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O que será?

Por Pablo Reis

O que será?
O que será de nós, agora que a eleição acabou? Passaremos de eleitores irascíveis e combativos, duelando mais por nomes do que por projetos concretos, a cidadãos atuantes, vigilantes da lei e da aplicação delas? Vamos continuar indignados com escândalos de corrupção, mas usando aplicativo de geolocalização para desviarmos da blitz de alcoolemia após umas bebidinhas sociais? Vamos manter o padrão de usar vida pessoal como argumento contrário a esse ou aquele político, enquanto exigimos que nossa privacidade seja preservada por nossos empregadores?
 
O que será de nós, agora que o resultado emergiu das urnas? Uniremos mãos de compatriotas respeitosos ou continuaremos nos digladiando, sabotando o adversário, reproduzindo boatos, compartilhando mentiras, torcendo pelo fracasso, mesmo que desse coliseu de intrigas todos saiam sangrando e derrotados? Cumprimentaremos o vizinho no elevador, agradeceremos ao zelador do prédio, daremos, mais do que uma gorjeta, um sorriso, e adotaremos a civilidade aplicada ao dia-a-dia cuja ausência tanto questionamos nos candidatos em lampejos de mau humor?
 
O que será de nós, agora que apoios não parecem necessários para influenciar votos? Permaneceremos julgando aquele artista por uma posição política, esquecendo a ocasião em que nos emocionamos com sua música inspirada, ou fomos às lágrimas com a interpretação na novela que parecia tão real quanto nossos dramas familiares cotidianos? Sossegaremos nosso arsenal de sectarismos contra líderes religiosos que uma vez louvamos, esportistas que em algum tempo aplaudimos ou empresários que por ventura admiramos?
 
E nossos dias sem conflitos nas trocas de mensagens, sem indignações temporárias, ameaças de rompimentos de amizades, serão preenchidos com mais serenidade ou pelo vazio aparente da ausência de debates? Estaremos melhor sem partidarismos, sem tutelar o voto alheio por classificações de renda, gênero, cor e sexualidade ou, em vez do predomínio da tolerância, teremos dias de apatia? Sobreviveremos uma semana sem o escárnio contra o rival transformado em inimigo, sem revanchismos gratuitos e suas crônicas de maldizer?
 
Enfim, procuraremos o que nos une como nação ou ficaremos farejando divergências, especulando contradições, mercantilizando a cizânia? Poderemos fugir ao convite tóxico de esgarçar o fio da cordialidade com a tensão das polarizações? Ultrapassaremos os casulos de nossas paixões e preferências ideológicas, quase sempre parciais e obtusas, até chegar em corações sem fronteiras? Estaremos serenos e pacificados ou ainda mais bélicos e rancorosos? Continuaremos excludentes e imperiais ou simplesmente nos abraçaremos? Indagações para o futuro, ou questões para o presente? Dúvidas que deixaremos a cargo dos políticos ou que começaremos, hoje mesmo, a dissolver com nossas próprias respostas? O que será?

* Pablo Reis é jornalista

Os artigos reproduzidos neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Bahia Notícias.