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Entrevista

João Gualberto diz que PSDB deve ficar fora do governo Temer - 22/05/2017

Por Fernando Duarte / Bruno Luiz / Luana Ribeiro / Júlia Vigné

João Gualberto diz que PSDB deve ficar fora do governo Temer - 22/05/2017
Foto: Luana Ribeiro/ Bahia Notícias

Após a polêmica envolvendo o presidente Michel Temer e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), o PSDB apresenta dissidências internas com relação ao apoio ao chefe do Executivo. Assim que o jornal O Globo divulgou o conteúdo de um áudio de diálogo entre o presidente e o empresário Joesley Batista, o partido se posicionou afirmando que iria deixar a base do governo após a análise do material fosse divulgada. No entanto, com a retirada do sigilo e a publicação dos áudios pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a bancada do partido resolveu manter-se apoiando Temer. Mesmo com o posicionamento da bancada, o deputado federal João Gualberto (PSDB-BA) e outros sete deputados não concordaram com a ação e pediram o impeachment do presidente na Câmara dos Deputados. “Nós vamos manter a nossa posição de oposição ao governo Temer, votando a favor das reformas, votando a favor das matérias de interesse do Brasil, mas fora do governo. Todos nós vamos ficar fora do governo”, declarou Gualberto, ressaltando que existem mais deputados federais insatisfeitos com o apoio do partido a Temer e que devem se declarar como opositores à atual gestão - são 47 parlamentares na Câmara e 11 no Senado. De acordo com Gualberto, o descontentamento com o peemedebista não é novo. A divergência no partido viria desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.  “Na época do impeachment, o nosso grande dilema é que aprovando o processo, como foi aprovado, quem iria governar era o PMDB, era Michel Temer. Então grande parte da bancada já não gostaria de participar do governo”, explicou. Em entrevista ao Bahia Notícias, Gualberto comentou o atual cenário político brasileiro, a inconsistência do PSDB no apoio ao Temer, o futuro do país, a corrupção sistemática, as eleições 2018 e a promessa do “novo” para a política.

 

Após as denúncias envolvendo o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves virem à tona o senhor se manifestou favorável a saída do PSDB do governo. Apesar da expectativa de que isso ocorresse, no entanto, o partido se manteve ao menos por enquanto com os cargos. O que fez o senhor ir nessa direção e o senhor ainda mantém esse posicionamento do PSDB deixar o governo Temer?

Vamos historiar um pouquinho. Na época do impeachment, o nosso grande dilema é que aprovando o impeachment, como foi aprovado, quem iria governar era o PMDB, era Michel Temer. Então grande parte da bancada já não gostaria de participar do governo. Ou seja, não indicar um ministro. Mas a cúpula do partido resolver indicar os ministros, o [Antônio] Imbassahy, o [José] Serra - pela sua vontade própria - e Bruno Araújo. Então foram participar do governo, mas eu acho que contrário a opinião de vários deputados, de vários senadores da bancada. Pois bem, agora com essas denúncias, a gente não esperava. Realmente foi uma grande surpresa pra gente. O que se comentava é que Temer queria fazer a sua história, ser reconhecido como o presidente das reformas, mas nada disso parece que estava acontecendo. As reformas estavam acontecendo, que eram importantes, mas o trâmite dele era outro. E depois que saiu as delações, as gravações, a bancada se reuniu no outro dia de manhã e esperou para ver o que ia acontecer e ficou decidido que se entregaria os ministérios assim que saísse a gravação. Além disso, a decisão foi que Aécio sairia e ficou em dúvida se o Tasso ou o Carlos Sampaio. Para a minha surpresa, depois passado as horas, eu e alguns deputados comunicamos que iríamos pedir o impeachment do presidente na própria reunião e agora parece que parte da bancada quer manter-se no governo. Não entregar os cargos. Bruno entregou e voltou atrás, por pressão. Alegando a governabilidade e também uma preocupação momentânea, até que tenha novas provas, que sejam divulgadas as novas delações, sobre o candidato a presidente em uma eleição indireta. Quem seria o nome hoje? É uma preocupação com o Brasil e eu acho pertinente essa preocupação por parte da bancada. Mas nós, os oito que assinaram o impeachment e mais alguns deputados, iremos nos reunir e vamos manter a nossa posição de oposição ao governo Temer, votando a favor das reformas, votando a favor das matérias de interesse do Brasil, mas fora do governo. Todos nós vamos ficar fora do governo. Não vamos ficar em oposição igual ao PT, claro, mas vamos ser oposição crítica e votando no que for importante para o Brasil.


Em algum momento criou-se algum tipo de desconforto após o senhor e esses oito deputados terem saído na frente com esse posicionamento, com relação ao restante do partido?

Desconforto não. Eu comuniquei e nós pensamos inicialmente em nem comunicar o partido que iríamos entrar com o pedido de impeachment, mas eu achei que seria errado. Comuniquei, pediram para esperar um pouco mais e eu disse que não iria esperar. Não tinha como esperar. Acho que o que a gente já sabia já era suficiente para a gente fazer uma oposição a esse governo e não teve desconforto. Pelo menos eu conversei com o líder, conversei com Carlos Sampaio, após a reunião e acho que lá cada um respeita o outro do jeito que eu estou respeitando a opinião dele. Eu acho que a opinião do grupo tem que ser respeitada. Grupo que eu acho que vai crescer, eu tenho recebido ligações de outros deputados que vão aderir esse grupo. Não vai ficar somente com oito. Tenho certeza disso.

 


O senhor concorda que as denúncias foram graves contra o presidente Temer. A que o senhor acredita que essa parte do PSDB ainda prefere acreditar e permanecer no governo?

Foi o que eu falei. Se for pelo impeachment vai demorar seis, oito meses. A minha torcida, e eu acho que a torcida de quem não quer mais o Temer no governo, é que o Tribunal Superior Eleitoral [casse a chapa Dilma Rousseff e Michel Temer], a princípio marcado pro dia 6 de junho. Mas e aí vai ser eleição indireta? É "Diretas Já" assim como está pregando agora o PT? Quem pode ser candidato? Vai ter uma Proposta de Emenda Constitucional para moldar? Porque hoje a regra do jogo, conforme a constituição, é 30 dias assume o presidente da Câmara, o Rodrigo, e tem eleição indireta. E esses deputados e senadores têm condições de eleger? Tem credibilidade com a população para eleger um novo presidente? Quem seria esse nome? Então realmente está tumultuado o negócio e é preocupante mesmo o que vai acontecer. O PT claro que quer eleição direta porque sabe, imagina que o Lula deva ser condenado e não poderá ser candidato em 2018. Então quer agora. Mas para isso tem que ter a PEC. Eu ontem mesmo coloquei para os deputados lá do PCdoB e do PT que, se for pra mudar a constituição, vamos colocar logo para ter eleições gerais, para todos os deputados e tal. Afinal de contas, essa casa está contaminada com os deputados que foram eleitos com dinheiro roubado da Petrobras, com dinheiro da Friboi e com outros patrocinadores que tiveram contrapartidas. Nós estamos realmente em um impasse e vamos ver o que pode acontecer nos próximos dias.


O senhor falou que deve manter o posicionamento de votar a favor de reformas que sejam boas para o Brasil. Com essas denúncias de Temer o senhor acha que o Congresso Nacional tem condições de tocar essas reformas?

A reforma da Previdência é impossível. Eu acho que a trabalhista aprova no Senado. Acho que confirma  a votação da Câmara, mas reformas outras acho que não passa mais. Acho que é impossível passar.


Diante dessa crise que atingiu os destacados quadros tucanos, o senador Aécio Neves que é presidente licenciado e foi candidato em 2014, o senhor acha que o PSDB chegará incólume a 2018?

Acho que sim. Diferente do PT, que só tem um nome, uma pessoa toda envolvida na corrupção, se existe essa Friboi, o Eike Batista, a Odebrecht, foi o Lula. Voltando um pouquinho a história do Lula, 2002 o Friboi financiou as campanhas com R$ 200 mil. A última eleição de Dilma Rousseff foi R$ 390 mil oficial. Então o PT só tem um nome. O PSDB tem vários nomes. Eu acho que é o único partido que tem vários nomes colocados já aí para ser candidato, então eu não vejo nenhuma dificuldade. Lógico que o Aécio, mesmo antes dessa denúncia ele já estava fora da disputa, mas nós temos outros nomes que eu acho que tem condição de ser candidato.


O PSDB foi o mais ferrenho opositor da Dilma e muitas vezes utilizou o discurso de que o governo dela elevou os níveis de corrupção a níveis nunca vistos. Entretanto o partido tem quatro de suas maiores lideranças, Fernando Henrique Cardoso, Aécio, Serra e Geraldo Alckmin, como citados da Lava Jato justamente por corrupção. Como explicar isso para a população? Não houve uma certa incoerência entre o discurso do PSDB em 2014 com Aécio e a prática?

São coisas completamente diferentes. O PT formou uma organização criminosa. O presidente do partido participava, o tesoureiro, os ministros, os diretores de sindicatos. Era uma máfia, uma quadrilha organizada. No caso de Aécio ele pediu R$ 2 milhões emprestado para ele, uma coisa de pessoa física, ninguém está pedindo dinheiro para os deputados. Diferentemente de [Guido] Mantega que recebeu dinheiro da Friboi para distribuir entre os parlamentares, segundo a delação. Então são coisas completamente diferentes. No caso do Serra todo mundo sabe que foi caixa 2, então Serra não tem absolutamente nada. Foi caixa 2 de campanha, se não me engano de 2010, a Odebrecht que só podia dar por fora e ele aceitou. É um crime, tem que ser condenado por isso. O Geraldo existe citações também. Então são coisas completamente diferentes. Mas claro que isso interessa completamente ao PT: misturar tudo, falar que todos são corruptos e passar essa imagem para a população e deixar todos no mesmo nível. Mas são coisas que são diferentes. Ninguém foi condenado ainda, mas todo mundo sabe a corrupção como era no PT e como foram esses casos isolados no PSDB.

 

O discurso de Aécio em 2014 contra a corrupção não acaba sendo realmente incoerente? Como explicar isso para a população o ponto de vista do senhor de que é diferente?

É complicado. A população, quando vê naturalizar uma pessoa que recebeu R$ 50 mil reais de caixa 2, eles já vão estar na lista de Fachin, tudo a mesma coisa. O cara que recebeu R$ 30 milhões e o que recebeu R$ 50 mil reais, como teve na Bahia caso desse tipo, pessoas que são comprovadamente sérias, realmente explicar para a população é difícil. Qualquer pessoa que saiu na lista de Fachin a pessoa irá resumir a que a pessoa estava na Lava Jato. A verdade é essa. E muita das vezes a pessoa nem conhece e nem tem contato com o empresário. Mas eu acho que as pessoas que forem estudar a fundo o caso, é diferente. Mas neste momento a população está generalizando tudo e todos são corruptos do mesmo jeito.

 

Isso inclui toda a classe política?

Eu acho que sim, eu sinto isso e todo mundo sente. Só o fato de ser político a população já olha diferente. É a classe política que não se respeita mesmo. A verdade é essa. Hoje você vê em uma situação dessas tem o Aécio recebendo R$ 2 milhões. Então a classe não se respeita e a população tem razão de desconfiar de todos. Eu não critico a população por isso.

 

Falando em 2018, o PSDB baiano já está mesmo fechado em torno da possível candidatura do prefeito ACM Neto ao governo ou ainda irá acontecer algum tipo de debate? O senhor pensa em alternativas caso ele não saia na disputa?

Eu acho que ele é o candidato natural. Está fazendo um bom governo, tem uma boa avaliação popular em torno de sua reeleição. Então hoje o quadro seria esse. Claro que em um ano muita coisa pode mudar, de fato, ele pode desistir, entre outras coisas. Mas se ele se lançar candidato, nós iremos apoiá-lo. Isso eu tenho certeza hoje. Se ele não for candidato, aí teremos outras pessoas e inclusive o PSDB pode lançar candidato.

 

Tem algum nome do PSDB que poderia se colocar?

Acho que eu não colocaria. Tem que perguntar isso para o Imbassahy. Nós não discutimos isso ainda internamente. Acho que eu me colocaria, acho que o Imbassahy pode se colocar, ou o Jutahy [Magalhães Jr.]. Então nós temos três nomes que pode se colocar aqui.

 

Se Neto for, de fato, candidato o PSDB tem, com certeza, uma vaga na chapa majoritária. Sabemos que há outro componente no grupo mas qual é o maior desejo tucano: a vice ou o senado? A possibilidade estaria entre Jutahy e Imbassahy?

Acho que isso vai ser discutido mais na frente. O apoio do PSDB, se o Neto for candidato, vai ter, que o PSDB vai ter uma vaga, também, agora o nome nós vamos discutir mais na frente.

 

 

Ainda sobre 2018, em âmbito nacional. O PSDB é uma incógnita porque tem nomes que aparecem o tempo todo. O ex-presidente Fernando Henrique sinalizou que vê João Dória como o "novo" e até citou Luciano Hulk também. Diante da situação de Aécio e do desgaste desses nomes, Serra, Alckmin e outros nomes que já são cristalizados como tucanos, o senhor concorda que é necessário a renovação? Esse "novo" seria um trunfo do PSDB?

Eu acho que hoje nós temos dois candidatos ainda competitivos. A pesquisa tem mostrado que Dória é o mais competitivo e tem o Geraldo que não pode ser descartado. Vamos ver a evolução do Lava Jato, o que pode acontecer com a denúncia dele, que eu acho que não vai acontecer nada. Então nós temos dois nomes. Um com grande experiência, seriedade, capacidade de trabalho e o Dória, uma novidade, um novo que o mundo está querendo. Uma pessoa nova, um empresário, que não tem nada da política, ele se vendeu muito nesse caso, a população não quer mais político, quer uma pessoa nova. Então acho que nós temos dois nomes para competir com qualquer adversário.

 

Em 2004, quando o senhor foi candidato a prefeito de Mata de São João, o senhor era "o novo". Era o empresário que não tinha experiência com política e estava chegando. Como o senhor avalia esses "novos" que têm aparecido depois?

Esses novos têm que analisar o que ele fez antes, né? Quando eu entrei na política em 2004, quando disputei a primeira eleição, eu já tinha assinado a carteira de mais de 30 mil pessoas em empresas de sucesso. Eu tinha a segunda maior rede de supermercado, que tinha acabado de vender. Tinha tido frigorífico, indústria de produto de limpeza. Comecei em 1979. E o novo tem o quê? O que ele fez? Qual é a experiência? O Dória não. Ele tem uma empresa de sucesso, é uma pessoa de sucesso. Então o novo não é só ser novo, ele tem que ter um passado na vida empresarial, ou como juiz, ou como profissional liberal, ele tem que ter feito alguma coisa. Se não é novo. Mas novo de quê? Novo de idade? Novo na política apenas? Não adianta.

 

Qual é a dica que o senhor dá para esses eventuais "novos" que queiram aparecer?

Olha, eu não tenho nenhuma dica. Ele tem que ter um passado. Qualquer pessoa como eleitor que foi analisar no Executivo, seja na prefeitura como Mata de São João que tem dois mil funcionários. Imagina uma empresa com dois mil funcionários a complexidade que não é. Então eu darei o conselho é para o eleitor. Tem que tomar cuidado com esses novos. Esses novos podem ser uma surpresa desagradável. E isso inclusive tem acontecido na Bahia com novos prefeitos que a pessoa taxa como "novo" e depois, quando entra na política, não faz nada. Então o eleitor tem que olhar o passado dele. O que ele fez? O que ele construiu? Seja como empresário, seja como profissional. Porque gerir uma prefeitura não é fácil. Além de toda complexidade de ter uma grande empresa, tem componente político que é muito complicado para você gerir. A pessoa tem que ter muito equilíbrio para ter uma gestão que realmente melhore a vida das pessoas.  

 

O senhor as vezes reclama da classe política. Você pretende se manter tentando mudar a classe política? É esse o seu discurso?

Eu acho que o que me motiva na política é exatamente isso: tentar que outras pessoas entrem. Mas como eu, tem vários. Eu conheço vários no partido. Pessoas sérias mas realmente para a gente se motivar na política é muito difícil porque a gente está em um ambiente muito ruim, a verdade é essa. Você convive com vários corruptos do seu lado, que você sabe que são deputados e você termina convivendo com essas pessoas. Isso é muito ruim. É um ambiente muito ruim. Completamente diferente do ambiente empresarial. Realmente o ambiente empresarial é sadio. O ambiente político é carregado, é pesado, é de interesses momentâneos. A maioria dos candidatos a deputados, ou dos deputados que estão lá, estão preocupados apenas com sua eleição. A verdade é essa. Muitos poucos estão preocupados com o Brasil, com as próximas gerações. Veja, por exemplo, como se coloca nas reformas. As reformas são necessárias. O Lula falava, a Dilma falava que tinha que ter reforma da Previdência. Quando chega agora, fala completamente contrário. Por isso que eu digo que continuar na política - eu penso até em continuar na política mais um mandato -, mas eu quero encerrar, porque é um ambiente muito ruim e eu já dei a minha contribuição como prefeito, como deputado. Agora eu incentivo todas as pessoas de bem a entrar na política.