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Sob a copa da Copa

Por Mário Lima

Sob a copa da Copa
Sob a sombra das bananeiras e debaixo dos laranjais, Casimiro de Abreu teve tardes fagueiras. Já Carlos Melo, em Bangüê, escolheu as sombras dos umbuzeiros para o seu amor proibido com Maria Alice. E o juazeiro emprestou sua sombra para berço de um doído amor cantado por Luís Gonzaga.
 
Se fosse listar casos e causos ocorridos sob as copas das árvores, registrados em nossa literatura e cancioneiro, não sobraria espaço para o que move esta irrequieta pena. E é de fato uma pena ter que ficar sob a copa de uma Copa.
 
Todos os analistas apontam os movimentos de rua como a mais destacada marca de 2013. E se não todos, sua maioria esmagadora, profetiza que a Copa do Mundo será fator decisivo nos destinos eleitorais do País, menos pelo que possa fazer a Seleção Canarinho, mas pelo que venha a ser êxito ou fracasso na infra-instrutora do evento, com a perspectiva das massas, de novo, ocuparem o asfalto. Trocando em miúdos, situação e oposição estariam apostando suas fichas em um evento esportivo, para a continuidade ou interrupção de um projeto de governo que completa doze anos de mando ou de desmandos.
 
Evocando Chico Buarque, é sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar e que o ar no copo ocupa o lugar do vinho e que o vinho busca ocupar o lugar da dor. Pois bem, numa lógica meramente eleitoreira, é explicável que o Lulopetismo queira nos oferecer o vinho do ufanismo para ocupar o lugar das dores morais que nos causam as suas derrapagens. Porém, espera-se da oposição mais que o copo cheio de ar que por ora nos oferta.
 
A confirmar-se as projeções dos analistas políticos quanto a influência da Copa nas eleições presidenciais, o Brasil repetirá o que fez em 2010, quando o debate sobre o aborto abortou uma serie de outros tantos debates mais relevantes para o nosso futuro. Mas aí, Cara Pálida, quem estará se apequenando é a nossa oposição, que não estará a altura do que a democracia dela espera.
 
Sem sombra de dúvidas essa Copa é uma árvore que nos legará vários frutos podres. No entanto, a seiva que corre por seus caules tem a mesma essência das demais mazelas nacionais. Então uma pergunta não quer calar: por que lhe emprestar peso maior nas eleições do que aquele que deve ser dado ao nosso desempenho no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos)? Ou dos gargalos econômicos? Do nosso fracassado sistema de saúde?As contas públicas que só fecham graças a artifícios contábeis etc?
 
Se de fato, com tantos problemas que temos a nossa oposição precisar de um fracasso na Copa de 2014, então o lulopetismo pode escolher o que continuará fazendo nas sombras, seja de árvores ou do que lá seja. E quanto a nós, diante dessa oposição que nos namora, cabe-nos apenas perguntar ao juazeiro: seje franco: ela tem um outro amor?


*Mario Lima é advogado e procurador do Estado.