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Os tsares e a perda da reputação

Por Francisco Viana

Os tsares e a perda da reputação
Foto: Acervo pessoal

A dinastia  dos Románov conheceu duas dezenas de tsares entre 1613 e 1917, exatos 304 anos. Esteve entre os impérios mais “ espetaculares e bem sucedidos” ( Simon Sabag Montefiore, Os Románov) desde os mongóis. No final do século governavam um sexto da superfície da terra e o império continuava crescendo. Conquistadores obstinados, subjugaram a Sibéria e a Ucrânia, tomaram Paris e Berlim, criaram uma civilização de alta cultura e sofisticada beleza, além de darem vida a Púchkin, Tolstói, Tchaikóvski   Dostoiévski e Rachmáninov. 

 

O império caiu no momento em que os Románov perderam a reputação de “pai dos pobre”, o que exigia magnetismo, legitimidade e tradição . “ O tsar é bom”, diziam os camponeses . Os nobres é que são malvados. “ O poder era pessoal e autocrático. “ Os que acreditavam na autocracia russa estavam convencidos de que só um indivíduo todo-poderoso e a abençoado por Deus poderia projetar a majestade fulgurante necessário para conduzir e intimidar esse império multinacional e administrar os intricados interesses de tão grande Estado”, afirma Simon Sebag.  Perderam tudo isso por força de uma leitura errada da realidade, o que é muito comum nos dias atuais. Os tempos mudam, mas as pessoas vivem aferradas ao passado como se o presente não existisse. 

 

Faminto o povo saiu às ruas. Em lugar de pão, o tsar mandou os cossacos. Foi uma carnificina. A revolução comunista pos a roda da historia para se movimentar e eclipsou a  dinastia Románov . 

 

Em fevereiro de 1917 caiu o tsar. Em 1918 a família real - 18  Románov foram chacinados - estava morta, na região dos Montes Urais em meio a uma Rússia flagelada pela guerra civil. O último tsar reinou por 22 anos. A família foi assassinada por um pelotão de fuzilamento que usava armas pesadas. Alguns soldados estavam bebâdos.  fazia um frio congelante. O motivo alegado : a insurgência do exército branco contra o regime soviético. Na realidade, a Revolução perigava fracassar. Os bolcheviques temiam que o tsar se tornasse num poderoso símbolo da resistência e da contra-revolução. 

 

O tsar e o tsarismo morreram, mas sua sombra continuou a se projetar sobre a Rússia . Lenin e Stálin estudaram Ivan, o terrível, e Pedro, o Grande, em especial, para melhor compreender a alma russa. E as vontades do povo que, segundo Stálin , precisava de um tsar ao qual pudesse “ venerar” e para o qual pudesse “ viver e trabalhar. “ Stálin ,muito mais que Lênin, moldou a sua imagem à de um tsar vermelho: paternal, misterioso, rural e industrial. Implacável. Restaurou fitas douradas e dragonas e, com os nazistas às portas de Moscou - que ele se recusou a abandonar -promoveu heróis do antigo regime, como o sábio estrategista Kutúzov que liderou a expulsão das tropas de Napoleão da Rússia. Saiu-se melhor que os tsares. Industrializou e fez da Rússia uma potência nuclear. Media-se pelos Románov.  Em 1991, quado houve o colapso da URSS, pôde-se afirmar que foi a segunda morte do império dos Románov. Agora a Revolução faz cem anos: sem a dinastia Románov , sem a URSS e sem os bolcheviques . Ao passar do tempo  , sobreviveu apenas a história. E suas lições. 

 

*Francisco Viana é jornalista e Doutor em Filosofia Política (PUC-SP)

 

* Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias