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Geddel, Palocci e José Dirceu...

Por Francisco Viana

Geddel, Palocci e José Dirceu...
Foto: Acervo pessoal

"Façamos planos de novas misérias/ Que deixem assombrado até o futuro"
Shakespeare, em Titus Andronicus (ato III, cena I, 135) 

 

O que concluir da descoberta pela Policia Federal das malas e caixas cheia de dinheiro de Geddel Vieira Lima ? E, também, da delação premiada do ex-ministro Antônio Palocci? Será que Lula, nem Dilma, não perceberam que Palocci era presa fácil - devido à sua paixão pelo dinheiro -  para os conservadores?

Pouco importa. Se não perceberam o óbvio, pior para eles. Para tentar neutralizar a delação de Palocci, Lula - Dilma teriam que desqualificá-lo. Vamos imaginar que isso acontecesse. Adiantaria alguma coisa? E o caso Geddel? 

Palocci e Geddel se igualam numa evidência: ambos simbolizam o fim de um ciclo da vida brasileira. Um ciclo de políticos artificiais, criados no laboratório dos marqueteiros. Palocci ainda tinha a seu favor o fato de ter sido trotsquista na juventude; Geddel nem isso. É um conservador, entenda-se aquele que quer resolver os problemas da atualidade com fórmulas do passado, sem bandeira. Para ele, importa o dinheiro. É um colecionador. 

 

Outro ponto em comum: a completa ausência de cuidado com a reputação. Se fosse diferente, o desfecho de suas vidas publica seria diferente. 

Não é exatamente assim que alguém se credencia para ser conservador ou de esquerda. O novo ciclo da vida política que irá se iniciar em 2018 será marcado pela juventude dos tempos. A pergunta é qual será o perfil do futuro presidente e não quem será ele ou ela, se bem entendido os desafios que terá pela frente e quais os desejos do eleitorado, principalmente o jovem. É certo, pelo processo hoje vivenciado, que haverá uma demarcação nítida de fronteiras entre esquerda e conservadores. O que pensa agora a população ? Que esquerda e conservadores se encontram na corrupção? 

Se é assim, a imagem tem que mudar. A transparência ideológica vale para ambos as faces da moeda. É uma questão de identidade, não de retórica. 

 

Nesse cenário de tantas contradições, a figura que cresce é, sem duvidas, a de José Dirceu. Não como candidato à presidência, claro. Mas, sim, como militante. Apesar da idade, tem enfrentado a cadeia de cabeça erguida, sem delatar ninguém ou negociar benefícios. Tem sido exemplar. Lembra Ramon Mercader que por ter assassinado Trotsky, e cumprida a pena no México, voltou para  Moscou, sem jamais ter declinado os nomes dos mandantes do crime.  Vale lembrar que Dirceu não matou ninguém e que a comparação se dá apenas pelo estoicismo dos dois militantes. 

A história irá julgar Dirceu e, certamente, saberá reconhecer os seus méritos. Geddel e Palocci, não. Por caminhos diferentes, destruíram a própria história. Logo serão esquecidos. A narrativa de suas vidas é banal: ascensão, poder e queda por corrupção. Não têm relevância. São apenas dois figurantes nessa tragédia que poderia ser chamada Brasil em busca da utopia democrática: crise e transição. Os protagonistas somos todos nós ... Passado esse ciclo de mediocridade e corrupção haverá futuro? Depende de nós.

 

* Francisco Viana é jornalista e Doutor em Filosofia Política ( PUC- SP)

 

* Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias