Usamos cookies para personalizar e melhorar sua experiência em nosso site e aprimorar a oferta de anúncios para você. Visite nossa Política de Cookies para saber mais. Ao clicar em "aceitar" você concorda com o uso que fazemos dos cookies

Marca Bahia Notícias
Você está em:
/
Artigo

Artigo

A arte (esquecida) do bem viver

Por Francisco Viana

A arte (esquecida)  do bem viver
Foto: Divulgação
Leio nos jornais que o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, confessou ao juiz Moro ter uma conta bancária no exterior, jamais declarada, com algo como 600 mil dólares .  A Noticia é ao mesmo tempo uma revelação e uma provocação gritante. Choca, desperta nosso ser ingênuo, tal como o dizer recorrente das feiticeiras de o Anel dos Nimbelungos de Wagner: " Acorda" , " acora",  " acorda". É como se alertasse: " Acorda do berço esplêndido gigante adormecido", " Acorda... " 
 
Leio a notícia, mas não é a notícia que vejo. As recordações que me tomam de assalto a mente são dos mortos e torturados, dos combatentes contra a ditadura militar. Dos milhões de brasileiros excluídos, daqueles que confiavam no ministro Mantega. E se decepcionam dia após dia. Por que manter escondida uma conta com tão vultosa quantia senhor Mantega? Por que tanto desprezo pela nossa sólida confiança? Por que tão pouco caso para com sua aparentemente impoluta reputação? A fonte do dinheiro é atribuida a um herança, mas não justifica a sonegação, sobretudo porque o ministro da Fazenda era ( e todo ministro da Fazenda é) o Chefe do fisco e o fisco é implacável . E o ministro precisa ser o primeiro a dar o exemplo. 
 
É um momento de perplexidade. Mais que isso é um momento em que em que não se pode ignorar a história para que se possa fazer história. N?o com a repetição do mesmo, só mudando aspectos cosméticos e superficiais. Isto só aguça as crises. Cada vez mais graves, ampliando as incógnitas, semeando as inseguranças, enloquecendo a população. Mas, sim, fazer história.  favorecendo à construção racional de um país que seja efetivamente de todos. Que seja fraterno e solidário. Sem ilusionistas como o ex-ministro da fazenda e tantos outros , à direita e à esquerda, cujas reputações têm hoje menos valor que um grão de areia. 
 
É nesse momento que entra em cena o grande papel da comunicação. Isto é, construir a confiança. Não mentir ou doutrinar. Sim, recriar o gosto pela boa reputação que, em grego, significa simplesmente a arte do  bem viver, que para Shakespeare  é a parte mais sensível do ser ( O mouro de Veneza) e para Maquiavel a fonte de toda a legitimidade ( O princípe). Em poucas palavras: a busca do bem comum. Pois, sem o bem comum o governo e a representação politica. não passam de meras piadas de mal gosto. E não permitem que se fale em leveza, alegria e sensualidade , salvo provisoriamente ou como ilusão.
 
A motivação é sem forças diante da ausência de utopia e da desconfiança. É peciso de fatos que mudem a realidade e tonifiquem a esperança. E tornem a felicidade uma possibilidade real. Somente assim o Brasil vencerá as crises, que são ciclícas,  e estruturais e, também, os Mantega  que cuja desfaçatez desafia a imaginaç?o. 
 
* Francisco Viana é jornalista e doutor em Filosofia Política ( PUC--SP)
 
* Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias