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Entrevista

'Lutar contra Miocic seria interessante', diz Cigano sobre adversário para seu retorno ao UFC

Por Edimário Duplat e Lucas Cunha

'Lutar contra Miocic seria interessante', diz Cigano sobre adversário para seu retorno ao UFC
Fotos: Cláudia Cardozo / Bahia Notícias
O ano de 2014 é de reafirmação para o lutador de MMA catarinense radicado na Bahia, Júnior Cigano. Aos 30 anos, o ex-campeão dos pesos pesados do UFC quer mostrar ao mundo da luta - e para ele mesmo - que ainda pode lutar em alto nível na categoria. A expectativa do próprio Cigano é que possa voltar ao octógono entre "novembro ou primeira quinzena de Dezembro", quando terá que superar a desconfiança após as duas derrotas para Cain Velásquez, além da recente lesão que evitou seu combate no Brasil contra Stipe Miocic, nome que Cigano acha interessante para seu retorno aos combates. "Acho que hoje, a luta que seria contra o Miocic aqui no Brasil poderia ser bastante interessante. É um adversário que está vindo de vitórias, tem uma expressão muito boa na categoria", disse Cigano em entrevista na redação do Bahia Notícias. Leia a entrevista completa.

Bahia Notícias: Cigano, como está sua rotina se dividindo entre a Bahia e o Rio de Janeiro nos seus treinos?

Júnior Cigano: Estou ficando mais no Rio mesmo, tentando aprender mais com o pessoal lá de uma forma diferente. Aqui na Bahia eu gosto muito (de treinar), não é à toa que eu sempre venho treinar com o professor (Luis) Dórea e o professor Yuri (Carlton), mas estou buscando uma nova estratégia e aprender novas formas de treinamento. Com isso, estou ficando um pouco mais com o professor André Pederneiras da Nova União e tem sido legal pois tenho aprendido de uma forma diferente. Mas sempre que eu posso eu venho para a Bahia.

BN: Mas você continua morando em Salvador ou tem se revezado entre Rio de Janeiro e Bahia?

Júnior Cigano: Continuo morando aqui, minha casa é aqui, mas tenho ficado a maior parte do tempo lá. Até porque quando começa o treinamento para a preparação de uma luta, como era no caso da minha última, eu faço todo lá. Eu levo o Dórea e as pessoas que precisam para ter do meu lado e fico mais por lá. Nessa época agora que estou sem luta, só treinando normalmente, aí venho para cá.

BN: E como está a recuperação da mão, existe alguma previsão? O prazo inicial era pro final de Agosto e início de Setembro, não?

Júnior Cigano: É, mas ficou muito em cima para mim, porque as lesões acabaram levando um pouco mais de tempo para recuperar do que estava previsto. A mão já está boa, tenho já treinado boxe e tudo, mas existiram outras lesões e uma que me incomodava bastante era a do joelho. Nada muito sério, mas era só uma dor que estava sentindo e devido as sessões de fisioterapia elas já estão normais. Fiz o meu terceiro treino esta semana, pois estou voltando aos poucos e “acordando” os músculos de novo para poder adaptar o golpe e depois pegar um adversário pela frente.



Foto: Francis Juliano/Bahia Notícias

BN: E como funciona isso para o UFC? Existe algum tipo de pressão para o retorno ao octógono ou eles entendem que você precisa estar completo para fazer uma luta em alto nível? Como é esse diálogo?

Júnior Cigano: Eles sempre procuram saber como as coisas estão andando, se as coisas estão bem e se já se podem marcar uma próxima luta. Tanto que fui para Las Vegas por agora e tive uma conversa com Joe Silva, o matchmaker do UFC. Ele queria saber quando estaria pronto e eu expliquei toda minha situação para ele.

BN: Você deu alguma data ou previsão?

Júnior Cigano: Não, falei que estava fazendo fisioterapia, que estava muito melhor e voltando aos treinos. A gente não sabe quando volta realmente porque é somente nos treinamentos, que são muito intensos, que a gente vai saber como está se sentindo realmente. Eu expliquei isso para ele, que sempre me entende muito bem e sabe que eu não falaria nada que não fosse verdade, pois eu amo fazer o que eu faço e a experiência que tenho com o UFC mostra isso. Sempre estive pronto para atender qualquer pedido deles, mas dessa vez aconteceram essas lesões e fiquei um pouco fora e eles estão entendendo.

BN: Mas não existe nenhum tipo de pressão para que aconteça até o final do ano?

Júnior Cigano: Então, ele me pressionou no sentido de querer saber uma data e eu disse que, provavelmente, uma data que eu achava que poderia estar pronto para uma luta, não que o médico estivesse liberando e sim uma previsão minha, seria Novembro ou primeira quinzena de Dezembro.



Foto: Bahia Notícias/Francis Juliano

BN: Então, você imagina que esse ano ainda tenha luta.

Júnior Cigano: Então... a minha intenção é que esse ano ainda tenha uma luta. Em Outubro vai fazer um ano que não luto, que foi a minha última luta com o (Cain) Velasquez, e devido a tudo que ocorreu não só na luta como também o que aconteceu na preparação com o (Stipe) Miocic tem me frustrado bastante e me deixando um pouco preocupado. Eu gosto de estar envolvido com a luta, não vejo a hora de voltar logo.

BN: Recentemente, alguns lutadores como Josh Barnett, Alistair Overeem e Stipe Miocic já demonstraram o interesse de te enfrentar no octógono. Como acontece essa escolha? Existe uma consulta do UFC com você sobre o próximo adversário?

Júnior Cigano: Na verdade, os lutadores demonstram suas intenções, as suas vontades de estar enfrentando algum lutador, mas isso não quer dizer que o UFC irá acatar isso. Além disso, você precisa estar apto, lutando com determinados atletas e seguindo o ranking. Não é qualquer um que vai lutar pelo cinturão, por exemplo. Eu acho ótimo estar ocorrendo esses desafios, o pessoal com vontade de lutar comigo, é bastante interessante pois uma coisa que passa pela minha cabeça é que eles acham que viram um “caminho” que o Velasquez encontrou no meu jogo e eles querem explorar esse caminho, acham que está na hora de ir pelo mesmo lado também. Vamos ver, acho muito bom, mas alguns deles ou algum desses desafios que estão acontecendo é também mais uma forma de se promover um pouco. Porque quando você fala alguma coisa que as pessoas querem ver, você acaba tendo uma visibilidade maior e isso ocorre com alguns desses caras que estão aí.

BN: E você tem algum plano? Alguém que você gostaria de infentar em um pequeno a longo prazo?

Júnior Cigano: Sempre sou da opinião de que não escolho adversário, luto contra qualquer um. Mas hoje tenho sim a vontade de enfrentar o Velasquez de novo, mas eu tenho que conquistar isso, poder ter a chance de lutar pelo título novamente.

BN: Mas entre estes três citados, você acha que algum deles seria um bom desafio, alguém que provaria tanto para você quanto para o próprio UFC que você está apto para lutar novamente em alto nível?

Júnior Cigano: Eu acho que na posição que eu estou hoje no ranking, eu sempre tenho que estar enfrentando os melhores, os mais bem posicionados, para poder ter chance de lutar pelo cinturão novamente. Acho que hoje, a luta que seria contra o Miocic aqui no Brasil poderia ser bastante interessante. É um adversário que está vindo de vitórias, tem uma expressão muito boa na categoria. Acho que seria um combate bem interessante com ele mesmo.

BN: A não-realização dessa luta contra o Miocic, tanto por ser com um adversário de alto nível como por ser no Brasil, foi considerada uma dupla decepção?

Júnior Cigano: Isso. Pelo UFC nunca lutei aqui, minha última luta no Brasil foi em 2007 aqui em Salvador e desde que entrei na entidade não tive oportunidade de atuar no Brasil ainda. Vários atletas já tiveram, acho que é uma coisa diferente, e isso que me deixou mais triste pois seria a minha primeira luta no país e minhas lesões me tiraram dessa oportunidade. Deus sabe o que faz, prefiro pensar assim. Mas minha intenção é ainda lutar no Brasil e realizar uma “estreia” aqui como lutador do UFC.



Foto: Francis Juliano/Bahia Notícias

BN: E você tem essa conversa com o UFC? Como está esse diálogo com os organizadores de lá? E como a Bahia não recebeu ainda uma luta, poderia existir a possibilidade de existir algum evento em um lugar como, por exemplo, a Arena Fonte Nova? Essa possibilidade já chegou até você de alguma forma, mesmo que seja de uma maneira informal?

Júnior Cigano: Não, não chegou de forma nenhuma. E essa coisa de onde você vai lutar, a gente interfere em quase nada. Isso é mais da organização mesmo, de onde eles acham interessante que você vai atuar no momento. Então, acho que não tem como um pedido nosso influenciar tanto. Talvez até influencie um pouco, mas não que seja uma coisa certa de que vá acontecer porque você está pedindo para lutar em determinado lugar. Então acho que, do jeito que você mesmo disse, existem grandes condições de estar acontecendo aqui na Bahia, na Arena Fonte Nova. Seria ótimo, aliás todo mundo tá esperando esse evento no estádio. Porque o público brasileiro está tão apaixonado pelo esporte, e tem acompanhado tão de perto, que com certeza lotaria. Seria um show incrível. Tem quase 10 ou 11 anos que moro na Bahia e sei que o pessoal daqui gosta de luta e acompanharia de perto esse evento aqui.

BN: De uns poucos anos pra cá, o UFC se tornou uma moda e todos falavam sobre isso. Agora, parece que a fase da moda já passou e,  um público muito maior se fidelizou ao esporte. Como você observa a popularidade do MMA hoje em dia?

Júnior Cigano: Eu considero como um fator muito bom para todos, não só para os atletas como para toda a organização UFC. Caiu no gosto brasileiro, e acho que já passou a impressão que era uma coisa de momento mesmo. Já tem um tempo que o pessoal vem acompanhando bastante e quando acontece algum evento aqui está lotado, dificilmente tem lugares disponíveis. Então acho isso muito bom, acredito que é uma coisa muito boa e espero que a cada dia consiga conquistar mais e mais fãs. A arte marcial é assim, quando você acaba conhecendo um pouco vê que as pessoas que não gostam é porque tem preconceito, por achar que é uma briga. Não é uma briga, é uma luta. A gente treina muito para aquilo, se dedica muito e tem como principal característica a disciplina. Quem tá lutando e se esforçando ali é porque se destacou em uma academia ou praticando alguma arte marcial, se empenhou de verdade e por isso é um lutador de MMA.

BN: E como você observa o crescimento da popularidade. Pessoas como você e o Anderson Silva, por exemplo, são muito ligados ao público, principalmente as crianças. Você se preparou para chegar onde está, do ponto de vista midiático ou sempre foi algo natural?

Júnior Cigano: Comigo é algo muito natural, pelo menos no meu caso é assim. Eu gosto mesmo de estar envolvido. Aqui mesmo nas academias onde eu treino, sempre tem muitas crianças e toda vez que existia uma filmagem ou coisa parecida do UFC sempre aparecia mais e mais. Eles gostam de estar envolvidos, brincando ali, e traz uma alegria pro momento, porque fica aquele clima descontraído e tudo acontece de forma natural. Mas existe sim uma preocupação com a imagem sim, porque o esporte é tachado como violento e eu acho que está longe de ser violento. O que acontece no MMA é com atletas preparados para aquilo e a violência de verdade é você ser roubado na rua ou até espancado. Isso sim é uma violência, com pessoas que não estão preparadas para aquilo. O que praticamos é uma arte marcial e uma troca de experiências.



Foto: Francis Juliano/Bahia Notícias


BN: Lembro até que uma vez você falou nas redes sociais sobre a violência em Salvador..
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Júnior Cigano: Na verdade, era sobre a violência no trânsito. Aqui em Salvador está bem complicado, o pessoal parece que quando entra no carro está num tanque de guerra. Estava sentindo, na época, que as pessoas dentro do carro parecem que se transformam e se tornam agressivas. E não só dirigindo como verbalmente. Mas eu acho que isso acontece em qualquer lugar mesmo. Na época foi uma pergunta que me fizeram do trânsito daqui, mas acontece no Brasil todo.

BN: Falando em Brasil, na chegada do UFC por aqui os brasileiros estavam em alta na modalidade. Na época, tínhamos três campeões ao mesmo tempo. Hoje só temos o José Aldo como campeão. Como você tem visto essa relação Brasil versus Estados Unidos hoje na entidade? É apenas um momento ou o Brasil precisa se reciclar de alguma forma?

Júnior Cigano: Acho que somos muito talentosos no MMA e o diferencial que temos é a vontade, não desistindo de buscar a vitória. Mas o americano é muito inteligente e agora levaram muitos bons treinadores para os Estados Unidos, onde as oportunidades são melhores e acabam ensinando a eles a nossa técnica. Agora eles estão aprendendo isso, lutando da forma como fazemos e acrescentando a estratégia e a elaboração de bons treinos para auxilia-los e sempre estarem preparados. Os resultados tem mostrado isso e acho que temos que nos reestruturar, praticar um treinamento mais correto que te faça render no dia da luta. Eu já sofri com overtraining (sobrecarga de estímulos ocasionada por treinamentos) e não consegui mostrar tudo que dava para mostrar. E nesse sentido eles tem saído na frente.

BN: Recentemente, temos visto por meio de programas como o TUF Brasil, a adesão de novos lutadores ao UFC. Como você tem visto a entrada desses novos lutadores, existe algum que você destaque como alguém que possa estar no topo futuramente?

Júnior Cigano: Acho isso uma coisa bastante importante. O TUF hoje existe no mundo todo e essa renovação é necessária. Principalmente em um programa que te dá a notoriedade necessária para entrar no UFC, isso é bem legal. Inclusive no último que tivemos no Brasil, o Warlley Alves se mostrou um atleta que tinha boas condições e o Chael Sonnen (seu treinador) até falou que ele poderia na atualidade disputar o cinturão. Foi um comentário bastante favorecedor, mas acredito que pode sim. Eles têm treinado de forma séria e tem tratado o esporte como uma profissão. Teve também o Cara de Sapato, que é meu amigo e treina comigo. É um talento que eu vejo chegando nas cabeças e lutando pelo título também. E olha que ele não é dos pesos-pesados, apesar de ter atuado nessa modalidade e ter sido campeão. Saem grandes talentos desse programa, revelações, e acho bastante importante que se tenha a continuidade disso.



Foto: Francis Juliano/Bahia Notícias


BN: E em relação a essas modalidades consideradas de menor expressão do MMA? Você que veio de uma delas, como as vê hoje? Existe uma melhor estrutura hoje em dia?

Júnior Cigano: Acho que melhorou sim, porque o pessoal da produção ganhou maior experiência em realizar esses eventos, mas ainda melhorou muito pouco. Acho que você precisa aparecer nesses eventos pequenos para depois tentar uma chance no UFC. São eventos que apoiam os iniciantes, são importantes. Vejo que estão melhorando e estão investindo mais. Eles perceberam que o UFC chama as pessoas e se aproveitaram desse “poder” para ter público também.

BN: Por falar em outras modalidades, uma curiosidade é que você perdeu uma luta antes de ingressar no UFC. Você lembra do contexto daquela luta, isso afetou sua carreira de alguma forma?

Júnior Cigano: Eu já iria assinar com o UFC naquele momento. Já tinha um empresário negociando minha ida para lá e tinha mais uma luta no Brasil e acabei perdendo. Depois disso, esse determinado empresário me disse que o UFC não contratava perdedores e não iria mais. Fiquei muito triste, em uma situação muito difícil, mas graças a Deus eu fiz mais uma luta logo depois e venci. Aí tudo se resolveu. Sobre o adversário, eu já o tinha enfrentado antes e na ocasião ele me pegou em chave de jiu-jitsu – na época ele era faixa preta e eu era roxa, se não me engano – e acabou vencendo de forma rápida. Na época, eu nunca tinha lidado com uma derrota, mas foi algo bom pra mim porque na época fiquei bastante abalado. Hoje, eu vejo que foi uma das melhores coisas da minha carreira porque eu vi que não era imbatível e coloquei a cabeça no lugar, treinando mais e tomando tudo com uma seriedade maior.

BN: Para os padrões do MMA, você aos 30 anos ainda é considerado jovem, mas já pensa em algo além do MMA? Ser comentarista ou treinador no futuro estaria nesses planos?

Júnior Cigano: Acho que ainda tenho mais 10 anos para lutar! (risos). Hoje o meu foco é ainda a minha carreira, tenho cuidado muito de mim para manter isso ao máximo. A questão de ter sido comentarista aconteceu de uma forma bem legal. Eu gosto de dar minha opinião, meu ponto de vista. Tenho me divertido em fazer isso e o pessoal da Globo me deixa muito à vontade. Quando eu estou treinando se não der para fazer, eu não preciso. É uma coisa que tenho me divertido muito e pode ser uma opção no futuro, mas bem pro futuro. Hoje a minha intenção, meus olhares, são para cada vez mais melhorar como atleta e reconquistar o cInturão.

BN: E você pensa no futuro em seguir carreira política, assim como tem acontecido com ex-esportistas como Romário e Popó?

Júnior Cigano: Não posso dizer que vou descartar, porque ninguém sabe do futuro. Mas, caso em uma aposentadoria e se me visse interessado por isso... hoje não me vejo envolvido com a política. Mas quem sabe, no futuro, pode pintar. Vai saber. Eu acho que o Popó e o Romário tem feito um trabalho bem legal, apesar de não acompanhar de perto, mas é o que estamos vendo por aí.