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Democracia Frágil

Por Zilan Costa e Silva

Democracia Frágil
Fotos: Jamile Amine/ Bahia Notícias

Ninguém pode negar que, do ponto de vista das ideias, estamos em uma encruzilhada. Alguns falam equivocadamente, em minha opinião, de choque de civilizações ou de religiões, porém acredito que vivemos mesmo é um choque de valores que causam mudanças profundas na política e na economia.

 

Como sabemos que nem sempre a história se move para a frente, em linha reta, é preciso que tenhamos algumas ideias bem assentadas em nossa mente, como ponto de partida.

 

Acredito que não se pode negar que o velho discurso da direita contra a esquerda já está superado, não é mais atual. Vivenciamos novas fraturas no tecido social, provocadas por uma nova percepção da realidade globalizada e muito influenciada por um discurso de reação excessiva ao terrorismo ou medo da violência. Não é difícil perceber a existência, por exemplo, de um tribalismo versus humanismo ou, numa metáfora mais atual, construtores de muros versos os construtores de pontes.

 

A visão atual, em geral, é ingênua, adota-se, aqui e acolá, a noção de um liberalismo lhano muito mais relacionado a satisfação dos próprios interesses pessoais do que uma verdadeira visão analítica da sociedade da atualidade. Estamos sempre diante de uma auto-percepção ou da busca de uma autossatisfação, que muitos pretendem realidade para todos.

 

Contudo, em todas as discussões e debates há um elemento comum e subjacente que encontramos em todos os discursos: a ideia de democracia.

 

Mas, o que é democracia?

 

Essa pergunta não possui uma única resposta correta, aliás, a resposta variou bastante ao longo da história, desde o conceito que tinham dela os filósofos gregos da antiguidade, passando pela idade média, revolução industrial e a modernidade.

 

Hoje em dia, muitas vezes se confunde democracia com majoritarianismo, ou mesmo com demagogismo ou populismo,  quando nos preocupamos muito mais com a energia com que dizemos as coisas do que efetivamente com o seu conteúdo. Forma versus substância é uma questão bem atual em nossa realidade virtual.

 

Democracia é o resultado de um processo histórico e não há como se negar que ela surgiu da violência e dela nunca se afastou inteiramente, a violência é um fenômeno da natureza humana que o processo civilizatório pretende domesticar.

 

Em busca de uma definição, o presidente americano Abraham Lincoln, em seu famoso discurso de Gettysburg, em meio a Guerra de Secessão americana, disse que a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo.

 

Seria essa definição hoje suficiente?

 

Não. Uma ideia atual de democracia não passa apenas pela ideia de voto popular: é necessário um controle efetivo da agenda social, é preciso uma compreensão minimamente civilizada dos temas em discussão, mas que tenha subjacente valores como a dignidade humana, a compaixão, a honestidade e, até mesmo, a humildade.

 

Jamais atingiremos este nível de desenvolvimento social sem a articulação, isto é a arte política, que muitos hoje pretendem como atividade subalterna, indigna e com isso afastam muitos da necessária participação civilizada na arena adequada.

 

Democracia se faz com presença ativa, através de regras clara que não permitam sua derrocada em anarquia. Mas, sem participação, democracia se degrada na direção da oligarquia.

 

A democracia, na atualidade, passa inicialmente pelo voto popular, mas se qualifica pelo estado do direito, pela separação efetiva dos poderes, por uma imprensa verdadeiramente livre e, também, por uma academia independente.

 

É por essa razão que nossa democracia precisa de cuidados. Fiquemos atentos. É uma democracia frágil.

 

* Zilan Costa e Silva é advogado

* Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias