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Entrevista

Vasconcelos diz ter vergonha do presidente do Vitória e não descarta ser candidato

Por Glauber Guerra

Vasconcelos diz ter vergonha do presidente do Vitória e não descarta ser candidato
Foto: Ulisses Gama / Bahia Notícias
Líder da “Frente 1899”, grupo de oposição a atual gestão do Vitória, o advogado Augusto Vasconcelos fez duras críticas a Raimundo Viana, presidente do clube. Ele revelou sentir “vergonha alheia” do mandatário Rubro-negro e acredita que a agremiação precisa de uma “repaginação”. “Tenho dito que sinto uma certa vergonha alheia ao ter Raimundo Viana à frente de clube. Eu tenho muito respeito pelo profissional Raimundo Viana, como professor e como advogado, mas, sinceramente, o torcedor tem vergonha do presidente que possui hoje. Que projeto de modernização pode ser capitaneado por Raimundo Viana? É muito difícil crer nisso. O Vitória precisa de uma repaginação e isso passa por pessoas que estejam mais antenadas”, declarou. Vasconcelos não descartou ser candidato a presidente no pleito eleitoral de dezembro de 2016, caso seja implantada eleições diretas no clube. “É como eu tenho dito: eu penso que não é o momento de debater chapa ou candidatura. Não descarto, mas não serei candidato de mim mesmo. Se for, vou ser candidato de um projeto e esse projeto é coletivo. Vamos ouvir as pessoas, discutir o Vitória. A 'Frente 1899' é um grupo de torcedores com alto grau de elaboração”, afirmou. 
 
Como surgiu a Frente 1899 e quais os objetivos do grupo?
A Frente 1899 surgiu há dois meses, em uma reunião de pessoas que se conheceram na vida profissional, mas, principalmente, nas arquibancadas do Barradão. É um grupo de torcedores, na sua maioria jovens. Pessoas que se organizaram para ter um Vitória profissional, democrático e transparente. Temos uma coordenação e nosso objetivo e impulsionar o debate sobre as eleições diretas no Vitória e também um novo modelo de gestão, uma gestão mais profissional, que leve em consideração os preceitos de uma administração moderna. Achamos que o Vitória parou no tempo. E, por isso, nós consolidamos uma plataforma de ideias que envolve opiniões sobre os mais diversos aspectos do clube, desde a base até a Arena Barradão – um sonho antigo da torcida. E até mesmo um debate sobre a organização do clube. Defendemos uma nova governança com controle e transparência e agilidade e eficiência. O Vitória é um clube do Nordeste e, por isso, tem uma receita menor do que os clubes do Sul e Sudeste. Mas isso não pode ser um escudo para esconder má gestão. O Vitória tem que errar menos. E para errar menos, se cercar de mecanismos. Um desses mecanismos é abrir o clube. Não dá para ter um clube em que você não tem espaço para o sócio opinar, que ele apresente ideias que ajudem no desdobramento do clube.
 
Na semana retrasada teve uma assembleia geral consultiva no Vitória para tratar da reforma do estatuto. Quais foram suas impressões neste encontro?
A assembleia foi resultado de muita mobilização nas arquibancadas e nas redes sociais. Entramos até na Justiça para conseguir a lista de sócios aptos a participar da assembleia. Tudo isso foi uma vitória das oposições e dos movimentos pela democracia, porém ficamos com um sentimento de frustração em relação ao resultado final. O calendário apresentado pelo presidente do conselho deliberativo é muito extenso. Coloca a próxima assembleia somente em outubro. Achamos que há um clamor na torcida de democracia, de eleição direta e isso não ecoou durante a assembleia. Ficamos com um calendário muito alongado. Esse momento era para discutirmos já em junho uma nova data de assembleia geral para aprovarmos e deliberarmos sobre o estatuto. Somente em outubro teremos assembleia e o Vitória não pode esperar. Fica um calendário muito elástico que aparece na tentativa de aplacar os ânimos dos torcedores que querem a democracia. 

Foto: Ulisses Gama / Bahia Notícias
 
Você disse que o Vitória parou no tempo. Quais foram os principais erros de gestão dos últimos anos? E como melhorar?
O Vitória, a partir de 2006, tinha um portfólio na sua base de grandes jogadores. O Vitória nunca ganhou tanta receita de TV e patrocínio master. Isso nos dá uma sensação de que dá para fazer muito mais do que foi feito no passado, mas nós não vimos isso. O Vitória nos últimos dez anos contatou 330 jogadores, deixou um rastro de ações trabalhistas – são 120. Um clube que vive uma deteriorização do ponto de vista da sua estrutura administrativa, de modo que isso acarreta num desprestígio da marca Vitória. Em nossa opinião, o Vitória parou no tempo. Os campos de base são os mesmos do período do passado. A base tem que revezar campos, pois não pode usar a mesma grama todo dia. O Barradão não passou por grandes melhorias, a não ser pela pintura das arquibancadas. E isso é muito pouco, mas, além de tudo, a autoestima do torcedor foi detonada. E não só pelos resultados em campo, mas por uma falta de identidade com o clube. O Vitória hoje é um clube fechado, de poucas famílias, onde o torcedor não tem espaço para opinar. E nós acreditamos que é possível inaugurar uma nova etapa do Vitória. De um Vitória grandioso, da torcida, que tem ligação muito umbilical com a história do povo baiano. O Vitória não pode ser o clube das famílias, queremos o clube para multidões. E, para isso, temos que pensar em novos modelos de gestão. Uma gestão que encare o futebol como business, que pense não só no lado lúdico, do jogo, mas também no negócio. O Vitória pode potencializar suas receitas, e nós sabemos que é maior do que o que tem hoje. É necessário inaugurar uma nova etapa e isso não vai ser feito com a turma atual. É preciso gente que abra o clube, com novas ideias e transforme o Vitória em algo mais transparente. 

Carlos Falcão renunciou em março, após sucessivas derrotas dentro de campo. Qual foi o principal pecado do ex-presidente à frente do clube?
Primeiro, é bom ressaltar, nós não somos um grupo de oposição às pessoas. Nosso debate não é personalizado, não é contra a pessoa que passou na gestão. Nós não compactuamos com o modelo de gestão de Alexi, de Falcão, como do passado. Falcão foi eleito numa chapa única, quando o torcedor, no máximo, elege o conselho deliberativo e olhe lá, pois na lista de sócios votantes você encontrava menores de idade, pessoas que não eram conselheiros. Ou seja, uma falta de legitimidade na origem. A origem da eleição é uma eleição que não é legítima, ao nosso ver. Para você montar uma chapa, hoje, no Vitória, você tem que ter uma chapa com quase 450 nomes de sócios com 18 meses de pagamento. Se você atrasar um dia, você sai da lista. Para ser presidente, você tem que ser conselheiro. É um estatuto completamente fechado. Eu atrasei e fiquei com 16 meses. Eu e grande parte dos torcedores. Atrasei uma semana e espero que não seja necessário acionar a Justiça, já que queremos um novo estatuto que amplie isso. É claro que a gente não defende a inadimplência. A gente defende que a pessoa tenha um período para regularizar. 

Seu nome surge como um possível candidato à presidência do Vitória em 2016. Você vai colocar essa ideia adiante?
É como eu tenho dito: eu penso que não é o momento de debater chapa ou candidatura. Não descarto, mas não serei candidato de mim mesmo. Se for, vou ser candidato de um projeto e esse projeto é coletivo. Vamos ouvir as pessoas, discutir o Vitória. A Frente 1899 é um grupo de torcedores com alto grau de elaboração. Sobre a questão eleitoral do Vitória, dizemos que tem que destravar o estatuto para ter candidato de oposição. A Frente 1899 participará da eleição. Existe esse debate sobre o meu nome, mas ainda vamos debater outros. Tem tido um certo clamor sobre o meu nome. Sou advogado, estou presidente do Sindicato dos Bancários e, claro, uma decisão como essa envolve uma decisão pessoa e coletiva. Agora, se tiver um sentido que aponte esse caminho, tenho o maior orgulho, a maior honra de ajudar o clube que eu amo. Seria uma tarefa que tem um alto grau de importância.
 
Muitos dirigentes reclamam que é difícil dirigir um clube, principalmente na região Nordeste. Como driblar essas dificuldades e qual seria o modelo ideal para ser implantado no Esporte Clube Vitória?
Estamos acompanhando o futebol pelo mundo. Fizemos contato com a maior feira de futebol do mundo, conversamos com o presidente. O rilo [integrante da Frente 1899], por exemplo, vai em Sevilla. Eu estive na Turquia e visitei dois clubes. O futebol turco, que perdeu muito nos anos 90, mas hoje se reergueu por conta do modelo empresarial a partir dos anos 2000. É um modelo interessante, mas para o Vitória não caberia nenhum modelo. Temos que observar, mas montar o nosso próprio modelo. Um modelo de clube do Nordeste brasileiro, que tem as dificuldades naturais, mas tem as potencialidades que podemos aproveitar se for bem feito.

Existe um processo de intervenção no Vitória, impetrada por um grupo de torcedores. Esse é o melhor caminho para reformar o estatuto?
É bom ressaltar que o processo de intervenção antecede este debate de reforma do estatuto. Então, a ação judicial é legítima, porque o Vitória descumpriu requisitos legais na convocação da sua eleição, tais quais: menor na lista de sócios, lista que não foi divulgada em tempo hábil, dúvidas em tempo de associação, falta de registro das atas. Então, o processo de intervenção tem toda base jurídica. O processo de intervenção também visa democratizar, abrir o clube. Assim como aconteceu com o Bahia. Evidente que o objetivo não é se espelhar nisso. Até porque o caso do Bahia era menos grave. O Vitória tem mais condições de uma intervenção. O processo é legítimo e estamos apoiando ele no sentido de abrir o clube.

Raimundo Viana assumiu o clube no fim de março. Quais suas primeiras impressões da gestão dele?
Tenho dito que sinto uma certa vergonha alheia ao ter Raimundo Viana à frente de clube. Eu tenho muito respeito pelo profissional Raimundo Viana, como professor e como advogado, mas, sinceramente, o torcedor tem vergonha do presidente que possui hoje. Que projeto de modernização pode ser capitaneado por Raimundo Viana? É muito difícil crer nisso. O Vitória precisa de uma repaginação e isso passa por pessoas que estejam mais antenadas. O futebol movimenta bilhões, os contratos não devem ser realizados de maneira burocrática. E evidente que, ao nosso ver, ele não é a pessoa mais adequada. Achamos que é uma gestão de continuidade às anteriores, sem estratégia, sem atração de novos investimentos. 

Foto: Ulisses Gama / Bahia Notícias

Vagner Mancini foi contratado recentemente para comandar o time. Foi a melhor escolha?
Eu acho que o Mancini já foi contratado. Estaremos nas arquibancadas torcendo para dar certo, mas acho que foi precipitado a contratação. Ela acaba sendo uma forma de aplacar ânimos, e não uma forma de um planejamento estratégico. Mas, se ele já foi contratado, vamos torcer para que dê certo. Até porque o salário que ele vai receber no Vitória, sem dúvida, vai dar muito mais transtornos trabalhistas se tiver que tirar ele. Vamos torcer para que dê certo e que o Vitória suba para a primeira divisão, que é o lugar de onde ele nunca deveria ter saído. 

Você é filiado ao PC do B e é presidente o Sindicato dos Bancários da Bahia. Caso você se candidate e seja eleito presidente do Vitória, haverá interferência do seu partido na gestão do clube?
Claro que todo cidadão tem o direito de ter uma opção política. É bom que as pessoas tenham uma posição. No Sindicato dos Bancários nós conseguimos distinguir o que é uma decisão no âmbito do partido e no âmbito do sindicato. E, não tenho dúvidas, de que o Vitória tem que ser um clube plural, de vários segmentos. Precisamos fortalecer o clube politicamente. Exemplo: as vias do entorno do Barradão. Por que não brigar para ter uma linha do metrô próximo ao Barradão? Isso tudo depende de vontade política. Tem tanto político hoje no Vitória, mas quantos deles contribuem para mudar a realidade do clube? A gente jamais vai botar os interesses partidários à frente, e o PCdoB não vai se meter nisso. Devemos encarar com muita tranquilidade, naturalidade. Não devemos demonizar a política. O que não pode acontecer é o que aconteceu agora: teve uma reunião na CBF e teve depois uma reunião com a possibilidade de criar uma liga com alguns clubes da primeira e segunda divisão e o Vitória não foi convidado, mas o Bahia foi. O Vitória precisa se fortalecer politicamente, inclusive. O clube, hoje, está muito fragilizado, inclusive politicamente. 

A oposição se uniu para lutar pela reforma do estatuto. Essa união prevalecerá nas eleições de 2016?
Nós conseguimos um feito inédito no Vitória. Unificamos sete grupos de oposição. A Frente 1899 tem se unificado com os outros grupos para buscar a democracia. Temos muitos pontos de convergência, na sede do Sindicato dos Bancários. Candidaturas não estão em debate agora. É difícil falar da tendência agora das oposições. Zé Rocha falou de eleição direta, mas quais os critérios da eleição? Eleição direta está todo mundo falando agora, mas quantos falavam há alguns meses? Quero uma eleição direta, dar voz ao sócio. Temos um objetivo maior que é um Vitória grandioso.