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Educação sexual evita violência

Por Aline Castelo Branco

Educação sexual evita violência
A questão não é o percentual: 65% ou 26% da população brasileira ter afirmado na pesquisa do Ipea que mulheres ao usarem roupas provocativas merecem ser estupradas. O problema dessa lógica ignorante está na educação. A da igreja que insiste no modelo ideal de família (casamento e procriação), a de casa onde falta diálogo entre pais e filhos (repressão), a da escola (discriminação) e da rua (subversão). Quanto menor a capacitação e o acesso à escolaridade mais as respostas serão carregadas de preconceito. Só podemos fazer o avanço se trabalharmos com a educação sexual. Se não, vamos ser sempre surpreendidas por pesquisas. A do Ipea foi feita por telefone no horário comercial, com donas de casa na faixa etária de 30 a 55 anos.

A maioria dos entrevistados tem grau educacional incompleto. Apenas 5% tem formação superior. Faz sentido atribuir às mulheres a culpa pela violência criminosa dos homens? No mundo inteiro, sabe-se que as mulheres são estupradas usando todo tipo de roupa, inclusive o uniforme militar. Na Arábia Saudita, o país mais atrasado do mundo em termos de costumes, onde as mulheres se vestem dos pés a cabeça, disseram que elas são atacadas porque usam rímel.

A alegação de que “a culpa do estupro é nossa” só reafirma a manutenção machista de uma sociedade intimamente invadida pela hipocrisia. Portanto, precisamos ficar atentos e mudar os paradigmas instituídos por um pensamento coletivo de que o corpo é posse do outro. Essa possessividade resulta em crime. 527 mil mulheres são estupradas por ano no Brasil, o dado vem do  sistema de saúde, se formos para a justiça menos de 12% fizeram registro. Não são a minissaia e a burca as culpadas, mas sim a estupidez humana. Só vamos transformar a mentalidade das pessoas e, principalmente dos homens, quando mudarmos a maneira conservadora de pensar de muitas mulheres que continuam reproduzindo conceitos machistas. Só posso concluir que são tristes, recalcadas, mal amadas e desprovidas de qualquer liberdade sexual.

Confesso que sempre quis saber como é ter um testículo, somente para não ter o prazer de ver o sangue escorrendo pelas pernas, todo mês. Já me passou pela cabeça ser homem sim. Por alguns motivos: não ter que sofrer durante o parto e só para cair na gandaia, beber até lamber o chão, comer muita mulher e depois ninguém me julgar por atos subversivos. É....como é difícil ser vocês, homens.

Deve ser um desafio sair na rua e se conter quando todas essas coxas e bundas saem a mostra no verão, entrar no ônibus e sentir os peitos dela se roçando nos suas costas, olhar com delicadeza uma menina usando batom vermelho. Que desafio é ser macho! Que desafio é mostrar a virilidade, mas o desafio maior é o de manter a distância e respeitar essas mulheres como vocês gostariam que respeitassem suas irmãs ou mães, no momento em que a vontade bate a porta e a cabeça de baixo tagarela mais do que a de cima.

Ao contrário, ser mulher é fácil demais. A gente olha o saradão da academia, mas não agarra, o máximo é ver a imagem dele projetada nos sonhos. A gente espalha carinho até quando não gosta, sofre de TPM e dor de cabeça, mas vive sorrindo, cuida dos filhos, da casa, do marido e ainda corre para administrar a empresa. E igual as vocês, homens, também amamos, transamos e gozamos!


*Aline Castelo Branco é jornalista, escritora e pesquisadora da área de sexualidade