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Entrevista

Célia Sacramento tem como mote de campanha a criação de políticas públicas de inclusão social - 22/08/2016

Por Guilherme Ferreira / Estela Marques

Célia Sacramento tem como mote de campanha a criação de políticas públicas de inclusão social - 22/08/2016
Fotos: Luiz Fernando Teixeira/ Bahia Notícias
A atual vice-prefeita de Salvador e candidata à chefia do Executivo Municipal no pleito deste ano, Célia Sacramento (PPL) tem como mote de campanha a criação de políticas públicas de inclusão social. Em entrevista ao Bahia Notícias, a ex-aliada do prefeito ACM Neto (DEM) - também candidato - justifica sua escolha. “Não tem emprego e não existe inclusão social. As pessoas estão morando nas ruas da cidade, com políticas de trazer eles para unidade populares. Hoje tem poucas pessoas nas ruas, mas só entram na unidade para dormir. Durante o dia ficam na rua, de noite voltam e dormem. E a inclusão social, dar qualificação para essas pessoas, apoio psicológico, apoio social, isso está faltando”, explicou. A candidata ainda enumerou algumas propostas de seu programa de governo, como foco nas pessoas ao invés da estrutura e “investimento pesado” na educação integral. 
 
 
Quais são os principais desafios para o próximo prefeito de Salvador?
Os principais desafios são, pra mim, construir políticas públicas de inclusão social. E aí você vai cair na questão da geração de emprego e renda, viabilizar ações e atividades nos bairros para minimizar a falta de segurança - porque a segurança não está relacionada à falta de policiais, mas sim atividades que ocupem a juventude. Estamos falando de atividades esportivas, atividades culturais, atividades técnico-profissionais que não existem nos bairros. A juventude em Salvador está excluída de políticas públicas. Para se ter uma ideia, qualquer pessoa poderia sair para vender produtos nas praias. Hoje não se pode mais fazer isso. Se você sai na cidade pra vender algum produto sempre tem o rapa, tudo o que as pessoas disseram que não queriam, mas tem. Pergunte aos trabalhadores de Cajazeiras que o pessoal reclama; pergunte aos trabalhadores da Av. Sete que o pessoal reclama. Não tem emprego e não existe inclusão social. As pessoas estão morando nas ruas da cidade, com políticas de trazer eles para unidade populares. Hoje tem poucas pessoas nas ruas, mas só entram na unidade para dormir. Durante o dia ficam na rua, de noite voltam e dormem. E a inclusão social, dar qualificação para essas pessoas, apoio psicológico, apoio social, isso está faltando. Além dessas políticas públicas de inclusão social, precisamos de investimento muito pesado na educação em tempo integral. Infelizmente essa gestão da qual faço parte não viabilizou a educação em tempo integral. Agora nos últimos dois meses abriu duas unidades de tempo integral, mas ainda falta muito pra gente conseguir resolver esse problema. Sem educação não tem solução. Nossa gestão focou no trabalho com as creches, mas ainda precisamos cuidar da educação fundamental I e II.
 
Em 2012 a pauta da eleição foi centrada na administração do ex-prefeito João Henrique, com candidatos negando qualquer relação com o ex-gestor e muitas críticas a ele. Houve alguma alteração nesse cenário em relação à atual administração?
Sem dúvida nenhuma. É aquele ditado de minha avó: “Em terra de banguelo, quem tem um dente é rei”. A cidade estava um caos, não funcionava nada. A única unidade de saúde que existia, a UPA de Periperi, não funcionava. Não funcionava nada. Tinha dia que saía o prefeito, o vice-prefeito, o presidente da Câmara e não tinha quem gerisse a cidade. Estava entregue às traças. Na nossa gestão passamos a fazer trabalho compartilhado. Dediquei os quatro últimos anos da gestão até hoje trabalhamos pra cidade. Abri a porta do gabinete, sentei a caneta, mas fui ouvindo a população, conversando pra identificar as demandas, passando para as secretarias. Muitas eu consegui resolver, outras, não, mas as pessoas entenderam que a falta da caneta inviabilizava que eu tivesse feito muita coisa, só que eu trabalhei muito, então isso compensou. Hoje eu digo que a cidade melhorou muito, porém nas principais vias. Se você descer nos becos e guetos da cidade continua tudo igual. E pra piorar a situação, mesmo na gestão de João Henrique, com todo caos, como existia uma total desordem no centro da cidade e nos bairros e nas praias, as pessoas podiam trabalhar, você via uma geração maior de economia e dos recursos. Hoje as pessoas estão presas nos bairros porque não podem sair já que não têm o que fazer fora, não existe política pública de inclusão social ainda na nossa gestão. Ou seja, essa gestão que estou agora não foca nas pessoas, foca nas estruturas. A cidade está linda. Levei esses três anos e meio falando que nossa gestão é sucesso total, e é mesmo, porque diante do que tava, tudo o que foi feito foi sucesso. Foi muito trabalho, porém não atingimos aqueles que mais precisam, as pessoas que moram nas periferias da cidade. As pessoas estão nos bairros vivendo em condições subumanas, falta alimento, não tem emprego, políticas de geração de emprego e renda. O índice de desenvolvimento humano de Salvador… Em toda e qualquer sociedade é normal existirem bilionários, milionários, os ricos. São poucas as sociedades que você vê distribuição de renda, porém o difícil é chegar numa cidade como Salvador e encontrar miseráveis, pessoas que acordam de manhã e não sabem o que vão comer. Aí acham que a solução pra falta de segurança é polícia. Não é. Se nós soubermos fazer as melhores escolhas no uso do orçamento público, vamos fazer a inclusão social. Com inclusão social vamos gerar emprego e renda, acabar essa história que Salvador potencialmente é só para o turismo. De fato, Salvador pode ter uma vida rentável com turismo, porém pode desenvolver série de outras atividades desenvolvimentistas que gerem emprego e renda. É isso que nós precisamos.
 
 
O município é responsável por serviços básicos ao cidadão, especialmente nas áreas de saúde e educação. Quais são os entraves a serem vencidos nessas áreas prioritárias?
Na área da saúde, é aquilo que falei pra você: a cidade estava um caos, só tinha uma UPA que não funcionava. Colocou-se essa UPA pra funcionar, construímos novas UPAs, novas unidades de saúde. Construção, estrutura. Agora, você chega em algumas unidades e falta profissional, em outra falta equipamento, em outra faltam materiais. Não adianta ter quantidade de estrutura pronta se as pessoas chegam e morrem na praia. Cheguei numa unidade de saúde recente lá perto da minha casa, no Parque São Cristóvão, e a unidade é fantástica, toda bem estruturada. Num dado momento faltava pessoal. Isso não é normal. Outro dia cheguei numa unidade de saúde na Saramandaia, estava visitando alguns amigos e chego lá, falta… Tem alguns lugares específicos que a gente precisa melhorar. A questão da saúde é humanização, preparar as pessoas para o acolhimento daqueles que chegam. Para o que estava, melhoramos muito, porém as escolhas precisam mudar. Na educação houve melhoras, sim. Das 20 mil vagas que existiam fomos para 40 mil vagas, porém é muito pouco para o que a cidade precisa. Esse investimento na educação só começou no final de 2014 até 2016, final do segundo ano da nossa gestão. Construímos unidades escolares maravilhosas, principalmente as que foram feitas com parcerias com shoppings, que geraram as creches Primeiro Passo, porém nós precisamos aumentar e muito o número de unidades de saúde e viabilizar para que elas funcionem em tempo integral. Isso a gente não fez com educação fundamental I e II. Fizemos, porém foi muito pouco.
 
As transferências diretas da União sofreram queda nos últimos anos. Como administrar a máquina pública com a escassez de recursos? O aumento da arrecadação do município não acompanha o aumento da despesas. Como resolver esse problema?
É simples: fazendo as escolhas certas. Tem que se escolher as pessoas, trabalhar com parcerias, parcerias público-privadas, redução de custos. Por exemplo, nós construímos algumas unidades de saúde com um custo que eu construiria para cada uma mais uma. Já não falo das creches Primeiro Passo, porque foram parceria com shoppings, mas escolas, a reforma na Estação da Lapa - um gasto absurdo. Na análise de custos, porque eu estou falando de uma coisa que eu entendo, sou especialista em controladoria, estudei na Universidade de São Paulo, na USP. Então, estou falando de uma coisa que eu entendo: os nossos custos da gestão foram muito acima do esperado dentro de uma realidade de análise. Gestão pública com prática de governança: se os recursos são escassos, tem que se fazer as melhores escolhas. E como fazer as melhores escolhas? Focando nas pessoas, não na estrutura. Focando que esses recursos sejam utilizados nos bairros. Vai ter uma empresa? Por que não uma empresa dos bairros? São poucos os gestores públicos - e eu pretendo fazer isso quando for prefeita - que trabalham com empresas que são dos bairros, para que os recursos circulem por lá, contratando pessoas de lá, viabilizando parcerias com cooperativas profissionais para que os custos se reduzam. Minha política é da análise de custos, que está preconizado na Lei de Responsabilidade Fiscal, mas os gestores não utilizam. É igual casa. Vamos analisar: você trabalha, sua esposa trabalha também. Um de vocês fica desempregado. E aí? Acabou o mundo? Não. Vamos rever tudo, se reanalisa tudo. Isso chama-se revisão dos custos. Na revisão dos custos, você passa a viver dentro do padrão e ninguém morre. O problema é que na nossa cidade o número de jovens que tem morrido oficialmente todo final de semana é em média 32. Oficiosamente, 64. Isso em função do quê? Da falta de políticas públicas que atinjam essa juventude. Mesmo os recursos sendo escassos, se fizermos as escolhas por investirmos em atividades diversas que possam potencializar a participação dessa juventude, inclusive no trabalho da cidade. Não tem mais aquelas pessoas qualificadas para trabalhar. E você que tem dinheiro, pode procurar um determinado profissional para trabalhar que você não vai encontrar um encanador, pedreiro. Então, na minha opinião, revendo a análise dos custos.
 
 
O relacionamento com outros entes federativos é essencial para a administração pública. Como trabalhar de maneira harmônica em prol dos interesses da cidade, ainda que grupos políticos distintos administrem tais entes?
Olha, essencial não vejo. Até pensava que fosse, só que na nossa gestão conseguimos provar que a gestão transcorreu sem essencialmente haver essa necessidade. Não é bem por aí. Quando o gestor desenvolve seu papel com seriedade, mostrando com transparência o que está acontecendo e buscando separar a política partidária da política pública necessária para o cidadão, as coisas caminham. Veja Salvador. Temos o governador Rui Costa (PT), independente de qualquer coisa, trabalhando em Salvador. Ele podia não estar fazendo, mas ele está fazendo. Por outro lado, nossa gestão também está desenvolvendo atividades. Quem ganha é o cidadão. O importante é saber separar: política partidária é no momento do processo eleitoral. Passou, vamos cuidar das cidades, das pessoas que moram nas cidades.
 
Salvador apresenta índices de desemprego acima da média nacional. Como minimizar tal número? Quais áreas devem ser consideradas prioritárias para geração de emprego e renda?
Políticas desenvolvimentistas. É isso que o Partido Pátria Livre acredita. Se nós temos uma cidade onde os habitantes precisam de trabalho e temos dotação orçamentária, essa dotação pode ser aplicada para as coisas que o município tem a obrigação de fazer, a partir das atividades com os munícipes e parcerias de uma forma geral. “Ah, vamos construir um posto de saúde”, então vamos trabalhar com as pessoas, com o jovem nesses trabalhos. Os recursos nesse momento do orçamento têm que ser utilizados com os cidadãos, e não com os grandes empresários, que acabam jogando seu recurso fora, a economia não gira, só tira do município.
 
O próximo prefeito de Salvador precisa ter quais qualidades para chegar ao cargo?
O próximo prefeito de Salvador, primeiro, precisa gostar de trabalhar. Segundo, conhecer a cidade, fundamental. Conhecer a cidade, entender como ela funciona. Temos várias cidades em uma só. Precisa conhecer as cidades, gostar das pessoas e, principalmente, construir políticas públicas de inclusão social, pessoas que entendam que temos cidade que é 80% negra e precisamos de política de promoção da igualdade racial. Um prefeito ou prefeita que não entenda que existe o racismo e faça esse enfrentamento, dando condições para todas as pessoas terem oportunidade, é difícil fazer a gestão. Por mais que faça, não avança. Além de ser uma pessoa que consiga dialogar com todos os grupos. Se essa pessoa não  tiver competência para dialogar com as pessoas, não tem condição, porque a política é a ciência do diálogo. Ele não pode ser enganador, desonesto, uma pessoa injusta e, principalmente, não pode ser uma pessoa covarde. Tem que ter coragem pra trabalhar. Os problemas são muitos e é preciso ter muita coragem para enfrentá-los, focando nas pessoas. Se o gestor é uma pessoa que gosta das pessoas, de andar nos bairros, aí vamos ter desenvolvimento.