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Entrevista

Ubaldo Marques Porto Filho fala sobre livro que "descortina" detalhes do 2 de Julho de 1823 - 27/06/2016

Por Fernando Duarte / Luana Ribeiro / Bruno Luiz

Ubaldo Marques Porto Filho fala sobre livro que "descortina" detalhes do 2 de Julho de 1823 - 27/06/2016
Ubaldo é um dos autores do livro | Foto: Caio Lírio / Bahia Notícias
Às vésperas de mais de 2 de Julho, o Bahia Notícias resolveu buscar explicações para que a Independência da Bahia não possua o mesmo reconhecimento que outras mobilizações do Brasil antes do Grito do Ipiranga, como ficou conhecido o marco para a Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, por D. Pedro I. Foi com o espírito de revelar um pouco mais sobre a história da Bahia que o autor Ubaldo Marques Porto Filho, em parceria com o historiador Álvaro Dantas Júnior, escreveu o livro "2 de Julho - Independência da Bahia e do Brasil", lançado há poucos dias e cuja tiragem deve ser ampliada após pedido do governador Rui Costa. Para Ubaldo Filho, a bancada mineira, durante o governo de Getúlio Vargas, foi mais competente que a baiana e conseguiu emplacar Tiradentes como mártir, enquanto os heróis da Independência da Bahia ficaram pouco reconhecidos. "Se os baianos tivessem perdido a batalha para Portugal, hoje, talvez, o Brasil seria dividido", exemplifica o autor.

Como nasceu a ideia e como foi o processo de construção do livro?
A ideia nasceu do presidente da Casa de Cultura Carolina Taboada, que é o empresário Nelson Taboada. É um homem que viaja muito e, lá fora, nos outros estados, ele raramente ouvia falar sobre a Independência da Bahia. Quando ele falava um pouco no assunto, as pessoas davam aquela risada pejorativa, dizendo “Isso é invenção do baiano. É o baiano querendo se valorizar”. Lá, o que é conhecida é a Inconfidência Mineira. O mineiro teve uma competência muito grande em transformar o Tiradentes em mártir e emplacar o 21 de abril como feriado nacional. Não é falando mal da Inconfidência Mineira, pois ela teve também o seu valor, mas muito mais valor teve a independência na Bahia, onde foi o único lugar que teve guerra de fato e durou um ano. Começou em junho de 1822, em Cachoeira, e terminou em 2 de julho de 1823. Esse fato é de suma importância para a manutenção desse grande Brasil, dessa unidade. Se os baianos tivessem perdido a batalha para Portugal, hoje, talvez, o Brasil seria dividido. Na Bahia é que estava concentrado o poderio militar de Portugal. Se ganha aqui, iria partir para depor o D. Pedro I e até anular o 7 de setembro. A partir disto, o empresário deu uma pequena contribuição, um pontapé inicial. O governador, ao receber livro e perceber a importância, mandou imediatamente fazer uma segunda edição. Agora, cabe ao governo baiano, as autoridades, passarem a dar uma valorização maior para que todo o Brasil tome conhecimento do que ocorreu na Bahia.
 
Como foi o processo de pesquisa, de escolha das ilustrações e até da própria capa?
Eu sou o escritor oficial da Casa de Cultura Carolina Taboada. O Nelson me convidou. Eu não sou um historiador de formação, minha formação acadêmica é em Administração de Empresas. Fiquei muito preocupado em desenvolver sozinho o trabalho e escolhi um historiador, o Álvaro Dantas Júnior, que é mestre em História e presidente do Instituto Genealógico da Bahia. Nós unimos forças e discutimos muito como deveria ser o livro. Como ele é mais voltado para a classe estudantil, buscamos fazer um livro enxuto, com linguagem acessível para que a leitura não fosse dura e bem ilustrado, para que fosse algo atrativo. Quanto à capa, pensamos em não explorar assuntos batidos. Então, convidamos um  design gráfico e foi ele que deu a ideia. Ele conhece um quadro de Antônio Parreiras sobre a independência, que foi ambientado em Cachoeira. Ele disse: “Eu vou me inspirar no início, nisso aqui. E, dentro dessa ambiência, vou fazer o final, que é a chegada em Salvador”. 

Foto: Caio Lírio / Bahia Notícias
 
Com relação aos registros históricos que vocês usaram para construir o livro, deu trabalho para encontrá-los?
Levamos dois anos para construir o livro. Nós já tínhamos as histórias levantadas, principalmente em função do historiador. Ele já tinha muito material coletado. E eu também já trazia uma bagagem pessoal sobre o assunto. Então, nós já tínhamos muita coisa. Se fôssemos começar do zero, o livro não estava pronto agora. Então, o trabalho foi facilitado. Eu vasculhei o Arquivo Público de Cachoeira e de São Félix, para ver se encontrava algum documento inédito para colocar no livro. Voltei lá diversas vezes. Gastei um tempo imenso lendo tudo, vasculhando tudo aquilo, mas, infelizmente, não encontrei absolutamente nada. 
 
O senhor falou no início da entrevista em uma diferença no reconhecimento entre a Inconfidência Mineira e a Independência da Bahia. O que fez a Independência da Bahia não ter o mesmo reconhecimento da Inconfidência Mineira, já que teve uma importância ainda mais significativa?
As autoridades da época. Eu morei durante muito tempo em Minas. O mineiro valoriza muito a sua história. Eu aprendi muito na escola sobre a Inconfidência. Quando eu estudei em Cachoeira, as escolas não tocavam na Independência da Bahia. Quando chegou o governo do Getúlio Vargas e ele reorganizou o calendário nacional dos feriados, a bancada mineira empurrou o 21 de abril como feriado nacional, e a bancada baiana não contestou. Então, a culpa é da bancada baiana. Eles não deram bola. O descaso foi aumentando cada vez mais e o Brasil não conhece. Nas minhas viagens pelo interior, se você chega no Oeste, onde a população é grande parte de origem sulista, aí é que ninguém sabe do Independência da Bahia.

Foto: Caio Lírio / Bahia Notícias
 
O que falta para que a população baiana valorize o Dois de Julho como ele deve ser valorizado?
Bom, já houve um passo inicial. No Dois de Julho do ano passado, durante uma solenidade de hasteamento de bandeiras lá na Lapinha, o presidente do Instituto Geográfico e Histórico [Eduardo Morais de Castro] abordou o governador Rui Costa e disse. “No passado, a disciplina História da Bahia fazia parte da grade das escolas estaduais, e eu não sei por que retiraram”. Você vê como é, né? Em vez de valorizar mais, retiram. “Então, não se ensina História da Bahia nas escolas estaduais. Verifique a possibilidade de restabelecer isso”. O governador chegou para o Osvaldo Barreto, o antigo secretário de Educação, e pediu para que ele estudasse uma forma de a disciplina voltar a ser ensinada. É um negócio complicado, pois envolve formação de professores, escolha de livros didáticos para a disciplina, mas a Secretaria de Educação está fazendo um estudo. No dia do lançamento do livro, o governador afirmou que a disciplina vai voltar a ser ensinada nas escolas. O livro veio num momento oportuno e espero que esse casamento frutifique e dê filhos.