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Entrevistas

Entrevista

Geddel Vieira Lima diz que apoiará Aleluia caso ele seja escolhido para liderar oposições em 2014 - 01/07/2013

Por Evilásio Júnior / Bárbara Souza / Bárbara Affonso

Geddel Vieira Lima diz que apoiará Aleluia caso ele seja escolhido para liderar oposições em 2014 - 01/07/2013
Fotos: Tiago Melo/ Bahia Notícias
Apesar de se considerar “pronto, preparado e maduro” para governar a Bahia, o vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal e novo presidente do PMDB baiano, Geddel Vieira Lima, anunciou em entrevista ao Bahia Notícias que apoiará o atual secretário de Urbanismo e Transporte de Salvador, José Carlos Aleluia (DEM), caso seja ele o nome escolhido para liderar as oposições no pleito de 2014 ao governo do Estado. “Eu quero ser condutor de um projeto vitorioso e isso passa pela unidade das oposições. Se não se der em torno do meu nome, se dará com meu apoio entusiástico em nome de outro que agregue mais”, pontuou. Em relação à disputa presidencial, o peemedebista ressaltou que a posição nacional do partido “vai ser vinculada ao que for importante para o PMDB da Bahia”, mas ainda não confirmou que será contrário à reeleição da presidente Dilma Rousseff. “Eu não mostro nem nunca mostrei amor a cargos. Se eu perceber que o nosso caminho é o de pregar outro que não a aliança nacional, eu saio imediatamente da função que ocupo”, avisou. O político também comentou as manifestações que têm acontecido nas ruas do país e opinou que “o PMDB, como tantos outros partidos, vai pagar o seu preço e terá que efetivamente rever posições para voltar a ter uma força crescente”. Para Geddel, não há clamor nas ruas por reforma política e a realização de um plebiscito “tão complexo em 80, 90 dias” é o primeiro passo para que a mudança não seja definitiva. “Eu não creio que o que falta no Brasil é lei, é transformar a corrupção em crime hediondo. O que falta no Brasil é agilidade do Poder Judiciário para fazer cumprir as leis. É não ter tanto recurso, não ter tanta protelação, é uma justiça que não seja tardia”, considerou. Em relação ao comportamento agressivo de policiais durante alguns protestos em Salvador, o peemedebista comentou que “polícia não está preparada para esse tipo de enfrentamento” e que “a democracia, para se consolidar, demora”, ao defender a manutenção da militarização no Brasil. Geddel comenta ainda a saída do correligionário Batista Neves da prefeitura, garante que o nome do PT para 2014 será o do secretário estadual da Casa Civil, Rui Costa, e explica os critérios utilizados pela Caixa para distribuir os R$ 100 milhões para patrocínio de clubes de futebol no Brasil.

Bahia Notícias – Pesquisa recente no eleitorado baiano aponta o prefeito ACM Neto (DEM) como o primeiro nas intenções de voto ao governo do Estado em 2014. Ele já bateu o martelo, em entrevista ao Bahia Notícias, que não há hipótese de ser candidato nas próximas eleições, o que coloca o nome Geddel Vieira Lima como primeiro colocado nas intenções de voto para o ano que vem. O senhor já tem trabalhado com esses números para ganhar força e atrair o apoio do DEM para 2014?
 
Geddel Vieira Lima – Não se trata nem de trabalhar com números. Eu trabalho com propostas, com projetos, com política. Eu disse, em determinado momento, ao prefeito ACM Neto que, se ele desejasse ser candidato, eu não precisava nem sentar à mesa para negociar. Já tinha o nosso apoio imediato. O prefeito tem, reiteradas vezes, dito que tem o compromisso com a população de concluir seu mandato. Eu tenho conversado com forças políticas do Estado – Democratas, PSDB, PTN e tantas outras – no sentido de construirmos uma candidatura única, um projeto único de oposição, de alternativa ao que aí está. Se esse nome capaz de unificar for o meu, eu vou para a disputa com entusiasmo, com garra, com vontade, para vencer as eleições. Se, eventualmente, o meu nome não unificar, tanto do ponto de vista político junto a estes partidos quanto do ponto de vista da manifestação da população através de pesquisas, eu teria absoluta humildade para ver de que maneira posso contribuir na construção desse projeto, que eu acho que é necessário, fundamental, para a alternância de poder e para que a Bahia volte a ter uma administração voltada para a solução dos reais problemas que este Estado tem.

BN – Como o PMDB tem lidado com as manifestações que têm ocorrido no Brasil? Como o partido lê esse momento histórico da política? Quem sai perdendo nessa história é o PT?
 
GVL – Pessoalmente, eu leio com muita tranqüilidade. Diferentemente de outros que dizem que a mensagem das ruas é difusa, eu acho que ela é de uma clareza absolutamente cristalina. O que as ruas, a juventude, as pessoas estão dizendo? Primeiro, “quero uma política decente, sem roubo”. Segundo, “quero menos politicagem, quero mais gestão, ação”. Para solucionar o posto de saúde sem médico, as emergências nos hospitais públicos transformadas em verdadeiros campos de guerra. Para enfrentar essa crise da Segurança Pública que nos deixa com medo de ir às ruas. Para fazer com que as creches e a educação fundamental saiam do papel. Fazer com que as escolas de tempo integral sejam uma realidade no Estado, se invista mais em tecnologia no ensino, se qualifique melhor os professores. O que a sociedade está dizendo nas ruas é o seguinte: “nós não aceitamos mais um preço de transporte público que não tenha uma contrapartida em qualidade”. Eles não querem mais pagar um preço que consideram exorbitante por um ônibus que não tenha um ar condicionado, por um ônibus velho, com problema. Essa é a pauta que está nas ruas. Se o PT é quem paga o preço, eu acho que é, na medida em que é o partido que está no poder nacional há 10 anos e na Bahia há sete, completando oito, e que, portanto, teria a caneta para resolver esses problemas que a sociedade coloca. Claro que os protestos terminam atingindo a classe política como um todo, mas é inquestionável que bate mais diretamente em quem teria a condição de ter resolver os problemas que não resolveu. Não reconhecer isso é querer colocar uma venda nos olhos. O PMDB, como tantos outros partidos, vai pagar o seu preço e terá que efetivamente rever posições para voltar a ter uma força crescente na sociedade brasileira.
 
BN – Há um clamor da sociedade nessas manifestações pela reforma política, que vai tirar boa parte das regalias da estrutura parlamentar. O PMDB é o partido maior em número de parlamentares no país e poderia ser o principal afetado. Qual é sua visão como dirigente do partido em relação a isso?
 
GVL – Primeiro, eu não vejo esse clamor nas ruas por reforma política. Eu vejo clamor nas ruas por política decente, pelo fim da impunidade – e começa o Supremo Tribunal Federal a colocar um deputado condenado na cadeia. Se o STF agilizar a conclusão do julgamento dos mensaleiros e colocá-los na cadeia, a sociedade, que tanta esperança despertou quando do julgamento daqueles envolvidos no Mensalão, começará a ver que há uma mudança em relação a essa questão da impunidade. Eu não creio que o que falta no Brasil é lei, é transformar a corrupção em crime hediondo. O que falta no Brasil é agilidade do poder judiciário para fazer cumprir as leis. É não ter tanto recurso, não ter tanta protelação, é uma justiça que não seja tardia. É uma justiça que seja contemporânea das reivindicações da sociedade. A reforma política é fundamental desde sempre, mas precisa ser tratada com a cautela necessária para que, açodadamente, na ânsia de dar respostas às ruas, ela termine não sendo uma coisa perene. Ela tem que ser uma reforma que paute o futuro, que paute as novas gerações. E o PMDB tem dito isso, eu tenho dito isso. Por exemplo, o plebiscito. Consulta popular é sempre boa, mas você fazer açodadamente um plebiscito tão complexo em 80, 90 dias, é o passo primeiro para você fazer uma reforma que não é definitiva. Por que não trazer esse debate concretamente à sociedade e pautar o plebiscito, por exemplo, para o ano de 2014? Se assim não for, e for colocada na pauta do plebiscito, por exemplo, a reeleição e o povo disser que quer um mandato de cinco anos sem reeleição, o que você vai fazer? Prorrogar o mandato da atual presidente da República? E depois, que tempo haverá para explicar à sociedade o que é voto aberto, lista? Eu, que sou político e tenho a obrigação de saber, por vezes não conheço. Como é que as pessoas que estão com tantas preocupações em relação a seu dia a dia vão tomar conhecimento para votar de forma consciente esse assunto? Eu não acho que essa seja a pauta que a sociedade está cobrando. Não quero que a reforma política seja uma cortina de fumaça. Quero que seja uma solução concreta e real para os problemas políticos que o Brasil enfrenta. Não vejo clamor em relação a esse assunto. O clamor que eu vejo é em relação a posto de saúde com médico, transporte de qualidade, educação correta e decência na política. Esse foi o clamor que eu captei nas ruas.
 
BN – Houve muitas críticas à decisão de ACM Neto quando foi mantido o secretário de Educação, João Carlos Bacelar, do governo João Henrique. A semelhança em algumas instâncias dos governos é um problema para o PMDB, que se afastou da gestão de João Henrique? O prefeito tem trazido frequentemente a informação de que há um problema financeiro em Salvador e que, por conta disso, ele não tem como fazer algumas obras na cidade. Mas, na campanha, ACM Neto disse muito que Salvador poderia caminhar com as próprias pernas. Há um hiato entre o discurso do candidato e o do prefeito ou a surpresa com a realidade foi maior do que a que se esperava?
 
GVL – Eu acho que nem uma coisa nem outra. A gente tem que tratar esse assunto com a cautela e seriedade que o assunto exige. Não dá para comparar o governo de ACM Neto com o de João Henrique por uma razão simples: a diferença de comportamento entre os titulares. ACM Neto é um político qualificado, que tem atitude, posição. O ex-prefeito era uma figura errática, dissimulada, que iludiu a muitos, inclusive a mim – que faço todas as vezes que tenho chance, e aqui mais uma vez, um mea culpa completo por ter apoiado a reeleição dele. Apesar de ter sido através da gestão dele que eu tive oportunidade como ministro [da Integração Nacional] de marcar uma presença muito claramente definida em Salvador, com obras como a [Avenida] Centenário, o Imbuí, a [Avenida] Vasco da Gama, centenas de encostas e de escadarias, que nós realizamos. O prefeito ACM Neto tem sete meses de gestão, não daria nem tempo para ser feita uma licitação completa. Querer que, tendo herdado uma prefeitura inadimplente, sem condições de ter acesso a convênios e recursos federais, já se possa apresentar propostas agora, eu acho até que cabe como pergunta, mas não cabe como crítica. Quando vejo, por exemplo, opositores de ACM Neto fazerem essa crítica, sobretudo quererem cotejar uma administração de sete meses com uma administração de sete anos, eu acho que é de profunda má fé. Há de se dar tempo para que ele possa ser julgado na hora que tempo houver para poder apresentar soluções. Não há tempo ainda para que se possa cobrar dele compromissos de campanha no momento em que o desafio ainda é de arrumar a casa e ajustar a máquina para que ela possa deslanchar. E dou um único exemplo: na transição, eu fui muito fortemente ao Ministério do Turismo reivindicar cerca de R$ 17 milhões para uma reforma na orla marítima de Salvador. Sabe como nós conseguimos esse empenho? Através de uma liminar na Justiça. A prefeitura não estava credenciada para assinar convênio com o governo federal. Ora, a obra já está para sair. Eu tenho muita convicção que com esse passar de tempo a administração de ACM Neto vai ser marcada por ser uma administração de sucesso.
 
BN – O ex-prefeito João Henrique atribui boa parte desses problemas que hoje ACM Neto tem enfrentado na prefeitura, de débitos e dívidas, até mesmo as rejeições de contas – três pelo Tribunal de Contas dos Municípios e duas pela Câmara Municipal confirmadas –, à gestão do PMDB. Ele disse que a culpa foi dos secretários.
 
GVL – Me permita. Eu nunca ouvi João Henrique dizer isso. Ele pode mentir em muitos aspectos, nisso ele não pode mentir.  O PMDB só deu contribuições efetivas à administração. Enquanto o PMDB esteve na administração, ele ainda teve algum tipo de respeito da sociedade porque nós viabilizamos obras. Fui eu que paguei um preço por isso, inclusive, de críticas duras por ter privilegiado Salvador.  O que há de concreto, feito, realizado, inaugurado em Salvador nos últimos anos, eu digo, sem medo de errar: foi fruto da minha passagem de três anos pelo Ministério da Integração Nacional. Então, essa é uma crítica que ele não tem coragem de fazer.

BN – A primeira pessoa da equipe de ACM Neto a cair foi do PMDB. Batista Neves saiu da Superintendência Conservação e Obras Públicas (Sucop) para a entrada de José Hamilton Bastos, que também é indicado pelo partido. Como está o relacionamento do PMDB com o prefeito?

GVL – Essa é uma das visões da política que tem que mudar. As pessoas aprenderam a ver os homens como tão grudados em cargos como as ostras se grudam nas pedras, que não entendem quando alguém toma uma decisão pessoal e não quer mais continuar no cargo. O doutor Batista Neves está saindo da Sucop contra a minha vontade e contra a vontade do prefeito. Fizemos reiterados apelos a ele para que ele continuasse emprestando sua experiência na função. Ele não quis por razões de ordem eminentemente pessoal. Projetos que ele quer tocar, alternativas que surgiram, talvez dificuldades gerenciais pela falta de recursos, ainda, em uma área muito delicada da cidade. Ele não quis ficar. Ele não caiu, ele saiu. E está entrando outro gestor público competente, que já faz parte, inclusive, da atual administração. A relação com o prefeito ACM Neto é absolutamente correta e tranquila. Não tenho nenhum reparo a fazer ao seu comportamento político e administrativo.
 
 
BN – O senhor falou recentemente em algumas entrevistas que não se opõe de maneira nenhuma a ser vice em uma chapa das oposições. De quem o senhor seria vice? Há algum nome?

GVL – Eu tenho dito que desejo ser candidato a governador da Bahia. Eu considero que angariei ao longo da minha trajetória, com erros e acertos, com meus defeitos e qualidades, experiência para comandar, liderar um processo diverso do que o que aí está. Que tenha a administração como mote principal, menos política nesse jogo, projetos claros. E eu tenho apresentado com clareza não só a crítica, mas alternativas gerenciais para diminuir as dificuldades que o Estado tem na saúde pública, resolver grande parte dos problemas que nós temos na segurança pública, enfrentar essa dificuldade que na Bahia há para se ter uma educação de qualidade, interiorizar desenvolvimento, enfim. Uma série de questões que nós temos que enfrentar para fazer com que a Bahia volte a ter uma postura de mais destaque no cenário nacional. Eu me sinto pronto, preparado, maduro para liderar esse processo. Mas esse é um sentimento meu. Pode não ser o sentimento da sociedade, quando as pesquisas começarem a se manifestar de forma mais forte. Pode não ser o sentimento do conjunto das forças políticas no qual eu estou inserido. Qual tem que ser o meu comportamento? Com muita clareza e humildade dizer: “eu quero um projeto diferente do que o que aí está”. Acho que esse projeto já deu a sua contribuição muito aquém da que poderia dar e da que prometeu dar, se tivesse essa tal hierarquização partidária. Ora, se eu quero um projeto diverso, não posso dizer que esse projeto necessariamente está encarnado na minha figura. Se outro corresponder a essas exigências de identidade na sociedade e identidade nas forças políticas que eu integro, eu terei absoluta humildade para apoiar, participando da chapa ou optando por outro caminho para dar sequência à minha vida pública. Quem é esse outro? Não sei. Já já a gente vai saber, até porque eu defendo que essa definição se dê agora no decorrer desse segundo semestre.
 
BN – O senhor acha que o PMDB ficou enfraquecido na Bahia, depois de perder um bom número de prefeitos? O próprio Mário Kertész aqui em Salvador não teve o desempenho que se esperava dentro do partido e o senhor também não conseguiu ir para o 2º turno das eleições em 2010. Houve um desgaste do PMDB com o eleitorado baiano? Há como reverter isso?
 
GVL – Eu não cheguei em 2010 porque não foi cumprido um entendimento de dois palanques e também porque naquele momento do PT estava muito forte. A sociedade disse que queria a continuidade daquele governo. As eleições são assim. O PT perdeu três eleições federais. Quem ganhou duas foi o mesmo partido que perdeu três. Aqui em Camaçari, Jaques Wagner perdeu uma eleição para prefeito e depois perdeu uma eleição para governador, o que não fez do PT um partido fraco o suficiente para não ganhar depois uma eleição para governador. Eleições são assim, cíclicas. Há momentos em que a sociedade lhe identifica, e a seu partido e seu projeto, como solução, vota e elege. Você vence e governa. Quem perde, fica na oposição. E há momentos em que você não tem a capacidade de criar essa identificação com a sociedade. Não acho que uma derrota, eventualmente, significa que você está fraco de maneira perene. Significa que naquele momento você não teve simpatia, não convenceu o eleitorado. Agora é outra eleição. Cada eleição é outra eleição. Nós partimos agora com um discurso e uma oposição de muito maior aderência junto ao povo da Bahia.
 
BN – Há um razoável consenso, e as pesquisas mostram isso, de que um dos principais problemas da Bahia hoje é a segurança pública. Recentemente, em entrevista ao Bahia Notícias, o vereador de Salvador e soldado Marco Prisco (PSDB) trouxe números assustadores, de 110 municípios que só têm dois policiais, mais de 90 que só tem um. Qual seria o caminho para solucionar este problema, já que o secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa, disse que é necessário o dobro do efetivo que existe hoje?
 
GVL – Se ele precisa do dobro, eu volto a dizer: governar nada mais é do que estabelecer prioridades. O candidato que começa uma campanha e um governante que começa uma gestão querendo atacar tudo como prioridade não vai resolver nenhuma. Você tem que estabelecer e eleger claras prioridades. Segurança pública é hoje uma prioridade. Prioridade se exercita não no discurso, mas no orçamento. Portanto, se é preciso mais dinheiro para se contratar mais policiais para se chegar a um nível de efetivo que seja compatível com a necessidade da Bahia, há de se fazer com que o orçamento contemple essa questão. Eu acho que o governo, depois de sete anos, demora demais para implantar um plano de cargos, salários e vencimentos para os policiais que faz com que o soldado que está no asfalto para defender nossas vidas sinta-se motivado sabendo que vai haver um encarreiramento e que a sua promoção não vai depender exclusivamente da boa vontade da oficialidade. Eu me sinto à vontade para propor. Disse em 2010 e repito agora, fonte de recurso poderia ser, por exemplo, o resgate de IPVA de carros que estão atrasados ou implantar um grande programa que envolva Secretaria de Segurança, Detran, Secretaria da Fazenda e outros órgãos, inclusive federais, e monitoramento das nossas divisas, de forma que você reduza substancialmente a entrada e saída, com a facilidade que temos hoje, de bandidos, armas e drogas [no Estado]. Eu não consigo entender que além da falta de policiais nos municípios do interior, ainda se viva hoje uma realidade na Bahia em que o município, tão depauperado das suas finanças, ainda tenha que arcar com o pagamento de gasolina para carros da polícia ou com a manutenção de delegacias. Tem solução. É vontade política de fazer. Precisamos privilegiar o orçamento da área. Além de tudo isso de forma efetiva, objetiva, há uma questão de atitude. Eu teria uma atitude diferente em relação à segurança pública. O governador se envolve muito pouco ou passa muito pouco a sensação de envolvimento. Ele tem um ar blasé, muito pessoal, de tratar essas questões, se envolve muito mais com a política, com a articulação e não pega na unha, como eu digo, alguns problemas. Eu acho que nós temos condição de fazer. Por exemplo, nós vamos fazer comparações com o que aconteceu no Rio de Janeiro e diminuiu claramente a violência. Não basta você instalar uma base comunitária, como tem sido feito aqui, copiando o programa do Rio. Tem que copiar inteiro. Tem que investir no esporte naquelas áreas onde você já assumiu o controle, tem que investir na educação, na implantação de creches, tem que fazer parcerias e bolsas para privilegiar o aluno que está ali dentro. Pode fazer! A questão é prioridade. Agora, se você sai prometendo que vai atacar tudo de uma vez só, os governos se sucedem. Você tem que ter capacidade para atacar o problema que mais urge nos anseios da sociedade.
 

 
BN – Polícia desmilitarizada seria um caminho para amenizar também a relação hoje conflituosa da PM com a sociedade?
 
GVL – Quero aproveitar para me solidarizar com profissionais da imprensa que sofreram esse tipo de agressão [durante as manifestações nas ruas de Salvador], mas não vamos deixar de reconhecer que o mundo é como ele é. Foi dito por muito tempo que no Brasil não se tinha vulcão, terremoto nem manifestação. Voltamos a uma plenitude democrática, o povo com a efervescência nas ruas. A polícia, evidentemente, não está preparada para esse tipo de enfrentamento. Mas ainda que esteja, eventualmente haverá, sempre, exageros que precisam ser coibidos. Sejamos francos. Vamos pegar um país com democracia consolidada: a França.  Toda hora a gente vê manifestação nas ruas para debater previdência, direitos sociais – recentemente uma grande manifestação nas ruas discutiu a união entre homossexuais. E muitas vezes a gente vê a polícia reprimindo. Faltou aqui, por exemplo, a cena que você vê em democracias civilizadas, jatos d’água atingindo fortemente manifestantes nas ruas. É esse o caminho? É claro que não. O caminho do diálogo, do entendimento, é sempre melhor. Esse é outro efeito que essas manifestações vão trazer: maturidade entre as forças repressoras ou pacificadoras e os manifestantes. Para que não haja essa brutalidade de confundir profissionais de imprensa, que estão ali cumprindo o seu papel, seu dever fundamental, para a divulgação das idéias que a população está reivindicando nas ruas, com baderneiros, que existem em qualquer lugar do mundo e precisam ser reprimidos. Não acho que a desmilitarização da polícia seja a solução para isso. Eu acho que o treinamento da polícia, investimento em educação policial, é o caminho. Demora, mas a democracia, para se consolidar, demora.
 
BN – Como vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa, o senhor é aliado com o PT nacionalmente, como o PMDB é. Mas, internamente, no partido, há um movimento que quer romper também com a presidente Dilma Rousseff. O senhor defende a manutenção do pacto com o governo federal?
 
GVL – Os partidos no Brasil não são nacionais. Nenhum deles é. As realidades locais falam muito mais forte. A aliança nacional deixou de ter um link ideológico, deixou de ter uma direção clara. Na hora em que você, em nome de entendimentos políticos, coloca o vice-governador de São Paulo para ser ministro do governo do PT, você permite que eu diga que tudo é possível fazer. A posição que eu vou defender vai estar muito vinculada à questão da Bahia. A diferença que eu tenho em relação a outros é que o fato de eu ocupar um espaço no governo hoje não me inibe de dizer o que eu penso. Eu não mostro nem nunca mostrei amor a cargos. Eventualmente, e isso também não vai demorar, se eu perceber que o nosso caminho é o de pregar outro que não a aliança nacional, eu saio imediatamente da função que ocupo. Como, para não parecer discurso, fizemos quando divergimos de Jaques Wagner do ponto de vista administrativo em 2009 e, ao contrário de vozes que diziam: “não sejam burros”, “vão até o final”, “façam como eles fizeram com João Henrique na época de Walter Pinheiro”, eu disse: “Não. A minha posição é outra. Eu quero ser criticado pela clareza e não pela falta de clareza”. Portanto, a nossa posição nacional vai ser vinculada ao que for importante para o PMDB da Bahia.
 
BN – Então, Geddel hoje apoia a manutenção do acordo entre PT e PMDB nacionalmente?
 
GVL – Eu estou dentro desse entendimento, mas essa definição vai se dar agora no evento do segundo semestre, a partir dessas movimentações que vão acontecer no Estado. No decorrer desses entendimentos, vão começar a se definir as forças regionais, como elas vão se pautar. Evidentemente, não sou, nunca fui e não serei político para ficar em cima do muro.
 

 
BN – É o senhor quem determina os patrocínios que a Caixa tem feito?
 
GVL – Não. As decisões são do conselho diretor, são colegiadas. Se você quer saber mais especificamente sobre Bahia e Vitória, a Caixa botou, no início desse ano, verba de cerca de R$ 100 milhões – por decisão de sua diretoria de marketing – para patrocinar times de futebol, dentro da sua estratégia. Ia deixar de patrocinar corridas de Stock Car e optou por patrocinar camisas de futebol. A minha voz dentro do conselho foi: está tudo muito bem, mas Bahia e Vitória têm que ser contemplados por tudo que representam no futebol brasileiro. E Bahia e Vitória estão para ser contemplados. Não foram ainda por uma questão documental. Até o momento em que estou falando com vocês, Bahia e Vitória não tinham apresentado ainda o CND, que é o certificado de quitação de débitos exigido para essa questão. Não estou falando de débitos privados, para que as pessoas não façam confusão com a situação, por exemplo, do Flamengo. É a questão da relação com o poder público. O Vitória disse que já está para apresentar. Quando apresentarem, serão contemplados pela Caixa Econômica Federal.
 
BN – Fala-se em R$ 6 milhões para Bahia e Vitória e a gente vê o Corinthians, por exemplo, com cerca de R$ 30 milhões. Por que há essa disparidade tão grande?
 
GVL – Porque a vida é como ela é. Infelizmente, há uma diferença muito grande porque o que o Corinthians representa, do ponto de vista de retorno para a Caixa, de acesso à TV Globo e tudo mais, é muito maior. A Caixa é um órgão público. É sempre bom lembrar que é um banco. E os investimentos não são filantrópicos. O banco faz contas técnicas para ver o que lhe trará de retorno de mídia. No dia em que a diretoria de marketing apresentou para o conselho diretor da Caixa os números que o Corinthians e outros times podem trazer de retorno de mídia, de acesso, é muito maior. Basta lhe dar um exemplo. O Corinthians foi patrocinado pela Caixa quando estava decidindo um título mundial no Japão. A marca Caixa ia ser distribuída para o mundo praticamente inteiro.
 
BN – Vamos fazer uma comparação meramente especulativa. A Copa União de 1987 foi o primeiro torneio em que a Coca Cola fez um acordo com os clubes. Do Clube dos 13, só Palmeiras, com a Agip, Flamengo, com a Petrobras, e Corinthians, com a Kalunga, não eram patrocinados por ela. Hoje, a Caixa já tem mais do que isso, caminha para o dobro e ainda tem times de série B como Asa, Avaí e Figueirense. Para uma instituição pública, não pega mal hoje a Caixa ser muito mais forte do que a Coca Cola foi em 1987 em termos de patrocínio de clubes de futebol?
 
GVL – Volto a lhe dizer, a Caixa é um banco, que precisa conquistar clientes, depositantes, empresários, negócios, para que possa ter condições de continuar cumprindo o seu papel social, emprestando os recursos necessários para alavancar a economia. E você precisa fazer divulgação. Essa divulgação da Caixa é profissional como nas outras empresas. A Caixa optou tecnicamente – e não é da minha área, eu não tenho conhecimento de marketing para isso – em sair da Stock Car e concentrar seus recursos em times de futebol e manter, evidentemente, alguns outros patrocínios, de corrida, de esporte amador, com esse viés de estímulo ao esporte nacional. Eu não vejo, absolutamente, nada equivocado. Equívoco em dinheiro público é quando não é feito com transparência. E eu estou aqui lhe dizendo que está disponível uma verba de R$ 100 milhões e vai ser aplicada dessa forma. Se chegar ao meu conhecimento que algum tipo de equívoco está sendo cometido na aplicação desse dinheiro, eu serei o primeiro a botar a boca no trombone.
 

BN – O senhor sempre reclama que há mais propaganda do que obras no governo do Estado. Não acha que esses R$ 100 milhões que estão sendo distribuídos no futebol para propaganda também poderiam ser utilizados para construir, por exemplo, unidades do Minha Casa, Minha Vida?
 
GVL – É uma coisa completamente diferente. Não dá para você comparar uma melancia com uma abóbora, é complicado. Os recursos para o Minha Casa, Minha vida são de um tipo de recurso. Os recursos consignados para o marketing são outro tipo de dinheiro. Não tem absolutamente nada uma coisa a ver com a outra. Recursos e propaganda de governo que poderiam ser dirigidos para outro tipo de atividade é outro assunto, completamente diferente.
 
BN – Já que entramos na seara de marca e imagem, no episódio do boato que surgiu em relação ao Bolsa Família, o presidente da Caixa Econômica Federal deu uma versão e depois desdisse, mas na verdade os depósitos foram antecipados. Isso contribuiu para deixar uma dúvida sobre a credibilidade do banco. A leitura que muitos analistas políticos fizeram foi de que a Caixa mentiu. O banco sai com uma imagem muito arranhada desse episódio?
 
GVL – Era melhor que não tivesse acontecido. Se fosse eu [o presidente], trataria de outra forma. Mas, acho que não. A Caixa é uma instituição muito forte no Brasil, para se arranhar por um episódio como esse.
 
BN – Já que falamos de futebol e política, vamos falar de 2014. Dos nomes fortes que temos aí, quem vai dar mais dificuldade a Geddel? ACM Neto está fora. O DEM pode lançar o secretário municipal de Transporte, José Carlos Aleluia. O senhor disse que tem Rui Costa, do PT. E o PSB ensaia a candidatura de Lídice da Mata.
 
GVL – Não haverá essa possibilidade. Se Aleluia é candidato, Geddel não é candidato. Eu estabeleci para mim uma condição, que é ter viabilidade eleitoral e ter a unidade das oposições. Eu não serei condutor de um projeto fracassado. Eu quero ser condutor de um projeto vitorioso e isso passa pela unidade das oposições. Se não se der em torno do meu nome, se dará com meu apoio entusiástico em nome de outro que agregue mais. Em nome do governo, vamos arriar as fantasias. Vai ficar se falando de muitos nomes, mas o nome é o do chefe da Casa Civil do governador Jaques Wagner por uma realidade simples: ele sabe que ganhar com outro é perder. Ele não apoiará Otto Alencar, ele não apoiará Lídice da Mata, ele não apoiará Walter Pinheiro sob a lógica de que, se vencesse, a liderança dele começaria a ser desmontada no dia seguinte. Ele apoiará seu secretário do sindicato sob a esperança de que, se vencer, terá o comando sob o futuro governo.
 

BN – A Veja disse que Rui Costa é o poste sem luz que Jaques Wagner quer eleger. O senhor concorda com isso?
 
GVL – Se a Veja disse, quem sou eu para ficar desmentindo?
 
BN – Assim como não há Geddel sem Aleluia, você acha que há Rui Costa sem Lídice?
 
GVL – O candidato do governo, por mais que ele [Wagner] fique ganhando tempo para arrumar a Babel interna, é o chefe da Casa Civil. Anote e depois você me conta.
 
BN – E Lídice não sai?
 
GVL – Acho que não.