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MC Beijinho, cuidado

Por Welber Santos

MC Beijinho, cuidado
Foto: Acervo pessoal

Inúmeras questões foram suscitadas a partir do advento de “Me libera nega”: inveja do sucesso, racismo – a partir de alguns comentários – êxito, pelo crime…

O X da questão é tentar, de forma irresponsável, marketing barato e interesseiro, se apropriar de um fato banal para transformá-lo numa referência. A música em si, mistura de samba-reggae, funk e arrocha, cantada por qualquer cantor, como o próprio Beijinho, é uma canção de carnaval, ponto.

Outra coisa completamente diferente é transformar a mesma num marco musical. Forçar a barra e determiná-la como som do carnaval (sabendo-se, inclusive, que não existe “a música” do carnaval). Assim, irresponsavelmente, pode-se criar espaço para uma interpretação de que o crime compensa. Basta criar uma canção banal e aparecer na TV. Da forma como esse garoto é apresentado, se fortalece o expediente de que o crime gratifica.

O lugar dessa canção seria mais uma música “legal” de carnaval. A partir daí, se abriria as portas para sua redenção, oferecendo uma chance ao cantor. Mas não torná-lo um ícone, um astro. Em vez disso, e de apenas sugarem economicamente o MC, por que ninguém ainda lhe ofereceu uma bolsa de estudos, desde onde ele parou até o final da universidade (se assim o desejar)? Será por que Beijinho só servirá entre os dias 22 e 28 de fevereiro? Isto é o que chamo de violência.

Agora, num misto de hipocrisia e cinismo, destes que agora lhes fazem honrarias, tenta-se absolvê-lo de todos os delitos, aplicando uma mais-valia (exploração) carnavalesca. Alguém precisa avisar a Beijinho que estes mesmos, a partir da Quarta de Cinzas, voltarão a condená-lo, depois de lhe sugar comercialmente o que tinha a oferecer. Não se trata de desejar que o MC volte pra cadeia e condená-lo perpetuamente. Muito menos de condenar a Justiça por ter o liberado para o carnaval. Não se trata ainda de estar incomodado com este sucesso. O cerne da questão é o perigo de tornar este expediente prática corriqueira para a reinserção de pessoas que cometem crimes.

Beijinho, meu caro, desejo sucesso, prosperidade, mas fique de olho aberto. Tanto pelo seu passado recente e muito mais para os que agora vangloriam teu estouro musical. Porque podem estar esperando o próximo camburão ser aberto para te colocarem como mais uma estatística de cantores que não entrarão nos anais dos grandes carnavais de Salvador.

* Welber Santos é Mestre em educação, produtor de eventos e proprietário do espaço de shows Axé Vavá na cidade de Ipirá (BA)

* Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias