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Sobre a exclusão do MinC e do Ministério da 'igualdade': ou sobre o silêncio dos inocentes

Por Jorge Augusto

Sobre a exclusão do MinC e do Ministério da 'igualdade': ou sobre o silêncio dos inocentes
Foto: Acervo pessoal
Entendo, concordo e assino embaixo, toda a indignação contra a exclusão do Ministério da Cultura. Isso é indiscutível. Nos excursamos de discutir, aqui, a importância que tem o MinC para a democratização das representações culturais, o apoio às práticas culturais de comunidades específicas, e, sobretudo, para evitar que a diversidade cultural termine sendo representada pela cultura de massa, ou seja, subsumida no diálogo, algumas vezes desigual, que mantém com as culturais globais, nessa época de transnacionalismos. 

Porém, como sempre, aquilo que um dizer oculta é tão ou mais importante do que aquilo que ele revela, fico igualmente indignado com o silêncio que se dobra sobre os textos que lamentam a retirada do MinC da agenda governamental, a saber: o silêncio sobre a exclusão do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos, que tem sido pouquíssimo comentado nas reportagens, posts, e noticiários que circulam na mídia brasileira. 

É lógico que compreendemos que a exclusão do MinC teria desdobramentos diretos sobre a população negra no Brasil, e que por isso deve, sim, ser uma demanda compreendida como abrangente dos diversos grupos que compõem a sociedade brasileira. Porém, não enxergar que a exclusão do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos, não é apenas um problema de determinados grupos sociais, leva, de novo, boa parte da “esquerda brasileira” ao “erro” histórico de tratar as demandas dos “menores” como “questões menores”. É esse o discurso que estrutura a comoção pela retirada do MinC e o silêncio sobre o fechamento do Ministério dedicado às questões das minorias.

Nesse silêncio lemos o ponto modal, no qual está o nódulo de boa parte da esquerda brasileira. Se não aceitarmos o racismo e o sexismo como estruturantes da exclusão e da desigualdade nesse país, vamos continuar lamentando um cenário democrático raquítico, porque ecoa o equívoco de pensar a cidadanização apenas pelo consumo, quando sabemos que ela não ocorre sem reconhecimento no plano simbólico e jurídico.  

O conformismo em torno da exclusão do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos é um índice muito significante para pensarmos, que a exclusão da política de cotas, do reconhecimento das comunidades quilombolas, da Fundação Palmares e etc., quiçá, não gerem os protestos e o engajamento que muitos esperam. É nesse silêncio e nessa possível apatia que os governistas esperam se ancorar para retirar os avanços, obtidos nos últimos governos, nas políticas sociais para as minorias. Enquanto acharmos que o direito à igualdade deve ser defendido apenas pelo “outro” que o reclama, corremos o risco de garantir avanços tímidos e retrocessos gigantes, como os que vimos com a retirada dos referidos ministérios.
 
*Jorge Augusto é poeta, professor da UNEB, doutorando em Literatura e Crítica da Cultura/UFBA e editor da editora Organismo

* Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias