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Entrevista

João Amoêdo avalia credenciais do Novo que podem fazer a agremiação conquistar os brasileiros - 02/10/2017

Por Guilherme Ferreira / Bruno Luiz

João Amoêdo avalia credenciais do Novo que podem fazer a agremiação conquistar os brasileiros - 02/10/2017
Fotos: Tiago Dias/ Bahia Notícias

Na esteira da crise do modelo brasileiro de democracia representativa, em que cada vez menos a população se sente representada pela classe política que elege, surge uma legenda reivindicando trazer os ventos de renovação dos quais necessita a política do país. E a pretensão está até no nome: Partido Novo. O declarado novo, na prática, não é tão novo assim. A agremiação se define como um partido de direita, ideologicamente alinhado ao liberalismo clássico, com o tradicional e pragmático discurso que prega a mínima participação do Estado na economia e na vida do cidadão. Conceitualmente, algo próximo de DEM, como definem os representantes da sigla. A diferença a ser mostrada estaria, entretanto, em outras propostas do partido. O Novo defende o voto facultativo e o fim do fundo partidário, pregando que as legendas sejam financiadas apenas pelos próprios filiados. A entrada no partido também acontece de maneira fora do usual: aqueles que querem ingressar precisam passar por um processo seletivo. Fundador do Novo, o empresário João Amoêdo avalia que essas credenciais podem fazer a agremiação conquistar os brasileiros, cada vez mais descontentes com o cenário político do país. Entretanto, o desafio é fazê-lo conhecido pela população. Outra dificuldade a ser enfrentada é torná-lo mais representativo politicamente. "De forma geral, nos outros 18 estados em que a gente abriu processo seletivo, a gente está pensando, como prioridade, levar pessoas para o Congresso. Deputados federais e, eventualmente, senadores. Mas o foco mesmo são deputados federais, queremos fazer uma bancada", afirma Amoêdo sobre os projetos do partido para as eleições do próximo ano.

 

O Partido Novo foi fundado há pouco tempo, então é normal que as pessoas conheçam pouco a ideologia. Quais são as principais bandeiras defendidas pela sigla?
A gente acredita, primeiro, que o indivíduo é o único criador de riqueza, no livre-mercado, que todos são iguais perante a lei. Então, em cima desses valores, principalmente no de liberdade com responsabilidade, que a gente vai fazer as plataformas do Novo. A gente acredita, por exemplo, que o voto deveria ser facultativo. Que os partidos não deveriam receber dinheiro público, teriam que ser apenas suportados com recursos dos seus filiados. Na área econômica, por exemplo, nós acreditamos que a pessoa deveria ter opinião de aplicar o Fundo de Garantia onde ela quisesse, não precisaria necessariamente ficar aplicado na Caixa Econômica. Como a gente acredita no livre-mercado, o partido também defende que o Estado não deveria ser gestor de empresas. A gente é a favor de desestatização: toda gestão de empresa deveria estar com a iniciativa privada. O que a gente quer, no fim das contas? Nós queremos melhorar a vida das pessoas, mas entendemos que, para isso, ela deveria ter mais autonomia. O Estado ser menor, ter uma carga tributária menor e se dedicar só a áreas essenciais: saúde, educação e segurança.
 

Você é empresário, já teve passagem por grandes bancos nos últimos anos, por exemplo. Os interesses do partido, pensando principalmente na campanha eleitoral do próximo ano, estão melhores alinhados com a classe empresarial no país?
Não. Eu diria que nós estamos alinhados com os indivíduos, e muito com as pessoas que querem empreender, montar o seu próprio negócio no Brasil. A ideia do Novo é, justamente, ter o foco no indivíduo. Eventualmente, para grandes empresas que vivem de favor do Estado, a proposta do Novo é fazer com que elas sofram. Nós queremos acabar com o privilégio, queremos fazer um ambiente mais propício à concorrência. Então, todos os setores hoje que têm pouca concorrência nós gostaríamos de aumentá-la, pois isso vai privilegiar o consumidor. A gente quer ajudar o empreendedor, mas sem dar ganhos específicos a determinados grupos. Aliás, eu acho que já há muitos partidos fazendo isso [fornecer privilégios]. Nós vimos todo o processo da Lava Jato. O modelo do Novo é uma antítese a isso. 


Uma das curiosidades em relação ao Novo é o processo seletivo para angariar novos integrantes. Como funciona esta questão? Ao que parece, acontece de forma bem semelhante ao que ocorre em grandes empresas. 
O processo de seleção é natural em qualquer empresa em que você queira contratar pessoas. O que você quer saber, basicamente: o que ela fez no passado dela, a competência da pessoa, honestidade, entre outras coisas. Nos estranha muito que, nos cargos públicos, isso não seja feito. Então, já em 2016, nas primeiras eleições das quais o novo participou, nós entendemos que o principal produto de um partido é um bom candidato. O que vai fazer ele ser um bom candidato? Primeiro estar alinhado com as propostas do partido. Segunda coisa é se a pessoa tem competência para aquela área que está pleiteando assumir. E a terceira é ser um cara sério, honesto, com histórico que mostre isso. Dentro desse pressuposto, como a gente faz para atender duas coisas? Uma: a possibilidade de qualquer pessoa que esteja alinhada como o Novo se candidatar. Então, a gente fez um processo seletivo todo online, então você não precisa ter parente no diretório, nada parecido. É só entrar na internet e fazer. E segundo: a gente dá a segurança para o eleitor do novo de que essa pessoa que está entrando para a política passou por uma série de testes. A gente faz uma prova para saber do alinhamento ideológico, depois faz um vídeo curto para avaliar a capacidade de a pessoa se expressar. Depois, tem um processo de entrevistas e, logo depois, de atividades práticas. É muito completo para que a gente minimize o risco de termos pessoas despreparadas. E, nesse processo, a gente deixa muito de lado a figura do “puxador de votos”, que é muito tradicional nos outros partidos. A gente quer trazer pessoas que sejam puxadoras de ideias e bem preparadas. Fizemos esse processo nas eleições do ano passado, quando elegemos quatro vereadores em quatro grandes cidades. Agora, estamos fazendo de novo neste ano para as eleições de 2018. Inclusive, já iniciamos o processo seletivo. Qualquer pessoa que queira se filiar ao Novo basta entrar no site e preencher a ficha cadastral.

 

 


Para além destes eventuais selecionados no processo seletivo, vocês também buscam pessoas já envolvidas na política atualmente, que estão, por exemplo, no Congresso Nacional representando outras legendas?
Olha, não buscamos de forma ativa. O Novo não tem nenhuma restrição a receber políticos em nossos quadros. Mas o que a gente vem falando é o seguinte: quem quiser vir, vai ter que se adequar às normas do partido. Uma coisa que a gente fez com os vereadores eleitos foi reduzir número de assessores, de verba de gabinete. Então, se vier algum político com mandato, vai ter que se enquadrar a essas regras. Mas, até o momento, a gente não trouxe nenhum político, pois ainda não houve um casamento de ideias que justificasse isso. 


Por outro lado, recentemente se filiou ao partido Gustavo Franco, um dos criadores do Plano Real. Como você acredita que ele pode contribuir com a legenda, visando especificamente as eleições do ano que vem?
Ele certamente é um quadro técnico. A ideia não é ele ter um cargo político. Ele vai assumir o comando da fundação do Novo, e a gente entende que ele é um grande formulador na parte econômica. É nessa parte que ele vai poder mais contribuir na fundação, tanto em treinamento para filiados quanto eventualmente na formulação de um programa econômico para o Novo. 


Atualmente no Brasil, para um partido viabilizar sua estabilidade no poder é necessário fazer uma série de coligações e apoios que envolvem, por exemplo, concessão de cargos no poder público. O Novo estaria disposto a adotar esta estratégia?
Não, o que a gente tem dito é o seguinte: não temos nada a fazer coligação, desde que as pessoas que estão lá sejam interessadas em melhorar o Brasil e tenham algum alinhamento ideológico conosco. Nós queremos devolver essa responsabilidade para o cidadão. Dizer “olha, você tem que votar consciente, fazer suas escolhas da melhor forma, pesquisar em quem você está votando”. No caso do Novo, não vamos buscar um atalho com outro que tenha uma filosofia muito diferente, para fazer troca de cargo. Se for assim, vai ser mais um fazendo a mesma coisa, então não valeria a pena o projeto. A gente vai buscar ser consistente. O tempo que vai demorar para termos sucesso vai depender das pessoas. Um dos nossos desafios é mostrar para elas que, se houver envolvimento, a gente consegue ter, rapidamente, pessoas com as quais a gente consiga, de fato, se coligar e fazer as mudanças mais rápido. É responsabilidade compartilhada. 

 


 No cenário político atual, vocês enxergam a existência de partidos com visões próximas às do Novo?
Como os partidos hoje são muito mais legendas do que instituição, quando você vai para os partidos, é difícil identificar uma harmonia de ideias dentro de cada um deles. O que a gente acredita é que há pessoas em diferentes partidos que tenham, eventualmente, ideias parecidas com as nossas. Mas elas não estão agrupadas em um único partido, pois os partidos costumam ter bandeiras muito diferentes dentro deles mesmos. Apesar de haver um movimento para as legendas se renovarem, este processo é apenas de troca de nomes. Há pouco de mudança de valores ideológicos. Mas a gente está acompanhando isso, pois vai haver uma pressão da sociedade por isso.


Você era presidente do partido até pouco tempo. Com esta visão de que o Novo ainda é recente, como a legenda está posicionada na Bahia? Quais as perspectivas para ela daqui em diante?
Na verdade, a gente demorou a criar um núcleo aqui na Bahia, chegamos atrasados. Mas conseguimos montar este núcleo, estamos indo muito bem aqui. Abrimos, inclusive, o processo seletivo no estado, pois não havíamos feito isso da primeira vez. Já estamos com seis candidatos a deputado federal inscritos no processo. A gente acredita muito no potencial da Bahia. Acho que as ideias estão sendo bem aceitas, há um trabalho de desenvolvimento, estamos divulgando o partido por várias cidades do interior. O desafio, de fato, é tornar o partido mais conhecido.

 

A estratégia para o ano que vem, então, é tentar fortalecer o partido elegendo deputados federais?
Sim. De forma geral, nos outros 18 estados em que a gente abriu processo seletivo, a gente está pensando, como prioridade, levar pessoas para o Congresso. Deputados federais e, eventualmente, senadores. Mas o foco mesmo são deputados federais, queremos fazer uma bancada.


Nas Assembleias Legislativas há esse pensamento também?
Somente no Congresso. Nós entendemos o seguinte: como os candidatos do Novo são, geralmente, pessoas que entraram para política agora e há todo um processo de convencimento delas sobre entrar na vida pública, nós pensamos que não teríamos a quantidade de deputados federais necessária para completar toda a chapa, o grupo que nós cogitamos ter. Abrir para deputados estaduais nós estaríamos dividindo as forças e nós entendemos que a prioridade do país hoje são as mudanças no Congresso Nacional.


E como você vê o cenário político na Bahia, em que temos, claramente, dois polos bem opostos, um deles liderado pelo governador Rui Costa e outro pelo prefeito ACM Neto?
Eu tenho acompanhando pouco o cenário aqui, mas tenho visto o seguinte: a Bahia acaba sendo um centro muito importante para a política nacional. Então você começa a ver, no caso do prefeito, alguma movimentação nacional, que é um pouco do que acontece em São Paulo. Então ainda é cedo para saber como isso vai caminhar, evoluir, mas não gosto muito da ideia dos gestores atuais começarem a misturar pautas nacionais, pois você acaba deixando de dar atenção a questões regionais. Aparentemente, o governador tem tido uma boa aceitação, feito algumas obras, enquanto o prefeito é figura mais conhecida, tradicional na política local. São duas bandeiras bastante distintas, o PT e o DEM, mas as instituições acabam valendo menos, como eu disse anteriormente. Então, acho que o governador vai ser mais avaliado pela gestão do que pelo partido dele. Isso tem sido uma característica que vai continuar.


O partido Novo tem buscado ganhar espaço justamente em um momento em que o tema cláusula de barreira está sendo muito discutido por conta da reforma política. Como você avalia esta questão? Teme que ela possa inviabilizar a legenda?
Conceitualmente, a gente é totalmente contra a cláusula de barreira. Acho que por dois motivos principais. Primeiro, porque você impõe uma cláusula de barreira para os partidos quando eles partem de posições muito distintas com dinheiro público. Um parte com valores muito maiores que o outro. No caso desse fundo partidário, um partido como o Novo partiria de R$ 2 milhões, enquanto um partido como o PMDB teria R$ 450 milhões. Então é meio estranho você colocar a mesma cláusula de barreira quando você dá condições de largada muito diversas para os dois partidos. Então, conceitualmente, a gente acha ruim. E o outro problema é que a cláusula de barreira está sendo usada, basicamente, para distribuir benefícios. Então, a tese do Novo é que se não houvesse fundo partidário e tempo de televisão, que são benefícios para os partidos às custas de todos os pagadores de impostos, você não precisaria ter cláusula de barreira, porque, naturalmente, a redução dos partidos já aconteceria. Alguns partidos, infelizmente, sem dinheiro público são inviáveis, talvez metade deles ou boa parte. E o terceiro ponto é que a cláusula de barreira acaba restringindo as opções dos eleitores, pois restringe a opção de partidos, quando você tem grande parte da população não se sentindo representada por eles. No caso do Novo, como a gente não usa dinheiro público e nosso tempo de televisão já é muito pequeno, do ponto de vista prático, ela terá muito pouco efeito. Mas, dito tudo isso, a gente já pretende atingir, em 2018, o 1,5%, que é a exigência para o ano que vem. Para depois, ela é crescente. Mas, para 2018, a gente acha que tem condições. Nos cinco lugares que o Novo concorreu no ano passado, nós tivemos em todos eles pelo menos 3% das intenções de voto. Se a gente repetir esse mesmo percentual, estaríamos batendo a cláusula. Mas nós temos tentado mostrar que não faz sentido pro eleitor o distritão, o fundo público e a cláusula de barreira. São três medidas com o único objetivo de frear a concorrência. E isso só interessa a quem está no poder. Isso é ruim para o eleitor, porque tem menos liberdade de escolha. 


No cenário nacional, entre os partidos mais representativos no Congresso, teria algum que se assemelha mais ideologicamente ao Novo?
Acho que, lá no passado, o DEM, na época em que era PFL, talvez fosse, dos grandes, o mais próximo. Mas, ao longo do processo, acaba tendo tantas lideranças que acaba havendo uma cortina de fumaça e perdendo a ideologia do partido. Certamente, PSOL, PT, PCdoB mais distantes; PSDB estaria no caminho. 


Com tantos partidos distantes do Novo, é possível a sigla crescer?
É, porque, quando você pergunta para as pessoas - eu tava vendo uma pesquisa recente - 94% delas não se sentem representadas pelos partidos. Então, o fato de a gente estar tão distante, no fundo, é algo positivo, pois as pessoas olham para toda essa massa que está aí e não se sente representada. Provavelmente é mais fácil elas se sentirem representadas pelo Novo do que pelo o que já está aí.