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Entrevista

Fisiologista do Bahia avalia estrutura do clube como boa, 'mas gostaria um pouco mais'

Por Felipe Santana

Fisiologista do Bahia avalia estrutura do clube como boa, 'mas gostaria um pouco mais'
Foto: Felipe Santana / Bahia Notícias
O Bahia Notícias desta vez decidiu sair das quatro linhas e correr para os bastidores de um clube de futebol. O entrevistado do BN é o fisiologista do Esporte Clube Bahia, Maurício Maltez, que faz parte da comissão técnica do elenco principal. O profissional, de 39 anos, está na segunda passagem no Fazendão e destaca o quanto o tricolor mudou de 2013 para 2015. O entrevistado, mestre em Fisiologia e doutor em Ciências, também esclarece pontos quanto à decisão de poupar os titulares do Bahia e como gerencia os números de desempenho dos jogadores.

Qual o verdadeiro papel do fisiologista de um clube?
O fisiologista, hoje, participa diretamente da comissão técnica. Pode e consegue transitar entre todos os departamentos, é responsável pelo processo de volta aos gramados do jogador, após lesão, e também está ligado à preparação física. Toda programação do clube, quando envolve prevenção, preparação e trabalho de lesões, o fisiologista está envolvido. Sem falar no constante monitoramento do que acontece nos treinos, durante os jogos, e também com aqueles que não estão nem em um, nem no outro. Fisiologista de um clube, atualmente, é um profissional que consegue passar por todas as áreas.


E esta importância ao fisiologista sempre foi dada?
O papel, antes, era bem diferente. O fisiologista, que não era funcionário do clube, tinha os serviços contratados para avaliar e depois passar todos os dados através de um relatório. Isso mudou. Com o passar dos anos, o fisiologista passou ganhar mais visiblidade, devida importância, e passou a fazer parte direta da rotina dos clubes, e não mais terceirizado.

Poupar ou não jogador é uma decisão que passa pelo fisiologista?
Nossa análise não é uma coisa feita de maneira pontual. É um trabalho de todo semestre. O Bahia, por exemplo, é um clube que nos primeiros cinco meses teve apenas uma lesão muscular (Kieza), os demais foram edemas e dores localizadas. Esta ideia de poupar ou não é um coisa processual. Eu, com os estudos e avaliações, consigo ter todos os números de jogos e treinos que envolvem o quanto corre, a intensidade, e o volume apresentado pelos atletas. Baseado nesses números, juntamente com tudo que pegamos no semestre inteiro,
discutimos dentro da comissão o que fazer. 

O Bahia poupou titular em alguns jogos esse ano. Qual motivo para tal decisão?
Geralmente, entre 24 e 48h depois dos jogos, nós realizamos um procedimento para medir a enzima CK, capaz de apresentar números referentes ao processo metabólico dos atletas, e com qual intensidade aquele ou outro jogador atuou. Por isso, com base no que recolhemos, passamos a informação para Sérgio Soares e ao mesmo tempo indicamos a necessidade de poupar. Nós jogamos 11 partidas em apenas um mês, é um desgaste muito grande. O período entre uma partida e outra era muito curto, não conseguia completar três dias de pausa. Temos atletas, durante os 90 minutos, que perde até 2kg. Com dois ou três dias de recuperação não é garantia de recuperar, e isso altera muda coisa do profissional.
 

No caso de Kieza, por exemplo, foi uma lesão que poderia ser evitada?
Realizamos os procedimentos que apontaram, após 48h, a necessidade de poupar jogadores e sinalizamos isso. Porém, no dia seguinte, os números apresentavam outros valores, e bem menores, o que nos fez mudar de ideia. A nova pesquisa nos permitia usar os titulares na estreia, contra o América, como aconteceu. A palavra dos jogadores também nos ajudou nesta decisão. Não foi uma decisão simples (colocar titulares), mas caberia correr o risco diante dos números e também do fator de ser a primeira partida da competição mais importante do ano. Foi uma aposta e infelizmente aconteceu a lesão.

Ainda sobre Kieza, o que aconteceu foi fruto da sequência de jogos?
Ouvi comentários que a lesão foi causada pelo movimento feito pelo jogador, ao tentar o passe de calcanhar, mas não foi essa a razão. A lesão é sempre decorrente de um desgaste, que no caso desses atletas era muito grande. Os números, primeiro, apontaram para um caminho (poupar) e 12h depois para outro (jogar). Repito que não foi algo fácil decidir, mas tomamos o caminho de apostar em usar a força máxima. Foi uma atitude estudada e conversada.

Você foi do Bahia em 2013 e saiu. Voltou em 2015, e o que mudou no Fazendão?
Mudou coisa demais. Aqui, em 2013, eu vivenciei uma época bem conturbada, foi uma ano de intervenção, troca de presidente, o que fez o clube sofrer demais na área administrativa. Hoje, mais equilibrado, o Bahia vive outro momento. A começar pelo presidente, uma
pessoa cheia de ideias, e também por outras pessoas que representam o clube agora. 

O que tornou este elenco diferente, com tanta intensidade e poucas lesões?
Cara, quando existe um entrosamento entre os setores, e uma preparação física humilde, os caminhos são melhores. Nós temos um preparador físico que, além de ouvir o fisiologista, segue os conselhos. Esta integração torna o trabalho melhor. Ter sensibilidade e ouvir os companheiros é o grande diferencial deste Bahia em todos os setores que estão próximos dos atletas.

Você, como fisiologista, aplica trabalhos diferente para Ávine (sem jogar desde 2012)?
Ele é tratado como os demais, mas existe um diferença dentro da análise que é feita sobre os números. É necessário levar em conta tudo que ele viveu recentemente e o que pode viver futuramente. Ávine está muito tempo sem jogar, e o nosso papel é conduzir o atleta para o retorno , e torço demais para que isso aconteça. Porém, ele e todos no clube sabem que não é uma tarefa fácil. Existe uma limitação funcional, sim, mas que estamos conduzindo da melhor maneira para ele voltar aos gramados o quanto antes.

O Bahia oferece as melhores condições de trabalho para um fisiologista?
Conheço muitos clubes no Brasil com a mesma estrutura quanto aos equipamentos, mas em quantidade superiores. O Bahia, hoje, possui GPS para treinos e jogos, aparelho para medir a frequência cardíaca em tempo real, máquinas do soccer test e uma maneira de realizar a avaliação através da enzima CK. Temos equipamentos, e bons, mas não em grande quantidade. Hoje, se me fizessem esta pergunta, responderia que gostaria de um pouco mais. Mesmo assim eu entendo o momento de reestruturação do clube.
 

Atletas como Adriano (ex-Conquista) ganham atenção especial por vir do interior?
Independente do clube ou região, o jogador sempre encontra dificuldades no clube novo. A estrutura ou tipo de trabalho nunca é igual. Nós, por exemplo, colocamos na programação do jogadores que é necessário passar todos os dias na musculação ou fisioterapia, tudo isso para evitar lesões. Não importa o atleta, ou de onde veio, a dificuldade é se encaixar na rotina do novo clube.

Este grupo te apresenta números menores após os dias de folga? Problemas extra-campo?
É lógico que o extra-campo interfere na parte física. Se o cara perde noite, além de beber demais, ocasiona um desgaste físico mais rápido e maior. O rendimento dele vai cair. Mas, como tive a oportunidade de dizer isso para eles, o grupo do Bahia mostrou um comprometimento espetacular nos primeiros meses. Foram cinco meses de intensidade e profissionalismo nos primeiros cinco meses.

O que fez ser fisiologista de um clube de futebol?
Eu, antes de entrar no Bahia em 2013, sempre ouvia muita gente falar do futebol e nunca quis entrar. Eu, uma vez atleta da base do Bahia, sempre estive próximo do futebol e aceitei a proposta. Estou no futebol, hoje, apenas pelo desafio. Graças a Deus, fora do clube, eu tenho minha vida estabilizada e não dependo dele diretamente. Foi uma questão de desafio profissional. Agora, depois que entrou, fica complicado sair. Perco final de semana, a mulher reclama, mas é prazeroso demais este meio do futebol. Lidar com atletas, competições e torcida é bom demais.