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Notícia

Zelito Miranda: 'Bahia tem maior São João do Brasil, mas preferem sertanejo e insistir no axé'

Por Virgínia Andrade

Zelito Miranda: 'Bahia tem maior São João do Brasil, mas preferem sertanejo e insistir no axé'
Zelito realiza mais um Forró no Parque. Fotos: Bruna Castelo Branco | BN
O forrozeiro Zelito Miranda realiza, neste domingo (19), mais uma edição do tradicional “Forró no Parque”. O projeto, que chega à sua sexta temporada em 2015, acontece desde janeiro em um novo espaço: o Largo Pedro Archanjo, no Pelourinho. Devido às reformas no Parque da Cidade, local onde era originalmente realizado, o evento precisou ser realocado. Fora isso, a iniciativa segue o mesmo formato, com seis edições por ano, uma em cada mês, sempre aos domingos, a partir das 11h. “É muito bonito e gratificante ver, em um domingo de manhã, as praças do Pelourinho cheias, as pessoas andando na rua com suas crianças e se divertindo. Esse é um resgate importante que o Forró no Parque está fazendo. A função do projeto é essa: levar cultura de graça para a população”, diz Zelito Miranda em entrevista ao Bahia Notícias. A edição de estreia no Centro Histórico aconteceu em janeiro e fez uma homenagem ao rock com a participação especial da banda baiana Cascadura. Em fevereiro, mês do Carnaval, foi a vez de o forrozeiro celebrar o samba ao lado de Edil Pacheco e Juliana Ribeiro. Já em março, o forró voltou ao seu lugar de destaque com a presença da forrozeira sergipana Amorosa e de Chambinho do Acordeon, intérprete do mestre Luiz Gonzaga no filme “Gonzaga – De Pai para Filho”, lançado em 2012. Neste mês, Zelito repete a dose e recebe como atrações convidadas o músico Eugênio Cerqueira e a banda de forró-pé-de serra Trio Virgulino. “Eugênio trabalhou e tocou comigo por quase dez anos. Somos muito amigos. Eu fui um dos maiores incentivadores da sua carreira solo quando vi o talento dele”, elogia Miranda. Quanto ao Trio Virgulino, o cantor revela que será a primeira vez que toca com o grupo e está feliz com a oportunidade. “O Trio Virgulino eu conheço de nome. É a primeira vez que nós vamos fazer um som juntos e o convidei porque admiro aquela indumentária que eles mantêm, de gibão de couro. Aquilo cria uma personalidade, é bonito. Estou muito feliz em recebê-los”, conta.

Ao longo dos seis anos de “Forró no Parque", mais de 50 artistas já passaram pelo projeto capitaneado por Zelito Miranda. Além do cantor e compositor Lazzo Matumbi, convidado de estreia, também participaram do evento o paraibano Genival Lacerda, autor do clássico de forró “Severina Xique Xique”, a banda de reggae Adão Negro, Cangaia de Jegue e Adelmário Coelho, que acompanhou Zelito durante um ano do projeto. “O Forró no Parque é um ponto de encontro. É lazer, entretenimento, boa música gratuita, numa manhã de domingo, onde as pessoas estão descontraídas, podem levar os filhos, curtir, se divertir”, diz Zelito. Apesar do sucesso atual, o forrozeiro conta que duvidou do potencial da iniciativa. “No início, quando fui convidado para fazer, eu não acreditei [que pudesse dar certo]. Forró domingo de manhã?”, desdenhou o cantor à época. Quando chegou para a apresentação de estreia do “Forró” se surpreendeu: “o parque estava cheio. Aquilo me deu ânimo, fôlego para continuar, porque ver o forró na capital com esse gás é muito legal”, relembra. O evento cresceu e já chegou a registrar um público de 11 mil pessoas. Embora esteja feliz com a mudança para o Pelourinho, Miranda conta que não poder mais receber a mesma quantidade de pessoas que costumava ir aos shows no Parque da Cidade foi uma adaptação difícil. “Por um lado a mudança foi fácil, porque o Pelourinho abriu as portas quando soube da nossa intenção de fazer o projeto lá. Imediatamente eles se organizaram, se planejaram e trabalharam com o maior carinho para poder nos oferecer a melhor estrutura e segurança. Mas também foi difícil, porque a gente sabia do contingente de pessoas que estava indo ao parque, mas não cabe no Largo”, pontua.


Natural de Serrinha, interior da Bahia, Zelito Miranda não esconde sua paixão pelo São João. Os planos para os festejos deste ano já estão a todo gás, mas ele prefere guardar segredo por enquanto. “Olhe, deixe quieto, porque essas coisas de agenda é melhor deixar para soltar mais próximo”, diz, em tom de brincadeira, e continua: “O São João desse ano é atípico, porque cai no meio da semana. O que faz com seja um São João de onze dias, de quinta a domingo da semana seguinte. Isso gera uma movimentação muito louca, porque tem cidade que ainda não sabe quando vai fazer”. Quanto ao fato de o São João ser considerado por muitos forrozeiros a maior festa da Bahia, ideia que volta e meia é motivo de polêmica, Zelito é enfático. “O São João não é só a maior festa da Bahia, é a maior festa do Brasil. Diferentemente do Carnaval, que é uma coisa bem urbana e citadina, a festa junina começou no interior e chegou à capital através das pessoas que migraram para cá e trouxeram essa cultura que é forte, enraizada, arraigada no sangue”, ressalta e continua: “É uma festa que acontece no bairro, na praça, na roça, que têm indumentária e culinária próprias, que atende a todas as gerações, da criança ao velho, sem falar no fator econômico”. No que se refere ao São João em Salvador, Miranda destaca a força que a cidade ganhou no circuito dos festejos juninos e reconhece que há uma aproximação entre as festas da capital e do interior. “Em Salvador, o São João é peculiar, porque a maior parte da população tem origem rural ou no interior, o que trouxe força para a festa na cidade. Além disso, Salvador ofereceu condições de ter um São João de verdade, que não tinha, e já é possível perceber pessoas que fazem o movimento de sair dos seus interiores para vir curtir a festa na capital”, analisa o músico. Ainda assim, confessa que não tem nada como curtir a festa no interior. “As cidades do interior e a capital retumbam as batidas da zabumba, do triângulo, da sanfona. Agora, o interior, me perdoem, tem uma pegada muito forte, viu?!”, diz rindo.


Em relação às novas tendências do forró, Zelito Miranda afirma perceber uma espécie de “diluição cultural”. “Eu vejo uma diluição cultural, porque não são tendências que nasceram culturalmente, e sim comercialmente, e trazem consigo somente o interesse em ganhar dinheiro. Não que eu tenha nada contra ganhar dinheiro, que ele venha também. Mas as pessoas estão confundindo as coisas”. A crítica de Zelito recai especialmente sobre os artistas “camaleônicos”, aqueles que se adequam ao gênero musical dependendo da época do ano. “Não critico artistas do Carnaval quer tocam no São João, porque todo mundo tem direito. Quando aparece show no Carnaval, eu adoro fazer. Eu só não gosto é da parete camaleônica. Se tem vaquejada, é um repertório. Carnaval, outro. São João, outro. Cada época se traveste de uma coisa. Não tem personalidade. É desagradável ver essa movimentação. Acho negativa”, dispara. Os forrozeiros também não ficam de fora das criticas de Miranda. “Do ponto de vista musical, eu acho que os forrozeiros têm que avançar também em relação à pesquisa de novas sonoridades. Os tempos estão mudando e as coisas não são estáticas. O forró não pode ficar nutrindo só sanfona e zabumba, porque se ficar ele morre. O fato de tocar um forró com ukulele ou piano não faz deixar de ser forró”, aponta. Além de defender a ideia de que os colegas de profissão precisam se aperfeiçoar, o artista também alfineta as rádios do estado pela ausência de entrada do forró nas programações. “As rádios da Bahia continuam insistindo burramente em não tocar forró nas rádios durante o ano inteiro. Eu não sei se os radialistas são cegos ou se é a mão do dinheiro que move isso. Num estado que tem o maior mercado de forró e o maior São João do Brasil, eles preferem trazer o sertanejo e insistir no defunto axé, que está tentando se renovar. É isso que me deixa preocupado, porque se fica tentando ressuscitar coisas, quando há coisas novas. Nós precisamos ser ouvidos”, finalizou.

SERVIÇO:
 
O Quê: Forró no Parque
Quando: 19 de abril
Onde: Largo Pedro Arcanjo, no Pelourinho
Atrações: Zelito Miranda, Trio Virgulino e Eugênio Cerqueira
Horário: A partir das 11h
Quanto: Gratuito.