O efeito Macron
É um pergunta recorrente: o que virá depois da Operação Lava Jato? Com os políticos desacreditados, quem irá liderar o Brasil? As eleições de 2018 se darão em clima de radicalização?
Talvez, a resposta inicial venha da França, mais especificamente de Emmanuel Macron e seu movimento (aparentemente) independente.
O presidente eleito simboliza a escolha de um caminho intermediário pelo eleitor, cansado de acumular frustraç?es com o partido socialista e temendo a extrema direita. Simboliza também a escolha da energia, do humanismo e do novo. Macron, 39 anos, schumpteriano (o que significa acreditar no grande empreendedor individual como foi no inicio do século 20) , liberal, leitor de Leibniz – que atribuía a Revolução Francesa ao acúmulo inconsciente das pequenas coisas- , amante de poesia, como Julio Cesár, e do escritor Michel Houellebeck, fez o que os políticos brasileiros deviam fazer para evitar o Caixa 2 e financiar as campanhas, recolheu doações de porta em porta e se manteve distante das acusações de improbidade.
Foi uma opção pela liberdade e o progresso? Poderá servir de espelho para o Brasil nas eleições de 2018?
A realidade dirá. O problema francês é muito diverso do brasileiro. Além de haver uma consciência politica testada na prática revolucionária, na luta de classes e no aberto questionamento da propriedade privada – de Marx a Proudhon, da Comuna de Paris e Mitterand – nas utopias e em duas guerras mundiais, lá o conflito se dá, na sua essência, entre globalização e nacionalismo, Aqui, se materializa entre direita e esquerda , entre uma cultura conservadora muito forte e uma cultura progressista, violentamente danificada pela corrupção, o veneno do individualismo e o fantasma do descredito.
Tudo isso atrasa a esquerda. E o que é pior, a desqualifica. A comunicação é muito ruim. E não é apenas pela ausência de um grande veículo de massas ou pelo predomínio da grande imprensa. A experiência da esquerda no poder foi muito ruim, ao contrário da França onde as reformas foram de tal profundidade que é difícil distinguir onde começa e termina o capitalismo. França país capitalista? Sim; França país socialista, sem duvida. Verdade: um é o outro. E como isso não bastasse. A imprensa é colorida, isto é, é de todas as ideologias.
Entre nós é diferente. A es querda nunca foi aceita: foi destroçada no Estado Novo, e dizimada (como consequência da política repressiva de Estado) no pós-64, mas ironicamente vive desunida e separada em facções. A campanha anticomunista é violentíssima. E faz estragos.
Há trinta anos, se diz que não tem esquerda no Brasil, que acabaram os partidos de esquerda e ficaram apneas as pessoas de esquerda. Mas os partidos se desgastaram, se desmoralizaram. Estamos em uma época de retrocesso muito grande. O neoliberalismo ganha força, o que se vê é um crescente acumulo de contradições - desemprego, erosão de direitos sociais, violência. Ao contrário da França, o neoliberalismo é aceito, ganha espeço, desmonta sem muita resistência as conquistas sociais.
A sociedade está sendo duramente penalizada. Será que um parlamentar é capaz de imaginar a retina cotidiana de um desempregado ? De um doente sem dinheiro para comprar remédios? As dores da insegurança de um brasileiro comum? Historicamente tem sido assim. Basta lembrar os séculos de escravidão, os golpes de Estado, a exclus?o social, os altos Impostos e a burocracia pombalina, que permeiam nossa História.
Há saídas? O exemplo de Macron pode significar uma alternativa? Em qual sentido? No sentido da reconstrução da confiança do cidadão na representação política.
Essa o grande trunfo que poderíamos ter para renascer e dizer, a pleno pulmões, que o amanhã voltará a ser melhor que o ontem, com a confiança voltando a dirigir nossos atos. Esse foi o sentido maior do movimento En Marche. Será que chegaremos lá? Teremos algo parecido? A comunicação pode ajudar. Contribuido para restaurar a confiança. Pois a demolição vem sendo feita. E com ímpetos ! O País tem resistido. Falta , como a França, fazer renascer a esperança possível, a exemplo do que ocorre com o En Marche de Macron.
* Francisco Viana é jornalista e doutor em filosofia política (PUC-SP)
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