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Atração do Festival da Primavera, Marcio Mello diz que rock baiano está ‘cada vez mais verde’

Por Jamile Amine

Atração do Festival da Primavera, Marcio Mello diz que rock baiano está ‘cada vez mais verde’
Foto: Reprodução / Facebook
Único artista participante de todas as três edições do Festival da Primavera, que este ano acontece sábado (19) e domingo (20), no Jardim de Alah, Marcio Mello já foi averso a tal formato de apresentações, mas se rendeu aos festivais. “Para o tipo de som que faço, às vezes pode causar um estranhamento, mas já aprendi algo. É tipo uma grande feira de música, acho que o grande barato é esse, o público vai mudando de acordo com as atrações”, disse o cantor e compositor, que tocará no mesmo palco que Arnaldo Antunes, Babado Novo, Larissa Luz, Paula Lima e Luciana Mello. “Entre Marcio Mello e Larissa Luz, por exemplo, existe uma diferença sonora que parece grande. Mas não é tanto. Minhas músicas têm envolvimento muito grande com a MPB, quando pode parecer um pouco distante”, explica o autor de canções como “Nobre Vagabundo” e “Toneladas de Amor”, gravadas por Daniela Mercury.
 
O público poderá conferir a irreverência de Marcio Mello em um show novo, já no primeiro dia do festival, no sábado (19). “É um show que chama ‘De volta ao presente passado’, que estou rebuscando todas as minhas músicas, toco músicas de amigos que participaram comigo da década de 80. Abro o show eu e o violão, as músicas mais melódicas são todas feitas com violão, depois eu parto para a parte eletrônica, que sou eu sozinho fazendo um set eletrônico, e finalizo com o power trio, que aí eu vou pro rock mesmo, cru, que é a coisa punk que eu gosto de fazer, que é guitarra, baixo e bateria, com as músicas que são feitas para guitarra, baixo e bateria. Só que nesse show, talvez a parte eletrônica seja sacrificada, porque originalmente teria 2h, mas no festival terei 1h30. É um show mesmo novo que eu estou fazendo, eu meio que matei o ‘Bizarro’, que eu matei há 15 anos”, conta o cantor, que superou a aversão à indústria cultural e hoje busca maneiras de mostrar sua música.
 
Marcio Mello diz que não é tão grande a diferença sonora entre ele e Larissa Luz, também parte da programação do Festival da Primavera | Foto: Divulgação
 
Para o artista, que se auto intitula “solitário punk”, em algum momento é preciso pensar de forma prática. “Chega uma hora que você pensa: ‘a galera que trabalha comigo precisa de vida uma mais confortável, eu também preciso ter uma vida mais confortável’. Hoje em dia vida artística se resumiu em festivais, não tem mais aquela coisa de você tocar, ‘ah, vou fazer um show num lugar, vou botar bilheteria e ganhar dinheiro’. Então a gente tem mais é que participar dessas coisas, está tudo muito na mão do governo, do projeto, se você não participa disso, você vai se distanciando da música. Mas isso não quer dizer que eu não me sinto solitário ainda”, diz Marcio Mello, explicando que no processo criativo ele atua sozinho. “Eu não tenho turma musical. O público de roqueiro, tem uma galera que me curte, tem uma turma de bandas de rock que não me curte. E aí tem uma galera do pagode que me adora, e tem uma galera do pagode que me odeia. Aí tem uma galera da MPB que eu não faço parte, mas que minha música é uma das mais tocadas. Então essa história de você não ter turma é legal, porque você transita por todas as turmas possíveis e ao mesmo tempo você é um cara ‘malucão’, na sua, que está fazendo seu som. Aprendi a fazer meu som sozinho, buscar minha musicalidade só”, explica o artista, que se considera um “senhor bagunceiro”, por não ser “um cara arrumadinho” e fazer uma música votada para o dia-a-dia, um rock com “ruído do cotidiano” e “vertente jovial”. 
 
O caos, que para alguns pode causar estranhamento, para ele significa produção. “Não é que eu seja bagunceiro, as coisas que eu trago para dentro da minha casa, as coisas que eu convivo são de bagunça. É equipamento, é guitarra, skate. É uma coisa que você bota dentro de casa, e faz uma diferença brutal no processo criativo. Você fica o tempo inteiro com o novo, e às vezes causa um estranhamento para quem você está vivendo e até para o público seu, que vai amadurecendo, assim, vai ficando mais chato. Porque maturidade não quer dizer sabedoria, às vezes vai se tornando chatice. Se você não tomar cuidado, vai se tornando uma pessoa chata. Então o rock me tira um pouco desse ranço da chatice que eu começo a ter, por conta da idade. Estou com 48 anos, estou há 30 anos fazendo música, então a tendência é você se tornar uma pessoa chata mesmo, se tornar mais seletivo, e eu não quero isso. Eu quero ficar misturado, envolvido com tudo, até quando encher o saco e parar”, revela o crítico Marcio Mello, que não poupa a cena baiana de rock.


Tyrone gravou "Nobre Vagabundo", música de Marcio Mello que estourou com Daniela Mercury 

Em entrevista ao Bahia Notícias, em 2009, o cantor afirmou que o rock da Bahia é verde e agora ele mantém a afirmação, com ainda mais veemência. “Eu acho ainda que está verde e cada vez mais verde. Eu não posso dizer que é falta de profissionalismo, porque não é isso. As pessoas buscam, mas é verde. A forma que as bandas daqui se tratam é de uma forma que parece colegial. Não era para ser assim, era para ter uma relação profissional que não tem. Para o público pode parecer que tem, mas não tem. Por isso que a música fica muito aqui na Bahia. O baiano tem a cabeça muito para a Bahia, isso me dá um pouco de agonia. Você pode ver o Nação Zumbi, tem a cara de Recife, tem sotaque, mas tem a cabeça no mundo. Já o baiano tem os ranços, as briguinhas. O cara está muito mais preocupado com o outro artista, que com ele. Tem coisas que são muito bobas, quem sabe um dia melhora? Mas eu acho muito difícil. A Bahia parece que não anda. A gente é da terra de Raul [Seixas], o cara que tem o maior fã clube do Brasil, e a gente não consegue avançar. O roqueiro baiano não é autoral, ele quer que você toque Led Zeppelin”, dispara Marcio Mello, que critica ainda a Música Popular Brasileira.

“O brasileiro se apega muito com a MPB, que é a desgraça do mundo, da porra da música brasileira, foi a porra da MPB. É impressionante, ele tem um apego e se você não passa pela MPB, se você diz o que eu disse agora, é um crime. É verdade, você tem que ter esse apego, você tem que tocar cover de Caetano Veloso, você tem que participar da MPB, você não pode chegar e falar ‘eu não curto’. Não é porque você não curte que ache ruim, eu só não ouço. Isso é muito louco, e ai o cara fala: ‘você não ouve axé, mas Daniela Mercury gravou uma música sua’. Sim, qual o problema? Minha obra está aí aberta, se o pagode quiser gravar, ele grava. Agora Tayrone Cigano gravou ‘Nobre Vagabundo’, ótimo, lindo, acho bacana. Mas dizer que eu fico ouvindo arrocha, eu não ouço. Não é que desgoste não, eu até gosto, adoro a música popular, mas eu não ouço porque não ouço, não tenho nem tempo pra ouvir, eu ouço tanta coisa, que acaba que eu não ouço nada”, diz o artista, explicando que seria impossível receber tanta informação e manter o processo criativo.
 
Clique nas imagens para conferir a programação completa do Festival da Primavera, que acontece neste fim de semana em Salvador: