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Entrevista

Robinson Almeida avalia que saída para reverter avaliação negativa é "agenda social" - 05/08/2013

Por Bárbara Affonso / Evilásio Júnior / Francis Juliano / José Marques

Robinson Almeida avalia que saída para reverter avaliação negativa é "agenda social" - 05/08/2013
Responsável pelo gerenciamento de imagem e divulgação dos atos de governo do Estado da Bahia, o secretário de Comunicação Robinson Almeida teve que lidar com sucessivos períodos de crise do início de 2012 até o momento atual. A greve da Polícia Militar, dos professores da rede estadual e as manifestações de junho de 2013 fizeram o governador Jaques Wagner, reeleito com 63% dos votos válidos, perder popularidade nas pesquisas de opinião e, em levantamento do Instituto Séculus/Bahia Notícias, ser reprovado por 33% dos entrevistados e ser considerado regular para outros 33%. Para Robinson, a saída para reverter a situação é "dar prioridade à agenda social". Ele nega haver loteamento partidário nas pastas do Executivo e diz que as ruas exigiram "mais Estado". "Pediram mais saúde, mais educação e mais mobilidade, que só podem vir se o Estado tiver capacidade de ofertar os serviços públicos", avaliou. Segundo o titular, para amenizar os gastos com a máquina, houve orientação do governador "de corte de 20% com custeio e despesas ordinárias, como energia elétrica, luz, passagens e diárias". O gestor acredita que houve excessos da Polícia Militar contra manifestantes e assegura que "no tempo, as conclusões serão apresentadas à sociedade".
 

Fotos: Claudia Cardozo / Bahia Notícias

Bahia Notícias – A última pesquisa CNI/Ibope põe o governador Jaques Wagner como o 5º pior entre 11 governadores – ele foi o 7º colocado – e na pesquisa Séculus/Bahia Notícias teve reprovação de 33% dos entrevistados, considerado regular para 33,57%, bom para 13,57% e ótimo para 6,43%. O que o governo pretende fazer com esse cenário, que se alia às manifestações de rua?
 
Robinson Almeida – As manifestações de rua, essa tsunami que aconteceu no mês de junho no Brasil, ainda precisa melhor ser entendida pelos cientistas, pela classe política, pelos governos de uma forma geral. Porque os indicadores econômicos de inclusão da última década promoveu transformações importantes. De um lado, a qualidade de vida das pessoas da porta de casa para dentro teve um aumento significativo, 40 milhões de brasileiros entraram na chamada classe C, na faixa de consumo e compraram eletrodomésticos, casas, motos, tiveram acesso a bens e serviços que não tinham. Por outro lado, a vida da porta de casa para fora piorou muito. As cidades grandes ficaram imóveis e não teve solução de transporte de massa e esse foi o estopim da crise iniciada em São Paulo com a repressão violenta da Polícia Militar ao Movimento Passe Livre. E, em um ambiente conjuntural de Copa do Mundo, foi desenvolvida essa onda de protesto que durou 15, 20 dias no último mês. Aos governos, o recado é direto: nós avançamos, melhoramos de vida, mas queremos mais. É o que eu chamo de progresso. Todo mundo quer melhorar de vida, quem tem Bolsa Família quer ter um emprego, quem tem emprego quer ter um melhor ainda, um curso superior, quem tem um carro quer ter um pouco melhor. São as reivindicações da sociedade e o governo tem que entender isso de forma muito natural. Vivemos em uma sociedade democrática. É legítimo e são necessárias as pressões da rua para colocar a agenda de necessidades da população.
 
BN – Mas quais as medidas que o governo vai adotar dentro desse cenário?
 
RA – Esse impacto é imediato e conjuntural. Eu creio que esteja havendo uma racionalidade de fazer um balanço. Essa semana saiu o resultado do IDHM [Índice de Desenvolvimento Humano Municipal] colocando uma evolução significativa nas últimas duas décadas de melhoria da educação, de melhoria da distribuição de renda e avanços. São melhorias que colocam uma reflexão mais realista de que o Brasil avançou, do que a Bahia avançou e do que precisa avançar. No nosso estado, nos últimos seis anos e meio, há um avanço muito grande na área social. Esse governo foi o que mais levou água aos domicílios das pessoas, foi o que mais promoveu saneamento básico nas médias e grandes cidades, o que mais ofertou habitação popular, o que mais alfabetizou, o que mais construiu hospital... a agenda social vai continuar com a mesma intensidade, até porque temos um Brasil e uma Bahia muito desiguais. Nós temos 1,8 milhões de beneficiários do Bolsa Família. Se você multiplicar por quatro, que é o tamanho médio de uma família beneficiada por essa transferência de renda, você vai encontrar 7 milhões. Metade da população baiana é atendida direta ou indiretamente pelo programa. A prioridade da agenda social me parece muito explícita, até porque foi isso que veio das ruas: nós queremos mais educação, mais saúde, mais mobilidade urbana e também tem a pauta política, especialmente na questão da moralização dos costumes e atitudes da classe política que está sendo organizada nos termos de uma grande reforma política no país.
 
 
BN – Houve o clamor por uma agenda positiva que tem sido trabalhada no Congresso e os movimentos estão cobrando celeridade nessas ações. A Assembleia Legislativa reduziu o recesso e está tentando encaminhar propostas que atendam à demanda das manifestações e a Câmara de Salvador deve adotar o voto aberto. No governo da Bahia, o governador disse que não pretende reduzir o número de secretarias para enxugar a máquina. Além disso, a gente sabe que tem 14 partidos políticos que estão com o governo e há um atendimento para a questão de plataforma eleitoral dos partidos. A posição pessoal de Robinson Almeida é de que o governo devia cortar secretarias ou pleitos de partidos políticos para atender às ruas?
 
RA – É bom esclarecer: as ruas não pediram isso. Pediram mais Estado. Pediram mais saúde, mais educação e mais mobilidade, que só podem vir se o Estado tiver capacidade de ofertar os serviços públicos. Essa é uma falsa dicotomia. A rua não veio com uma agenda neoliberal de menos Estado na economia, o debate é sobre a eficiência da gestão pública e tanto o governador como eu e qualquer outro cidadão concorda que os recursos públicos devem ser geridos da melhor forma possível. Não é o tamanho da máquina pública que diz necessariamente a eficiência dela. Nesse quesito, acho que nós temos um processo administrativo concebido sob demandas objetivas, as secretarias existem porque há demandas de políticas públicas da população. Existe secretaria de Saúde, de Educação, de Justiça e Direitos Humanos, de Segurança para prover a sociedade de serviços públicos da forma mais eficiente possível e isso está sendo realizado. Até porque na questão central que vem da rua, sobre mobilidade urbana, a atitude do governo do Estado foi a resolução de um problema crônico da nossa capital que perdura há mais de 13 anos sem solução, que é o metrô de Salvador. Chamou para si, a licitação está na bolsa de valores e deve ser concluída no dia 15 de agosto. Ela vai resolver o problema de funcionamento da Linha 1, que está sem operação e sem conclusão, e da Linha 2, que vai ser implantada fazendo um sistema metropolitano. O Estado baiano está antenado com as demandas das ruas.
 
BN – Mas os gastos com a máquina pública não poderiam ser revertidos em serviços públicos? Ao contrário do que o senhor está dizendo, isso não é uma medida neoliberal. A secretaria de Educação e Saúde são secretarias essenciais. Mas a Secretaria de Administração Prisional foi feita para atender ao PDT. Ou não?
 
RA – De jeito nenhum. A questão da política pública de segurança, se você olhar, em vários estados existe uma área específica para cuidar do sistema prisional, que é hoje um dos grandes gargalos de uma eficiente política de segurança pública. Além disso, houve uma orientação do governador na última reunião de secretários de corte de 20% com custeio e despesas ordinárias, como energia elétrica, luz, passagens e diárias. A eficiência está sendo buscada no mau gasto do dinheiro público. Nós não podemos é penalizar a população com menos serviços públicos com uma tese generalizada de que há uma estrutura excessiva e é isso que leva ao inchaço ou a ineficiência da prestação desses serviços.
 
 
BN – Qual a imagem do governo, no seu entendimento, depois que Wagner não desceu para conversar com o pessoal do Movimento Passe Livre no pátio da Governadoria? O presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo, foi falar com os manifestantes. O senhor teve que descer no lugar do governador, com outras pessoas, porque ele estava atendendo a outras demandas. Ele disse que estava aberto, mas não conversou, em época de greve, com os professores e com os policiais militares. Agora, aconteceu o mesmo em relação aos movimentos. Isso compromete a conversa? O movimento havia avisado que não formaria comissão [mas mudou de opinião neste domingo].
 
RA – Não creio que isso tenha afetado a imagem do governador. Pelo contrário. O governador se colocou à disposição do diálogo e da conversa, como tem conversado com segmentos religiosos, com partidos políticos, com segmentos empresariais, com o movimento sindical durante todo esse período pós-mobilização de ruas. O movimento é que não aceita o diálogo na forma institucional, que é o governador receber em audiência. E o movimento, por mais legítimo que seja, não pode impor que as autoridades ou quem quer que seja vá fazer reuniões em processos abertos. Há uma regra da democracia e da convivência que tem que ser combinada entre os dois lados. Me parece que o formato do movimento é que não adéqua a uma interlocução mais direta. A presidenta Dilma recebeu [o MPL] em seu gabinete, o prefeito de Salvador se dispôs a receber e o governador também. Quem não foi ao governador foi o movimento, que estava lá com abertura suficiente para ser atendido em audiência como foi colocado.
 
BN – Ele vai à audiência pública que vai acontecer na Assembleia?
 
RA – O próprio, nessas audiências, é que vá representantes de governo, e não o governador...
 
BN – Mas seria uma forma de ele conversar diretamente...
 
RA – Mas o gabinete está aberto para conversar. O que não pode é serem impostas regras. O governador foi eleito por 4,3 milhões de baianos e se submeteu ao procedimento democrático do voto universal, então um grupo de pessoas, por mais legítimas que sejam suas reivindicações, não podem impor as suas regras no convívio do relacionamento institucional. O próprio, para a audiência pública, é que o governo seja representado pelos seus secretários, pelos seus dirigentes. Esta é que é a regra estabelecida. E o próprio é que o movimento seja atendido em audiência pelo governador. O que eu vejo, nesse caso todo, é a dificuldade do movimento de estabelecer uma comissão. Para superar essa dificuldade de se organizar e ter interlocutores, eles estabelecem uma outra forma que é levar tudo à audiência pública, aberta, e levar os governantes...
 
BN – Então o governador não vai?
 
RA – Provavelmente vai ser representado pelas secretarias específicas quando chegar o convite da Assembleia Legislativa para a audiência.
 
 
BN – No 2 de Julho, havia uma claque interna na comitiva do governo para abafar as vaias que vinham da rua. As pessoas dessa claque se identificaram como membros da Fundação Doutor Jesus, do deputado estadual Pastor Sargento Isidório (PSB). No dia em que o Movimento Passe Livre foi até a Governadoria, justamente integrantes da Fundação estavam lá e saiu uma nota do governo dizendo que ele atendeu às instituições religiosas, que foi o pessoal de Isidório. Essa ida da Fundação não foi uma estratégia para tirar do foco o Movimento Passe Livre e demonstrar uma abertura do governo com os movimentos?
 
RA – De forma alguma. Tem movimentos toda semana na Governadoria. Hoje mesmo está programado um dos sem-tetos. Também tem sempre de sem terra e de estudantes. Isso, na Bahia, virou uma rotina da democracia, a liberdade de expressão das pessoas, da reivindicação. Nesse dia, desde o dia anterior, estavam lá, dormiram inclusive na Governadoria, reivindicando a assinatura de um convênio. Então não há ausência de legitimidade tanto da expressão do Movimento Passe Livre quanto da expressão deste segmento que busca seus interesses e, nesse formato, foi atendido. Criou-se uma comissão, foram atendidos pelo governador, os secretários discutiram objetivamente a pauta proposta e as soluções foram encaminhadas para a demanda apresentada. 
 
BN – Retornando ao início da entrevista, tem uma questão que não foi propriamente respondida. Houve uma queda de popularidade do governador Jaques Wagner da greve da Polícia Militar de 2012 até a manifestação do passe livre. No âmbito da Secretaria de Comunicação, que estratégia vocês têm para tentar reverter isso?
 
RA – Olha, as questões relacionadas à imagem de governo de um governador são sempre tratadas na comunicação utilizando o conjunto de ferramentas disponíveis. Nós temos uma estrutura de jornalismo que produz dezenas de matérias para prestar conta das ações de governo, nós temos as nossas fontes que também falam e dizem à sociedade através dos veículos de comunicação as realizações, opiniões e dúvidas que vêm por esse canal. Temos instrumento da publicidade para prestar conta de programas e ações e isso é feito de forma permanente. Os eventos de governo também constroem a imagem. Do ponto de vista do uso das técnicas de comunicação, na internet, nas redes sociais, tudo isso nós temos utilizado como uma forma de defesa e manutenção de governo realizador como é o governo Jaques Wagner. No ponto de vista específico, localizado com esses segmentos, teve tratamento muito objetivo. No caso da Polícia Militar, há uma comissão trabalhando um plano de modernização administrativa da PM. Com prazos de seis meses, que devem encerrar no final do ano, para apresentar ao governador propostas que possam ajudar ao funcionamento melhor da estrutura, especialmente uma demanda dos soldados, por terem possibilidades de se promoverem na carreira. No ponto de vista de professores, foi feita toda uma interlocução que culminou agora na celebração de um acordo com a presença do governador e dirigentes sindicais sobre a pauta reivindicatória de 2013, como o aumento da atividade complementar na carga horária, passando a um terço. A Bahia é um dos cinco estados do país que cumpre integralmente a lei do piso salarial. Há aumento também para todos os servidores públicos em um processo negociado. Em relação ao Movimento Passe Livre, há a abertura do diálogo e estamos tratando a questão central reivindicada pelo movimento, que é o metrô em Salvador e a resolução de mobilidade urbana aqui na capital.
 
BN – Já que o secretário falou de Polícia Militar, durante as manifestações houve excessos de policiais militares e o Bahia Notícias foi testemunha disso. O editor Evilásio Júnior e o repórter Francis Juliano foram vítimas de agressão. Concretamente, foi feito alguma coisa? Os policiais que foram denunciados tiveram algum tipo de sanção ou foi aberta investigação interna? Já passou mais de um mês e concretamente, ao público, nada veio.
 
RA – O governador recebeu em audiência a ABI [Associação Baiana de Imprensa], OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], Sinjorba [Sindicato de Jornalistas da Bahia], Sinterp [Sindicato dos Trabalhadores de Rádio, TV e Publicidade] e colheu todas as informações nos documentos que foram entregues e determinou que a Secretaria de Segurança Pública e Polícia Militar fizessem apuração de tudo o que está relatado. Está em curso o processo de apuração, o governador vem acompanhando e pedindo a conclusão no prazo em que eles conseguirem evoluir todas as informações, oitivas e processos que são próprios da natureza militar. Não foi abandonado nem negligenciado. Foi encaminhado para, no tempo, concluir e apresentar à sociedade os resultados.
 
 

 
BN – Como a comunicação do governo viu a cobertura da imprensa e o que se foi falado nas redes sociais em relação aos excessos da PM? Em coletiva, o governador parecia ver diferente do que as pessoas na rua viram. Para ele, a confusão não parecia ter começado dos policiais ou, não importava quem tivesse começado. Para ele, todo mundo se excedeu.
 
RA – Em relação à cobertura da imprensa, eu inclusive fui solidário e apoiei vítimas desses excessos, que efetivamente ocorreram no ambiente em que o conflito se estabeleceu. Lá, é muito diferente daqui do ar-condicionado, onde nós estamos conversando e podemos tomar as decisões. Lá é um clima em que não tem racionalidade, tem muita emoção envolvida. Sobre esse aspecto, certamente a polícia vai encontrar as suas verdades para poder defender o que fez e o movimento e as pessoas que estavam lá vão também colocar as suas verdades, que no caso é sempre o elo mais frágil do conflito e o que deve ser protegido por nós e ter sua solidariedade. Porque a vítima de gás de pimenta e lacrimogêneo, de eventuais choques, é a vítima de uma ação de força da polícia. Por outro lado, tem os excessos de uma pequena minoria, de vândalos que quebraram patrimônio público, ônibus saqueados, lojas incendiadas, em um conjunto de ações que o Estado precisa agir para que não haja supressão do direito de outras pessoas. 
 
BN – O senhor é do PT, partido do governador, e internamente o impacto dessas discussões tem sido discutido. Que tipo de estratégia vai ser tomada para que isso não se reflita negativamente nas eleições do próximo ano? Vocês têm preparado algo para sair bem nelas?
 
RA – Eu estive recentemente em um evento de comemoração de dez anos do PT no governo federal, com a presença do presidente Lula, da presidenta Dilma, de dirigentes nacionais, do governador Jaques Wagner e o que eu percebi na militância que estava presente é uma necessidade de voltar a ter uma relação mais intensa com os movimentos sociais. De diminuir a institucionalização partidária que ocupou o governo federal, governos estaduais, prefeituras e parlamentos. Em grande medida, o trabalho do dia a dia dos movimento sociais foi colocado em segundo plano. O desejo é esse retorno, essa volta às origens partidárias, do movimento sindical, do movimento sem-terra, do movimento de juventude, que nunca foi abandonado, mas não foi enfatizado no último período. Creio que esse sempre será o melhor antídoto, que é a convivência cúmplice com as demandas do povo para que ela tenha sempre a legitimidade partidária nas manifestações e também na defesa do projeto de 2014.
 
BN – O PT chegou a falar em ter um discurso mais voltado para a história do partido e menos colado no marketing?
 
RA – Aí entra a questão da hegemonia, ou seja, quando você é governo e ocupa espaços institucionais você tem que defender o que você faz. Você precisa do marketing para defender o que você faz e ajudar você a conduzir suas ações, seus projetos, e ter apoio da população. É a hegemonia da luta política na sociedade democrática. Isso não deve ser contraditório com a presença nas bases sociais, nos movimentos populares. O que ficou claro para mim nesse período de mobilizações de rua é que, mesmo sendo um partido de governo, mesmo sendo um partido que está à frente das grandes responsabilidades, ele não pode deixar de conviver com a pressão social e com a mobilização da sociedade para poder ajudar a avançá-la, ou ele fica refém do sistema político tradicional onde a hegemonia e as prioridades do Brasil são estabelecidas no Congresso Nacional e não com uma participação direta da sociedade.
 
BN – Mas o peso dos marqueteiros diminuirá devido a esses reclames?
 
RA – Eu não creio que já teve uma força exagerada. Acho que a estratégia do marketing reflete uma compreensão de imagem e de projeto a ser construído e defendido. O marketing interage com a mobilização e não é contraditório. Quanto mais ele estiver sintonizado com a rua, mais eficiente ele pode ser. É uma questão de forma e não de intensidade que ele tem que se adequar. Até porque, no fundo, não acho que houve um questionamento ao governo e aos governantes. A democracia da forma que nós temos foi questionada: os nossos representantes estão em sintonia com os representados? Foi feito um questionamento de estrutura econômica do país, ou seja, é possível que alguns continuem lucrando muito em detrimento da prestação de serviços públicos para a sociedade? Eu creio que a demanda é por ter mais Estado, mais presença do público e não do privado. O sistema político foi questionado. Nem mesmo os meios de comunicação, nem mesmo a liberdade de imprensa, deixaram de ser violados nesse período todo, inclusive por manifestantes. Carros de emissoras queimados, prédios apedrejados, profissionais cerceados de suas profissões. Resumir a uma questão de partido ou governo é simplificação.
 
 
BN – Sua candidatura a deputado federal já está posta nos bastidores, mas está posta. Ela não vai comprometer a reeleição do deputado federal Afonso Florence ou a eleição do Secretário de Saúde Jorge Solla? Não vai chocar com os outros candidatos da Democracia Socialista, a tendência de vocês no PT? Não tem candidato demais para uma imagem de governo abalada?
 
RA – Olha, eu tenho 30 anos de militância política. Brinco que desde que os cabelos em minha cabeça eram pretos eu fazia atividade política. A possibilidade de ser candidato a deputado veio como evolução natural da minha militância e atividade de pessoas que estão comigo nessas décadas de construção do PT, de um projeto do Brasil e da Bahia que tive possibilidade de participar. Para mim, é algo natural como desdobramento de minha atividade política. Do ângulo interno da nossa corrente política, estamos fazendo uma discussão, um planejamento, para que nós cresçamos e aumentemos a nossa representatividade e isso tudo está sendo avaliado. Se houver risco de redução de presença, nos vamos ter cuidado suficiente para tomar decisão, mas tudo indica que é muito possível ter uma estratégia e uma tática para que a Democracia Socialista aumente sua atividade política.
 
BN – Como membro da DS, o senhor está satisfeito com a escolha do governador Jaques Wagner pelo nome do chefe da Casa Civil estadual Rui Costa ou ainda acha que o senador Walter Pinheiro pode ser candidato a governador?
 
RA – Primeiro, eu não creio que haja uma escolha do governador sobre nenhum dos nomes postulados. Além dos quatro do PT, temos três que não são do PT que são pré-candidatos ao governo do Estado. E o governador tem a escolha de que um candidato será o nome capaz de dar continuidade ao projeto, unir a base e ganhar a eleição. Essa é a escolha do governador e estou de pleno acordo com ele.
 
BN – Mas não pretende defender uma candidatura de Walter Pinheiro, que também é da DS? Se te perguntassem hoje “Robinson, qual o melhor nome para assumir o governo dentro dessa conjuntura?”, qual o nome que você defenderia?
 
RA – Eu sempre falei que está muito cedo e muito antecipado esse processo eleitoral. A onça só vai beber água ano que vem. E tem muito debate e discussão promovidos pelos próprios partidos e a imprensa sobre 2014. Acho que nós temos que ver 2013. Esse ano é ano de gestão. As pessoas não foram para as ruas perguntar quem é o candidato em 2014. As pessoas querem mais estradas, mais educação, mais saúde, mais segurança e essa é a prioridade.
 
BN – Mas é inegável que já se discute os rumos que o partido vai tomar ano que vem. O evento de dez anos do PT não foi à toa...
 
RA – É inegável que os partidos e a imprensa discutem essa pauta, mas ela não está na sociedade, não está na população. Formarei minha opinião sobre os pré-candidatos quando essa pauta se estabelecer como prioridade. Creio que será mais para frente. Temos em 2013 uma agenda de governo, uma agenda de gestão. Até porque 2014 será melhor para esses candidatos quanto melhor for o 2013 para o governo. Essa é a minha prioridade.
 
BN – No Natal, qual é a árvore que o senhor põe a estrela em cima? (risos)
 
RA – No Natal, todos nós colocamos no pinheiro. (risos)