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Marca Bahia Notícias

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Com 64 dias de festa por ano, Salvador busca o equilíbrio entre 'festivais' e tradições

Por Bárbara Gomes / Jamile Amine / Rebeca Menezes

Com 64 dias de festa por ano, Salvador busca o equilíbrio entre 'festivais' e tradições
Fotos: Divulgação / Secom Salvador

Salvador conta com mais 64 dias de eventos oficiais e/ou tradicionais no calendário festivo da cidade, entre acontecimentos maiores como o Carnaval, Réveillon, Festival da Cidade, e as datas civis, a exemplo da Independência da Bahia, no feriado do 2 de Julho. A capital, que há tempos leva fama de festeira, foi cenário de um longo Carnaval neste ano, com 11 dias de comemorações (lembre aqui). Segundo informações da Empresa Salvador Turismo (Saltur), somente este evento movimentou cerca de R$ 1,5 bilhão na economia local e gerou cerca de 250 mil empregos. A fartura em dias de festa também aconteceu no último Réveillon, com 5 dias de celebração e uma grade extensa de shows (relembre aqui). Já o Festival da Cidade, que marca a homenagem aos 468 anos de Salvador comemorados nesta quarta-feira (29), terá uma programação diversa espalhada por 9 dias de 2017. Até mesmo o São João, que sempre foi mais forte no interior do estado, tem ganhado mais corpo na capital.

Mas se por um lado temos eventos com estruturas maiores, divulgação internacional e atrações de grande porte, Salvador também não deixa de lado a tradição: a Trezena de Santo Antônio envolve a população da cidade por treze dias de junho, unindo quermesse e festa junina; a Lavagem de Itapuã, a Segunda-feira Gorda da Ribeira e a Festa de São Lázaro unem os moradores dos bairros em homenagens mais intimistas e bem mais modestas; o Dia do Samba anima o público no Campo Grande; enquanto as festas de Santa Bárbara e do Dia da Baiana do Acarajé se firmaram como dias de relembrar por que a comida baiana é uma das mais conhecidas do país. Para o historiador Milton Moura, contudo, é necessário buscar um equilíbrio entre a expansão das festas populares, visando o turismo, e o incentivo às manifestações tradicionais da cidade. Moura é professor associado do Departamento de História e membro do Programa de Pós-Graduação em História e do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA, e tem como temática de referência o estudo sobre festas, sobretudo o Carnaval de Salvador e a Festa do Caboclo de Itaparica. Segundo ele, se por um lado algumas festas foram ampliadas, outras acabaram afetadas negativamente. “Por um lado as festas de origem popular, de tradição popular, estão diminuindo. As lavagens acontecem menos, a própria festa do Bonfim está mais modesta. A de Conceição terminou, Boa Viagem só tem um dia... e as que duravam alguns dias, como Itapuã, agora duram um. O que tem se estendido é o estilo de festival. A prefeitura tem promovido festivais, como a virada do ano e o próprio Carnaval, que tem uma dimensão de festival bem desenvolvida. Não acho propriamente ruim, mas devia se oportunizar a permanência de festas mais tradicionais. É muito difícil hoje você montar barracas para vender cerveja, é muito caro para os populares, e também o ônibus... quando não tem ônibus a noite toda, ou para muito longe, dificulta muito a presença das pessoas de bairros distantes”, explicou.

Moura defendeu, ainda, mais espaço e investimento a atrações locais. “A prefeitura tem insistido nas chamadas grandes atrações. Inclusive caras e de fora de Salvador. Acho que seria mais interessante investir em atrações locais de diversos formatos, vários estilos. E isso pode ser feito com boa margem de sucessos. Por exemplo, as Ganhadeiras de Itapuã que se apresentaram no encerramento das Olimpíadas e foram um sucesso. Se você ver, as crianças e adolescentes de Salvador e da Bahia se apresentam em programas de calouros são um sucesso. De ondem vem essas meninos e meninas? Vem de um meio em que se pratica isso”, apontou. Um exemplo citado pelo historiador foi o apoio dado a grupos afro durante o Carnaval. “O governo do Estado tem oportunizado as manifestações do mundo afro, como neste Carnaval o chamado projeto Ouro Negro trouxe muita gente de grupos como por exemplo o Bloco da Capoeira. Foi fantástico, apresentou no Campo Grande uma verdadeira ópera”, apontou. Por isso, ele acredita que o melhor modelo será aquele que conseguir abarcar as mais diversas manifestações culturais soteropolitanas: “Não é só apresentar o tradicional, mas é garantir a presença do que é tradicional no Centro. Agora atenção ao que é tradicional: não é aquilo que sempre foi, o tradicional muda. [...] É continuar com o que vinha do passado, sempre renovado. Isso é importante”.