Aposta promissora
Não tem como avaliar profundamente o trabalho do treinador Paulo Roberto Falcão. Do ex-jogador, apesar de não ser da minha época, e do comentarista, posso falar a vontade. Seria legal, mas nesse caso é apenas um adicional de conhecimento. Depois de quase 20 anos sem trabalhar a beira dos gramados, o ex-gênio (eterno) do meio de campo, voltou ano passado no seu Internacional. Acompanhei superficialmente e o via continuamente envolto há muita pressão. Parecia sempre subestimado, mesmo com o título gaúcho em cima do grande rival Grêmio. Pelo sim, pelo não, foram apenas três meses o que, de fato, não é um bom indício.
É preciso pontuar cada circunstância. Se por um lado mostrou impaciência com algumas críticas, do outro acabou fritado pela política interna no Internacional. Assumiu o clube em meio a decisões quarta e domingo e conseguiu reverter à vantagem gremista no estadual, mas acabou eliminado em casa da Libertadores, em um duelo inacreditável contra o Peñarol. Vi o jogo e foi daqueles que recheiam o imaginário do futebol. Foram apenas 19 partidas, com nove triunfos, cinco empates e a mesma quantidade de derrotas, sendo que, três nos últimos três jogos, cheio de desfalques. Talvez tenha faltado experiência para lidar com a pressão e um elenco desequilibrado. O time era muito forte, mas a reposição longe do mesmo nível. Isso conta, mas pode e deve ter aprendido. No Bahia, a realidade técnica e financeira é outra. Vai ter de aprender a cozinhar com poucos ingredientes.
Quando soube da contratação fiquei bem reticente. Nunca duvidei ou menosprezei a capacidade que ele, tão bem, apresenta no discurso. Meu medo é em cima de fatos simples. Não basta ter conhecimento técnico e tático. É preciso conseguir passar os conceitos para o time, lidar com o espírito mimado e, muitas vezes, descarado dos jogadores, segurar a onda com os erros e oba oba dos dirigentes e a cobrança para lá demasiada de imprensa e torcida. Cada item desses requer muito jogo de cintura, personalidade, paciência e inteligência. Por isso vemos treinadores com o conhecimento afiado, mas que não conseguem o sucesso prometido. Quem não se lembra de Sérgio Guedes? Enxerga tudo do jogo, porém, não obtém os resultados.
Essa preocupação diminuiu quando soube da vinda de Julinho Camargo com Falcão. Logo vem a mente a passagem frustrante como comandante do Grêmio após a saída de Renato Gaúcho, também ano passado. Claro que conta, entretanto, como expliquei no parágrafo acima, ser treinador não é fácil e a transição da saída de auxiliar técnico é complicada demais. Sem falar que ele saiu de auxiliar colorado para treinador gremista. Imaginam o tamanho da pressão? Aqui, como vem no cargo “mais light”, sua capacidade de organizar e observar o time nos treinamentos e jogos será bem interessante para uma compilação tática inexistente com Joel Santana. Conhecimento, pensamento moderno e ofensividade são os pontos da teoria de trabalho da dupla Falcão/Camargo.
Gostei da escolha ousada e fora do lugar comum. Qualquer treinador é uma aposta e sou sempre favorável a mudanças de paradigma. Chega de mais do mesmo! Temos de seguir cobrando e analisando o trabalho do dia a dia, mas penso ser um momento especial, diferenciado. Os detalhes, as circunstâncias devem ser respeitadas. Precisamos segurar a onda nos apupos e nos elogios. Futebol não tem fórmula pronta e é preciso ter critério. Existem vários culpados para um fracasso e nem sempre é só o treinador. Me parece um projeto promissor, com mais chances de dar certo que errado. Resultado é importante, mas é preciso calma com o trabalho se estiver sendo bem desenvolvido. Falcão é uma estrela que atrairá muitos holofotes para o Bahia no mundo todo, no entanto, está apenas começando na profissão e precisa ser apoiado. Não já está aqui? Então! A capacidade dá esperança de mudanças. Boa sorte!