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Entrevista

Cláudio Tinoco lista prioridades à frente da Secult de Salvador - 23/01/2017

Por Estela Marques / Bruno Luiz

Cláudio Tinoco lista prioridades à frente da Secult de Salvador - 23/01/2017
Foto: Luana Ribeiro / Bahia Notícias
A Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador terá duas prioridades na nova gestão: a conclusão do processo de revitalização do Centro Histórico da capital baiana e o reforço na divulgação da cidade, nacional e internacionalmente, como destino turístico. É o que afirma o titular da pasta, Cláudio Tinoco. Em entrevista ao Bahia Notícias, o secretário, que assumiu a pasta há pouco mais de 15 dias, critica o governo do estado pela demora na finalização da requalificação do Centro Antigo e afirma que, por causa da lentidão, a prefeitura se viu obrigada a adotar uma nova forma de tentar acelerar o processo. “Tivemos e temos problemas sérios em relação às etapas de requalificação do Centro Histórico, que sempre ficaram a cargo do governo do estado e do governo federal. A prefeitura de Salvador resolveu mudar essa lógica e, praticamente, incentivar para que o setor privado, os próprios proprietários de imóveis assumam a responsabilidade de recuperar os locais”, revela. Sobre a divulgação da cidade, Tinoco diz que é necessário buscar novas formas de atração de turistas para Salvador, como o turismo de negócios, e lamenta a desativação do Centro de Convenções. O secretário de Cultura afirma, ainda, que pretende incentivar outras manifestações culturais soteropolitanas e informa que o projeto Boca de Brasa, atualmente itinerante, vai mesmo se transformar em centros de cultura espalhados por bairros da cidade. A meta é terminar 2017 com cinco centros. 

A gente percebeu que sua nomeação demorou a sair. Aconteceu alguma coisa?
Não, nenhum problema. Apenas nossas obrigações na Câmara. Primeiro veio a eleição na Câmara, depois a liderança do DEM. Então, eu pedi ao prefeito para cumprir com essas obrigações e só ser nomeado quando tudo estivesse concluído.

E você desapegou da Câmara ou continua por lá?
Não, eu tenho muitas relações com a Câmara. Eu tive um primeiro mandato muito intenso. Uma obrigação de continuar representando parcela significativa da população de Salvador. Sou demandado por muitas lideranças comunitárias, por pessoas que encontram em Cláudio Tinoco uma referência para solução de problemas que são de interesse comum e, às vezes, até anseios pessoais. Então, não posso, logicamente, desprezar essa referência e vou administrar o meu tempo, mesmo que seja à noite, a madrugada, aos finais de semana, para poder dar atenção às pessoas, que é a marca da minha trajetória política. 

São poucos mais de 15 dias à frente da Secult. O que você encontrou em termos de projetos, estrutura, decisões tomadas e burocracia a ser resolvida?
Olha, a estrutura é organizada, com ações bem consolidadas. Eu destaco o próprio Prodetur como a grande âncora de financiamento das ações, não só de relação direta com a cultura e o turismo, mas, sobretudo, naquilo que representa também interesses da nossa cidade, como requalificação urbanística de nossa cidade, mas também algumas ações bem trabalhadas do ponto de vista da sua consolidação, como a recuperação de equipamentos turísticos, como os fortes e a Casa do Rio Vermelho, em pleno funcionamento. É claro também que há uma expectativa muito grande para que estas ações sejam continuadas e que haja inovações, com ações que nós vamos apresentar  no plano de ação da secretaria.
 
Quais são elas?
Eu destaco, em primeiro lugar, a atenção com o Centro Histórico de Salvador, até mesmo por estar representado na reforma administrativa, que criou uma diretoria de gestão do Centro Histórico no âmbito da secretaria, o que sinaliza para que nós assumamos um maior protagonismo e capacidade de atuação e articulação das atividades no local. Isso está representado por dois programas de incentivo fiscal, tanto o PID quanto o Revitalizar, que está pra ser também regulamentado a partir de uma aprovação na Câmara Municipal. Ambos dialogam com o estímulo para recuperação dos imóveis, mas também para atração de atividades mistas, sejam de habitação ou atividades comerciais nesta área do Centro Histórico. Essa é uma novidade de composição da secretaria e uma ação que vamos encarar de forma prioritária. 

Há alguma outra ação do plano estratégico que possa ser mencionada?
A promoção de Salvador. Conseguimos, nos últimos quatro anos, requalificar e reposicionar. Há um novo ambiente e a gente quer ampliar essa promoção, tanto a nível nacional quanto internacionalmente. E, para isso, vamos elaborar um plano de marketing, uma nova estratégia para vender Salvador para os mercados emissores de turistas para nossa cidade. A ênfase, evidentemente, é a gente trabalhar isso de forma equilibrada entre o mercado nacional e internacional. Nós já introduzimos  algumas experiências, como capacitação de operadores e agentes de viagem na América Latina, parcerias com companhias aéreas. É uma área em que se precisa ampliar, até porque nós reconhecemos que pouco se avançou na última década, quando analisamos os números. Fechamos 2006 com um movimento no Aeroporto de Salvador de seis milhões de pessoas, entre embarques e desembarques, e, em 2016, esse movimento chegou a 6,4 milhões de embarques e desembarques. Isso é muito pouco para um destino como Salvador poder avançar. E, apesar das nossas ações, existe um problema sério de estrutura, tanto no aeroporto de Salvador, que depende de uma solução da Infraero, do governo federal, mas também do Centro de Convenções, que é um equipamento que faz muita falta para Salvador durante este tempo que está desativado.
 
Em relação ao Centro Histórico, o governo do estado também está investindo na requalificação. Existe algum tipo de diálogo entre prefeitura e governo para agilizar os esforços na requalificação da área ou são e serão ações independentes?
Diálogo já existe. Tanto que essas intervenções de infraestrutura, como pavimentações e melhorias nas calçadas, que o estado vem executando, contam com anuência da prefeitura para que ocorram. Isso já vem sendo tratado quando a Conder, que executa pelo estado, dialoga com a Fundação Mário Leal Ferreira e também com a Secretaria de Infraestrutura. Lembro que já temos garantido no Prodetur uma ação que é importantíssima para essa área do Centro Antigo, que é a requalificação da Avenida Sete, com o projeto da nova Avenida Sete, enquanto que o estado deve se responsabilizar, efetivamente, por uma requalificação da Rua Chile e seu entorno. Então, o interesse é compartilhar essas ações e, consequentemente, fazer que tanto prefeitura quanto governo do estado continuem investindo significativamente. Apenas Salvador toma uma posição, e acho que é uma decisão correta, de mudar essa lógica quanto aos imóveis. Tivemos e temos problemas sérios em relação às etapas de requalificação do Centro Histórico, que sempre ficaram a cargo do governo do estado e do governo federal, mas que empacaram na sétima etapa, que deveria estar pronta há uns seis anos, e não avançou. A prefeitura de Salvador resolveu mudar essa lógica e, praticamente, incentivar para que o setor privado, os próprios proprietários de imóveis assumam a responsabilidade de recuperar os locais e, logicamente, serem remunerados com a atração de novos negócios para essa área da cidade. Por isso mesmo, a prefeitura, com esses dois programas de incentivo, dará efetivamente uma outra dinâmica ao local. Tem um problema sério de requalificação em uma área chamada Rocinha, tem uma outra etapa ali no Terreiro de Jesus, onde fica a sede do Liceu de Artes de Ofício. Aqueles casarões deveriam já estar recuperados, mas isso não aconteceu. Logicamente que a prefeitura não responde por essas obrigações, mas reconhecemos que esse entrave não poderia se perpetuar e, por isso, a prefeitura escolheu esse caminho de incentivar os próprios proprietários a requalificarem seus espaços.
 
Na gestão passada, as demais manifestações culturais de Salvador foram valorizadas com o “Boca de Brasa”. No ano final do passado, Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos, disse em entrevista ao Bahia Notícias que havia a intenção da prefeitura de transformar o “Boca de Brasa” em espaços que funcionariam como uma espécie de centros de cultura em várias partes da cidade, e não mais algo itinerante. Existe a possibilidade de isso ser materializado?
Com certeza. Quero destacar que o Boca de Brasa é uma ação importantíssima resgatada por [ACM] Neto e [Fernando] Guerreiro. Em fevereiro, vamos lançar os primeiros editais de 2017 e já garantimos R$ 1 milhão no orçamento para essa primeira fase dos editais. Estamos na iminência de lançar o selo literário João Ubaldo Ribeiro como uma ação direcionada à produção literária e o grande diferencial, que passa a ser a partir dessa segunda gestão do prefeito, que é a Lei de Incentivo à Cultura, com a renúncia fiscal. Já temos perspectiva de oferecer esse ano a todas as categorias que poderão ser contempladas com cerca de R$ 3 milhões esse ano. Aí, a gente volta para o “Boca de Brasa” para dizer: com todas essas medidas, houve uma constatação de que é muito importante associar uma atividade que seja mais permanente, e não a produção estimulada pelos editais, mas sim uma estruturação mais permanente. Aí, o Boca de Brasa se transformará em uma referência fixa, pontual, em determinados bairros de Salvador. Estamos trabalhando isso no âmbito da Fundação Gregório de Mattos e tivemos a aprovação do prefeito ACM Neto de avançar. Isso poderá, ainda, ser traduzido em várias formas e pode ser utilizado de várias formas, como fornecermos vários espaços físicos e garantir que, nesse espaço, as manifestações culturais de algum bairro da cidade sejam expostas. Existe a possibilidade de a gente apoiar produções culturais em espaços físicos já existentes. A gente já está fazendo um mapeamento das manifestações e vocações das regiões administrativas de Salvador e aí, quem sabe, a gente avançar esse ano já com a implantação de cinco pontos do Boca de Brasa permanente em bairros da capital. 

 
Já se sabe quais bairros vão receber o Boca de Brasa?
Não, aí não gostaria de me antecipar e gerar uma especulação sem algo concreto de implantação.
 
O senhor falou no plano de marketing para divulgar Salvador nacional e internacionalmente. No entanto, a gente tem percebido que Salvador tem sido muito vendida como a capital das festas. É a “capital do Réveillon”, a “cidade do Carnaval”. É essa a imagem de Salvador que a gestão quer vender? Tem espaço para outras manifestações culturais?
A gente reconhece que a Bahia e Salvador tem, nesse aspecto das festas populares, um reconhecimento que preenche o imaginário das pessoas. Tanto é que já fomos a “Terra da Alegria”, que era a estratégia de promoção da Bahia no mundo inteiro. Salvador quer mais e tem mais para oferecer. Temos história, cultura, por isso o fortalecimento do Centro Histórico, atração de atividades para esta área. Mas nós temos sol e praia, por isso mesmo o Prodetur vai financiar a implantação do novo Polo Turístico de Stella Maris até Praia do Flamengo. Com essa requalificação, pretendemos atrair outros equipamentos de hospedagem, como resorts, para trazer os turistas, sobretudo estrangeiros. A gente dialoga com os diversos fatores. É claro que não podemos perder de vista que podemos incluir outras estratégias nessa promoção, que é o caso do turismo de negócios e eventos. Infelizmente, não temos um equipamento hoje para poder garantir que essa promoção traga resultados imediatos. Salvador já teve uma posição destacada nesse turismo e, infelizmente, sem o Centro de Convenções, não podemos vender o que não temos para entregar. 
 
A prefeitura já conversou com o governo do estado sobre o Centro de Convenções? Ela quer mesmo tomar para si essa responsabilidade ou foi algo do momento?
A prefeitura já sinalizou que está à disposição para conversar. O prefeito ACM Neto colocou isso de forma pública e transparente. Por outro lado, isso não depende muito do governo. Já manifestei tanto para o secretário de Turismo, José Alves, e também diretamente ao governador Rui Costa que assumimos para estabelecer uma cooperação na agenda comum. O Centro de Convenções deve ser uma agenda comum. Eu penso que, a partir do momento que o estado defina localização, modelagem e, efetivamente, qual instrumento que vai adotar para construção, se recursos próprios ou PPP, a prefeitura tem condições de ajudar na viabilidade de construção e implantação do equipamento. Eu cito o exemplo do metrô. Salvador renunciou a mais de R$ 2,5 bilhões para viabilizar a construção e operação do metrô. O Centro de Convenções tem tudo para ter tratamento semelhante por parte da prefeitura de Salvador. 

Já foi dito aqui que um dos públicos-alvo da cidade é o público estrangeiro e também de outros estados. A gente vê isso quando o prefeito vai anunciar eventos em São Paulo, por exemplo. Mas o turismo interno também é o objetivo da prefeitura, chamar baianos para Salvador? Como vocês veem essa questão?
Acho importantíssimo e é o principal fluxo que nós temos. Como capital, Salvador atrai os baianos, às vezes não só para o lazer, mas é consumidor de serviços e produtos na cidade. Por isso, é muito importante uma integração dos destinos baianos, independente de nós termos aqui uma ação direcionada a atrair. Nós já temos esse fluxo, mas precisamos melhorar. É claro que esse fluxo não passa só por terminais como a rodoviária, mas por um acesso também rodoviário, mas do uso particular, dos carros e veículos. Por isso, é importante para Salvador ter uma operação das estradas melhor. Já tivemos duplicação de acessos, como a própria Via Parafuso. Vivemos a expectativa também de melhorias na BR-324. Ela precisa ter também uma terceira pista que melhore o fluxo nesse trecho. Acompanhamos, evidentemente, os serviços do sistema ferry-boat, que é ainda o principal acesso do Litoral Sul. Esses acessos não são de responsabilidade da prefeitura, mas a gente tem atenção com isso. Aqui, logicamente, temos nos terminais um problema. A rodoviária, por ser no miolo de Salvador, acabou se constituindo no centro econômico e comercial da cidade e, realmente, já está estrangulando o trânsito. Nesse momento, passa por intervenções viárias para melhorar a mobilidade entre a nova estação do metrô, e as interferências nas vias foram consequências disso. Mas eu acho que o mais importante é oferecer aos baianos a perspectiva de uma boa experiência aqui na cidade. Isso passa, logicamente, por uma estratégia de integração dos destinos daqui da Bahia. É muito importante para Salvador atrair não só baianos, mas também turistas nacionais e internacionais, mas ter a compreensão de que, se ele pode vir passar três dias em média em Salvador e poder se deslocar para destinos no interior, a gente precisa, de forma muito clara, melhorar a integração entre as estruturas de turismo, as secretarias municipais de Turismo, para uma melhor integração.
 
No começo do mês, saiu a instalação do Comitê Náutico de Salvador. Como vai funcionar esse comitê, quais os planos de investimento do comitê para aquela região?
O comitê será nomeado por uma portaria nossa, do secretário. A composição já tem algumas representações fixas entre as secretarias municipais, mas também representações estimuladas, como a Secretaria de Turismo do Estado, a Superintendência de Patrimônio da União, que tem papel fundamental nos aspectos, sobretudo, de implantação de novos equipamentos. Pretendemos publicar a portaria até o fim desse mês e proceder com a implantação do comitê.