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Entrevista

James Correia destaca foco no interior e dificuldades logísticas para indústria na Bahia - 30/03/2015

Por Fernando Duarte / Luiz Fernando Teixeira / Guilherme Silva

James Correia destaca foco no interior e dificuldades logísticas para indústria na Bahia - 30/03/2015
Fotos: Jamile Amine

Entre os governos de Jaques Wagner e Rui Costa, já se passaram seis anos como secretário de Indústria, Comércio e Mineração, e a experiência faz James Correia ter a confiança necessária para garantir que tem contato fácil com alguns dos principais empresários do país. Nesta entrevista ao Bahia Notícias, ele conta que vai seguir usando desse bom relacionamento para atrair investimentos à Bahia, com o apoio do atual governador e da Superintendência de Desenvolvimento Industrial e Comercial. O secretário destaca que dos R$ 74 bilhões que o governo planeja investir em indústria nos próximos quatro anos, R$ 59 bilhões serão destinados para o interior do estado, e enumera alguns projetos que já estão em andamento e gerando empregos nas cidades de Feira de Santana, Jequié e Caetité, por exemplo. No entanto, Correia ressalta que ainda existem grandes obstáculos de infraestrutura que precisam ser derrubados para permitir à economia baiana um crescimento maior: "Os portos são o grande desafio na Região Metropolitana, e no interior é a Fiol e o Porto Sul. Esses são os desafios para a gente continuar atraindo empresas e desenvolvendo o estado".


O senhor foi secretário com Jaques Wagner e agora continua no cargo com Rui Costa. O que mudou?
Pra mim tem uma mudança de validade. Estou há seis anos no governo agora. Acho que não existe paralelo de um secretário ter ficado tanto tempo no governo nessa área pelo menos. Isso permitiu que durante quase cinco anos e meio eu fosse responsável pela relação com os empresários. Isso é uma coisa importante, que demora a ser consolidada. Então hoje nós temos uma relação no Brasil inteiro com grandes empresários, desde o presidente da JBS, da Itaipava, e os grandes grupos econômicos que estão investindo na Bahia. Então a mudança trouxe junto toda essa possibilidade de facilitar a relação do próprio governador Rui Costa com esses empresários. O governador já fazia parte do governo, já tinha relação com alguns empresários e agora organizou um tripé para atração de investimentos: o governador, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e a Sudic [Superintendência de Desenvolvimento Industrial e Comercial]. O governador mantém uma participação ativa nesse processo e tem facilidade por ter uma relação de amizade com governador anterior, assim como eu tenho. Acredito que estamos apenas começando.
 
Você falou sobre política de atração de investimento. Um dos grandes trunfos do governo Wagner tinha a expectativa de já ter sido inaugurado, que é a fábrica da JAC Motors. Em que pé está essa situação da montadora para se implantar aqui na Bahia?
Eu sou muito claro e já falei com vocês recentemente. Eu acho que nós temos dois projetos automotivos: a JAC e a Foton [distribuidora de caminhões]. Todos os dois projetos esbarram na mesma dificuldade. As empresas acham que já forneceram toda a documentação, todas as garantias necessárias, e a Desenbahia acha que não. O governador já fez algumas reuniões, mas as coisas não estão avançando.
 
É uma questão técnica ou política?
Existe todo interesse de trazer essas empresas pra cá. Acho que é uma questão técnica. São projetos importantes e acho que precisariam ser tratados como projetos prioritários e ter uma fórmula de estabelecer uma garantia que fosse possível de ser absorvida pelas empresas. Na JAC o governo já investiu R$ 130 milhões, concedeu quase R$ 100 milhões de crédito sobre as importações e ela já ocupou uma área, que são R$ 28 milhões. Então, na verdade, o que a JAC está pedindo é menos do que já foi realizado em investimento. A Desenbahia precisa ter uma posição mais efetiva. É melhor dizer não à empresa do que passar a saber que ela está indo para outro estado, como corre o risco de acontecer.
 
Essa empresa poderia ir para qual estado? Rio de Janeiro?
O Rio de Janeiro tem uma capacidade de realizar esses empréstimos com a garantia que as empresas necessitam.
 
E somente uma linha de crédito no Desenbahia permitiria esse investimento da JAC Motors?
A China garante pagar um aluguel de R$ 15 milhões por ano durante dez anos. É mais que suficiente para pagar o empréstimo. Aí fica se discutindo: "E durante a construção? E se tiver algum problema?" Aí a China já declarou que assume toda a responsabilidade, mas a gente solicita determinados documentos, que não são de praxe para as empresas chinesas fornecerem, então há de fato problemas para a liberação do financiamento.
 
Além da JAC Motors e da Foton, outras empresas esbarram na questão da liberação de financiamento aqui na Bahia?
Não vejo essas questões de financiamento terem impedido outras empresas aqui. Nosso maior volume de financiamento hoje é do BNDES pro setor eólico. São mais de R$ 20 bilhões de financiamento. Nós damos como garantia os próprios contratos dos leilões que eles vencem. Isso facilita muito. Aí depois temos mineradoras, que parte é do BNDES e parte do Banco do Nordeste. E depois você tem os investimentos em menor valor, que são investimentos da Desenbahia. Mas veja só, nós temos esse tripé formado pelo governador, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e a Sudic. A Sudic hoje tem mais de R$ 2 bilhões de ativos imobiliários, que é fundamental para atrair as empresas. Mas nós não temos nenhum canal para opinar com a Desenbahia se aquele projeto que ela está financiando está ou não inserido na política industrial do governo do estado. Ou seja, é um processo um pouco aleatório. Nós temos reclamado uma participação no conselho da Desenbahia. Aceitamos participar sem ter essa prerrogativa de receber. O que nós queremos é acompanhar as discussões que levam a distribuir o bolo. Baseado em que é feita essa distribuição do bolo? A secretaria que cuida do Desenvolvimento Econômico deve opinar? Não deve opinar? Essa é uma discussão que eu já levei para o governador, tenho colocado de forma clara.


 

O senhor falou sobre energia eólica. É uma área de desenvolvimento econômico bem forte aqui na Bahia e que tem esbarrado na questão das linhas de transmissão. A implantação de linhas de transmissão tem sido uma das barreiras de infraestrutura para que seja efetivamente incorporado ao parque energético baiano a produção eólica. Como está essa questão?
Nós tínhamos problema. Espero que não tenhamos mais. Nós tivemos problemas com a Chesf. A Chesf atrasou quase 20 obras no estado da Bahia. Pra vocês terem uma ideia, não é só o parque eólico. A região de Teixeira de Freitas e Eunápolis não consegue ligar um shopping center porque tem uma linha da Chesf atrasada há quatro, cinco anos. Uma empresa quando vai pro leilão, dá o menor preço pra fazer a linha e tem que fazer o licenciamento ambiental, às vezes, quando vai executar a obra, ela fala "Não, por esse preço não faço mais". Se fosse uma empresa privada, renegociava, mas numa empresa estatal isso não é possível. Fizemos gestões junto ao governo federal e o governo proibiu a Chesf de participar dos leilões com maioria. Então ela só pode participar em até 40%. Com isso, houve aumento grande dos investimentos privados. Nós estamos trabalhando em duas frentes: junto ao governo federal nós estamos discutindo e decidindo quais as prioridades de transmissão pro estado. Pra você ter uma ideia nós estamos com R$ 1,5 bilhão de investimentos em transmissão pro nosso estado. E ao mesmo tempo nós fizemos um projeto com a Secretaria de Meio Ambiente muito interessante. Nós pegamos todos os corredores de transmissão previstos para os próximos dez anos e estamos fazendo o licenciamento antecipado. É um projeto em que participa o próprio Ministério Público. O governo vai ter que mudar essa regra, não dá pra licitar uma linha e depois você licenciar. Tem que licenciar antes. A Bahia está bem à frente nesse sentido. Como eu falei, nós estamos com R$ 20 bilhões em investimentos, todos no semiárido, todos gerando emprego, pagando arrendamento ao proprietário de terra. É o melhor programa de investimentos que eu conheço da história da Bahia. Então, na parte de energia, os investimentos no semiárido só terão paralelo com os investimentos de mineração quando terminar a Fiol.
 
Que está atrasada...
Está atrasada...
 
Você tem participado das discussões?
Não acompanho as discussões diretamente, mas a ferrovia deve ficar pronta antes do porto.
 
Se o porto ficar pronto, não é?
Aí eu acredito que portos ficam prontos se tiver carga e nós temos R$ 30 bilhões de investimentos em mineração represados porque não temos porto. Então não é à toa o Pactual está assumindo a gestão do Porto Sul, viabilizando parcerias e investimento. Então acho que vamos ter uma solução. Não dá pra ter ferrovia e não ter porto.
 
Então não tem prazo ainda para as obras serem entregues?
A minha expectativa é que a Fiol seja concluída no ano que vem e o porto seja concluído com um ano de defasagem. Estou bem realista. Não estou falando em nome do governo, porque não é minha área, mas também não gosto de fazer prognóstico que não vai se realizar. Estou falando em função das próprias dificuldades de construir uma ferrovia dessa com lei ambiental. Até hoje tem discussão na justiça.
 
Com relação a política de interiorização industrial, que foi um dos grandes motes do governo de Wagner, o governador Rui Costa vai manter o mesmo nível? A gente teve um problema com a indústria calçadista naquela região de Itapetinga com a fábrica da Azaléia e recentemente o governo participou da inauguração de uma fábrica na área de Santo Antônio de Jesus. Como está essa política de atração de investimentos para o interior?
Uma política de atração de investimento hoje e a descentralização desse investimento, a interiorização, se deve a vários fatores. Uma combinação de investimento em infraestrutura, com boas estradas; investimento em voos regionais - tem empresa que fica a no máximo 30 quilômetros do aeroporto; e capacitação de pessoal - nós tínhamos uma universidade, hoje nós temos seis federais, temos estaduais e hoje a pressão por recursos humanos no interior é menor. Isso permite que as empresas tomem a decisão de ir pro interior e ter uma qualidade de mão de obra maior. Pra resumir, eu diria que no plano de investimentos do governo para os próximos quatro anos na área industrial, temos R$ 74 bilhões de investimentos previstos, sendo R$ 59 bilhões no interior e o restante na região metropolitana, porque aqui [no interior] estão grandes projetos: eólica, mineração, cimento... Então há uma descentralização muito grande. E há também investimentos de porte médio no interior: centro de distribuição, fábricas... A política do governador Rui é de que se a empresa não souber pra onde quer ir, vamos incentivar a ir pro interior. A legislação faz isso. Eu dou mais incentivos pra quem vai para o semiárido do que pra quem vai para a Região Metropolitana de Salvador. Quando você vai pro interior e você bota um parque eólico, você termina fazendo uma atração de uma série de investimentos. A GE fez um grande centro de manutenção em Caetité. A GE é a maior empresa do mundo. Maior em todos os sentidos, em energia também. Você está tendo investimentos, não na velocidade que poderíamos ter, mas tem empresas investindo muito na compilação das reservas. Em Santaluz teve o fechamento de uma mina que está reabrindo no próximo semestre com o mesmo volume de empregos. Você falou da Azaléia, que deixou 17 galpões e todos já estão com novas empresas. Nós estamos gerando mais empregos do que a Azaléia tinha nesses galpões. Eu diria que a atenção que o governo está dando ao interior é muito grande. Nós inauguramos em Jacobina uma fábrica de torres que é gigantesca. Maior que a que tem em Camaçari. Nos dias 9 e 10 nós vamos estar quase com um mini governo, digamos assim, na região do Oeste. Já fizemos uma reunião prévia, vão 25 empresários e prefeitos, estamos com uma equipe lá e vamos tentar encarar os problemas um a um: estrutura, estradas, energia, disponibilidade de água. Há uma estratégia de atacar todos os problemas e há um volume de investimentos que facilita isso. Atrai empresas de outros estados a se instalarem aqui. Eu acho que a descentralização é uma realidade, agora nós não podemos perder de vista que na Região Metropolitana nós também precisamos dar uma atenção especial. Nosso grande desafio na Região Metropolitana vai ser a questão portuária. A capacidade de Aratu chegou a 98%. Um porto nunca chega a isso. Estamos tentando construir uma outra alternativa de uso privativo. Uma notícia interessante é que hoje 72% de toda carga na Bahia sai pelos terminais de uso privativo e a Codeba [Companhia das Docas do Estado da Bahia] só responde por 28%. A Codeba é tudo? Não é. Acho que a solução pra quem tem uma área como a Baía de Todos os Santos, com a possibilidade de ter vários portos, é de fomentar vários portos. Os portos são o grande desafio na Região Metropolitana, e no interior é a Fiol e o Porto Sul. Esses são os desafios para a gente continuar atraindo empresas e desenvolvendo o estado.

 

O senhor acompanhou em mais de uma oportunidade o governador Wagner na China. Rui vai à China? Os investimentos vão vir? Como está essa questão?
Eu acho que a Bahia não pode deixar de interagir com aqueles atores que podem continuar fazendo investimentos, independentemente da crise que estamos vivendo. A Bahia é o único estado que tem escritório na China, tem uma base de relacionamento com o governo chinês. Lá, o planejamento é centralizado, feito pelo governo, não é feito pelo setor privado. É importante pela capacidade de investimento que a China tem. Da mesma forma, nós não podemos perder de vista que enquanto temos essas dificuldades hoje no Brasil, energia eólica está na contramão, porque o governo precisa gerar energia mais barata e energia eólica tem sido duas, três vezes mais barata do que energia térmica e mais barata em alguns casos que energia hidrelétrica. O desafio nosso é fomentar mineração e ao mesmo tempo pegar os investimentos pulverizados que estamos trazendo, como uma fábrica de vidro, que está explorando uma mina de areia que os mexicanos consideram uma das melhores do mundo. Eles vão usar essa mina para levar areia para o México, ao invés de levar dos Estados Unidos, porque vai sair mais barato. Em Feira de Santana estamos com um projeto para fabricar eletrodomésticos finalmente aprovado pela Fazenda. Em Juazeiro estamos com a Miza Motos [montadora de motos e bicicletas elétricas]. O governador me ligou essa semana de Jequié e pediu pra liberar mais um galpão porque a Ramarim [indústria de calçados] vai botar mais 700 ou 1000 empregos lá. Então há uma preocupação em distribuir esses investimentos de forma que isso se multiplique, que a gente busque fornecedores pro setor calçadista, busque essas empresas que empreguem com maior intensidade. Por exemplo, eu gasto R$ 10 milhões no setor calçadista e gero mil empregos. Eu gasto R$ 1 bilhão no setor petroquímico e gero 100 empregos. Nós estamos com um call center que foi inaugurado em Feira com 3.500 empregos. As empresas estão descobrindo que a Bahia tem condições de fazer esses projetos de call center porque eles trabalham muito com estudantes universitários. Antes nós não tínhamos isso no interior, agora temos muitos para admitir para esse tipo de projeto. Eu sempre fui muito otimista em relação a Bahia. Sei das dificuldades que o Brasil vai passar. A construção civil está passando por uma grande dificuldade e Salvador é um grande exemplo disso. Acho que a prefeitura não soube conduzir bem as negociações sobre o PDDU e nós já tínhamos uma crise na construção civil da Bahia. Agora com a crise da construção civil nacional, das empresas que estão sem crédito, acho que a Bahia é um dos estados mais preparados para enfrentar essa realidade. Eu espero que a gente consiga manter essa estratégia da participação ativa do governador, da nossa secretaria e da Sudic para que a gente possa dar resposta a essa demanda das empresas.
 
Há cerca de duas semanas, um colunista da revista Época veiculou a possibilidade de uma empresa de aviação ucraniana se estabelecer em Ilhéus. Houve essa negociação? Em que pé está essa empresa em Ilhéus?
São negociações importantes, tem a ver com a Zona de Processamento e Exportação (ZPE), tem a ver com negociações que a empresa está fazendo para vender as aeronaves no Brasil e tem a ver com o porto também, é preciso ter porto para receber equipamentos. Acho que o Porto Sul tem uma dimensão que transcende a questão de grãos e minérios. Ele tem a possibilidade de trazer muitos negócios para a Bahia, muitas atividades que precisam desse componente. Para a eólica continuar crescendo precisa dar uma solução para o porto, porque o porto de Salvador não tem mais condições de atender o fluxo de componentes. Precisa fazer investimento e transformar isso em realidade.
 
O senhor ficou no olho do furacão durante um tempo por uma questão política [James teria conversado com o ex-ministro José Dirceu por telefone enquanto Dirceu estava em regime fechado após condenação no processo do mensalão]. Como é que vai José Dirceu?
Eu não diria que fiquei no olho do furacão. Vocês talvez não acompanharam com detalhe. Um jornalista disse que eu falei com José Dirceu e 15 dias depois a Folha repetiu a mesma coisa. Acho que tem um componente ideológico do jornalista que trata disso. O secretário de Segurança Pública me deu uma orientação. Vamos pegar seu sigilo telefônico e vamos identificar com quem você estava falando. Eu estava falando com Sergio Amado, um baiano radicado em São Paulo, e o cara entendeu mal. Eu estaria falando em trazer as filhas de José Dirceu pra passar férias aqui, imagine! Eu até brinquei com ele, falei 'Você acha que eu estaria falando com José Dirceu como, com ele atrás das grades? Alguém com telefone na mão?”. E o delegado lá de Brasília que recebeu a documentação foi categórico. Ele concluiu o assunto e informou que não existe nenhuma ação efetiva. Você sabe que nessa hora o que importa é a versão, não é o fato. Eu não tenho falado mais com José Dirceu, ele nunca mais veio aqui na Bahia e com todo esse ambiente bastante tumultuado eu não tenho ido a Brasília. As pessoas enquanto cidadãos tem que responder por seus atos. Se você fosse meu amigo e matasse ele, você ia ter que responder pelos seus atos, mas eu não ia deixar de ser seu amigo. Há uma dificuldade nesse momento de separar isso aí.