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Entrevista

Maria do Rosário Magalhães apresenta resultados de programas para desenvolvimento de comunidades em Salvador - 03/04/2017

Por Guilherme Ferreira

Maria do Rosário Magalhães apresenta resultados de programas para desenvolvimento de comunidades em Salvador - 03/04/2017
Fotos: Tiago Dias/ Bahia Notícias

Diretora da organização sem fins lucrativos Parque Social, Maria do Rosário Magalhães compra, desde 2013, a ideia de que o empreendedorismo social é um caminho para a mudança social. Em entrevista ao Bahia Notícias, ela apresenta variados catálogos, listas e panfletos para mostrar os planos e resultados de programas que vislumbram o desenvolvimento de comunidades em Salvador. "Muitas instituições que atuam no social atuam ainda no viés assistencialista e a nossa proposta é justamente caminhar em outro sentido, no sentido do empoderamento, da emancipação, e com isso gerar maior mobilidade social", explica Rosário. A diretora cita como exemplo um programa do Parque Social no qual a organização faz um estudo sobre comunidades da capital baiana e, ao lado das famílias que moram no local, ela auxilia por um ano no desenvolvimento de empreendimentos que em pouco tempo podem se tornar fonte de renda. "Eles se apropriam da tecnologia, se empoderam do conhecimento para que, quando o Parque Social saia daquela comunidade, eles tenham condição de dar continuidade ao processo evolutivo da comunidade", comenta Rosário sobre o programa Comunidade Empreende, que já atuou no Bairro de Paz e no Pelourinho. A prefeitura é a principal parceira do Parque Social, e ajuda a organização por meio de convênios firmados entre secretarias municipais e a organização. No entanto, o trabalho social está longe de ser a única ligação de Rosário com a administração de Salvador. Mãe do prefeito ACM Neto, ela evita dar qualquer palpite sobre qual será o caminho político do seu filho nos próximos anos e se resume a falar que o prefeito deve tentar desafios maiores. "No momento ele está trabalhando muito e eu também, então a gente só está conversando de trabalho", despistou.

Qual foi a motivação para elaborar o projeto Parque Social e como surgiu a ideia?
Primeiro eu quero agradecer a oportunidade que vocês estão nos dando de divulgar o Parque Social. Quem atua no terceiro setor realmente precisa de momentos como esse para divulgar as nossas ações, os nossos propósitos, não só para o público que a gente atende, mas para a sociedade de uma forma geral. É importante que a sociedade conheça o que é realizado em prol da inclusão social e possa se engajar também nos nossos projetos como voluntários, como colaboradores, como parceiros. O Parque Social na verdade surgiu em 2013 a partir de um processo de ressignificação da instituição que culminou no nosso planejamento estratégico. Esse processo de ressignificação foi de reflexão profunda sobre quais ações deveriam ser desenvolvidas realmente para atender aos anseios da sociedade atual em relação ao que se pensa sobre o processo de desenvolvimento social. O Parque Social, nesse processo de ressignificação, definiu como missão ser agente facilitador de desenvolvimento comunitário sustentável, valorizando o ser humano, valorizando o ser humano, valorizando os ativos da comunidade e tendo como foco o empreendedorismo social e a participação cidadã. A gente acredita no empreendedorismo social e através de ações que possam de fato promover impacto social é que de fato a instituição estaria contribuindo de forma efetiva, agregando valor a todo processo de transformação que nossa cidade vem passando, com melhorias na qualidade de vida das pessoas, com um novo paradigma: pensado sempre em um processo de empoderamento e de valorização das pessoas e das comunidades. Isso tudo geraria o que? Emancipação. Muitas instituições que atuam no social atuam ainda no viés assistencialista e a nossa proposta é justamente caminhar em outro sentido, no sentido do empoderamento, da emancipação, e com isso gerar maior mobilidade social. Foi por isso que a instituição foi pensada nessa forma, atuando na perspectiva do empreendedorismo social, um movimento não tão novo assim - existe no Brasil desde 1998 -, mas que vem crescendo e ganhando corpo recentemente. As pessoas percebem que realmente não adianta ficar atuando focado em uma relação de dependência e acomodação. Todos os nossos programas estimulam o protagonismo comunitário, a participação cidadã, para que as pessoas entendam que podem ser agentes de mudança do seu próprio destino e entendam também que podem ter uma participação ativa no processo de desenvolvimento social.

Quantos projetos do Parque Social estão em andamento e quantas pessoas são atingidas por eles?
Temos dados bem precisos. Mas assim, o que mais importa não é o quantitativo, o número de projetos, mas o alcance desses projetos, o impacto social que eles promovem. Em termos quantitativos, a previsão para o ano de 2017 é atingir em torno de 10 mil pessoas de forma direta. Se você considerar, por exemplo, o programa Agentes da Educação - um programa desenvolvido em parceria com a Secretaria de Educação, mas é uma tecnologia toda desenvolvida pelo parque social e a gestão também é feita pelo Parque Social - o impacto social e educacional dele é enorme, porque ele é um programa universal, no qual a gente atua nas 424 escolas do município atendendo de forma integrada os alunos, as famílias e as comunidades em um processo de fortalecimento de vínculos entre esses atores sociais. Só de alunos são 120 mil. Se você pensar nas famílias engajadas no programa e nas comunidades, fica difícil dimensionar o alcance do Parque Social em termos de impacto que vem causando na nossa sociedade. Nós começamos há somente quatro anos e sabemos que ainda temos muito que caminhar. Queremos nos colocar como centro de referência justamente pela implementação de tecnologias sociais de impacto na vida das pessoas e das comunidades. Essa tecnologia que foi criada no Agentes da Educação, por exemplo, tem promovido inclusive a redução da evasão escolar, tem promovido melhor rendimento escolar - inclusive com resultados concretos no Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] - e que promove a integração escola-família-comunidade. Uma coisa muito importante deste programa é que a família é chamada a participar ativamente da vida escolar do aluno, a ter um olhar mais cuidadoso, orientar esse aluno no seu dia a dia. O Agentes da Educação também interage com o aluno, acompanha a vida escolar do aluno desde a sua entrada na escola. O desempenho escolar, a frequência, problemas de comportamento, busca a família quando necessário e vai até a casa da família para que a família possa ajudar para que na frequência dessa criança, e também busca parceiros na comunidade que possam estar desenvolvendo ações que fortaleçam a escola. A gente tem uma série de ações transversais que a gente realiza. O que são ações transversais? São ações que complementam o programa no sentido de enxergar o ser humano de uma forma mais ampla. Questões ligadas à saúde, ao esporte, ao fortalecimento de vínculos, ao pertencimento social. São ações sincronizadas na escola através dos agentes da educação. Falei tanto e não falei da figura do agente. O programa tem uma equipe coordenada pelo Parque Social. São 424 estagiários de pedagogia que são contratados para atuarem seis horas por dia no turno oposto ao que eles estudam. Acima deles temos dez orientadores de campo regionais. Temos subcoordenadores itinerantes e temos uma coordenação. Tudo funciona em rede e existe uma capacitação continuada desses agentes para que eles, ao tempo que tenham a atuação prática, eles sejam capacitados para serem bons agentes. Isso está sendo um complemento à formação deles enquanto pedagogos e isso tem sido um testemunho deles próprios.

Você destacou muito o fomento ao empreendedorismo social. Em quais situações isso é mais evidente?
Todos os nossos projetos e programas passam pela questão do empreendedorismo social. Se ele não promove diretamente o empreendedorismo social, ele pelo menos promove o estímulo ao empreendedorismo social. Por exemplo, o Agentes da Educação você pode dizer que é um programa de empreendedorismo social porque está causando um impacto positivo nas comunidades, nas escolas. O empreendedorismo social é diferente do empreendedorismo tradicional. O que diferencia é que o resultado não é necessariamente o lucro. O resultado é o impacto social, é a melhoria da qualidade de vida, é trazer benefícios e solucionar problemas sociais. Todos os nossos programas e projetos têm essa perspectiva. A gente tem um programa específico que é o Comunidade Empreende. A gente já o desenvolveu em duas comunidades. Ele é um programa de um ano de duração que aconteceu no Bairro da Paz, a primeira edição, em parceria com a Camargo Corrêa. Depois a nossa experiência foi em parceria já com a prefeitura, dentro do programa Pelourinho Dia e Noite. Essa nova edição no Pelourinho já foi um aprimoramento da primeira versão. Esse programa tem como finalidade disseminar a cultura do autodesenvolvimento das comunidades através do empreendedorismo social, potencializando o empreendedor social, a organização comunitária e os ativos da comunidade. São sete etapas em um ano e ao final tivemos 16 empreendimentos sociais com planos de negócio formatados. Eles foram testados, apresentados a parceiros e hoje muitos deles já estão sendo desenvolvidos na comunidade e trazendo benefícios e solucionando problemas da comunidade. O empreendimento dos Quintais, por exemplo, desenvolvido a partir da tecnologia do Comunidade Empreende. Que problemas foram solucionados? Aproveitamento de áreas ociosas nos quintais das casas, acesso a alimentos frescos e saudáveis, geração de renda - eles passaram a produzir e vender em feiras e para restaurantes -, e também evitou que aqueles terrenos se tornassem vulneráveis para proliferação de doenças ligadas ao Aedes aegypti. Muitos empreendimentos também surgiram na área de artesanato, que é um potencial do próprio Centro Histórico. Eles tinham as ideias, mas não tinham formatado seus negócios, e aí fica difícil para arranjar parceiros. Quando eles formatam, eles inclusive apresentam as contrapartidas que podem dar para os parceiros, o que eles esperam, que necessidades eles têm... Primeiramente é feita a mobilização da comunidade, depois tem todo um processo de alinhamento conceitual, a gente faz um diagnóstico participativo para entender quais são os problemas daquela comunidade e como esses problemas podem se transformar em oportunidade, eles validam esse diagnóstico... Ou seja, eles se apropriam da tecnologia, se empoderam do conhecimento para que quando o Parque Social saia daquela comunidade eles tenham condição de dar continuidade ao processo evolutivo da comunidade.

De que forma a prefeitura contribui com o Parque Social?
Quem atua no terceiro setor, principalmente nós que somos uma entidade sem fins lucrativos de direito privado, precisa de parceiros para viabilizar suas ações, tanto na esfera governamental quanto parceiros privados. A prefeitura nos apoia e é nossa maior parceira por entender que através do Parque Social está viabilizando para a cidade de Salvador projetos de relevância para a área social. Na verdade, o empreendedorismo social não é foco de atuação das secretarias que desenvolvem trabalho social na prefeitura. Nós estabelecemos convênios com três secretarias. Com a Secretaria de Educação nós temos dois projetos, que são o Agentes da Educação e o Conhecimento Itinerante, que consiste em dois ônibus adaptados que vão até as comunidades e ficam alocados em uma escola durante um mês e ali a gente trabalha com a inclusão digital e literária. Com a Semps [Secretaria Municipal de Promoção Social, Esporte e Combate à Pobreza] temos o maior número de convênios e a terceira secretaria é a Semge [Secretaria Municipal de Gestão].

O prefeito conversa com você sobre as ambições dele para os próximos anos, especialmente sobre 2018?
No momento ele está trabalhando muito e eu também, então a gente só está conversando de trabalho. Eu estou sem tempo pra nada. Eu participo normalmente das campanhas políticas dele. Desde o momento em que ele escolheu ser político eu abdiquei do que fazia. Sou psicóloga, era funcionária pública do governo do estado e pedi pra sair. Pra mim é muito gratificante colaborar não só com a vida pública que ele escolheu por ser meu filho, mas também como cidadã, colaborar com a sociedade para a construção de uma cidade mais justa. Desde o primeiro mandato dele me engajei na causa da pessoa com deficiência, até hoje sou engajada. Sou muito próxima a ele, mas acho que ainda está cedo. Já é no próximo ano, mas nessa parte eu não estou me metendo muito. 

Quando ele decidiu seguir para a vida púbica imagino que ele tenha conversado sobre metas e objetivos como político. Você acredita que ele está alcançando o que planejou?
Uma coisa que sempre diferenciou a carreira pública dele é que sempre foi com muito profissionalismo. Eu não me esqueço que desde o primeiro mandato ele procurou fazer um planejamento estratégico para definir a missão dele e de todo mundo que está no seu entorno, que é de servir as pessoas com dignidade, com transparência, promover o desenvolvimento, ter um olhar especial para o social - e isso ele tem colocado muito bem. Eu acho que sim, ele se sente gratificado e realizado, mas em qualquer profissão você quer sempre fazer mais e melhor. Então os desafios são enormes. No meu caso, por exemplo, que atuo no social, eu gosto porque tem muito a fazer, então a gente é sempre instigado a fazer mais e melhor. E eu acho que é o caso dele.