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Entrevista

Everaldo Anunciação rebate críticas de Geddel: "Não é um bom orientador para político" - 13/07/2015

Por Fernando Duarte / Luiz Fernando Teixeira

Everaldo Anunciação rebate críticas de Geddel: "Não é um bom orientador para político" - 13/07/2015
Foto: Cláudia Cardozo / Bahia Notícias

O presidente do PT na Bahia, Everaldo Anunciação, foi duro ao rebater os constantes "pitacos" que um antigo aliado político, Geddel Vieira Lima (PMDB), faz ao partido e à administração do governador Rui Costa, ao dizer que ele é incapaz de "ver as coisas na política". "Geddel não é um bom orientador para político. A vida dele tem se resumido a sofrer e orientar derrotas, como na campanha de Paulo Souto", declarou o petista. Na entrevista ao Bahia Notícias, Anunciação também falou sobre a atual situação do PT no plano nacional, o escândalo do petrolão e as críticas que o ex-presidente Lula fez ao próprio partido, além de esclarecer a especulação de que Jaques Wagner poderia se lançar à prefeitura de Salvador em 2016. "Se fosse um projeto desses, a eleição de Wagner, pelo empenho dele em Salvador e sua forma republicana de governo, até aconteceria", afirmou após rechaçar a possibilidade. O futuro político do senador Walter Pinheiro também foi discutido: "Não há nenhuma intenção demonstrada por ele de se afastar do PT".

Foi divulgada uma pesquisa recente em que a presidente Dilma Rousseff tem altos índices de rejeição, associada ao Partido dos Trabalhadores. Como lidar com essa situação de resistência ao partido dos trabalhadores e ao governo federal? 
Na verdade, no Brasil, há um tempo mais recente, há uma resistência e um desgaste de partidos políticos como um todo. Os partidos políticos não estão gozando muito da confiança do povo brasileiro e é verdade que o PT, mesmo sendo entre os partidos o que tem ainda a maior aceitação, teve redução dessa credibilidade devido a essa nova conjuntura que vive o país, e recentemente as políticas, em especial a questão econômica, colocada agora pelo governo no segundo mandato de Dilma, que levou a sociedade a um processo mais crítico, quer seja por conta do custo de vida ter diretamente atingido as pessoas com aumento da gasolina, da energia, da inflação e um leve acréscimo no nível de desemprego, então associada a essa questão econômica a um momento político novo no Brasil. Em que o PT conseguiu ao longo dos seus 35 anos construir um legado de respeito da sociedade e com a oposição, de ter cada vez consolidado a democracia no brasil, uma coisa importante pata um país grande e em desenvolvimento como o nosso. Temos um legado de políticas públicas, em especial na área social que dá ao país uma nova realidade. Nós estamos de 12 anos e meio de governo, e a gente atinge índices que pareciam impossíveis para o povo brasileiro, como elevar a distribuição de renda, acesso às universidades e à saúde. Então esse legado eu penso que serve de lastro para o PT repensar, mas eu penso que a gente tem que ter um olhar sobre um novo tecido social criado no Brasil muito mais crítico, organizado de forma complexa desde a década de 80, e há principalmente um debate interessante, que é sobre o modelo político e eleitoral, a corrupção, que tem vínculo direto no processo eleitoral e de que o PT está refletindo e está tomando decisões sobre isso. 

O PT é um dos partidos citados no Petrolão. O João Vaccari está preso acusado de desvios da Petrobras e enriquecimento ilícito. O partido aqui na Bahia defende a expulsão caso seja comprovada a participação de filiados? 
Nós temos uma decisão de que todo o filiado que venha a ser julgado e condenado por envolvimento no processo de corrupção, quer seja na relação partidária, quer seja como agente público em qualquer empresa, ele tem que ser afastado. Não admitimos que quem cometa infração comprovada permaneça nos quadros do PT. Por que o PT não tem uma posição antecipada? É porque não queremos fazer pré-julgamento temos clareza que é do setor da grande mídia com o PT. É estranho você ter o tesoureiro do PT preso, porque está envolvido no processo de arrecadação de empresas e os outros partidos como PSDB e DEM que tiveram as mesmas empresas e o mesmo processo ninguém discute, cita, não é indiciado. Não tô dizendo que se o Vaccari se justifica nem se o DEM está envolvido ou não, mas é uma forma imparcial de tratar. Essa forma que estamos sendo tratados não vamos avalizar, nós sabemos que por trás disso existe um processo político determinado, mas reafirmamos que temos feito na nossa vida política e prática de governo. Nunca, no Brasil, você teve um governo que deu condições para investigação, apuração e punição de corruptos e corruptores. Nunca se houve instituições como a AGU, a autonomia da Polícia Federal, deixando influências sobre as procuradores e sobre os tribunais para que houvessem as investigações. Na história do Brasil do DEM e do PSDB foi de arquivar e de punir quem tentava trabalhar com esse processo. Hoje damos essa condição. 

O PT já pode se dar ao luxo de criticar o próprio PT como o ex-presidente Lula tem feito recentemente? 
A história do PT é uma história de debate interno e de posições diferenciadas e que, nos seus fóruns, toma suas deliberações para trabalhar. É óbvio que há um questionamento. Nós consolidamos a democracia, nós conquistamos esse direito, que não é dado, a construir uma nova realidade que põe o PT na necessidade de se rever, no seu processo de comunicação, relacionamento com a juventude, com as mulheres, com as bandeiras de LGBT, de meio ambiente, de cultura, o PT precisa fazer uma autocrítica aos 35 anos. Nós temos um bom legado, mas tem erros. Mas esses erros tem que ser vistos com muita humildade e corrigidos. No aspecto político e também nos novos aspectos da sociedade, com novos atores que estão influenciando a situação política dela. 

Apesar da figura ruim nacionalmente, no plano estadual a impressão geral é de que o governo do PT está mais preservado. A que o senhor atribui isso? 
Eu acho que tem uma política não só na Bahia mas também no nordeste, que é o resultado de investimentos do governo federal, que deu a vitória à presidente Dilma Rousseff e ao presidente Lula, e isso criou um lastro da imagem do partido como um todo. Aqui em especial, o fato de ter ganho a eleição pela terceira vez em primeiro turno e a forma como Rui Costa está conduzindo a gestão, desde a transição, quando ele sentou pra fazer um ajuste de R$ 200 milhões na máquina, num perfil de boa gestão e de um bom perfil político, pois o governador tem essa atenção e esse carinho com a coisa pública. É a primeira vez que um governador vai na cidade e além de ter relações com os atores políticos, vai nos colégios e entra nos banheiros para ver se o espaço está sendo bem cuidado e preservado. Também tem a relação com os partidos políticos, Wagner teve uma relação republicana e boa e Rui fortaleceu ainda mais isso. Na Bahia, a gente vive um bom momento mas não somos uma ilha. A oposição foi derrotada e faz ataques ao PT mas há uma sintonia do povo com o PT, que tem 93 prefeitos, 517 vereadores.  

O presidente estadual do PMDB, Geddel Vieira Lima, criticou essas visitas de Rui Costa às escolas e chegou a compará-lo a um pedreiro, como se ele fosse executor e não coordenador. Como vocês recebem essas críticas? 
Geddel não é um bom orientador para político. Geddel esteve muito bem enquanto ainda estava no governo Lula e no governo Wagner. Quando ele desassociou desse projeto político, a vida dele tem se resumido a sofrer e orientar derrotas, como na campanha de Paulo Souto. É uma incapacidade política dele de ver as coisas. Por isso que a gente quer a opinião de Geddel, respeito por ser presidente de partido, mas seguir a orientação de Geddel é seguir o caminho da derrota. 

Na Bahia então os partidos ainda não tem como caminhar juntos novamente?
Eu faria uma leitura de que poucos partidos no Brasil criaram uma vida orgânica. O PT tem isso, mas eu não querer que os outros tenham, muito menos cobrar do PMDB. Vários prefeitos e vereadores do PMDB nos ajudaram para a eleição de Dilma, Rui e Otto. Então não tem essa vida orgânica. Não tem essa posição declarada do PT de oposição ao PMDB, foram eles que buscaram o rompimento a partir de sua direção que parte de sua base não acompanhou essa decisão. O que garantiu nosso sucesso foi a tática de aliança com partidos de centro-esquerda, essa foi a relação que inclui o PMDB, e nós vamos prosseguir com ela. Se o PMDB a nível nacional, estadual ou se os prefeitos quiserem continuar nesse projeto, nós não teremos nenhum resistência por parte do PT. 

Quais são os planos do PT para 2016? 
A primeira é que nós queremos continuar consolidando nossa política de alianças com quem tem compromisso com esse projeto, de fazer essa opção pelos mais pobres por setores da classe trabalhadora e por setores médios. Essa é a base. Isso deu certo e a gente espera que dê certo nas eleições municipais. Nossa estratégia é consolidar isso nas 35 maiores cidades e nas demais onde o nosso partido já governa, para ter unidade para fazer um enfretamento ao projeto antagônico ao nosso do PSDB, do DEM e setores do PDMB na Bahia.  

Duas cidades específicas tem dirigentes do PT que querem ser candidatos em que aliados já tem candidatos já postos para a reeleição: Camaçari, com Ademar Delgado e Luiz Caetano, ambos do PT, e Itabuna, com Geraldo Simões (PT) e Vane do Renascer (PRB). Como a executiva estadual pretende minimizar essas rusgas municipais? 
Nós temos uma orientação já tomada. O importante é que tenha a vitória do projeto. Cultuar personagens faz parte da política, mas não é o principal. Vaidade do indivíduo não pode estar acima do projeto, temos que estar comprometidos com a sociedade. Essa é a orientação. Nós precisamos derrotar o projeto de oposição. Se tem ameaça de um projeto forte temos que criar unidade. A preferência da condução de cada cidade dessa tem que se dar a quem coordena o processo, é um direito adquirido, para que a gente tenha sucesso. A política é o diálogo e o PT tem know-how disso, já para construir o entendimento nesses municípios, porque é onde tem o enfretamento direto com a oposição. Tem confiança na capacidade de todos para fazer esse enfrentamento. 

E em Salvador? 
Deveremos iniciar o debate. Há uma reivindicação não tão explícita dos partidos da base aliada de terem a oportunidade que o PT teve. Nas últimas eleições respeitamos isso, achamos que é uma reivindicação cabível, cabe o debate. Esses partidos nos ajudaram a vencer eleições por quatro vezes, temos pré-candidaturas do PT muito fortes, como Walter Pinheiro, o ex-deputado Valmir Assunção, Gilmar Santiago, Jorge Solla... temos nomes legitimados, perdemos a eleição passada por apenas 90 mil votos, mas isso não dá direito ao PT de se apropriar e achar que tem candidatura própria. Penso que o espírito é o mesmo das outras cidades, até lá vamos dialogar. O PT não vai impor candidatura própria. Mas claro que com o compromisso de alguém que conheça Salvador como um todo. Não podemos ter um prefeito que olhe para uma parte da cidade, a parte privilegiada, e abandone a parte mais necessitada. Nós incorremos a falta desse olhar com a morte de 22 pessoas, o custo disso é muito elevado. Tem que ter o compromisso da cidade que faz festa e uma cidade que tem efeito midiático, como tem hoje, mas uma cidade que cuida das pessoas e maioria delas mora na periferia da cidade. As pessoas precisam de uma política pública mais eficiente. 

Outro nome que surgiu para concorrer à prefeitura de Salvador foi o do ex-governador Jaques Wagner. Há essa possibilidade dentro do PT?
Não houve nenhuma manifestação de Wagner ou do PT na intenção de disputar a eleição. As pessoas até me procuraram pra dizer que se fosse o caso não teria disputa. Se fosse um projeto desse, a eleição de Wagner, pelo empenho dele em Salvador e sua forma republicana de governo, aconteceria. Mas particularmente nós do PT achamos que ele tem outras tarefas, que é cuidar do Brasil e ajudar a presidente Dilma a cuidar do país e restabelecer a relação política, que é muito importante, com o Congresso, com o Senado e com outros atores  sociais. Tem a tarefa no ministério de articular todas as defesas das nossas fronteiras, então seria uma alegria muito grande, mas ele tem outras tarefas junto ao governo federal. 

O senador Walter Pinheiro não participou da parte solene do congresso estadual do PT, estava fora do congresso nacional do PT em Salvador, optou por não ir para a reunião na bancada do partido com o ex-presidente Lula... há um desgaste claro entre o PT e Pinheiro? Como está a situação do partido na Bahia com o senador? 
Não há nenhum desgaste. Tenho comunicado com Pinheiro todas as semanas, desde o congresso, que ele havia avisado antecipadamente que não poderia estar. Não fiz contato sobre essa última reunião, mas ele apresentou agenda em Salvador, de forma que a presença física é verdade, mas na conversa de bastidores ele tem me reafirmado que não pretende sair do PT. Não tem uma definição sobre 2016, de modo que a gente não tem uma conversa política intensa, mas não há nenhuma intenção demonstrada por ele ou de se afastar do PT.