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Entrevista

Everaldo Anunciação sustenta a postura de alianças adotada e elogia os novos caminhos trilhados pelo PT - 25/11/2013

Por Rodrigo Aguiar / José Marques / Carol Prado

Everaldo Anunciação sustenta a postura de alianças adotada e elogia os novos caminhos trilhados pelo PT - 25/11/2013
Fotos: Marília Moreira / Bahia Notícias

Eleito no último dia 13 de novembro com 74,45% dos votos de filiados ao PT na Bahia, o novo presidente estadual do partido, Everaldo Anunciação, parece resumir bem o atual conjunto de tendências majoritárias na sigla. Com 53 anos e relação estreitíssima com os movimentos sindicais - foi presidente da Associação dos Técnicos Agrícolas do Cacau (Stac), diretor do Sindicato dos Servidores Públicos Federais da Bahia (Sintsef) e dirigente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT-BA) -, ele sustenta a postura de alianças adotada e elogia os novos caminhos trilhados pela legenda para obter sucesso nas urnas. “Até o final da década de 80, existia uma concepção no PT de que as alianças deveriam caminhar pelo campo da esquerda. Mais tarde, modificamos essa ideia, o que resultou na eleição do Lula. Eu defendo a política de alianças e acho que ela não deve ser vista sobre o interesse da concepção ideológica, mas sim sobre para o que se predispõe”, opinou. Em entrevista ao Bahia Notícias, o atual secretário da organização petista, que assume o novo cargo no próximo dia 30, data marcada também para o anúncio do candidato vermelho à sucessão estadual, fez mistério quando questionado sobre qual seria seu nome preferido, embora o pacto entre as três correntes que levaram à sua nomeação esteja com o chefe da Casa Civil do governo Wagner, Rui Costa, de acordo com o deputado federal Josias Gomes. “Os quatro pré-candidatos me apoiaram e fizeram parte da chapa vencedora. Posso dizer que não existe preferência. Vou fazer campanha para o 13”, despistou. Mais inflexível, Anunciação avaliou ainda o período conturbado ultrapassado pelo partido, que acaba de ter a imagem mais uma vez envolvida com esquemas de corrupção. "A origem do processo do mensalão é caixa dois, uma prática que existe por conta do envolvimento do setor empresarial na política. Temos que acabar com isso, cortar o mal pela raiz. Prender um ou dois não adianta nada", defendeu. Segundo ele, a decisão do Supremo Tribunal Federal e, em especial, de seu presidente, Joaquim Barbosa, no julgamento do mensalão é uma “ameaça” à democracia brasileira e deve ser “rechaçada” pela sociedade. “Nós do PT não temos nenhuma dúvida de que o posicionamento final foi meramente político. Em um país como o Brasil, que tem sua democracia consolidada, o líder do tribunal máximo, que deveria dar exemplos, tem agido de forma arbitrária”, acusou, ao argumentar, no entanto, que o desfecho do caso, segundo ele “arquitetado pelas elites”, não deve interferir nos resultados de 2014. “Essa passagem foi um aprendizado para o PT, mas não funcionou do ponto de vista eleitoral em 2006, 2008, 2010 e 2012. Também não vai funcionar em 2014”, torceu.

Bahia Notícias – Gostaria que o senhor começasse falando um pouco sobre qual a sua origem, corrente e a história dentro do PT.

EA – Minha militância dentro do partido vem muito da relação sindical. Me filiei na década de 80, na época de fundação do PT. Logo assumi o diretório municipal, em Ilhéus, minha cidade de origem. Em seguida, veio a criação da CUT [Central Única dos Trabalhadores], o que só intensificou a luta sindical. Fui presidente da CUT Cacaueira, uma organização regional. Depois obtive uma experiência de candidato a vereador, ainda em Ilhéus. Mais tarde, fui eleito em Itabuna. Em 98, fui candidato a vice-governador com Zezéu [Ribeiro]; isso consolidou minha relação com a legenda. Cheguei a membro do diretório estadual e, mais recentemente, assumi a Secretaria de Organização do PT. Além disso, tive duas passagens pelo Executivo, quando fui secretário em Itabuna e fiz parte da coordenação de um projeto sindical internacional ligado à troca de informações sobre multinacionais. Internamente, desde a minha filiação, sou ligado à corrente Construindo um Novo Brasil, que chega a ser majoritária e hegemônica e é relacionada à velha articulação da sigla. Ela tem como grandes expoentes nacionais Lula e Zé Dirceu. Na Bahia, Zezéu, Josias [Gomes] e [Sérgio] Gabrielli.

BN – Quando você assume a presidência do partido na Bahia? Já há uma data definida?

EA – Sim. Nós decidimos na executiva que será no próximo dia 30. Nessa data, será realizada uma reunião do velho diretório e a posse, não só minha como de todos os presidentes eleitos nos municípios. Será uma grande festa para marcar uma nova etapa.

BN – No mesmo dia 30, também pode ser finalmente definido o nome do provável candidato do PT ao governo do Estado. Já há um consenso no partido em relação ao assunto ou o senhor acha que pode haver prévias, apesar da maioria dos quatro candidatos já ter se manifestado contra?

EA – Nós temos um pacto entre os quatro pré-candidatos e a direção para que não realizemos prévias. Chegamos ao entendimento de que precisamos acelerar a definição do nome e, de fato, acordamos para que isso seja feito no próximo dia 30.

BN – Há alguma possibilidade de atraso?

EA – Eu acho muito difícil que não saia. Mas, como se diz, na política você nunca fecha a porta e passa o trinco definitivamente. De qualquer forma, a executiva estadual já ratificou esse entendimento de que precisamos acelerar, sem nenhum posicionamento contrário. Os próprios pré-candidatos reafirmam isso. Ou seja, não há nenhum elemento novo que sinalize para a mudança da data de decisão.

BN – Há o elemento Jorge Solla, que recentemente anunciou publicamente sua pré-candidatura no Jornal A Tarde. Ele está na disputa?

EA – Nossa discussão hoje não é de falta de nomes. Estamos já com quatro craques convocados. Solla com certeza seria um nome a se discutir. Porém, nesse momento, tudo que foi acumulado pelo partido sinaliza um desses quatro nomes. Além disso, Solla não oficializou sua pré-candidatura, nem nenhuma corrente interna manifestou o desejo por um quinto elemento.

BN – Solla foi elogiado diversas vezes por representantes de partidos da base aliada do PT, o que chegou à imprensa e talvez tenha motivado a pretensa pré-candidatura. O senhor acha que houve uma tentativa dos aliados de “melar” esse processo de definição interna?

EA – Não acredito que houve essa intenção. Acho que o próprio trabalho de Solla faz com que qualquer partido manifeste esse tipo de sentimento, ainda mais quando se trata da base aliada, que já tem cumplicidade com o governo. Acredito que essas pessoas que anunciaram o apoio a Solla também irão estar do lado do nome que o PT escolher no dia 30.

BN – Qual será a importância do governador nessa decisão? Comenta-se que Rui Costa é o preferido de Wagner, o que nunca foi negado com muita veemência. Essa opinião será determinante?

EA – Em um processo de escolha de candidatura, é óbvio que o chefe do Executivo tem peso. A decisão, porém, é do partido. Para a nossa sorte, o governador é do PT, então ele se incorpora a esse processo. Será observada a posição de Wagner, assim como a da direção nacional e a decisão será tomada conjuntamente, com a participação também dos pré-candidatos e a militância da legenda.

BN – Houve, recentemente, uma pesquisa encomendada pelo PT para avaliar a popularidade dos pré-candidatos. Qual foi o quadro encontrado? Esse resultado irá influenciar na definição final?

EA – Veja bem... como dirigente, eu desconheço essa pesquisa.

BN – Jonas Paulo [atual presidente estadual do partido] confirmou que essa pesquisa existe...

EA – Essa informação ainda não foi socializada. De qualquer forma, a pesquisa é um elemento a ser analisado, é claro. Mas, a um ano das eleições, ela não pode ser determinante. Talvez, nesse momento, uma pesquisa qualitativa dê muito mais pistas do que um instrumento quantitativo. Além disso, quero sempre afirmar que as eleições de 2014 serão uma disputa de projetos, de concepções. Tivemos no Brasil uma onda de manifestações e as pessoas querem discutir não nomes, mas políticas.

BN – Mas o eleitor não vota apenas em projetos, vota também em pessoas. Concorda?

EA – É verdade que ainda há o elemento pessoal, da simpatia, da relação. Mas, a cada eleição – e a televisão e o rádio ajudam nesse processo com a veiculação dos programas eleitorais -, vai se criando um debate de projetos partidários e políticos. As pessoas não estão se perguntando “quem é capaz de fazer isso”, mas sim “que políticas serão necessárias para que as expectativas possam ser atendidas”. Acho que o peso dos personagens, cada vez mais, será substituído para as concepções de políticas públicas.

BN – Houve uma aliança entre três correntes – Esquerda Popular Socialista, Reencantar e a própria Construindo um Novo Brasil -, que levaram à sua eleição como presidente do PT na Bahia. O deputado federal Josias Gomes já afirmou que todas essas tendências estão com Rui Costa. Ele é também seu candidato?

EA – A minha eleição e a minha chapa são resultado de uma aliança muito mais ampla do que essa. Inclusive, os quatro pré-candidatos me apoiaram e fizeram parte da chapa. Então, posso dizer que não existe essa preferência. Vamos fazer campanha para o 13.

BN – Então o senhor não acha que há um nome mais qualificado? Não tem preferido?

EA – Acho que os quatro são qualificados e capazes de representar o projeto do PT.

BN – Além da campanha de 2014, o diretório estadual terá que se ocupar de algumas rixas internas que têm acontecido em diversos municípios baianos, inclusive em Salvador, onde o novo presidente municipal [Edson Valadares] disse que a bancada do partido na Câmara de Vereadores é uma “anomalia”. De que forma o senhor vai lidar com uma base de legisladores de posições tão diferentes?

EA – Conversei justamente sobre isso recentemente com Edson Valadares e Moisés [Rocha, líder do PT na Câmara]. Propus que a gente comece a afinar as ideias. Temos uma bancada bem representativa na cidade. O que nós precisamos é resgatar uma experiência que o PT tem em nível nacional, estadual e já teve no âmbito municipal: um ambiente de bancada, com assessorias coletivas e planejamento coletivo. Tudo isso sintonizado com a direção municipal. A bancada não é uma instância de uma ação partidária ou outra. Ela se completa. Eu vou ter uma relação, pela importância e pela simbologia, com a bancada, mas é a gestão municipal da legenda que tem que tratar da rotina. Não vou ser interventor das discussões que não se estenderem a todo o estado.

BN – O senhor citou que foi candidato a vice de Zezéu Ribeiro. Ele é uma das pessoas do PT que tem criticado a política de alianças do partido. Como enxerga isso? É um assunto que precisa ser revisto internamente?

EA – Até o final da década de 80, existia uma concepção no PT de que as alianças deveriam caminhar pelo campo da esquerda. E nós fizemos isso. Andávamos juntos com PCdoB, PSB, PDT... Mais tarde, modificamos essa concepção e achamos que deveríamos ampliar essa política. Isso resultou na eleição do Lula. Acho que o sistema de alianças não deve ser vista sobre o interesse da concepção ideológica, mas sim sobre para que se predispõe. Eu continuo defendendo a política de alianças, porque ela deu resultados eleitoralmente e no quesito da governabilidade. Tenho certeza que a concepção crítica de Zezéu não tem caráter anulatório. Concordo que há uma necessidade de discutir os programas de governo, estratégias e as mudanças necessárias à gestão pública.

BN – Recentemente, o deputado federal petista Nelson Pelegrino foi chamado de “otário” pelo colega de Casa e ex-candidato à prefeitura de Jacobina, Amauri Teixeira [também filiado ao PT], por conta de uma suposta aliança com o oposicionista jacobinense Leopoldo Passos [ex-DEM]. Esse é um exemplo claro de conflito gerado pela política de alianças do PT. De que forma o diretório estadual pode atuar em situações como essa para evitar atritos? Há um limite?

EA – Sim, é claro. Primeiro, o limite é do ponto de vista ético. Entre os partidos e entre os ocupantes de cargo, tem que haver uma relação de respeito com as colocações públicas. Apesar disso, não podemos ser hipócritas: as relações se arranham em determinados momentos. Com o crescimento do partido, está se construindo uma hegemonia. Dessa forma, os políticos de outras bases estão começando a compreender, deixando de lado suas concepções conservadoras e se aproximando do PT. Isso é bom, a legenda não pode se fechar a isso, mas também não deve perder seus princípios. A gente tem que ter cautela e cuidado para que as relações não sejam apenas eleitorais.

BN – Qual avaliação o senhor faz da gestão de Jonas Paulo, que acaba agora? O que pretende fazer de diferente em relação a ele?

EA – Jonas cumpriu um papel importante no PT. No PED [Processo de Eleição Direta] realizado em 2007, ele terminou com três turnos e muitas brigas. De lá para cá, a gente tem conseguido viver em um ambiente mais harmônico, em que o debate político conseguiu sobrepor os interesses das correntes e lideranças. Com isso, tivemos um crescimento extraordinário. Do ponto de vista institucional, ganhamos o governo do Estado e ampliamos o número de prefeituras. Óbvio que precisamos ainda de alguns ajustes, como o estreitamento da relação entre a direção estadual e as suas instâncias municipais e a sua base de filiados. O PT precisa também se apropriar das novas ferramentas de comunicação. O partido ainda usa métodos ultrapassados, em plena época do Facebook, do Twitter, das teleconferências. Precisamos criar mecanismos que facilitem a presença da juventude na sigla. Além disso, nós da esquerda precisamos parar de ter aquela tradicional visão verticalizada. O PT não precisa mais falar só para os petistas, mas tem que ter a capacidade de dialogar com a sociedade.

BN – Ernesto Marques, que também concorreu à presidência do PT na Bahia, classificou como um “desastre” o período da gestão de Jonas Paulo. No último PED, ele apontou supostas irregularidades em uma zona de votação, onde pessoas estariam usando adesivos de campanha. Isso foi ou será apurado? Como o senhor avalia a postura de Marques durante todo o processo?

EA – Primeiro, eu não acho que a gestão de Jonas tenha sido desastrosa, como já falei. Segundo, a votação do PED e a eleição da minha chapa é uma demonstração clara do olhar do partido. Quanto às irregularidades, estamos com 15 recursos abertos. Eu, como secretário de Organização, deveria coordenar o processo, mas abri mão porque fui candidato. De qualquer forma, uma comissão deve apurar as irregularidades, julgar e decidir da forma que for cabível.

BN – De quando Wagner assumiu o governo para cá, tivemos grandes greves da Polícia Militar e dos professores, o PT perdeu as eleições municipais em Salvador e Feira de Santana e, agora, acabou de acontecer o julgamento do mensalão. Tudo isso, é claro, desgasta a imagem do partido. Como essa situação será revertida até 2014 e 2016?

EA – Nós sustentamos, do ponto de vista da relação com os movimentos sociais, uma ótima experiência. Se você observar os ganhos salariais e o que foi feito para melhorar as condições de trabalho das duas categorias, vai ver que nenhum governo conseguiu isso. Não foi uma questão de trato e respeito ao direito dos trabalhadores, foi um processo político. Acho que isso o PT está, cada vez mais, aprimorando. Por isso, a discussão tem que chegar a outro patamar. Não usamos um método absurdo de repressão contra o direito de greve, estabelecemos critérios e limites em nome do bem-estar social. Em relação ao pleito em Salvador e Feira de Santana, nós não perdemos, mas sim deixamos de ganhar. De qualquer forma, chegamos a 46% dos votos na capital, um grande crescimento na comparação com 2008. Com todas as alianças que fizemos, óbvio que queríamos ter ganhado as eleições. Mas a política não é uma expressão matemática. Já sobre o mensalão, esse é um processo que se arrasta desde o governo Lula. A intenção das elites que utilizaram o espaço chamado de imparcial, da Justiça, para atingir a legenda não funcionou. Nós do PT não temos nenhuma dúvida de que o posicionamento do STF, em particular de Joaquim Barbosa, foi meramente político. Pior que isso é que ele põe risco a democracia. Em um país como o Brasil, que tem sua democracia consolidada, o presidente do tribunal máximo, que deveria dar exemplos, tem agido de forma arbitrária. A conclusão do julgamento, sobre as questões dos embargos infringentes, da saúde dos condenados e dos locais de cumprimento das penas, foi absurda. Estou falando sobre coisas comuns da lei. O que o cidadão que preside o STF está fazendo é uma ameaça à democracia brasileira e tem que ser rechaçado pela sociedade. A origem do processo do mensalão é caixa dois, uma prática que existe por conta do envolvimento do setor empresarial na política. Temos que acabar com isso, cortar o mal pela raiz. Prender um ou dois não adianta nada. O debate central tem que ser uma reforma política que garanta o cumprimento da democracia, sem interferências. Essa passagem foi um aprendizado sobre esse aspecto para o PT, mas não funcionou do ponto de vista eleitoral em 2006, 2008, 2010 e 2012. Também não vai funcionar em 2014. Os resultados das pesquisas estão aí. Também não poderemos negar que setores da oposição irão usar isso, mas a população tem capacidade de julgar. Não no sentido de perdoar absolutamente os erros cometidos, mas é um absurdo condenar e dizer que os deputados do PT recebiam dinheiro para votar dentro do Congresso.

BN – É esse o direcionamento que o diretório estadual vai tomar em relação à campanha?

EA – Nós vamos dialogar com a sociedade abertamente sobre isso. Estamos abertos a ouvir críticas, mas temos uma posição clara sobre o julgamento e sobre o que é necessário para resolver os problemas envolvidos: a reforma política.