado 2016]. O torcedor é o mais apaixonado do interior baiano, e é nosso diferencial. É o que vem fazendo o Jacobina se enraizar. É o nosso maios patrimônio.
 

Torcida do Jacobina | Foto: Robson Guedes / Jacobina Notícias

No início deste ano, você ameaçou deixar a presidência por dificuldades que o clube enfrentava (entenda aqui). Após sua desistência em sair, o que melhorou?
Eu ressuscitei o Jacobina lá atrás [2014]. É complicado você deixar o clube no início do campeonato. Alguns jogadores também sairiam consequentemente. Seria uma catástrofe. O torcedor conversou muito com a gente. A prefeitura também veio falar conosco, assim como o presidente da FBF [Ednaldo Rodrigues] me ligou e conversamos. Mas principalmente o torcedor e os jogadores. Isso foi o principal. Eles realmente abraçam e ajudam muito. O povo de Jacobina, a classe média baixa, apoia muito. Eu tinha uma responsabilidade com muitos pais de família e com a cidade. Eu não podia naquele momento ali abandonar tudo. O torcedor e o atleta foram importantes para eu recuar na minha decisão

Quais ações o Jacobina pretende fazer para melhorar sua estrutura? 
O primeiro passo estamos próximos, que é ter uma área para ter um centro de treinamento. Depois, iremos comprar um ônibus e, a partir de então, estruturar departamento de futebol e médico. O CT é nosso primeiro objetivo. Queremos implantar também o plano de sócio torcedor. Nosso objetivo é ter uma estrutura. É ter um CT com refeitório, fisiologia, alojamento... Uma estrutura básica para galgarmos algo maior.
 
Quais as maiores dificuldades para gerir um clube de futebol do interior baiano?
Não é só no interior da Bahia, mas em todo o Brasil. Existe muita dificuldade. Obviamente, quanto maior o centro, maior o público. Em São Paulo, eles tem mais recurso, mas o público é maior. Eu acho que sou até um pouco mais privilegiado, porque a torcida é apaixonada e o poder público me dá apoio. Mas é aquilo que falei, nosso primeiro passo é ir se mantendo na elite. Ir galgando um acesso ali, uma vaga na Copa do Brasil e na Copa do Nordeste e pensando em estruturar. Nossa folha é considerada baixa em relação a outros clubes. Existem muitas dificuldades, mas temos que encontrar mecanismos para driblá-las, e formas de mantermos o clube o ano inteiro.


Damasceno quase deixou o cargo de presidente | Foto: Glauber Guerra / BN

Em 2017, o clube fará sua estreia na Série D. Há condição de chegar forte na disputa pelo acesso?
A possibilidade de um acesso é muito maior que um título do Baiano. Acho que é mais próximo. Pode ter certeza que iremos brigar pelo acesso. Estramos entrando para conseguir isso.  Nós conseguimos subir no primeiro ano para Série A do Baiano, nesse retorno, em 2014. Quem sabe poderemos subir numa estreia para a Série C também. É um sonho.

Nenhum clube do interior do estado jamais conseguiu um acesso nacional. Como você vê essa situação?
Eu acho que os clubes do futebol baiano visam muito o Campeonato Baiano. Pensam muito no estadual. Não há nenhuma receita para o segundo semestre, como se tem a receita de cotas, publicidade no estadual. Então, é difícil manter a base. Mas eu acredito que se apertar um pouco, os clubes podem conseguir. Fluminense e Jacuipense bateram na trave recentemente. Acredito que os clubes tem tudo para subir este ano. Quem sabe duas ou três equipes subirem... Acho que os dirigentes estão começando a enxergar o acesso como algo importante e isso está chegando mais perto. A condição de poder brigar por coisas maiores e ter um poderio financeiro maior já é entendida pela maioria. Temos que ver a Série D como um investimento futuro. Com o acesso, portas começarão a se abrir para enfrentar clubes da capital de igual para igual, ou ser campeão baiano. A gente tem tudo para conseguir esse objetivo. Com essa paixão toda. É algo impressionante. O Jacobina é orgulho da região da Chapada. Se apertar um pouco esse ano e chegarmos com investimento, temos tudo para subir. Podemos nos mirar em alguns exemplos, como a própria Chapecoense.